Marcada Por Erik Night escrita por Roberta Matzenbacher


Capítulo 20
Capítulo vinte


Notas iniciais do capítulo

Então, aqui estamos nós.
Finalmente, o último e menos esperado capítulo, hashushua. Ou será que foi o mais esperado? Sei lá, essa fanfic representou tantas coisas diferentes na minha vida que eu não sei nem o que pensar sobre ela, mas a única coisa que posso dizer é que MPEN me abriu caminhos que eu jamais pensei serem possíveis. Foi aqui que eu percebi que aquela paixão que eu sempre tive pelas palavras era simplesmente um talento meu, e que mais pessoas também o tinham. Eu conheci pessoas ótimas, um mundo completamente novo e que era exatamente o que eu precisava e buscava. Foi com essa história que eu comecei a aprimorar minha escrita, minhas ideias... E é aqui que eu fecho o meu primeiro ciclo, também. Agora, eu me orgulho em dizer que não sou a fracassada que muitas vezes pensei que fosse, aquela que era incompleta e nunca terminava nada na vida. Eu sei que isso é mentira agora, pois eu, finalmente, estou concluindo a minha primeira fase, a minha transição e a minha descoberta.
Eu adorei escrever MPEN, adorei conhecer todos vocês e também adorei ter esse primeiro contato com esse mundo. E o último capítulo daqui não significa que vocês não terão mais de mim, só não mais de mim com essa história. Eu ainda estou disposta a conversar, a receber críticas e opiniões... Enfim, a conhecer vocês ainda mais.
E ao invés de dedicar esse capítulo a apenas algumas pessoas, quero que ele seja inteiramente daqueles que sempre estiveram comigo e as que também chegaram no finalzinho: Isabella, Calíope, Karina, Rafa, Ly Alvez... E por aí vai. Sintam-se em casa com o último capítulo, que está particularmente cheio de emoções, e se divirtam!
Boa leitura!



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– Heath! Que diabos você está fazendo aqui? – Zoey berrou tão alto que o eco de sua voz se alastrou pelo ambiente ao redor, deixando-me desnorteado. Em seus olhos havia um pouco de receio e pavor – provavelmente, pela aparição do humano em um momento tão inoportuno –, porém, ele não pareceu notar isso.

– Bem, você não me ligou. – Foi sua única resposta antes de abraçá-la, ali, bem no meio de todos, sem nem se importar com a plateia que os assistia (ou, em outras palavras, comigo). Eu até poderia ficar irritado, se não fosse meu cérebro me alertando sobre duas coisas. Primeiro, eu não precisava ser um gênio para perceber que ele estava completamente bêbado – ou chapado, ou o que quer que fosse. Segundo – e mais irritante –, ele não sabia do meu rolo com Z. Bem, se é que eu pudesse chamar aquilo de “rolo”. – Senti sua falta, Zo!

– Heath, você tem que ir embora...

– Não. – Afrodite interrompeu. – Deixe-o ficar.

Intercalei olhares duvidosos entre o humano bêbado e Afrodite, tentando decifrar o próximo passo dela e quais eram seus interesses nele – que não poderiam ser bons em hipótese alguma. E infelizmente, eu entendia muito bem o que Heath estava sentindo ao olhar para ela, que se mantinha estática no círculo de luzes causadas pelas lâmpadas do mirante, brilhando através da fumaça, e iluminando seu semblante de uma forma alucinante. Seu corpo escultural comportava um vestido que a deixava ainda mais gostosa, e seus longos cabelos louros caíam sobre suas costas, balançando-se levemente com a brisa. Daqui, ela parecia algum tipo de deusa sexy e exótica, uma que o humano parecia estar louco para provar. E eu tinha absoluta certeza, também, que ele mal suspeitava das suas reais intenções, muito menos notava as formas translúcidas assustadoras ao lado dela, que o encaravam com... Fome?

Sinistro.

– Legal, uma gata vampira. – Ele disse idiotamente.

Eu revirei os olhos para seu estado deprimente e disse:

– Tire-o daqui.

O loiro finalmente pareceu notar minha presença, pois me lançou um olhar hostil e continuou a me encarar com o cenho franzido. Contive um suspiro de frustração. Ótimo, belo momento para um ataque de ciúmes do ex namorado.

– Quem é você? – Ele questionou com rispidez.

