love. escrita por Taengoo


Capítulo 34
Chapter 34: It Must Have Been Love




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♫ It must have been love but it's over now

It was all that I wanted, now I'm living without

It must have been love but it's over now

It's where the water flows... ♪

 

Você percebe que está apaixonado, quando já não consegue mais dormir pois sua realidade está finalmente melhor que os seus sonhos.

— Magali & Do Contra. Jun29

[...♥...]

Por não terem se visto o fim de semana inteiro, Do Contra começou a se preocupar com o sumiço de Magali. Ela estava mais quieta do que o normal. É claro que eles não eram de se encontrar todos os dias, mas se falavam sempre pelo telefone, e cada vez que ele tentava contactar, o celular parecia estar desligado.

Na segunda feira, porém, sentiu-se mais aliviado por saber que a encontraria na escola.

Entrou na sala, mas só havia os meninos do futebol. Titi assim que viu o moreno chegar, foi ao seu encontro.

— Ainda bem que você chegou...

— Por quê? – perguntou ele se largando na cadeira à frente do amigo.

— Porque estamos sem saber o que fazer agora que o Cascão está impossibilitado de jogar... o campeonato é daqui a quatro dias e estamos precisando de um novo zagueiro.

— Coloca o Xaveco, ele também é zagueiro.

— O Xaveco, DC? – disse Titi, indignado. – Não vamos participar de um jogo qualquer, vai ser o jogo! O campeonato da temporada, precisamos de um jogador tão bom quanto ou melhor que o Cascão se quisermos ganhar.

— Tudo bem, mas não sei porque você está me falando isso... eu sou atacante.

— Mas você tem mais intimidade com ele, já que vivem juntos naquele skatepark lá. Quem sabe se você perguntar...

— Titi, o Cascão sofreu um acidente de carro. Ele não vai estar recuperado até lá, e outra coisa... acho até que ele não volta pra escola tão cedo.

— Que droga, cara! – bufou Titi. – Tantos outros momentos pra o Cascão se acidentar, tem que escolher logo agora.

Do Contra não acreditou no que ouviu e tacou um apontador na cara do garoto.

— Au!

Os dois voltaram a discutir quem seria a melhor opção para tomar o lugar do sujinho quando Magali entrou na sala com Marina. O coração do moreno pulou quando a comilona apareceu, mas ela estava distraída que nem notou que ele estava olhando pra ela, continuando a conversar com a desenhista.

— E ai, já pensou no que vai fazer com seu namorado numero um, quando o seu namorado numero dois, voltar pra escola?

Magali nem quis responder aquela pergunta. Olhou para a amiga com désdem, que como resposta apenas riu.

— Só to querendo quebrar a tensão, calma... não precisa me olhar assim.

— Não tô com paciência para brincadeiras agora, Marina – respondeu ela, jogando o cabelo para trás.

— Você já pensou na reação da Mônica quando souber?

— Como assim? – disse arqueando uma sobrancelha.

— Tipo, o DC terminou com ela pra ficar com você, isso ela já sabe... mesmo que vocês não estejam realmente juntos, ela tem certeza que vocês dois se vêem. Agora, quando a noticia se espalhar sobre o seu namoro com o Cascão, o que será que ela vai pensar?

— É... – Magali desviou o olhar de Marina e fixou na janela. Ela nunca tinha parado pra pensar no que Mônica faria se soubesse que ela agora estava com Cascão.

— E se ela tentasse se vingar, contando para ele sobre vocês dois? – Marina questionou, e a comilona voltou sua atenção para ela imediatamente.

— V-você acha que ela faria isso?

— Não sei, mas é uma hipótese. Ela não demonstra, mas ainda sente muita raiva. Dá pra notar quando o DC passa por ela, ou nós passamos por ela no corredor.

Magali se sente mal ao ouvir aquilo, mesmo sabendo que era verdade. Mônica sentia muita raiva dela ainda, mas não tinha nada que ela pudesse fazer.

