Céu escrita por Liminne


Capítulo 65
Capítulo 48 – Cego e mortal




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A semana passou dolorosamente. Na faculdade, foram raros os momentos em que seus olhares fizeram contato.

A barreira de gelo que ela cultivou durante um bom tempo, os mantinha consideravelmente afastados. Mas não o bastante. Não a ponto de não sentirem aquela ligação especial que tinham.

Mas agora... A barreira que foi construída por aqueles dois corações... Aquela barreira sim chegava bem perto de fazer inexistir a presença de um para o outro. Bem. Esse era o objetivo delas. Esse era o intuito dos dois de as terem construído. Mas quem disse que iam poder cortar aquela linha que os unia tão facilmente? Pois é... Prova de que essa linha não os havia soltado ainda, era aquela dor constante no peito. No dela. No dele.

Já era sexta-feira. Os dois se separaram no caminho para casa. E seguiram em frente.

 

****

 

Estava entediada. Mai havia acabado de sair para fazer hidratação nos cabelos. Rukia ainda não havia voltado da faculdade. E Momo parecia que tinha se afogado no banho desde que voltara da escola.

Mudou de posição no sofá e bocejou pela décima vez. Não tinha nada de bom passando na televisão.

Levantou-se preguiçosamente então e foi andando pela casa. Acabou tirando de dentro da bolsa que repousava sobre a mesa da cozinha, aquela carta. Havia ganhado em seu aniversário. Foi sua maior felicidade em meses. E sem dúvidas, seu maior presente. Então ele ainda não tinha conseguido vencer aquele sentimento totalmente... Então aquele poema que mandara no aniversário dele surtira efeito.

Desdobrou o papel nas mãos. Todos os dias, pelo menos duas vezes ela lia aquilo. Já estava a ponto de decorar os pontos e as vírgulas.

 

“Tóquio, 29 de setembro

 

Rangiku,

 

Recebi o seu poema no mês passado. É incrível como você continua sendo a única a se lembrar do meu aniversário. E é incrível também como você consegue me comprar rapidinho. Olha só pra mim. Estou escrevendo de novo pra você. Pensando no seu sorrisinho vitorioso ao ler essas palavras. E nos seus olhos... Que já deveriam ter sumido da minha mente. Deveriam!

Você acaba com a minha vida. Mas você sabe muito bem disso. Eu poderia escrever mil coisas nessa carta, em resposta ao seu poema. Mas você sabe de tudo que eu sinto. Você com certeza imagina tudo que eu tenho para dizer.

Rangiku... Eu sei que você está magoada comigo. E eu sei também que é tão difícil pra você quanto pra mim esse sentimento que compartilhamos. Mas eu não quero que você pense que eu estou fugindo. Não quero que você pense que não estou lutando. Eu não consigo, por mais que eu tente, e por mais que seja melhor para mim... Eu simplesmente não consigo ser indiferente a você.

E é por isso que eu escrevo que está chegando ao fim. Você ainda não sabe o que é. Mas está chegando ao fim. Talvez esse fim não seja bom. Talvez ele me leve pra sempre para longe de você. Talvez ele apenas me separe de você mais uma vez. Mas que diferença faz, não é? Já estamos separados. E do jeito que estamos... Pode ter certeza que não pode ficar pior. Por isso eu vou me arriscar. Vai ser difícil. E não só pra mim e pra você. Mas eu preciso que confie em mim. Confie que eu nunca quis fugir nem te magoar. Confie que eu estou louco! De verdade! Porque não consigo pensar em solucionar isso de outro jeito... E por isso vou me sacrificar sem hesitar.

Aconteça o que acontecer, lembre dessa carta. Não se desespere. Tudo vai acabar bem. Porque eu sou um louco que vai arriscar o pescoço por isso.

Por você.                                                        

Eu te amo, Rangiku. Em breve vamos poder ser impedidos apenas pelo tempo.

 

Feliz Aniversário!

 

 

Ichimaru Gin.”

 

 

Com o que ela não precisava se desesperar? Como assim ele ia se sacrificar? Ia ser difícil não só para os dois? Do que ele estava falando? Aquela carta parecia conter um código secreto. E ela não conseguia decifrá-lo.

Será que... Podia mesmo confiar nele?

Acariciou as letras que formavam ‘Eu te amo, Rangiku’. E sentiu aquele aperto no peito. E a resposta como um sussurro no ouvido.

