A Arte Da Sedução Muda escrita por Jenny liih


Capítulo 1
Astaroth




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Postei minha mão úmida sobre o metal frio que dava acesso ao outro lado da porta. Senti uma dor suave acelerar meus batimentos cardíacos. Nada alarmante, eu já havia me habituado a essa sensação desconfortável não sei bem há quanto tempo.
Esperei meio minuto até que meu corpo teso pudesse relaxar um pouco. Prendi firme a toalha na cor vermelha em minha cintura fina, que começava a ganhar massa muscular, e adentrei o recinto mal iluminado que era meu quarto.
No momento presente meus pais não se encontravam em casa. Papai fazia plantão extra no hospital principal da cidade, em decorrência do índice disparado de acidentas de transito no último final de semana, que seguiu ao final repleto de festividades da virada do ano. Festividades e muita bebida alcoólica. Como sempre foi a policia local e os médicos tinham trabalho redobrado nessa época do ano. Já minha mãe fora, como manda a tradição, visitar parentes distantes deixando-me para reparar a casa sozinho, uma vez que recusei seu convite de ir junto.
Pois bem, permitam-me dizer a razão de a idéia acima citada estar completamente fora do contexto: primeiro, o que exatamente ela esperava que um jovem adolescente no auge de seus quinze anos, descobrindo a vida, ousaria fazer acaso nossa residência fosse invadida por assaltantes? Não me interpretem de maneira errônea, apenas, com a boa educação que recebi de meus pais, aprendi a dar valor à vida evitando me arriscar desnecessariamente. E segundo direta e simplesmente, eu não estava sozinho.
Não avistei ninguém pelos cômodos por onde passei, mas não precisava ver para sentir o vento sombrio que insistia em agredir minha pele, atiçando-a. Não que fosse forte, pois não era, mas sim uma brisa suave e cautelosa, gelada ao extremo. Um sopro que, da maneira mais clara que posso descrever, se possuísse uma cor sem dúvidas puxaria para o negro, como um sussurro assombrosamente mortal.
Meu quarto estava apenas com a luz do abajur acesa. E só o que meu olhar pode captar foi a criatura sinistra deitada no piso frio com a costa apoiada sobre um cão do tamanho de um cavalo, que vez ou outra acariciava a face de seu dono com a língua molhada.
Foi só mirar aqueles olhos de um azul tão cristalino, que podia ser facilmente comparado a um mar de diamantes, que minha linha de raciocínio foi cortada no mesmo instante.
Os fios dourados impecavelmente alinhados como sempre escorriam pela face albina de modo provocativo, como de quisesse me ver ceder a qualquer momento. Chegava a ser injusto que alguém tão impuro e condenado como Astaroth, ser agraciado com tamanhos atributos físicos, esbanjando sua perfeição pra quem quisesse e tivesse o privilégio de poder contemplar o verdadeiro retrato de um anjo. Rosto, corpo, pele... Ele não tinha defeitos. O que incontáveis vezes me levou a especular por que razão ainda não havia me entregado ao seu desejo. Ah claro, lembrei!
Ele é um demônio.
E eu tinha consciência de segundas intenções em relação a mim desde a primeira visita que ele me fizera. Seu olhar abrasador carregado de luxuria diziam tudo que eu precisava saber. Entretanto, nunca me vi em condições de entregar minha virtude, que não é muita, em nome do pecado. Não até agora.
A situação se mostrava mais complexa a cada noite, quando Astaroth aparecia do absoluto nada em silencio, acompanhado do seu fiel escudeiro canino, e assim permanecia, sem dizer uma palavra que seja- a não ser seu nome uma única vez- até amanhecer, quando abandonava minha casa montado com toda graça no animal de pelos grotescamente negros após ter todos seus olhares cobiçosos sobre mim sem retorno.