— Eu... eu decidi que vou tentar convencer o Cascão a manter segredo por um tempo – disse a comilona. – Não sei como as coisas vão ser daqui pra lá, não sei como vou ter que agir perto dele... somos amigos há muitos anos. E ver ele... como outra coisa, é tão estranho... eu tenho certeza que se contarmos pra todo mundo vai ser bem mais. É melhor que seja segredo.

— Tudo bem, mas e o DC, Magali? Você não me disse que ia contar pra ele hoje?

— Eu vou... – ela disse, suspirando. – Só preciso arranjar coragem.

— Melhor arranjar agora – Marina disse se consertando na cadeira –, porque o Cascão acabou de chegar.

O coração de Magali quase parou. Ela olhou pra porta rapidamente e quase deu um pulo quando viu o sujinho ali. Ele estava usando uma muleta por causa da perna esquerda, e sendo cumprimentado pelos vários amigos que o foram abraçar.

— Achei que ele fosse ficar em casa mais uma semana devido ao acidente... – comentou Marina, que estava tão chocada quanto Magali.

Seu susto foi tão grande que ela nem conseguiu responder a desenhista. Apenas assistia Cascão tentando se desvencilhar dos muitos colegas que insistiam em perguntar como ele estava, como tinha acontecido o acidente, e se prenderam o homem que o atropelou. O garoto sorria, mas ao bater os olhos na morena, seu sorriso abriu ainda mais e caminhou até ela, mancando.

Magali sabia que não podia correr pra lugar algum, sabia que não tinha outra opção a não ser ficar parada. Não tinha tido tempo suficiente para conversar com Cascão sobre a decisão de guardarem segredo sobre aquele novo namoro. Ela tinha passado o fim de semana cuidando dele, e observando-o dormir.

Ela não entendia porquê Cascão foi aparecer na escola justo naquele dia, em que precisava ainda de repouso. Com certeza o sujinho disse aos pais que estava melhor e que poderia voltar a estudar, e sim, ele realmente parecia bem.

Do outro lado, Do Contra viu o amigo chegando e sorriu feliz. Também tinha achado que ele não voltaria pra escola, mas pra sua surpresa ele estava lá. Titi foi outro que não escondeu a felicidade.

— Ahá! Eu sabia que o Cascão ia acabar voltando logo!

— Cala boca, Titi – disse Do Contra. – O Cascão voltou pra escola, mas isso não quer dizer que ele vai voltar a jogar.

— Esperança é a ultima que morre.

O moreno apenas revirou os olhos com aquele comentário.

Tinha mais gente na sua sala que o normal, Cascão era bastante querido por muitos alunos, e de muitas turmas. Não só por ser o melhor jogador do bairro, mas por ser talentoso, engraçado, e amigo de muita gente.

Cebola estava ao lado do sujinho quando ele entrou na sala, e não entendeu porque ele tinha ficado tão feliz ao ver Magali.

Só foi entender, quando Cascão se aproximou da comilona e a beijou.

A maioria se espantou, levando as mãos até a boca. Outros soltaram gritinhos, e alguns até bateram palmas. Ninguém esperava que Cascão fosse fazer aquilo. Cebola arregalou os olhos e deixou a mochila do amigo que estava segurando, cair. Mônica que vinha logo atrás, parou e observou chocada. Marina coçou atrás da cabeça, e tentou fingir que estava tão surpresa como os outros. Magali não teve tempo de fugir, fechou os olhos e deixou que ele a beijasse.

— Perai, eu tô vendo direito ou o Cascão acabou de beijar a Magali? – disse Titi com as sobrancelhas unidas. Ele olhou para Do Contra e viu que a expressão facial dele era diferente de todas as outras que estavam na sala.

Do Contra tinha apertado os dentes, e observava a cena do beijo com tanta fúria que Titi quase não o reconheceu.