Ela não podia confiar nele. Mas seu coração teimava em fechar os olhos para aquela realidade... E continuava lhe dizendo aquele maldito sim.

- Cheguei! – Rukia abriu a porta assustando a loira peituda.

- Ahhh! – ela deu um pulo e enfiou de qualquer jeito a carta no envelope. – Que susto, Rukia-chan! – ofegou com a mão no peito.

- Está com a consciência pesada, é? – a pequena brincou. – Cadê as pessoas dessa casa?

- Todas ausentes. – ouviu o barulho da porta do banheiro. – Bem... Acho que a Momo finalmente se desafogou.

Rukia sorriu.

- Eu vou tomar banho então. Logo estarei partindo para Kofu.

Rangiku fez beicinho e ficou olhando para a amiga.

- O que foi, Rangiku? – Rukia franziu as sobrancelhas. – Eu vou estar de volta no domingo à noite, não se preocupe.

- Não é isso, é que... – suspirou. – Ah, deixa pra lá! Melhor você correr para se arrumar, não é? – sorriu fraquinho.

- É. – ela afirmou mais com a respiração do que com as palavras.

Aquele olhar da libriana não era novidade. Ela parecia querer dizer alguma coisa. Mas sempre desistia. No fundo, a jovem de cabelos negros sabia do que se tratava. E não queria ouvir.

 

****

 

Ichigo saiu do banho e sentou-se na sala junto a Neliel e Isshin que assistiam à TV.

- Itsugo ta cheiroso! – a sagitariana agarrou o braço do ruivo e começou a cheirar seu pescoço.

- Ei! – ele ficou vermelho. – Nell, para com isso! – ralhou entre os dentes e tentou afastar a prima de cima de si.

- Ai, Itsugo, não seja malvado! – ela continuava grudada nele. E rindo.

Ele parou de reagir. Nunca funcionava com ela, mesmo!

- Ahn... Itsugo... – de repente ela ficou mais séria, mas continuava deslizando a mão pelo braço dele. – Por que você não ta mais usando aquele bracelete? – ela segurou o antebraço dele, no exato lugar onde o dito cujo costumava ficar.

- Ah-Ahh... – ele paralisou. Nem imaginava que ela havia notado sobre aquilo. – Er... E-eu... Eu só parei de usar, certo? O que vocês estão vendo na TV? – olhou para a tela apavorado.

Sabia que agora o olhar do seu pai estava queimando sobre ele.

Ele sempre soubera do bracelete, não foi? Ele sempre soubera que estava participando do programa Céu, não era? Não tinha como ter escondido isso... No fundo... No fundo ele sabia que não estava escondendo nada de seu velho.

Mas mesmo assim... Era segredo. Ainda havia uma possibilidade de ele nunca ter sonhado com aquilo. De qualquer maneira, precisava desviar o assunto.

- Mas eu gostava tanto dele... – ela continuou choramingando e apertando o braço do ruivo. – Ele era bonitinho e original. Tinha o símbolo de câncer, não era?

Ai não.

- É. – ele ainda tinha os olhos vidrados na TV.

- Humm... – ela ficou pensativa. – Compra um com o símbolo de sagitário pra mim, Itsugo?!

Isshin levantou-se do sofá.

- Uhh! Que cheiro bom! O que será que a Yuzu-chan está cozinhando pro jantar, hein?

Ichigo conseguiu respirar um pouco.

- Eu vou procurar um pra você, ta? – disse e a prima ficou comemorando toda alegre.

 

****

 

Rukia havia acabado de sair com Byakuya. Como ia voltar no domingo, as colegas de quarto nem fizeram tanto drama dessa vez.

- Bom... Estou indo, prima. – Momo comunicou dirigindo-se à porta.

- Ei, ei! – a loira chamou-lhe a atenção. – Como assim ‘Estou indo’? Está indo pra onde? É só a Rukia-chan dar as costas que isso aqui vira festa?

- Ahh, eu te disse mais cedo. – ela se defendeu. – É aniversário da Matsuri-chan e vai ter uma festinha na casa dela.

- Humm... – Rangiku ficou pensativa. – Você tem certeza que disse isso?

- Tenho. – Momo afirmou.

- Certo. – ficou olhando desconfiada para a prima. – Então pode ir.

- Obrigada! – o rosto da geminiana iluminou-se. – Não volto tarde! – correu para a porta de novo.