– Heath, você precisa sair daqui. – Zoey me interrompeu antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

– Não. – Ele se aproximou de Zoey e passou o braço ao redor de seus ombros em um claro aviso de “se afaste, a garota é minha”, que eu prontamente ignorei. Eu queria dizer que não era com ele que ela estava trocando beijos ontem à noite, e sim comigo, mas decidi não discutir com um humano bêbado. – Eu vim ver minha namorada e vou ver minha namorada.

Zoey retirou o braço dele da sua volta e o puxou até que ele encarasse seus olhos.

– Eu não sou sua namorada! – Ela gritou, fazendo-me sorrir internamente.

De quem era a garota agora, idiota?

– Ah, Zo, você só está dizendo isso da boca para fora.

Nossa, esse cara era completamente sem noção. Revirei os olhos.

– Você é retardado? – Eu disse.

– Escuta aqui, seu merda chupador de sangue... – Heath começou a dizer, mas a voz de Afrodite, que ecoava estranhamente, interrompeu-o mais uma vez.

– Suba aqui, humano. – Havia algo de muito errado com ela, o que me fez virar imediatamente em sua direção – assim como todos ao meu redor – para averiguar o problema.

E o que encontrei não poderia ter me deixado mais confuso, realmente.

O corpo de Afrodite parecia esquisito, meio torto, pulsante... Mas como isso era possível? Eu jamais a vira assim em minha vida, porém, a coisa piorou, se é que fosse possível. Repentinamente, ela começou a passar as mãos lentamente pelo próprio corpo, dando ênfase aos seios e barriga. A visão poderia ser excitante como o inferno se ela não tivesse um olhar tão diabólico no rosto. Afrodite chamava Heath com um dos dedos da mão, enquanto que com a outra descia até o meio de suas pernas, meio que se masturbando ali, no meio de todas as pessoas presentes.

Céus, ela era tão sem noção quanto o humano.

– Venha, humano. – Ela disse. – Quero provar você.

Completamente hipnotizado, o humano foi se aproximando de Afrodite sem nenhuma hesitação. Eu já o tinha visto assim, mais precisamente, na noite em que a própria Zoey disparou seus encantos nesse pobre coitado, mas aquilo era diferente. Se aquele humano se aproximasse um pouco mais do círculo, com certeza viraria comida de fantasmas. E como se fôssemos um, eu e Zoey rapidamente seguramos Heath, um em cada braço, antes que ele fizesse qualquer besteira.

– Pare, Heath! – Zoey gritou, desesperada. – Quero que você vá embora. Aqui não é o seu lugar!

Vi o esforço que ele fez para desviar o olhar da vaca, hum, quer dizer, de Afrodite, e desviá-lo de mim para Zoey. Rapidamente, ele puxou seu braço que eu segurava e meio que rosnou para mim, dizendo:

– Você está me traindo, Zo!

Meu Deus, alguém cale a boca desse tapado, por favor.

– Será que você não ouve? Eu não posso estar te traindo. Nós não estamos mais juntos! Agora dê o fora antes que...

– Se ele não atende nossos chamados, nós mesmos iremos pegá-lo.

Virei a cabeça e vi que o corpo de Afrodite convulsionava de maneira muito estranha, enquanto pequenos filetes acinzentados e brilhantes serpenteavam a partir dela. Ela arfou de uma maneira que ficou entre um suspiro e um grito apavorado. Porém, antes que eu pudesse raciocinar sobre o que estava se desenrolando bem diante dos meus olhos, eu avistei os espíritos, inclusive aqueles que estavam evidentemente a possuindo, correrem até a borda do círculo, pressionando-o na tentativa de quebrá-lo para chegar até Heath. Senti meus olhos se arregalando e meu corpo tensionado em pavor conforme as ondas gradativamente se desintegravam.

– Detenha-os, Afrodite! Se você não fizer isso, eles irão matá-lo! – Ouvi uma voz masculina ecoar pela noite, e em seguida, a forma do amigo de Zoey – Damien, eu achava – saindo de trás de uma cerca viva que ficava ao redor do pequeno lago.

Franzi o cenho em confusão. O que ele fazia ali?

– Damien, o que...? – Zoey começou a dizer, mas ele balançou a cabeça.

– Não há tempo para explicar. – Então, ele se voltou para Afrodite. – Você sabe o que eles são! Você tem que contê-los no círculo, senão ele vai morrer!