— DC cara, cê tá leg...

Titi mal conseguiu terminar a frase ou tocar no ombro do garoto, pois o próprio já tinha lhe empurrado com tudo para o lado, quase sendo arremessado contra parede.

O moreno andou até Cascão praticamente cego, ele só queria afastar aquelas mãos bem longe de Magali. Tirou as pessoas do caminho com tanta violência que elas olharam assustadas para ele.

Quando se aproximou do sujinho, ele já tinha se separado da comilona, e quando viu Do Contra ali parado, sorriu.

— E aí DC!

Mas ele não sorriu. Continuou encarando Cascão com sangue nos olhos e Magali percebeu isso.

— Do Contra... – ela deu um passo pra frente, mas foi obrigada a voltar quando o moreno apertou o punho com força e acertou diretamente no rosto de Cascão.

Várias pessoas gritaram, uns incentivando a briga, outros apavorados.

Cascão que tinha caído no chão, olhou confuso para Do Contra. Seu nariz começou a sangrar no mesmo minuto. Ele achou que o garoto fosse se afastar, mas não. Do Contra se abaixou e acertou outro soco muito mais forte que o primeiro no sujinho, que sangrou ainda mais.

Magali desesperada, o puxou com força pela camisa.

— Para Do Contra! Para! – ela gritou, mas ele não lhe deu atenção.

Ela sabia que ele estava prestes a bater de novo em Cascão, por isso se meteu no meio.

— Se for bater nele de novo, vai ter que bater em mim primeiro!

Do Contra parou.

Deu dois passos pra trás e várias pessoas o afastaram do sujinho, inclusive Mônica.

Magali se abaixou e seus olhos se encharcaram d’água quando viu Cascão quase inconsciente no chão, sangrando ao lado de Cebola que tentava reanima-lo.

— O que deu em você? – ela sussurrou, olhando para Do Contra. – O QUE DEU EM VOCÊ?! – Magali se levantou e empurrou o moreno com toda sua força.

Ele não respondeu, ainda sentia ódio do sujinho, mesmo depois de ver a besteira que tinha feito. Ver Magali defedendo-o, acabou causando uma certa raiva por ela também.

— Ei, ei, ei! O que é tá acontecendo aqui? – o diretor da escola apareceu na sala, após Aninha ter ido correndo chamar-lo. – Oh meu deus! Quem fez isso?! – o homem perguntou apontando para Cascão no chão.

Ninguém precisou dizer, Do Contra levantou a mão e sem tirar os olhos de Magali, respondeu:

— Fui eu, diretor.

— Ah... – o homem mal se surpreendeu. – Mauricio, claro... você vem comigo, e vocês dois – ele apontou pra Magali e Cebola – podem leva-lo pra enfermaria, por favor? E todo mundo que não for dessa turma, pra sala agora! Acabou a festa, anda!

[...♥...]

Magali, Cebola, Marina e Mônica foram até a enfermaria com Cascão. A mulher quando viu o estado do garoto tomou um susto, e passou a cuidar dos ferimentos antes que eles ficassem piores.

Marina aproveitou que Mônica e Cebola estavam tentando conversar com sujinho, puxou Magali para um canto.

— É cedo ou tarde demais pra dizer que eu te avisei?

— Ok, ok, você mais uma vez estava certa, e eu errada, feliz?

— Por incrivel que pareça, não! Magali, essa história tá indo longe demais... você precisa conversar com Cascão sobre esse namoro. Precisa terminar com ele antes que...

— Shhh! – exclamou Magali, batendo de leve no braço da amiga.

— ... antes que outra briga dessa aconteça de novo – continuou Marina, dessa vez, sussurrando. – Você não viu a cara do DC? Achei que ele fosse matar o Cascão.

— É... eu vi. Ele se descontrolou.

— Isso porque só viu um beijo... imagina como vai ser quando você contar que estão juntos?

