Quando Seus Olhos Brilham escrita por Dessa Farkash s2


Capítulo 16
Avesso da solidão


Notas iniciais do capítulo

Shalom, novo capítulo, espero que goste! Boa leitura!



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POV.ELLA (continuação)

Olhei fixamente pros olhos dele e me perguntei:

'' E agora? O que eu faço? ''

Minhas mãos foram delicadamente até a caixinha onde estava a alinça e fechei ela.

- O que houve? - Ele perguntou, ele queria saber por que eu fechei a caixa.

- Eu não acho que seja a hora.

Ele fechou a cara e começou a escutar o que eu tinha a dizer.

- Leo, eu achei linda a aliança, quero muito dizer ''sim'' pra você, mas algo me impede. Talvez seja por que eu tenho só ''15 anos'', estou grávida e minha família está ausente, quer dizer... ELES NEM SABEM QUE EU ESTOU GRÁVIDA!

Ele entrelaçou os dedos dele nos meus com sua mão quente.

- Eu não quero te deixar insegura, tudo que você fizer ou dizer sobre isso eu quero que você esteja segura de si. A única coisa que te impede, que eu sei, é você ter 15 anos. Mas você se esqueceu que idade são só números? Eu tenho 500 anos e isso não quer dizer que eu não posso namorar uma garota linda de 15 anos igual a você.

Eu olhei pra baixo, sorrindo, mas fiquei tão tímida...

- Você sabe mesmo fazer uma menina ficar sem graça.

- Imagina...

- Tudo bem.

- O que?

- Eu aceito. Eu aceito me casar com você.

Ele não percebeu que estavamos em um shopping, me pegou no colo como se estivessemos em casa, mas eu nem liguei, por que era o nosso momento. Depois disso, nós fomos a uma loja, ele comprou-me um óculos de sol lindo e após isso fomos para casa.

- Wow, que dia cansativo!

- Também acho Ella.

Ele tirou a blusa, deitou na cama e dormiu. Eu desembrulhei os presentes e joguei fora as sacolas. Dormi mais ou menos ás 00:00 e acordei ás 9:30 da manhã.

- Bom dia Leo.

- Bom dia Ella.

- O que nós temos para o café-da-manhã?

Eu fui caminhando até a cozinha da casa dele e me deparei com uma mesa com muita comida: pães, bolos, broas, queijos e até salaminho, torradas com geléia, café, leite, suco, limonada. Não sei quantas horas ele acordou pra fazer tanta comida assim.

- Nossa Leo! Obrigado!

- De nada!

Devorei metade da mesa; mas eu como nem metade de um pão direito. Aquele desejo que todas as grávidas tem, eu tive e foi inevitável parar de comer aquele banquete.

Nós levantamos da mesa, lavamos os pratos e fomos ver televisão juntos, até que eu escuto o toque do meu celular:

- Alô?

- Oi Ella, quem fala é a Nicky.

- Oi Nicky, quanto tempo!

- Verdade. Ella, você está ocupada hoje?

- Não.

- Que bom, você quer passar a tarde aqui em casa?

- Claro, parece ótimo.

- Pode vir pra cá, você pode almoçar conosco.

- Ta bem, já estou me arrumando, beijos!

- Tchau, beijos.

Desliguei o telefone e fui falar com ele.

- Leo, a Nicky me convidou pra passar a tarde na casa dela, pode ser?

- Tudo bem.

Eu tomei um banho, coloquei um vestido amarelo e fui pra casa da Nicky.

É uma casa linda, laranja claro, com um jardim com flores lindo, do jardim dá pra ver o céu azul claro e de noite um céu todo estrelado... Lindo mesmo. Cheguei na casa dela e fui bem recebida.

- Oi Ella! Pode entrar!

- Obrigado Nicky.

- Pode deixar suas coisas no meu quarto.

- Ta bom.

Eu fui até o quarto dela, deixei uma sacola sob a cama e ouvi um homem falando alto e dando risadas em algum cômodo da casa.

- Nicky, quem está falando alto assim?

- É o meu irmão Michael, ele tem 18 anos e está no 3 ano, e estuda em outra escola, por isso vocês não conhecem ele...

A Nicky começou a contar sobre ele pra mim, quase toda a vida dele.

Ela disse algumas coisas sobre ele:

Michael está no último ano (o Leo já ultrapassou isso). Michael tirou nota 10 durante a vida toda (como se o Leo, com 500 anos de idade, não tenha tirado.). Ele provavelmente vai estudar em alguma faculdade dos E.U.A no ano que vem.

Não que o Michael seja perfeito, nada disso. Ao contrário de Leopold Zachs, Michael está na equipe de esportes da escola dele. E nem está na turma de debate, pois ele diz que não acredita em esportes organizados ou em qualquer coisa organizada, por falar nisso. Ela me disse também, que ele se tranca em seu quarto,  e só sai de lá pra fazer comentários sarcásticos e geralmente está nu da cintura pra cima. Mesmo que não acreditasse em esporte organizado, notei quando ele saiu do quarto, que ele tinha um peito bem bonitos, os músculos da barriga dele são bem definidos. Eu sai do quarto exatamente na hora que ele saiu do dele:

- Oi.

