Mestre e Comandante escrita por americangods


Capítulo 3
Capítulo 2 - Reclamante




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/209394/chapter/3

“Afastem-se dele!”


Disse a voz, pausadamente, mas de uma maneira completamente fantasmagórica. Grunt empunhou sua espingarda e Garrus o rifle. A quarian pegou a pistola e a espingarda ao mesmo tempo, sem saber direito qual usar. Shepard tentou manter a calma.


Grunt atirou a esmo. As balas sofreram a aceleração cinética do gerador de campo mass effect e acertou uma parede no outro extremo da sala.


“Pare! Você pode acertá-lo!”


“O que são vocês? Covenant?”


“Saiam daqui!”


A voz não parava. Repetia as frases o tempo todo. As vezes alguma nova.


– Eu sou Shepard, comandante da Normandy, soldado da Aliança dos Sistemas humanos e da Terra! – fez uma pausa, e a voz fantasmagórica pareceu fazer o mesmo – Esses são meus companheiros, Tali, uma quarian, Garrus, um turian, e Grunt, um krogan. Não somos Covenant, tão pouco sabemos o que é isso. Agora é sua vez. Identifique-se.


O console acendeu algumas luzes, e logo uma projeção holográfica brotou dele. Surgiu a imagem de uma mulher humana de cores e tons azulados.


– Eu sou Cortana – disse a projeção, agora numa voz normal e feminina. – Você disse que é Comandante, isso indica que você é militar. Mas nunca ouvi falar de Aliança dos Sistemas alguma. A UNSC mudou de nome? – ela olhou para os lados, depois fez uma pose pensativa. – Será que passou tanto tempo assim?


Ela olha para os outros ao lado de Shepard. Apesar de todos manterem capacetes, ela consegue distinguir os traços básicos de cada um deles. Não parecem nada com Elites, Brutes ou Grunts, apesar de um deles ter o mesmo nome da espécie dos Unggoy.


– Você disse quarian, turian, krogan. São as suas espécies? – Perguntou, olhando para cada um deles.


Shepard respondeu por eles, assentindo.


– Deus, será que passou tanto tempo assim? – ela fez uma cara preocupada – Será que John...? Oh, céus! Saiam daí, abram caminho! – e apontou para a direção que Grunt e Garrus estavam. Os dois se afastaram, um para cada lado. – Eu tenho que tirá-lo dali!


– Cortana – era a voz de Shepard. A projeção pareceu ignorar. – Cortana? – a imagem começou a tremer e sofrer estática.


Tudo começou a tremer. Eles não sabiam se era obra de Cortana ou outra coisa.


Algumas luzes acenderam atrás deles. Uma das cápsulas foi tomada por um clarão e acendeu completamente todos os cursores, teclas e leds que possúia. Uma fumaça começou a sair dela e se dissipar. A imagem dentro da cápsula foi ficando mais clara. Era um corpo que estava ali dentro. Numa armadura escura, que parecia ser verde. Ela o cobria completamente e o visor dourado não revelava seu rosto.


– John! John! – a projeção pareceu voltar ao estado de desespero de antes. – John, acorde!


A quarian estendeu a mão e uma pequena luz alaranjada passou pela armadura, escaneando-o.


– O que você está fazendo? – ela quase voltou para o estado de quando a encontraram. Tali sentiu um arrepio, mas continuou.


– Detectei batimentos cardíacos, mas estão muito baixos. Temos que retirá-lo daqui, ou– Cortana não deixou que ela completasse.


– Comandante Shepard! Por favor, eu suplico, tire John daqui! Ele pode ser a nossa última esperança na luta contra o-


A projeção foi invadida por uma estática e não voltou mais ao normal.


“Shepard!”


Era Joker de novo.


“A espaçonave está prestes a entrar em órbita de Eden Prime. Se vocês não voltarem para a Normandy agora não poderemos tirá-los daí!”


– Como isso é possível? – perguntou Garrus.


“Ela entrou em modo de aceleração subitamente. As turbinas ligaram e estão indicando uma queima de combustível gigantesca.” EDI completou.


– Shepard, temos de sair, agora! – gritou Grunt.


– Mas e ele? – perguntou Tali apontando para o homem na capsula. – Não podemos deixá-lo aqui.


– Ele ainda está vivo, mas logo não vai estar. Acostume-se com isso magrinha. É assim com todas as coisas.


Filosofia krogan. Tali não merecia isso.


A porta que entraram subitamente fechou. Cortana apareceu novamente no console.


– Vocês não podem sair por aquele lado, a Dawn já entrou em órbita. Vocês não podem sair sem nós dois!


Ela voltou com o estado de desespero no máximo. Virou-se novamente para o homem na cápsula.


– John! Chief!


– Diga rápido qual o caminho da saída, mulher! Ou eu estouro você – e Grunt apontou a espingarda para o console.


– Eu não sei! Eu não consigo acessar a minha memória! Mas ele sabe! Ele sabe como sair daqui! Chief! Vamos, Spartan! Acorde!