- Mas, ei! – Rangiku parou-a de novo. – Você não vai levar nenhum presente pra menina? – levantou uma sobrancelha.

- Ahh... Eu... Já dei o presente hoje na escola. – inventou. – Tchau, prima! Eu vou acabar me atrasando!

- Tá bom, vai. – ela desistiu das perguntas e se jogou de novo no sofá. – Divirta-se!

A menina então pegou o elevador toda sorridente. Acabara acostumando com as mentiras. Nem se sentia mais tão culpada.

E afinal, quando todo o segredo acabasse, Rangiku ia ficar muito orgulhosa. Rangiku, Mai e até Rukia. Ela também ia ser modelo! E conseguiu tudo sozinha, mesmo tendo tanta influência!

Olhou no celular uma mensagem.

- Aizen-sensei! – ela murmurou enquanto lia. – Humm... Então vai se atrasar um pouco...

Os dois haviam marcado de ir até a casa do produtor que estava avaliando as fotos de Momo. Ele queria conhecê-la. Seria um grande passo! Mas pelo visto, ela teria que ir até lá sozinha. Sentiu-se um pouco insegura e teve vontade de esperá-lo.

- Nada disso! – sacudiu a cabeça e adotou de súbito uma expressão mais forte e determinada. – Eu tenho que ser madura! – cerrou o punho. – Vou mostrar a ele que sou mais adulta do que ele imagina. – riu.

A animação estava voltando com força.

 

****

 

Tocou a campainha. Seu coração batia forte. Leu no cartãozinho novamente o nome do homem. Ficou imaginando o que ele acharia dela. Será que nas fotos parecia mais ou menos bonita? Apostava que era melhor nas fotos, já que o fotógrafo era incrível!

Ouviu passos dentro da casa. Sentiu as mãos começarem a suar. O nervosismo quase tomando conta de todo o seu corpo. Mas aquela vontade de ir em frente imperando. Ela sorria. De excitação, nervosismo e curiosidade. Seria agora que ele a veria ao vivo. E ela a ele.

 A maçaneta então girou... E revelou vagarosamente aquele rosto.

- N-não... Mas o que... – ela gaguejou petrificada. Seus olhos não ousavam piscar. Achou até que o coração tinha paralisado também.

Não estava acreditando... Era mesmo ele, não era? Não existia outra pessoa parecida em nenhum lugar do mundo!

Aqueles cabelos claros e lisos caindo pela testa... Aqueles dedos compridos segurando a porta. Os olhos claros que mal se abriam. E principalmente... Principalmente aquele sorriso. Parecia sádico. E ao mesmo tempo enigmático. E contraditoriamente magnético e aterrorizante.

Era ele. Ichimaru Gin. O ex-namorado e o dono do coração de sua querida prima. E o cara que morava no endereço do cartãozinho, no seu destino.

- Você não é o... – ela olhou para o cartão debilmente, sem saber o que pensar.

- Entre, Momo-chan. – o sorriso dele parecia crescer nos lábios.

- Mas o... – ela sentia-se ligeiramente tonta. - Você não trabalha com modelos. – ela apertava as sobrancelhas e o cartão, confusa e amedrontada.

Não conseguia entender nada. Por que ele? O que ele estava fazendo ali? O que ele queria com ela?! Ele tinha alguma coisa a ver com seu professor? Será que tinha errado de casa?

- Momo-chan. – o tom dele de simpático passou para autoritário. – Por favor, entre. Ou as coisas vão acabar ficando piores.

Ela foi atingida pelo tom sombrio da voz dele e entrou na casa. Não sabia se mais por curiosidade ou por puro medo de alguma coisa ruim acontecer.

Não... Nada de mau lhe aconteceria, certo? Ele não era tão perigoso, era? Apesar de assustar a todos com nada mais que sua simples presença, ele fora o namorado de sua prima. Ele a amara e a tratara bem.

Estava tudo certo, não estava? Então porque seu coração quase explodia apavorado no peito?

 

****

 

- Estou preocupada com a Rukia... – Mai dizia ao lado de Ashido na cama, enquanto ele lia um livro.

- É mesmo? – ele abaixou o livro e olhou para ela. – Por quê?

- Ahh, quando o assunto é Rukia você me dá atenção, né? – ela fez manha cruzando os braços.

- Mai! – ele riu. – Não começa, vai. Você sabe que...