Magali balançou a cabeça pensativa, e olhou para Cascão fazendo caretas por causa da limpeza que a enfermeira fazia nos seus machucados. Ela viu que Mônica a encarou por poucos segundos, mas deu pra perceber que seu olhar foi de puro rancor. Suspirou e voltou para perto do moreno.

— Como está, Cas?

— Melhor impossível – ele riu, sem sentir a menor graça. – Ser atropelado, descobrir ter diabetes e apanhar do DC depois de voltar pra escola... não poderia pensar em uma semana melhor que essa.

Ninguém riu, apenas se entreolharam.

— Tá tudo bem gente... – ele disse ao notar o clima. – Só que eu realmente fiquei sem entender o porquê do DC ter feito isso. Será que ele ficou assim porque não vou poder participar do campeonato?

— Ele não poderia ser tão egoísta a esse ponto – comentou Marina. – Mas eu acho que a Magali sabe o motivo, não é Magali?

A morena lançou um olhar furioso para Marina em resposta.

— É, ela com certeza sabe... – disse Cebola.

Todos encararam a comilona, e ela não soube o que dizer.

— Sabe? – perguntou Cascão, quando a enfermeira terminou de passar o ultimo algodão em sua boca.

— Eu...

— Vamos deixar os dois sozinhos, não é? – sugeriu Marina. – Eles precisam conversar.

Cebola e Mônica hesitaram em seguir o conselho da desenhista, mas a acompanharam até a porta.

— Qualquer coisa a gente tá lá fora – disse Cebola a Cascão.

O sujinho assentiu com a cabeça e os três saíram. A enfermeira recolheu alguns papeis e também deixou sala.

— E então... – ele sorriu ao ver que estavam a sós. – O que você sabe que eu não sei?

— Ah... – ela passou a mão pelo cabelo, nervosa. – B-bom é que... o DC ele... anda meio nervoso porque... porque...

— Nervoso comigo?

— N-não! Não com você, Cas... imagina. Por outras coisas... coisas que... ele não pode controlar.

— Ainda não explica o motivo dele ter me dado um soco no meio da sala.

Magali respirou fundo e decidiu que realmente não podia continuar com aquele teatro. Precisava ser sincera com Cascão, contar a ele sobre ela e Do Contra. Não seria fácil, mas não podia seguir com outra mentira. Não ia aguentar passar a sentir culpa mais uma vez.

Só pelo fato de Do Contra ter olhado daquele jeito para ela, foi o bastante para Magali repensar a sua decisão de continuar namorando seu amigo de infância.

— Cascão... a gente precisa conversar... sobre aquele... beijo.

— Ah... que bom, porque... eu queria te pedir desculpa.

— Desculpa?

— É. Eu sei que não deveria ter te beijado na frente de todo mundo, foi precipitado da minha parte... depois que você aceitou namorar comigo, nós não conversamos mais sobre isso. Nem te perguntei se você se sentia bem em assumir assim de primeira... me desculpa?

Magali levantou as sobrancelhas, surpresa.

— Não... tudo bem, esquece isso... mas o que eu queria te falar era que...

— Eu pensei no que você disse – ele a interrompeu. – Pensei no que conversamos.

— Pensou...?

— Sim e você tem razão.

Por um segundo, Magali pensou que Cascão fosse sugerir que eles terminassem e voltassem a ser amigos de novo. E que com certeza não daria certo se eles ficassem juntos, mas foi só por um segundo.

— Eu decidi aceitar... a diabetes... por isso vim pra escola, pra te mostrar que eu vou conseguir.

— Ah... – ela abriu um meio sorriso e deixou que Cascão a puxasse para perto. – Que bom Cas.

— Eu nem queria voltar mas, só de saber que você estaria aqui, me deixou mais motivado.