Afrodite estava tão pálida que parecia feita de papel, o que me surpreendeu. Acho que jamais a vi com tanto medo na minha vida, tudo bem, eu também estava morrendo de medo das formas translúcidas que ainda pressionavam o círculo, mas nada disso justificava o que ela fez a seguir:

– Eu não vou detê-los. Se eles o querem, que o tenham. Antes ele do que eu, ou qualquer um de nós.

– É, não queremos nada com esse tipo de merda. – Denio disse, deixando a vela cair pesadamente no chão, o que apagou o fogo automaticamente. Sem mais nem menos, ela saiu correndo de perto do círculo e desceu as escadas do mirante, sendo acompanhada por Enyo, Pempheredo e Sabina, que seguravam as outras velas. Suas formas desapareceram na noite, deixando a cena lamentável que restou para trás sem arrependimento algum. Com um misto de choque e decepção, vi que meus amigos estavam com cara de apavorados, mirando o mirante como se lá houvesse algo tremendamente aterrorizante.

Entretanto, antes que eu pudesse pensar muito sobre isso, os fantasmas, que antes estavam presos seguramente dentro do círculo, soltaram um chiado alto, e começaram a derreter para fora. A fumaça de seus corpos escorria pela escada, deixando um rastro negro e assustador por onde passava.

Todos ao redor começaram a recuar conforme as formas avançavam, lançando olhares temerosos a Zoey, que continuava parada feito uma estátua no mesmo lugar. Seus olhos nunca deixavam os fantasmas.

– Depende de você, Zoey. – Uma voz diferente ecoou do alto do mirante, e minha cabeça se virou a ponto de registrar a forma de Stevie Rae parada no meio do círculo com uma longa capa negra cobrindo seu corpo. Eu podia ver as ataduras em seus pulsos.

Mas que diabos ela fazia lá? E como havia chegado sem... Mas será que...?

– Stevie Rae! – A voz de Zoey cortou meus pensamentos confusos.

– Eu disse que precisávamos ficar juntas. – Ela respondeu calmamente.

– É melhor correr. – A voz de Shaunee se fez presente.

– Estes fantasmas estão deixando seu ex apavorado. – Erin concluiu.

Olhei para trás a ponto de vê-las ao lado do humano bêbado, que estava muito pálido. Mas o que diabos estava acontecendo ali? Como todos eles conseguiram nos encontrar? Não que eu estivesse reclamando disso, claro, afinal, sua presença parecia trazer algum sentido a essa confusão toda, mas eu não conseguia entender como eles conseguiram nossa localização.

Bem, que se dane.

– Vamos acabar logo com isso. – Zoey disse, e então, voltou-se para mim. – Segure-o aqui. – Ela pediu, gesticulando na direção de Heath.

Eu estava confuso demais para pensar, por isso, apenas assenti enquanto ela e seus amigos corriam na direção do mirante. Completamente embasbacado, percebi que os fantasmas se aproximavam lentamente de Heath, mas não apenas isso, como de mim também. Seria bom Zoey fazer logo o que pretendia, senão eu temia que o pior acontecesse.

– Você não tem o direito de estar aqui. – Ainda pude ouvir a voz de Afrodite, que bloqueava a passagem de Zoey até a mesa onde estava a vela do Espírito. Céus, essa garota era completamente sem noção. – Este círculo é meu!

Revirei os olhos. Nem quando a situação foge de seu controle ela deixava de ser odiosa.

– Este era o seu círculo. – Zoey disse. – Agora cala a boca e dá o fora daqui.

Eu não pude mais ouvir o que elas discutiam, pois um chiado extremamente estrangulado e alto ecoou pela noite, sobressaltando-me. As formas, que antes caminhavam lentamente até Heath, agora nos cercavam completamente. Senti o tremor descer pela minha espinha e o gelo tomar conta de meu corpo, deixando-me sem movimento algum. Mesmo que meu cérebro gritasse para eu fazer alguma coisa, minhas pernas não obedeciam. Entretanto, conforme os fantasmas se aproximavam mais e mais, o desespero e a adrenalina me tomaram, e o instinto de sobrevivência falou mais alto do que o pavor, impulsionando-me a agir.

Cada vez que aquelas formas de rostos desfigurados e horríveis se aproximavam, eu e Heath as chutávamos para longe. Porém, isso não fazia muito efeito, uma vez que seus corpos não eram exatamente consistentes e eu tinha a impressão de tocar gelatinas. Fora que, nos locais em que eles nos pressionavam, filetes de sangue começavam a escorrer.