- Eu sei, eu sei. – ela mostrou a língua. – Não vou cometer o mesmo erro duas vezes. Eu só estava te provocando. – aproximou-se mais e encostou a cabeça no ombro dele. – Você sabe, né? Ela vai noivar com um cara de Kofu.

- Não, eu não sabia! – ele pareceu espantado. – Nossa! Mas eu pensei que ela e o Kurosaki estavam se dando bem...

- Esses dois são tão complicados... – ela suspirou. – Ela só está fazendo isso porque tem medo de se magoar. – meneou a cabeça. – É engraçado como uma pessoa tão madura como a Rukia pode ter esse tipo de problema.

- E você está pensando em ajudá-la, certo? – ele deduziu.

Ela fixou os olhos negros nos olhos azuis dele e sorriu de um jeito divertido.

- Não. Nada a ver.

Ele achou graça.

- Ah, é? Que amigona, hein? – alfinetou-a.

- Quando eu tive problemas... Quando eu precisei mudar a mim mesma para superar minhas dificuldades... Eu me lembro que ela gritou comigo na frente de todo mundo. E que depois mandou a Chiharu me dar bronca. – sorriu com a lembrança. – Foi muito nobre da parte dela se importar tanto comigo. Mas eu... Eu não sou esse tipo de pessoa. E sabe... Eu acho, de verdade, que ela vai saber exatamente o que fazer na hora certa.

- Como assim? – ele franziu a testa.

- A Rukia é muito inteligente e forte. E eu acho que ela vai entender e superar tudo isso sozinha. Ela sabe muito bem que tem que encarar seu medo. Não precisa de alguém como eu para lhe dizer isso. Ela só precisa ouvir o próprio coração. E eu vou esperar por esse momento. – sorriu.

Ele sorriu de volta.

- É bom que tenham se tornado tão amigas assim. Percebo que você a entende bem agora.

- Sim. E compartilho da mesma admiração que você tinha por ela. Agora eu te entendo. Por isso não tenho mais ciúmes.

- Humm... – ele ficou encarando a namorada.

- Que foi? Eu não ter mais ciúmes te deixou tristinho, é? – provocou se divertindo com a situação.

- É... Digamos que um pouco inseguro. – ele admitiu sem encará-la.

- Olha só como são as coisas. – ela ria. – O mundo dá voltas mesmo! – levantou-se da cama. – Vou deixar você estudar em paz, agora.

Mas ele segurou o braço dela.

- Não vai não. – encarou-a. – Eu fechei o livro. E dessa vez foi por você.

Ela sorriu vaidosa e ele puxou-a para si.

 

****

 

- Eu não queria ter amarrado você, mas... Eu não tive outra escolha. Não sei se você pode confiar em mim. – apesar das palavras lamentosas, ele continuava sorrindo!

Não tinha mais como ela confiar naquela pessoa. Ele a havia amarrado e amordaçado. Boa coisa não podia vir dali!

- Fique calma, Momo-chan... – a voz dele era suave. Mas o maldito sorriso não a deixava em paz de jeito nenhum!

E... Ficar calma... Como diabos ele queria que ela ficasse calma?!

Amaldiçoava-se intensamente por ter entrado naquela casa. Por não ter saído correndo e gritando quando teve a chance. Por ser tão ingênua e curiosa!

Chorava silenciosamente. Se pudesse, gritaria até perder as forças. Mas não tinha mais volta. A única coisa que podia fazer era derramar aquelas lágrimas de medo e desespero.

Seu coração espancava suas costelas. Seu sangue parecia ficar quente e gelado, alternando confusamente. E por falar em confusão... Qual era o estado de sua mente? Confuso era muito pouco, na verdade. Ela ainda não entendia nada do que estava acontecendo.

Por que aquele homem a estava prendendo ali? Por que a pedia para ficar calma? E por que o professor Aizen teve que se atrasar para acompanhá-la?

Será que...

Não.

De repente se sentiu à beira de um ataque.

Não... Não podia ser.

Será que... Será que... Foi tudo armado por [i] ele[/i]? Aquele tempo todo?!

Não. Seu coração podia aceitar tudo. Menos aquilo.

De repente ela começou a se debater, tentando se soltar daquelas cordas. Precisa sair dali. Precisava correr para longe. Todos os seus sonhos estavam estilhaçados. Ela mal pensava no perigo naquele momento. Chorava convulsivamente de decepção. De amargura. De desamparo.