Magali nada disse, mas seguiu sorrindo. Não queria demonstrar sua decepção ao sujinho. Ela realmente achou que não fosse precisar terminar com ele, se ele mesmo o fizesse, mas infelizmente as coisas não iriam facilitar pra ela.

— Mas e aí? Gostou da surpresa?

— Bem, mais ou menos – ela riu e ele soube porquê. – Apesar da briga, fiquei feliz que você tenha voltado... sério.

— Depois vou ter que chamar o DC pra uma conversinha – disse Cascão ficando sério – Ele vai ter me explicar direitinho o que aconteceu porque eu ainda continuo sem entender. Só não reagi porque ainda sinto muita dor por causa do acidente... se não...

— Esquece o DC, Cascão – Magali disse, também muita séria. – Por favor.

— Me faça esquecer então – ele sorriu com malicia, e a morena corou.

Pra sua imensa satisfação e alegria, a enfermeira entrou na sala.

— Magali, melhor você voltar pra aula. O Cascão vai continuar aqui, mas você poderá voltar aqui no intervalo.

Ela assentiu rapidamente e pegou sua mochila no canto da maca.

— Depois eu volto, tá? – ela sorriu e deu um beijo delicado em sua bochecha. – Descansa.

[...♥...]

Magali não viu mais Do Contra depois que voltou pra sua sala. Todos já estavam lá de volta, mas quase ninguém conseguia prestar atenção, devido a briga que tinha ocorrido momentos atrás.

Apesar de achar que ele não merecia, ficou preocupada com seu sumiço. Sentiu medo até que ele fosse ser expulso por ter quase espancado Cascão. Ainda sim, assistiu as aulas e voltou para a enfermaria assim que terminou de lanchar. Os dois só se separaram quando Antenor passou na escola para buscar o filho.

— Onde você vai? – Marina perguntou quando Magali se despediu da amiga logo na saída.

— Tenho uma coisa pra fazer, depois eu te ligo.

— Ok, só não vai fazer mais besteiras...

Magali ignorou completamente o comentário da amiga e seguiu seu caminho até a casa de Do Contra.

Viu Nimbus chegando em casa, e o chamou.

— Sabe do DC?

— Liguei pra ele depois do intervalo, disse que tinha ido pra casa.

— Por quê? Será que ele foi expulso?

— Não acho que expulsariam ele por causa disso, mas só sei que meus pais não vão ficar nada felizes quando souberem o que ele fez.

— É o minimo – ela disse quando eles entraram. – Posso subir?

— A vontade – respondeu ele, se jogando no sofá e ligando a TV.

Magali subiu as escadas até o quarto do moreno. Dessa vez a porta não estava entre-aberta como sempre ficava, e ela resolveu bater.

Ela esperou mas ninguém atendeu, ou disse alguma coisa. Magali girou a maçaneta, mas o quarto estava trancando. Bateu novamente.

Como não houve resposta, sua raiva começou a crescer.

— DC, sou eu! Abre aqui!

Silêncio.

— Abre. Essa. Porta. Agora! – ela berrou enquanto esmurrava a porta.

Do Contra finalmente resolveu destrancar depois de muitas batidas violentas e Magali entrou.

— Expulso? – ela perguntou cruzando os braços.

— Suspenso. Três dias – ele respondeu, voltando a se deitar e colocando seus fones.

Ela suspirou, fechando os olhos. Teve vontade de dizer ‘bem feito’ mas desistiu.

— Por que você fez aquilo? O Cascão está com um olho roxo por sua causa, sabia?

— Ohh, sério? – ele disse encarando-a. – Por que não está lá cuidando dele? Não é isso que você tem feito a semana inteira?

— Ele foi atropelado! – ela quase gritou. – E está doente!

— E como agradecimento pelo serviço, vocês se beijam?

— Aquilo... – Magali pausou e não soube como continuar. – Aquilo... me pegou de surpresa também.

— Sério? Não foi o que pareceu – Do Contra voltou sua atenção para o celular enquanto Magali buscava uma maneira de se explicar.