Uma das formas conseguiu subir pela minha calça, arranhando minha perna com força. A dor foi instantânea. Parecia que mil facas foram cravadas contra a minha carne e continuavam a pressioná-la sem piedade. Entretanto, a minha dor não era nem comparada a de Heath, que estava tomado de formas ao seu redor. Uma delas conseguiu atingi-lo da mesma forma que eu, provocando feridas fundas em sua pele. O grito do humano irrompeu pela noite, fazendo-me voltar à realidade e dar um jeito de espantar aquela coisa que ainda estava grudada em mim.

Era cada vez mais difícil espantá-los. Eu os sentia mais e mais perto. Nossos chutes já não eram mais suficientes para afastá-los. Aproximei-me de Heath e ficamos um de costas para o outro, em uma tentativa quase falha de mantê-los longe para, pelo menos assim, impedir que eles chegassem por trás e nos pegassem desprevenidos, entretanto, isso já não bastou por muito tempo também. Segurava meus urros de dor o máximo que podia, mas Heath já não era capaz disso, talvez por estar sendo mais atacado. Ele grunhia e se debatia com força, ambos estávamos completamente desesperados. As formas estavam perto demais.

– Aqui está seu sacrifício! – A voz de Zoey foi ouvida ao longe, e ela jogou o líquido da taça ao seu redor e chamando a atenção dos fantasmas, que pararam o que estavam fazendo imediatamente. Respirei fundo, aliviado. – Vocês não foram chamados aqui para matar, e sim porque é Samhain e nós queremos lhes homenagear.

As formas ainda encararam Zoey durante algum tempo, talvez cogitando as hipóteses. Só que, para meu desespero, alguns deles negaram com a cabeça, até que um deles dissesse:

– Nós preferimos este sangue quente e jovem, Sacerdotisa. – O bafo que saiu de sua boca bateu diretamente em meu rosto, causando-me fortes enjôos. Parecia que os cheiros de carne podre, estrume, peixe cru, vômito ou seja lá o que for tivessem sido misturados ali, de tão repugnante que era.

– Eu entendo, mas estas vidas não são suas. – Zoey respondeu. – Esta é uma noite de celebração, não de morte.

– Mesmo assim, escolhemos a morte... Ela nos é mais bem vinda. – A criatura ainda deu uma risada diabólica antes de se voltar para Heath mais uma vez. Por deus, o que faríamos agora?

– Então eu não estou mais pedindo, estou ordenando! – Zoey berrou com fúria, erguendo ambas as mãos para o alto. – Vento, Fogo, Água, Terra, Espírito! Eu ordeno, em nome de Nyx, que fechem este círculo, trazendo de volta os mortos que deixaram escapar. Agora!

Mal tive tempo de registrar o fato de que Zoey literalmente estava invocando os elementos de acordo com suas vontades, algo que era extremamente raro e magnífico, já que uma estranha sensação de calor tomou conta de mim. Uma névoa verde e brilhante serpenteou ao redor de Zoey, saindo de seu alcance até que chegasse a mim e Heath, sacudindo nossas roupas e cabelos como louco. O vento mágico pegou as formas e as sugou de volta para dentro do círculo.

Automaticamente, senti meu corpo pesar, mas me mantive firme quando percebi que Heath estava caindo atrás de mim. Segurei sua cabeça antes que ela atingisse o chão, seus olhos estavam revirados e ele tinha uma careta de dor evidente no rosto. Tudo bem, eu também sentia uma ardência dos infernos em minhas pernas e braços, mas isso em nada se comparava a ele. Por um momento, esqueci-me de nossas diferenças e me permiti ter compaixão por aquele humano, lamentando a coincidência negativa de ele ter vindo para cá justo no dia que deveria ter ficado em casa.

Com o canto dos olhos, procurei meus amigos, mas não havia ninguém. Eu não podia acreditar que eles foram tão covardes a ponto de fugir quando eu mais precisei deles. A sensação de perda e decepção se apossou do meu corpo instantaneamente, assim como um peso enorme em meu peito, que não tinha nada a ver com Heath estirado sobre meus braços. Resignado, voltei-me para Zoey, que estava dando um jeito nos montes e montes de fantasmas ao seu redor, e, em seguida, para o humano.

– Hey, Heath, você tá legal, cara? – Dei tapinhas em seu rosto na tentativa de despertá-lo, mas ele apenas grunhiu fracamente.

– Acho que não... – Ele sussurrou. – Minha perna, ela está... Está doendo muito.