- Momo-chan... – ele tentou mais uma vez, agachando na frente dela. – Eu preciso que você fique calma para me escutar. Uma coisa ruim está para acontecer. Mas se você confiar em mim eu posso te tirar ilesa disso.

Ela parou de se debater, mas seus olhos não paravam de escorrer. Ela tremia. E aquele olhar... Seu olhar cortaria o coração de qualquer um que o tivesse.

- Ahh... – ele soltou o ar e abaixou a cabeça. Ficou pensativo por um tempo. Não estava acostumado a lidar com aquele tipo de situação. Mal podia acreditar que estava mesmo agindo assim. – Eu sei que você deve estar com raiva, deve estar frustrada... E que talvez ainda esteja negando para si mesma que o seu professor armou tudo isso pra você. Mas você precisa acreditar no que eu vou dizer. Ou então não vou ter escolha senão deixar que ele termine esse serviço sujo.

Ela ficou mais alguns minutos só chorando mudamente.

Ele levantou-se. Sabia que ia precisar um pouquinho de paciência. O que menos queria naquele momento era machucá-la. Por mais incrível ou irônico que parecesse.

- Momo-chan... – ele falou naquela voz cantarolada e ficou andando pela sala. - Você sabe que eu e sua prima já tivemos um relacionamento. E você sabe também que eu fui preso recentemente por fazer uma estupidez por ela. – riu ao lembrar. Mas ninguém saberia afirmar se aquele riso fora de sarcasmo ou realmente de humor. – Estou agora prestes a fazer uma outra estupidez. Porque eu a amo.

Os olhos dela aumentaram. Então ele... Então ele era parceiro de Aizen o tempo todo. E... E ia fazer uma outra ‘estupidez’ para protegê-la? Era isso? E tudo por... Por amor?

- Eu trabalho com o Aizen tem algum tempo. – ele voltou a andar de um lado para o outro. – E o nosso negócio é uma coisa muito feia e proibida. – parou para lançar mais um daqueles sorrisos para ela. – E quando o Aizen soube que você, uma das vítimas, era prima da Rangiku... Então... As coisas complicaram pro meu lado. Eu fui obrigado a me afastar de sua prima. Mas não foi tão fácil assim cortar nossa ligação, sabe? – ele agora encarava o vazio no ar. – A Rangiku é bem teimosa e obstinada. E... Acho que ela gosta mesmo de mim apesar de tudo. Por causa disso, ela continuou tentando e tentando... E acabando com as minhas resistências. – meneou a cabeça como se estivesse reprovando alguma coisa. Ela? Ele mesmo? O destino? – E eu simplesmente... Simplesmente podia fazer de tudo. Menos magoá-la ainda mais. Menos acabar com a vida dela. – olhou novamente para Momo. – Eu estou entre a cruz e a espada. Eu escolhi um dos dois. Aquele que só ferirá a mim mesmo.

Ela não sabia como reagir. Não podia falar. Mas mesmo que pudesse...

- Eu sei que não tem como você confiar em mim só com essas palavras. – mesmo naquele momento crítico, o sorriso mantinha-se intacto em seu rosto. – Mas eu preciso que você faça sua escolha também. Eu vou tentar enganar o Aizen por um tempo, até conseguir te tirar dessa. E depois... Depois eu vou tentar fugir. Mesmo sabendo que as chances de sucesso não são lá muito grandes. Então eu preciso que você escolha. Ou vai confiar em mim ou vai se entregar a ele.

Ela ainda não sabia o que responder. Só continuou olhando fixa e perdidamente para o virginiano.

- Bem... Acho que você merece que pelo menos eu te conte como vão ser feitas as coisas pelo lado dele. Quem sabe isso não te ajuda a se decidir também?

Aquela frase provocou arrepios pelo corpo inteiro da garota. E mais uma onda de uma melancolia que parecia infinita.

 

****

 

- E então, Rukia? Como vamos fazer ao chegar em Kofu? – Byakuya perguntou enquanto segurava carinhosamente sua mão.

- Provavelmente chegaremos um pouco tarde... – ela ponderou. – Será que não é melhor irmos cada um para sua casa e marcarmos um encontro para o outro dia? Eu posso falar com meus pais e aí no outro dia eles podem conhecer você. – sorriu pequenamente.

Os olhos dele brilharam para ela.

- Certo. – ele assentiu. – Você acha que eles vão aceitar bem?