- Oi. - Eu fiquei sem graça.

- Você é amiga da Nicky?

- Sim, eu sou.

(Silêncio)

- E você está em qual ano?

- 1 ano.

- Ah, que bom.

- É...

Ele falou no meu ouvido:

- Ela é chata né?

Eu comecei a rir.

- Não fala isso pra ela, mas um garoto gosta dela.

- Quem? - Ele perguntou.

- Eu não vou dizer.

- Fala!

- Não.

- Se você não me contar, eu vou falar que tem um garoto que gosta dela.

- Tudo bem.

- Você vai me dever uma.

- E o que vou te dever?

- Sei lá, fazer minha lição de casa, estudar pra mim...

- HAHAHA, aham, ok, eu vou fazer isso. - Fiz um comentário sacástico.

Ele ficou sério de repente e disse:

- Esqueça isso, tá bem? - Ele voltou pro quarto dele.

Perguntei a Nicky por que ele estava tão zangado e ela respondeu que ele estava me provocando sexualmente, mas eu não notava.

Que coisa mais embaraçosa! Eu nem sei direito o que significa isso, muito menos como isso aconteceu e eu não percebi. Vamos supor que Leopold Zachs começasse um dia a me provocar sexualmente (como eu ia gostar!).

De qualquer modo, a Nicky disse para eu não me preocupar com Michael, pois ele não é flor que se cheire. Eu conversei mais com a Nicky, pasamos mais 3 horas juntas, eu fui embora e voltei pra casa:

- Oi, Leo!

- Oi Ellinha.

- Ellinha?

- Hahaha, esquece isso, senta aqui comigo.

Sentei no sofá e abracei ele.

- Você ficou todas essas horas vendo TV?

- É. Eu to vendo um canal, o nome é Boomerang.

- Mas não é aquele de criança?

- Sei lá, só sei que ta passando uma série legal.

- Qual?

- Split.

- Que massa, eu gosto mais de séries da HBO.

- E como você quer que seja nosso casamento?

- Eu não faço idéia... Tem muita coisa pra preparar.

- É.

- Na verdade...

Eu abri os botões da camisa dele

- Por que nós não vamos ao cinema pra namorar um pouco.

- Vamos.

Foi por causa da minha mania de ir ao cinema que tudo aconteceu. Naquela noite, eu estava cansada. E o filme era bem aborrecido, para dizer a verdade. Só fiquei para a segunda sessão porque estava chovendo e eu queria ficar um pouquinho mais perto dele naquele frio, além de não querer molhar os sapatos. Nos primeiros 10 minutos de filme, adormeci. Meu corpo escorregou na cadeira, e dormi tão confortavelmente em minha cama. Acordei em plena escuridão e silêncio. No início, nem sabia onde estava. Aos poucos meus olhos foram se acostomando com a falta de luz. Vi a tela branca, o letreiro de saída apagado. Não entendi, imediatamente, o que estava acontecendo. Levantei, atordoada. Com dificuldade, empurrei a porta de entrada. Pesada.  Saí do saguão. Só então havia percebido o que tinha acontecido: haviam esquecido de mim, no cinema. Completamente. Talvez não tivessem me visto. Olhei o relógio, estava no meio da noite. Quis telefonar para alguém, meu celular estava fora de área, nunca senti tamanho desespero. É incrível como um cinema vazio a noite, pode ser tão arrepilante. Olhava para as paredes, via sombras. Ouvia ruídos. Ao mesmo tempo tentava raciocinar. Poderia arrombar a porta, quebrar algum vidro, fazer escândalo, chamar espíritos e poderiam me chamar de indiciplinada? O ideal, sem dúvida, era esperar algumas horas, pacificamente, que alguém viesse abrir o cinema. Poderia, então, sair calmamente. Como passar aquelas horas difíceis? Foi quando vi no canto, um livro grosso, perto da doceira, Fui até ele. Peguei. Era bem pesado. Saí do saguão, onde só entrava a luz do luar, e fui ao banheiro. No hall de entrada que levava aos dois toaletes, havia uma poltrona velha, sentei nela. Abri o livro, era como se fosse um dicionário.

- Bem que eu preferia um livro de romance.

Puro engano. Só para me distrair, comecei a folheá-lo. Pouco a pouco fui envolvida no universo fascinante das palavras. Elas começaram a brilhar pra mim como estrelas no céu. Naquela noite, descobri que as palavras guardam histórias. Percorrem os tempos, registrando emoções, atravessam vidas. Entendi pela primeira vez, o como é bom sentir essa sensação pelo menos uma vez na vida, parece que nós nos sentimos completos e queremos mais disso. Deixei de ouvir os ruídos, de olhar as sombras daquele cinema vazio. Era como se eu tivesse lendo um romance que falava de todas as pessoas, de toda a humanidade. Nunca me senti tão completa e tão feliz em uma simples noite.


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Notas finais do capítulo

Gostou? Comente,e obrigado por ler!!!