Era visível seu esforço para sequer falar.

– Tudo bem, nós já vamos conseguir ajuda. Aguenta aí, ok?

– Aham. – Foi a única coisa que ele respondeu antes de desmaiar de vez.

– Heath? Heath? – Senti o desespero me tomar conforme eu balançava seus ombros e não obtinha nenhuma resposta. – Você não pode morrer, cara. Zoey vai me odiar para sempre se você fizer isso! Acorda, Heath! – Sem sucesso. – Merda!

Reuni toda a força que me restava e agarrei seus ombros. O garoto era enorme e pesava como o inferno, mas ainda assim me recusei a desistir. Consegui arrastá-lo por alguns metros, mas ele estava sangrando muito e minhas pernas protestavam a cada novo passo que eu dava. Eu já estava completamente sem esperanças, tomado por uma dor agoniante, e sem mais nenhuma força para sequer me mover. Por fim, pousei o corpo de Heath no chão e me voltei para Zoey, quase sem fôlego ao dizer:

– Z. Ele precisa de ajuda!

– Ele não importa. – Afrodite gritou de volta. – Deixe-o aí. Alguém o encontrará de manhã. Precisamos sair daqui antes que os guardas acordem.

Eu não podia acreditar que Afrodite seria tão mesquinha e covarde a ponto de fazer uma crueldade como essa a um humano inocente, mesmo que ele fosse muito estúpido. Senti o nojo e a repulsa de outrora tomarem conta de meu corpo, e eu com certeza vomitaria se não fosse pela imagem de Zoey, que entrou em meu campo de visão.

Uau. Era só o que eu tinha a dizer.

– E você ainda me pergunta por que eu e não você? – Ela gritou. Eu não tinha ideia do que elas falavam, mas também não me importava, pois estava concentrado demais nas tatuagens que cobriam o corpo de Zoey. Era incrível como Nyx poderia guardar tantos mistérios consigo. – Quem sabe por que Nyx já esteja de saco cheio de você, sua egoísta, mimada, detestável...

– Nojenta! – Erin e Shaunee completaram.

– É, uma nojenta folgada. – Então, ela deu um passo para mais perto de Afrodite, as marcas em seus ombros reluzindo à luz da lua. – Esta transformação toda já seria bastante difícil sem ter alguém como você. Se nós não quisermos ser os seus aduladores, você nos trata como se fôssemos intrusos, como se não fôssemos nada. Mas quer saber? Acabou, Afrodite. O que você fez esta noite foi imperdoável. Você quase causou a morte de Heath, e talvez até a do Erik e sabe-se lá de quem mais. Tudo por causa do seu egoísmo.

– Não foi culpa minha se o seu namorado te seguiu até aqui! – Ela ainda teimou como uma criancinha mimada. Revirei os olhos.

– Não, Heath não foi culpa sua, mas essa é a única coisa pela qual você não pode ser acusada. Foi por sua causa que suas supostas amigas não ficaram do seu lado para manter o círculo forte; foi por sua causa que aqueles espíritos chegaram ao círculo, pra começo de conversa. – Ela encarou Zoey com o cenho franzido, fazendo-a revirar os olhos. Confesso que eu também estava um pouco perdido. – Sálvia, sua maldita idiota! Você tem que usar sálvia para limpar as energias negativas antes de usar a erva-doce. E não é de se surpreender que você tenha atraído espíritos tão horrorosos.

"Porque Afrodite é uma detestável". Eu pensei.

– É, porque você é horrorosa. – Stevie Rae exclamou, avivando meus pensamentos. Era incrível como todos pensávamos parecido em relação a Afrodite.

– Você não tem nada com isso, geladeira! – Afrodite berrou.

– Não! – Zoey colocou o dedo na cara de Afrodite. – Essa droga de história de geladeira é a primeira coisa que está acabando.

– Ah, então agora você vai fingir que não morre de vontade de beber sangue, assim como o resto de nós?

Vi quando Zoey hesitou um pouco ao responder essa questão, e me lembrei do quão horrorizada ela ficou depois do primeiro ritual e de como ela não queria contar nada aos seus amigos. Porém, bastou que eles acenassem em concordância para que ela criasse a coragem necessária para continuar. Afinal, não havia pelo que se envergonhar.

– Um dia, todos nós teremos sede de sangue. – Ela disse simplesmente. – Do contrário, morreremos. Mas isso não nos torna monstros, e está na hora de as Filhas das Trevas pararem de fingir que são. Você está acabada, Afrodite. Você não é mais a líder.