— O Cascão só estava feliz por... por ter voltado pra escola, é isso! E bem não foi um beijo, beijo... foi só...

— Eu sei o que é um beijo Magali. E aquilo lá foi um beijo.

— DC... – ela suspirou.

— Eu nem sei porque você ainda está aqui... volta pro seu amigo, ele com certeza deve estar precisando mais de você.

— Vamos deixar as ironias de lado um minuto, por favor? Eu vim aqui porque a gente precisa conversar.

— É mesmo? – ele sorriu com deboche. – Infelizmente eu não estou a fim de conversar hoje.

— O assunto é sério DC.

— Eu não duvido que seja, mas não quero te ouvir agora.

— Ok, pois eu vou falar assim mesmo – Magali foi até o garoto e arrancou o fone em sua cabeça.

— Ei!

— Não vou mais fingir que não está acontecendo nada – ela disse voltando para o lugar que estava. – Aquele beijo que você viu na escola... foi real.

Do Contra franziu a testa e deixando o celular de lado.

— O Cascão me pediu pra namorar com ele... e eu aceitei.

O moreno precisou muito mais do que alguns segundos pra analisar aquela frase. Cascão. Namoro. Nada fez sentindo na sua cabeça, e ele continuou olhando confuso para a comilona.

— Como é que é?

— Isso mesmo – ela afirmou com a cabeça. Mesmo sendo firme na voz, sentiu suas pernas tremerem. – O Cascão está muito mal depois de tudo que aconteceu, de todas as coisas que ele passou e... e... eu decidi ficar do lado dele agora.

— Perai... – Do Contra se levantou da cama rindo. – Você tá dizendo... que o Cascão te pediu em namoro? E que você aceitou? Foi isso que eu ouvi?

Ela sabia que ia falhar na voz se respondesse, por isso só confirmou balançando a cabeça.

— Não... você tá zuando com a minha cara, não é? – ele sorriu sem conseguir acreditar.

Magali precisava explicar suas razões, seus motivos. Precisava que ele entendesse.

— O Cascão já tinha me dito uma vez que estava começando a gostar de mim. Eu não levei muito a sério, mas no fundo sabia que era verdade. Aconteceu um tempo depois do meu aniversário... que ele me beijou, bêbado... de alguma forma deve ter despertado alguma coisa nele, não sei... mas o fato é que ele se declarou pra mim de novo logo depois do acidente. Eu confesso que só aceitei por impulso, por... lástima... mas, agora... eu não consigo mais voltar atrás.

Do Contra deixou de sorrir. Já não estava mais achando engraçado. Não parecia mais que ela estava blefando, ou fazendo hora com sua cara.

— Então... então aquele beijo... vocês... estão...

— Eu não sabia o que estava fazendo! Fiquei desesperada, tomei a dor dele! Aceitei mas foi no calor do momento! Eu me arrependi, DC! – ela foi até o moreno, mas ele não conseguia nem olha-la nos olhos.

— Se arrependeu.... – repetiu ele. – Então...

— Não, eu já tentei mas... não consigo terminar. Pelo menos não agora que ele precisa de mim.

Do Contra foi até a cama e sentou, passando as mãos pelo rosto. Estava perplexo.

— Me perdoa...

— Acabou então? – ele sussurrou depois de um tempo. – Depois de tudo... acabou?

— Não queria que as coisas terminassem assim... você precisa me entender...

Entender?! Você quer que eu te entenda? – ele olhou chocado para Magali. – Há meses que estamos nessa, de culpa, de medo, de decisões erradas, de “é melhor que seja assim”, tudo isso pra que? Pra no final acabar do mesmo jeito que estava antes?

— DC...