O sorriso dela pareceu mais vivo. Mas também mais melancólico.

- Ah, com certeza. Meus pais sãos as criaturas mais doces da Terra. – seus enormes olhos azuis encheram-se de um afeto contagiante.

- Me fez ter mais vontade de conhecê-los. – ele acariciou a mão dela.

Ela só continuou sorrindo. Bocejou logo em seguida.

- Está com sono? – ele preocupou-se.

- É... – as bochechas dela rosaram de leve. – Um pouquinho.

Ele puxou-a para si e fez com que sua cabeça encontrasse seu ombro.

No começo, a capricorniana ficou um pouco surpresa. Mas acabou relaxando. Ele era uma pessoa muito gentil quando despido daquele orgulho frio.

Passou o braço pela cintura dela e aconchegou-a junto ao seu corpo. Parecia tão forte e protetor... Com certeza era a segurança que precisava.

Que precisava.

- Pode dormir um pouco se quiser. – ele disse baixinho, sua voz mais perto do rosto dela.

- Obrigada... – ela respondeu baixinho.

E de repente, sentiu vontade de explodir em lágrimas. Só não entendia por que.

 

****

 

- Com certeza você já deve ter ouvido sobre tráfico de drogas. – Gin começou a explicação depois de voltar de lá de dentro com um envelope em mãos.

Momo fez que sim com a cabeça.

- Mas... Já ouviu falar sobre... Tráfico de mulheres? – ele soltava as palavras com cuidado, mas sempre sorrindo.

Ela arregalou os olhos mais uma vez. Sentiu que as batidas de seu coração, de tão fortes, podiam ser capazes até de soltá-la dali.

- Pois é... Parece que o mundo está cheio de garotinhas ingênuas e sonhadoras como você. – não dava para acreditar que ele estava ali para ajudá-la e não para torturá-la. Será que ele não sabia falar e demonstrar seus sentimentos como uma pessoa normal? – Não sei o que o Aizen fez para te convencer. Mas ele só estava fingindo. Qualquer coisa que ele tenha dito. Era pura mentira e fingimento. Se você está aqui na minha casa hoje... E ele não... Isso é porque eu estou encarregado de te levar embora. Para cumprir o seu papel na missão dele.

Os olhos dela voltaram a encher-se d’água. Aquilo era demais. Não ia conseguir agüentar!

- Veja! – ele abriu o envelope e mostrou-lhe algumas das fotos que Aizen tinha tirado dela. – São algumas fotos que não foram mandadas. E as roupas também estão aqui em casa. Aliás... Está tudo aqui, inclusive a câmera que ele usou para fotografá-la. – sorriu mais de perto. – Será que você acredita em mim agora?

Ela fez que sim com a cabeça. E foi o gesto mais doloroso que fizera na vida.

- Me perdoe por ter que ser a pessoa a te dizer essas coisas... – ele ainda parecia estar se divertindo!

Ela começou a chorar de novo. Não tinha mais jeito. Tinha que aceitar o que viesse da parte dele. Para sair viva e ilesa daquela história.

Ilesa... Engraçado pensar nessa palavra. Mesmo que em sua pele não houvesse um arranhão no momento em que ela pisasse de novo em casa... Mesmo que não sentisse nenhuma dor... Seu coração estaria em pedaços. Por quanto tempo? Haveria alguma cura?

- Então vamos. – ele percebeu a resignação dela. – Vou te levar para o cativeiro, mas fique tranqüila. Vou ficar lá com você. Amanhã vamos colocar nosso plano em ação. Você vai embora para casa de novo. E eu vou tentar ir para bem longe. – ele abaixou na frente dela mais uma vez e segurou-lhe as mãos com os dedos frios e duros. – Quando você encontrar novamente com sua prima... – deixou a frase no ar. Ela estranhou. Mas naquele momento, algo naqueles olhos claros não parecia mais tão alegre, perigoso ou enigmático. Parecia triste. Triste de verdade. – É melhor irmos, certo? Me obedeça para que ele não desconfie de nada.

Ela fez que sim novamente. Ele soltou suas mãos. E agora ela sabia que ele tinha um coração.

 

****

 

- Papai! Mamãe! – os olhos de Rukia por pouco não se encheram d’água ao vê-los. – Eu vim antes do Natal!

- Oh minha Pudinzinha! – os olhos de Jyuushiro estrelaram. – Meu amor! Que surpresa! – apressou-se em abraçá-la forte. – O que está fazendo aqui tão de repente? Será que eu estou sonhando, é?