– E suponho que você esteja se achando a líder agora? – Ela desdenhou.

– E sou. – Zoey respondeu. – Eu não vim para a House of Night pedindo esses poderes. Eu só queria um lugar para me encaixar e... Bem, acho que essa é a resposta de Nyx as minhas preces. – Ela sorriu para seus amigos, que sorriram de volta. Eu não consegui conter a alegria que tomou conta de mim nesse momento. – Está na cara que a Deusa tem um excelente senso de humor.

– Sua retardada, você não pode simplesmente tomar o comando das Filhas das Trevas. Só uma Alta Sacerdotisa pode mudar a liderança.

– Então é muito conveniente que eu esteja aqui, não é mesmo? – Interrompeu Neferet.

Choque passou por mim quando o corpo esbelto e altivo de Neferet saiu das sombras e entrou no mirante, caminhando rapidamente na minha direção. Embasbacado com sua serenidade e beleza, senti-a tocar meu rosto e dar uma boa olhada em todos os cortes que se espalhavam pelo meu corpo e o de Heath, que ainda estava desacordado em meus braços. Quando ela passou a mão pelos ferimentos, no entanto, uma onda de calor passou dela para mim, e senti todos os rasgos se fecharem e pararem de doer automaticamente. Respirei fundo com o alívio que dominou todo o meu ser naquele momento.

– Estes ferimentos vão se curar. Vá à enfermaria quando voltarmos à escola e eu vou lhe dar uma pomada para diminuir a dor dos cortes. – Neferet deu um tapinha em minha bochecha como se eu fosse uma criancinha. Senti a queimação subindo em minhas bochechas com a vergonha. – Você mostrou a bravura de um vampiro guerreiro ao ficar para proteger o garoto. Eu estou orgulhosa de você, Erik Night, e sei que a Deusa também está.

Senti uma onda de prazer indescritível ao ouvir suas palavras. Eu poderia nem estar pensando muito bem nas coisas quando fiz tudo aquilo por Heath, mas eu achava que era exatamente isso o que contava para tornar alguém heroico. Não era simplesmente fazer um ato de caridade para se mostrar aos outros ou fingir uma reputação, como muitos das Filhas e Filhos das Trevas faziam, e sim demonstrar a coragem necessária nas horas mais difíceis. Horas em que apenas aqueles que realmente se importam mostram sua glória.

Pude distinguir sons de aprovação vindos de trás, e percebi que muitos dos Filhos das Trevas estiveram escondidos nas sombras e agora caminhavam de volta ao mirante. Consegui perceber meus amigos, um a um, entrando em meu campo de visão; primeiro Drew, depois Keith, seguidos de Cole, TJ e, por último, Thor. Então, eles não me abandonaram quando eu precisei, mas estavam apenas apavorados demais para seguir? Confesso que isso ainda me deixou um pouco chateado, mas vê-los ali e bem me fez sentir um pouco melhor. Afinal, eu não estava realmente sozinho.

Por fim, Neferet agachou-se até chegar ao corpo de Heath. Ela ergueu sua calça ensopada de sangue e tocou seu rosto da mesma forma como fez comigo. O humano ficou rígido imediatamente, mas logo depois relaxou visivelmente, sem mais nenhuma dor. Após um momento, ele pareceu finalmente dormir, ao invés de ficar desmaiado e esperando para morrer. Ainda de joelhos, Neferet disse:

– Ele vai se recuperar, e não vai se lembrar de mais nada desta noite, a não ser que ficou bêbado e se perdeu tentando achar a ex-quase-namorada. – Ela olhou para Zoey com carinho, citando o apelido esquisito que ela usava para se referir ao humano.

– Obrigada. – Zoey sussurrou.

Assentindo, Neferet voltou seu olhar decepcionado para Afrodite.

– Eu sou tão responsável pelo que aconteceu hoje quanto você. Faz anos que eu conheço seu egoísmo, mas preferi fazer vista grossa, esperando que a idade e o toque da Deusa lhe fizessem amadurecer. Engano meu. – A voz de Neferet ganhou a qualidade clara e poderosa de uma ordem. – Afrodite, eu oficialmente a destituo de sua posição de líder das Filhas e Filhos das Trevas. Você não está mais treinando para ser uma Alta Sacerdotisa. Agora, você não é mais diferente de nenhum novato. – Com um movimento ligeiro, ela esticou o braço e tirou o colar de prata e granada que simbolizava a liderança das Filhas e Filhos das Trevas do pescoço de Afrodite, que não disse absolutamente nada enquanto isso.