Porém, o demônio jamais tentara uma investida mais radical. Ele sabia que não havia necessidade disso. Aos poucos eu ia deixando minha mascara de impassibilidade deslizar, mostrando que no fundo, ou nem tanto, eu ansiava por estar no calor daquele corpo másculo. Ao menos era o que eu podia deduzir, jê que nunca toquei aquela pele de aparência sedosa.
Astaroth retesou seu tronco, deixando de se apoiar no cachorro, mas permanecendo sentado no chão. Cerrou as pálpebras em uma breve meditação silenciosa, como tudo que provinha de si. Então um brilho amarelado chamou minha atenção. Olhei curioso para as patas assustadoramente grandes do cão, que haviam começado a entrar em chamas. Porém, antes mesmo de pensar em correr e buscar um extintor ou questionar de onde o elemento provinha, reparei na expressão serena dele, assim como na de Astaroth. Ambos pareciam estar tranqüilos com a situação. Fiquei aflito.
Está certo que eram seres vindos do submundo e tal, mas jamais presenciei algo de tal magnitude. O fogo se alastrou por todo o corpo do animal, as mesmas não expeliam fumaça e nem afetavam o piso do quarto, o que aumentou em grande proporção a confusão de meus pensamentos.
E agora, no lugar onde o bichinho de estimação se localizava, sobrou um... Nada. Nenhum vestígio da presença canina que a dois segundos estava ali. Olhei interrogativo para Astaroth, ele se levantou e ficou de pé, me fazendo perceber com clareza a indiscutível beleza das plumagens esbranquiçadas em suas costas eretas. Mas... Demônios não têm asas negras?
- não sou um anjo caído como a tu deves estar a imaginar. Dadas as circunstancias, não possuo asas escuras.
Apesar de não haver emoções em sua resposta para uma pergunta que não escapou de minha boca, Astaroth pareceu divertir-se com meu estado titubeante. O que queriam? Ele leu minha mente! E mais do que isso, foi a primeira vez que o escutei dizer algo realmente significativo, escapando de seu silencio inabalável.
Sem me dar chance de lhe falar qualquer asneira sem sentido, o loiro se pronunciou novamente.
- creio que conheces a razão de eu visitá-lo com tanta freqüência...
Sua frase pairou no ar propositalmente, dando-lhe um ar arrastado e sedutor. Astaroth veio caminhando para perto de mim, parando a meio metro de me alcançar. Estendeu o braço e agarrou com ternura meus cabelos de cor indefinida, iniciando um carinho traiçoeiro, uma dança sedutora com os dedos. Apesar da incontestável dureza similar ao mais puro aço de sua pele, senti-me amolecer diante seu toque tão acolhedor, ao mesmo que me excitava sentir a temperatura demasiadamente quente daquele corpo de pelo menos dois metros de altura. Se me pusesse na ponta dos pés chegaria à altura de seus ombros.
Vi-o suspirar, para no momento seguinte massagear meus lábios com a língua sôfrega.
O que se seguiu a isso, creio que não preciso discorrer em voz alta. Só o que posso dizer é que não havia mais força para lutar contra as vontades do demônio Astaroth. Orgulho-me por ter resistido por todo esse tempo, mas eu não tinha armas para combater a arte da sedução muda daquela criatura infernal por mais tempo.

Perdi a batalha.
Perdi a guerra.
Perdi a honra.
E ganhei um amante sensacional.

Owari.


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Notas finais do capítulo

Para quem não sabe, Astaroth é um dos sete príncipes do inferno e o terceiro mais poderoso, ficando abaixo apenas de Belial e do próprio Lúcifer.
Fanfic curtinha de inauguração da conta. Dedicada inteiramente á Mika-senpai, que mesmo que inconscientemente tem me ajudado muito em todos os sentidos nesses dois curtos anos em que nos conhecemos. Valeu jiji, te adoro!!
E para os outros leitores, já tenho outras fics em andamento, só dando alguns retoques para postar. Um abraço. ^^



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