— Não, Magali! – ele ficou de pé e balançou a cabeça. – Eu cansei dessa brincadeira, cansei! Eu errei sim, muito, principalmente quando pedi a Mônica em namoro, sabendo que no fundo não era isso que eu queria fazer! Errei quando corri atrás de você, ainda estando com ela! Mas você erra muito mais quando resolve pensar mais nos outros do que que na própria vida! Beleza, o Cascão está infeliz com a noticia que está doente, mas por conta disso você tem que namorar com ele? Porque isso de alguma forma vai magicamente fazer com que ele fique bom? – Magali abriu a boca, mas ele continuou. – Eu sei que você tem uma mania de querer salvar todo mundo, e até te admiro por isso, na verdade acho que é uma das coisas que me fez me apaixonar por você... o problema é que você esquece que também precisa ser feliz...

— Mas...

— Eu não acabei – Do Contra disse, e ela se calou. – Depois da Mônica, eu achei que nunca fosse gostar de ninguém como gostava dela. Era um sentimento ruim. Ruim porque não era correspondido. Ela amava o Cebola, e isso... era difícil de ver. Mesmo quando eu dizia que estava tudo bem, não estava... só que eu me recuperei, e virei aquele tipo de cara que você conhecia... sai com várias garotas sem nutrir qualquer sentimento por elas até... até você aparecer naquela praça.

Magali respirou fundo, sem tirar os olhos dele. Do Contra colocou as mãos no bolso da calça moletom que usava, e encarou a janela.

— Depois que eu te atropelei, depois que você me abraçou, depois que eu te ensinei a andar de skate, depois que você invadiu a pista pra me ajudar, depois daquele show... daquele beijo na chuva... eu percebi que estava enganado. Que eu podia sim me apaixonar de novo, e de um jeito muito diferente. Diferente do que eu sentia pela Mônica... talvez o que eu sinta por você seja muito maior do que uma simples atração, Magali... do que uma simples queda.

Tudo o que se podia ouvir naquele quarto depois da confissão de Do Contra era um silêncio angustiante. Magali suava nas mãos, e seu coração batia na mesma velocidade de quando eles se beijaram pela primeira vez. Ela nunca tinha visto o moreno ser tão sincero desde que viraram amigos próximos.

Mesmo que ele estivesse de costas, ela percebeu que esperava uma resposta.

— É... talvez não seja.

Magali se aproximou dele, tocando em seu ombro, mas ele não se virou.

— Você está certo em tudo que disse... me desculpa por tudo.

— Não precisa se desculpar por ser se importar com os outros.

— Preciso... porque me importo tanto que te faço mal...

Do Contra finalmente ficou de frente para Magali, e colocou uma mecha atrás de sua orelha.

— Magali será que você... realmente sente a mesma coisa que eu?

— Por que essa pergunta? – ela o olhou confusa.

— As vezes... eu acho que talvez você não goste tanto assim de mim... como eu de você.

Apesar do moreno estar fazendo carinho em seu cabelo, Magali viu o quanto ele estava sério e indiferente.

— É claro que eu gosto, DC... de onde você tirou isso? – ela olhou pra ele, preocupada.

— Nada... deixa pra lá – ele se afastou e finalmente sorriu fraco. – Bom, eu já disse tudo que tinha pra te dizer... se você já tomou sua decisão, eu não posso fazer mais nada. E não se preocupe que não vou mais ficar insistindo e correndo atrás como antes.

Magali observou Do Contra andar até a saída do quarto, sentindo seu coração ainda mais acelerado. Do Contra estava desistindo dela. E pelo tom da sua voz, com certeza seria pra sempre. Ela não sabia o que sentir em relação aquilo, não sabia se ia embora, se continuava ali, se tentava fazer com que ele entendesse suas causas, mas eram todas em vão. No computador do garoto, eles podiam ouvir a mesma música que tocara no dia em que eles se beijaram pela primeira vez, uma mera coincidência, mas deixava o ambiente ainda mais triste do que o normal.