Eu não sabia ao certo se sentia pena ou nojo dela, afinal, ela fizera por merecer seu destino. Mas pensar no quanto aquele título significava para ela fez meu peito se aquecer um pouco. Só um pouco. Afinal, ela precisava aprender a ser um ser digno, não alguém odioso. Por fim, Neferet se voltou para Zoey.

– Zoey Redbird, eu soube que você era especial desde o dia em que Nyx me comunicou que você seria Marcada. – Ela sorriu e pôs o dedo embaixo de seu queixo, levantando sua cabeça para que pudesse conferir as novas marcas. Então, ela afastou os cabelos de Zoey para que todos pudessem conferir as tatuagens adicionais em seus ombros. Realmente, era incrível como o padrão delicado em azul safira contrastava em sua pele cor de oliva. Os desenhos formavam padrões exóticos e nunca antes vistos em qualquer Sacerdotisa. Eu e os demais arfamos com a beleza e o poder evidente da Deusa. – Extraordinário. Realmente extraordinário. – Neferet sussurrou. – Esta noite você mostrou como a Deusa foi sábia em lhe conceder poderes especiais. Você fez por merecer a posição de Líder das Filhas e Filhos das Trevas e de Alta Sacerdotisa em treinamento através dos dons que Ela lhe presenteou, bem como por sua compaixão e sabedoria. – Então, ela entregou o colar a Zoey. – Use este colar com mais sabedoria que sua antecessora.

Como se não bastasse toda a evidente glória, Neferet fez algo impressionante. A Alta Sacerdotisa de Nyx, a vampira mais poderosa desta House of Night, abaixou a cabeça formalmente, fazendo o sinal de respeito dos vampiros. Uma onda de orgulho e emoção me preencheu quando todos ao redor – inclusive eu mesmo – se abaixaram também. Era incrível o quanto uma pessoa que apareceu de forma tão repentina poderia causar tamanho rebuliço em tão pouco tempo. Zoey provocou quase que uma revolução em nosso meio infectado, provando que seu jeito simples e singelo poderia dar lugar a uma verdadeira guerreira. A uma verdadeira líder.

– Voltem para a escola. – Neferet disse. – Vou resolver o que precisar ser resolvido por aqui. – Então, ela deu um abraço singelo em Zoey e disse: – Saúdem a nova Líder das Filhas e Filhos das Trevas!

Como se fossem um, todos cercamos Zoey e praticamente a carregamos de volta para a House of Night. O barulho de silvos e gritos de alegria era audível a quilômetros, mas ninguém parecia se importar. Eu estava tão feliz por finalmente estarmos em mãos seguras ao invés daquela vaca que se achava alguém importante que eu não poderia nem expressar em palavras. Ainda tive tempo de abraçar meus amigos antes que Zoey parasse em frente a todos – que estavam seguindo logo atrás dela – e praticamente ordenar:

– Não, pessoal, caminhem comigo!

Os quatro amigos de Zoey a cercaram, cochichando furiosamente uns com os outros. Pelo tom de voz dela, eu presumi que estaria repreendendo Stevie Rae por ser a geladeira, mas logo deixei de prestar atenção, já que Drew parou ao meu lado com a expressão mais decepcionada que já vi na vida.

– Hey, Drew. Tudo bem? – Eu perguntei.

Ele fungou um pouco antes de acenar.

– Sim, quer dizer, mais ou menos. Eu não posso acreditar que Stevie Rae tenha feito isso. Hum... Não sei, foi horrível e meigo ao mesmo tempo, mas dá pra acreditar na coragem dela? E pensar que a gente quase bebeu o seu sangue!

– Calma aí, apaixonado. Ela só fez isso pra poder saber onde estaríamos hoje à noite. Ao menos foi o que eu ouvi da conversa. – TJ exclamou.

– Ah, então quer dizer que você anda ouvindo as conversas alheias? – Thor disse.

– Não, mas eu só estava... Eu... Ah, esqueçam. – TJ deu de ombros com um revirar de olhos, o que fez todos nós sorrirmos.

Ao longe, observei os amigos de Zoey a rodearem com um abraço de urso enorme. Não resisti em me aproximar rapidamente deles e sussurrar:

– Hey, será que eu posso entrar nisso também?