- Não está sonhando, bobo. Nossa bonequinha sentiu inesperadamente nossa falta. Eu estava esperando por isso. – a mulher tão gentil sorriu.

- Mamãe! – Rukia abraçou-a em seguida. – Fico tão feliz de ver vocês!

- Ohh, vamos entrar, querida! – o pai foi chamando-a para dentro. – Está bem frio aí fora e eu pressinto uma longa explicação, ahn? – piscou.

Ela sorriu. Por mais que fosse forte e independente, nada era mais reconfortante do que estar em casa.

Acomodaram-se então na sala. E depois de contarem algumas novidades superficiais e tomarem um pouco de chá, Rukia decidiu dizer o que já era para ter sido dito:

- Mamãe, papai... – encarou os dois. – Eu sei que minha visita é muito repentina. E eu sei que estou muito feliz de vê-los... Mas... Eu não estou aqui só porque prometi vir antes do Natal. Eu acho que vocês podem sentir isso, não é? – sorriu um pouco sem jeito.

- É claro. – a mãe falou. – Nós conhecemos você.

A pequena de olhos azuis inspirou e expirou devagar. Era complicado aquele assunto. Principalmente para ser tratado assim. Do nada. Na pressa de um fugitivo.

- Eu fui pedida em casamento. – disparou.

Jyuushiro engasgou com o chá e começou a tossir.

- Jyuushiro! – a mulher começou a dar tapinhas leves nas costas dele. – Você está bem?!

- Papai! – o coração de Rukia apertou-se de culpa. – Papai, me desculpa!
- Eu estou bem... – ele falou com um sorrisinho e uma voz sufocada. – Eu só... Só não esperei que fosse tão forte. – tossiu mais algumas vezes até se acalmar.

Rukia pôs a mão no peito como se assim pudesse acalmar o coração. Estava ficando ainda mais difícil.

- Sabe eu... Eu escondi uma coisa de vocês no ano passado. 

Os dois olharam para a filha com os cenhos franzidos. Escondeu alguma coisa? A sua Luazinha de prata?

- Eu... – ela desviou os olhos do rosto deles por um momento. – Eu namorei um cara... Um professor.

Os olhos de Jyuushiro arregalaram-se.

- Que você estava namorando escondido a gente já havia presumido. – a ariana disse com um sorrisinho pacífico. – Mas... Um professor? Que professor, minha filha?

- Eu não havia presumido nada! – Jyuushiro parecia infantilmente magoado.

O que fez Rukia sorrir um pouco e tomar coragem para encará-los. 

- O professor Kuchiki Byakuya. – ela respondeu apertando os dedos. – Nós... Terminamos. Por causa da faculdade... E aí eu quis me mudar daqui. Ele foi um dos motivos para eu querer me mudar.

Eles resolveram ouvir em silêncio.

- Então... – ela pensou em Tóquio. E, conseqüentemente em Ichigo. Ele era grande parte dessa história. Não. Ele era toda essa história. Mas não podia mencionar aquele nome para seu coração. Não. Ele o estava apagando aos poucos. Aos pouquíssimos. Será que estava apagando mesmo?  - Então nos encontramos nas férias de agosto. E ele foi atrás de mim em Tóquio. Me pediu em casamento... Quis se redimir por ter me deixado... – fazia esforço para continuar fitando os rostos compreensivos dos pais. – E então eu aceitei.

- Mas isso é... – Unohana ficou uns segundos sem palavras. – Isso é maravilhoso, não é, Jyuushiro? – sorriu.

- Meu bem... – ele pegou as mãos de Rukia. – Você está feliz?

Ela tentou não hesitar nenhum segundo.

- É claro que estou! – forçou um sorriso convincente.

- Ótimo. – ele apertou-lhe com carinho as mãos. – Então isso é realmente maravilhoso. – sorriu docemente.

Era exatamente a reação que esperara. Exatamente.

- Mas se vai casar, precisamos conhecê-lo o quanto antes! – o homem exigiu, mas com aquele tom afável de sempre.

- É claro. – Rukia assentiu. – Nós planejamos tudo. Queremos arrumar um encontro para amanhã. Podemos?

- Sim, lógico que sim! – ele afirmou contente. – Eu preciso aprová-lo. – tentou fazer uma cara séria de pai durão, mas só fez as duas rirem dele.