Claro que em momento algum passou pela sua cabeça que Do Contra pudesse relevar ou até mesmo apoiar a sua decisão. Ela mesma não entenderia se estivesse no lugar dele, e provavelmente teria uma reação muito pior.

De repente, Magali começou a se desesperar quando Do Contra abriu porta para sair. Era como se ele tivesse indo embora pra sempre da sua vida.

Sem pensar em nada, correu até ele e fechou a porta.

Ele se assustou, mas voltou a sua seriedade logo em seguida.

— Antes de você sair... eu queria... te provar que você não é único.

— O único o que?

— O único que se apaixonou de verdade.

Ao dizer isso, Magali segurou o rosto do moreno com as duas mãos e o beijou intensamente. Um beijo que ela não tinha costume de dar, apenas ser surpreendida por ele. Do Contra não precisou nem mais do que alguns segundos para retribuir. Segurou a comilona pela cintura e deixou que o sentimento os guiasse.

Era curioso a química eles tinham. Ninguém conseguia imaginar os dois juntos como um casal apaixonado, andando de mãos dadas pela pracinha, nem mesmo eles conseguiam enxergar. Chegava a ser bizarro, estranho, impossível. Mas a química em si era tão forte, que podiam facilmente serem confundidos por dois protagonistas de um filme romântico. Um filme, qual os telespectadores torceriam muito para um final feliz.

Quanto mais o beijo se intensificava, mas Magali se sentia em outro plano. Era sempre assim quando estavam juntos, ela esquecia até do próprio nome, e seu principal objetivo era grudar cada vez mais nele e não soltar.

Do Contra por outro lado sentiu que ela estava lhe dando mais liberdade do que o normal. Geralmente quando eles se beijavam, e suas mãos começavam passear em outros lugares, ela resolvia parar. Mas estava sendo diferente agora. Agora, Magali não estava com medo, não estava impondo regras, nem limites. O moreno não sabia se aquilo era bom ou ruim, pois conhecia suas limitações, e a qualquer momento, se ela não o parasse, ele não ia conseguir se controlar.

— Magali... eu acho que...

— Cala a boca... – ela murmurou entre o beijo, puxando-o ainda mais pra si.

Aquele foi o sinal que Do Contra precisava. Ele entendeu por fim que Magali não ia impedir nada que ele tentasse fazer, então a guiou até até cama, sem se afastarem nenhum centímetro. 

Ele a deitou e precisou apenas de alguns segundos pra retirar sua camiseta. Voltaram a se beijar vorazmente como se fosse a ultima vez que fossem se ver nada vida. Não havia Cascão. Não havia Mônica. Não havia nada na mente deles que pudesse estragar aquele momento. Não pensaram em nada, nem ninguém, só que precisavam se aproximar ainda mais, visto que por mais próximos que estivessem, não parecia ser o suficiente.

Em uma súbita impaciência, Do Contra passou a retirar a camisa da escola que Magali ainda usava. Ela deu total liberdade para que ele o fizesse.

A morena se dava ao máximo naquele beijo, queria e precisava demonstrar o quanto ele era importante, o quanto ela gostava dele... o quanto ela o amava. Apesar de nunca terem usado aquelas palavras, sabiam exatamente que era isso que sentiam. Sabiam que não podia ser outra coisa.

Então aquilo era o amor? Duas pessoas que passam o dia inteiro pensando uma na outra, que contam as horas para se verem, e que mesmo com tantos problemas, conseguem esquecer quando estão juntos? Que brigam por besteiras e também por coisas sérias, mas no final acabam se entregando a paixão? Que quando se beijam é como o mundo inteiro perdesse a importância? Que quando se afastam o minimo que seja, sentem um desespero fora do normal para se aproximarem de novo?

Se isso era amor, então era o que Magali sentia por Do Contra.

Eles só foram perceber mais tarde, mas todas as peças de roupa que usavam já estavam espalhadas pelo chão...


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