Zoey e seus amigos levantaram os olhos e me encararam com doces sorrisos.

– Ora, claro. Você deve. – Damien disse, enquanto os demais davam risadinhas acanhadas.

– Desista, Damien. Ele joga em outro time, lembra? – Disse Shaunee, enquanto Erin empurrava Zoey na minha direção. – Dê um abraço nele, Z. Afinal, ele tentou salvar o seu namorado hoje.

– Meu ex namorado. – Zoey corrigiu, deslizando para meus braços automaticamente. Senti seu cheiro doce impregnar minhas narinas e não resisti, beijando seus lábios de maneira sedenta. Naquela hora, eu não me importava com ninguém ao redor, muito menos meus amigos assoviando logo atrás.

– Ah, por favor. Dá um tempo. – Shaunee resmungou.

– Vão arrumar um quarto! – Erin completou.

Eu ainda estava anestesiado pelo beijo de Zoey, por isso, nem prestei atenção no que eles diziam enquanto caminhavam de volta para a ponte. Pude ouvir apenas algo como "fome" e "comida". O que automaticamente abriu meu próprio apetite.

– Se importa se eu for com você? – Questionei a Zoey.

– Que nada. Já estou me acostumando. – Ela respondeu.

Não pude conter a risada que escapou de meus lábios enquanto seguíamos para a House of Night, entretanto, um miado cortou a noite e ouvi Zoey dizer algo como "vão, eu já encontro vocês" antes de caminhar na direção do som e sumir em meio às sombras. Todos pararam de caminhar e ficaram aguardando o seu retorno, mas quando Afrodite apareceu e começou a discutir algo com Zoey, ficamos em alerta.

– O que aquela maldita quer agora? – Shaunee resmungou.

– Algo bom não deve ser. – Erin completou.

– Eu não tenho ideia, mas vamos descobrir. – Disse Damien.

Paramos logo atrás de Afrodite, assim, no momento em que ela se virasse, daria de cara com a muralha formada pelos amigos de Zoey. Ela não pareceu perceber isso, no entanto, ainda olhando para Zoey e dizendo com desdém:

– Está só começando. Vai ficar bem pior. – Depois disso, ela finalmente se virou para nós, hesitando em continuar.

– Tudo bem. – Zoey exclamou. – Deixem ela passar.

Shaunee e Erin abriram caminho. Afrodite ergueu a cabeça, jogou seus cabelos para trás e passou por nós rapidamente, como se fosse a rainha do mundo. Balancei a cabeça, completamente embasbacado. Será possível que ela jamais mudaria?

– Hey. – Stevie Rae sussurrou para Zoey. – Aconteça o que acontecer, estaremos juntos.

Com um sorriso, ela respondeu.

– Sim, juntos.

E então, cercado pelos meus antigos e novos amigos, e sob a perspectiva de uma vida completamente nova, voltamos para casa.


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Notas finais do capítulo

Então é isso, pessoal. O fim!
Acho que esse foi o capítulo mais difícil que eu escrevi, não por ser o último, mas porque eu realmente encontrei certa dificuldade em algumas partes, principalmente, naquela com os fantasmas e tudo isso... Sei lá, só espero que tenha ficado bom, kkk.
Perdoem-me se tiver algum erro (e quero que me avisem se avistarem um), mas eu escrevi praticamente todo o capítulo hoje e estava com muuuuita preguiça de corrigir. Eu tinha umas 1000 e poucas palavras e do nada acabei com quase 5000, haha, escrevi muito e meus dedos estão doloridos.
Quero agradecer a todos que comentaram e também aos que não comentaram e ainda têm a chance de fazer isso! Sério, se vocês estiverem com vergonha ou algo assim... Não fiquem, sério, eu não vou ficar puta com vocês nem nada. Até o contrário, ficarei muito feliz com a aparição dos fantasminhas, nem que seja só no último! Me digam o que acharam da história, por favor, isso é muito importante pra mim, nem que seja com um "nossa, amei sua fic!" ou coisa parecida, hshuaauhs.
E pra quem quiser acompanhar minhas outras histórias ou algumas novidades, entre para o meu grupo. Podem ter certeza de que eu ficarei imensamente feliz em recebê-los
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Sem mais protelar, quero dizer adeus e agradecer por tudo! Sério, apesar das circunstâncias, amei escrever MPEN!
Com amor,

Roberta Matzenbacher.



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