- Ele quer dar uma festa de noivado. Vamos noivar primeiro e... Ele vai me dar o anel na festa. Ele e eu queríamos que todos estivessem presentes. Que todos soubessem. Eu posso já ter aceitado o pedido na presença dele. Mas oficialmente, só vou aceitar na presença de vocês.

- Ahhh, essa é minha bolinha de neve! – Jyuushiro sufocou a pequena em mais um abraço. – Mesmo com a faculdade e com um noivo, nunca se esquece dos seus papais!

- Nunca mesmo. – ela sorriu sentindo-se quente e isolada de todos os males. Até mesmo de seus pensamentos. Pelo menos naquele instante mágico.

 

****

 

Rangiku estava cochilando no sofá, quando de repente, uma cena de tiroteio na televisão sobressaltou-a.

- Ahhh! – ela quase capotou pro chão. – Ai, maldita televisão! Que susto! – ela procurou o controle remoto desajeitadamente e desligou-a.

Levantou-se manhosamente e espreguiçou-se devagar. Sentiu o vazio no estômago e foi até a cozinha.

- Momo, já comeu alguma coisa? Hoje somos só nós duas, o que vamos fazer? – perguntou bem alto para que a prima ouvisse de qualquer cômodo do apartamento.

Mas ela não estava no apartamento.

- Momo? – não ouviu resposta. – Momo!!! – gritou. Mas não adiantou nada.

Foi então que se lembrou do aniversário da amiguinha dela. Será que ela ainda não havia voltado?

Olhou para o relógio na parede. Já passava das onze da noite! Ela havia dito que não voltaria tarde!

- Ai, ai... – pegou o celular em cima da mesa. – Com quem será que essa menina aprendeu a ser tão irresponsável, hein? – ficou resmungando enquanto discava os números da prima.

Chamou. Chamou. Chamou. Ninguém atendeu.

- Não acredito nisso. – ela continuava reclamando. – Não acredito que ela nem vai atender o celular! – bufou e pôs a mão na cintura. – Ah, mas tudo bem... É só uma festinha. Logo ela está de volta. Vou só comer alguma coisa e esperar mais um pouco. Qualquer coisa eu vou atrás dela. – decidiu e voltou para o sofá.

Ficou pensando em Rukia. Se ela estivesse em casa, já teria surtado. Com certeza! Até Mai se estivesse ali ia ficar preocupada.

Seu coração de repente espremeu-se. Parecia estar diminuindo. Ela sentiu um frio na espinha. E um gosto amargo na boca. Será que... Será que tinha acontecido alguma coisa?

Não... Não tinha acontecido nada, certo? Onde estava a Rangiku alegre e otimista de sempre? Estava absorvendo a paranóia e a preocupação excessiva de Rukia e Mai?

Sacudiu a cabeça e tentou pensar no que comer.

Mas não conseguia. Alguma coisa em seu peito não parava de se contrair. E de fazer doer seu simples ato de respirar.

Alguma coisa ia acontecer.

Levantou-se e foi até a mesa da cozinha. A bolsa estava lá. E a carta também.

“Por isso eu vou me arriscar. Vai ser difícil. E não só pra mim e pra você. Mas eu preciso que confie em mim.”

“E por isso vou me sacrificar sem hesitar. Aconteça o que acontecer, lembre dessa carta. Não se desespere. Tudo vai acabar bem. Porque eu sou um louco que vai arriscar o pescoço por isso.”

Ela já sabia de cor aquela parte.

Gin...

Será que era a isso que estava se referindo? Será que também era de Momo que ele estava falando?

Onde será que essa menina estaria? Valia à pena apenas confiar naquele homem?

 

****

 

Entrou na casa de Gin. Pelo visto os dois já tinham ido embora. Estava tudo como deveria estar. Tudo pronto. Tudo preparado.

Mas as pessoas... As pessoas são tão infiéis. Tão instáveis e vulneráveis. Fazem promessas apenas para quebrá-las depois. Principalmente quando aquele sentimento está envolvido.

Amor.

E ele sabia bem disso. Sabia que o coração dele tinha sido contaminado irremediavelmente.

- Você está em minhas mãos, Gin. – ele murmurou encarando uma pequena câmera. – Vamos ver o quão rápido esse sentimento pode acabar com você. – sorriu antes de deixar aquele lugar.

 

 

Continua...

 

 


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