“Shepard, nós estamos perseguindo a espaçonave, mas ela está acelerando muito. Vocês tem 159 segundos antes dela começar a desintegrar” EDI. Com uma voz preocupada. Shepard nunca ouvira ela assim antes.


Fez a única coisa que poderia fazer. Bateu na cápsula. Socou ela uma, duas vezes. Se aquele cara de armadura era a única saída deles, então Shepard o acordaria.


– John! Por favor! Eu preciso de você! – suplicou Cortana mais uma vez enquanto Shepard batia na cápsula.


E então uma corrente elétrica vinda de lugar algum, mas lá de dentro, do fundo do seu subconsciente, atingiu o homem de armadura. Ele responde a súplica de Cortana e as batidas na sua cápsula, e ele mesmo o faz. Um soco que simplesmente racha e parte em dois o vidro da cápsula, fazendo com que as batidas de Shepard parecessem com nada.


Quando o Spartan acorda, a primeira coisa que faz é saltar para fora da cápsula. A primeira coisa que vê são quatro vultos que recuaram subitamente com suas ações. Ele olha para o console, onde vira Cortana pela última vez sabe-se lá quanto tempo atrás. E lá está ela, a mesma de sempre, aquele semblante que era um misto de preocupação e alegria ao mesmo tempo. Só ele a vira dessa maneira antes. Só a ele que Cortana se permitia mostrar-se dessa maneira.


Não perde tempo.


– Estou aqui, Cortana.


Uma explosão. E mais uma. E outra. Componentes da espaçonave começam a explodir ao entrar em contato com a fricção e calor da atmosfera de Eden Prime.


– John, tire-nos daqui!


O homem de armadura pega algo de dentro do console, parecido com um chip, e coloca-o na parte de trás de seu capacete. E então olha para os cinco outros indivíduos que dividiam a sala com ele e Cortana.


– Quem são eles? – pergunta alto, e os quatro não entendem nada.


“Alguém com uma espaçonave. Tire-nos daqui!”


Ele vira para a cápsula e pega alguma coisa de dentro dela. Parece uma pistola, mas diferente de tudo que Shepard já vira. Ele e seus companheiros ficam apreensivos e entram em posição de combate. O homem ignora. Olha para os lados. Não sabe como sair dali, mas o único caminho que restou era o contrário ao das explosões.


Não sabe o caminho. Mas escolhe uma direção mesmo assim. Sempre funcionou. Sua sorte nunca falhou.


– Vamos. Sigam-me! – diz o homem de armadura, e aos outros, não resta nada se não fazer o que disse.


Ele aponta a arma para uma porta trancada e atira. Uma granada lança-se sobre o vácuo e explode assim que entra em contato com a porta. Os destroços pairam no ar enquanto o homem abre caminho e os outros o seguem.


“Vá, Spartan! Vai, vai, vai!”


Ele acha que ouviu ela falar aquilo alguma vez antes. Parecia fazer pouco tempo, mas ao mesmo tempo, parecia ter passado uma eternidade.


Eles correm cerca de oitocentos metros num corredor que parece não ter fim. O homem de armadura então recarrega a arma e atira mais uma vez. Aquilo não deveria causar o dano necessário para destruir o casco de uma fragata, mas subitamente, é isso mesmo que acontece. Uma junção de fatores permitiram isso. Como sempre.


Ele vê, ao fundo, o espaço sideral e bilhões de estrelas. E uma espaçonave. Não era parecida com nada que já tenha visto, mas era uma esperança simpática o bastante para ele. Ele vira para os outros.


– Nossa carona?


– Nossa carona – responde Shepard. – Você tem que pular. Acha que consegue?


– Eu sempre pulo – diz ele, numa aparentemente calma.


Dá dois, três passos para tras e salta em direção a espaçonave estranha.


Os outros fazem o mesmo.


– Sentiu minha falta? – perguntou alto, mas ninguém ouviu. Só Cortana.


Ela riu.


“Senti”


––


John não gostava de multidões, muito menos de platéia. Ele também não gostava de ir para a ala médica, por mais que nunca tenha visitado aquela em específico antes. Uma mulher o examinava, embora estivesse ainda com sua armadura. Ela perguntou se ele poderia retirar, e quando ouviu nada nem ação nenhuma como resposta, resolveu prosseguir com os exames assim mesmo. Já encontrara muitas vezes tipos piores que aquele, como krogans mercenários, por exemplo


Depois veio outro indivíduo analisar John. Ele sentiu um pouco de receio do estranho alienígena, mas tranquilizou-se assim que a médica, humana e levemente grisalha, pareceu trocar palavras amigáveis com o alienígena. Ele respondia numa língua que John não entendia, mas que a médica parecia compreender completamente.


Imaginou que eles usassem alguma espécie de tradutor para facilitar o contato. Os outros alienígenas que encontrou assim que acordou reforçavam essa tese. Os humanos se comunicavam normalmente com eles, um inglês misturado com expressões chinesas, já Shepard falava outra língua –, e os aliens respondiam em suas línguas originais, sempre com total compreensão dos humanos.


O alienígena se chamava Mordin Solus, disse a médica à John, e ele não parava de falar um segundo. A humana parecia não se importar, como também parecia estar acostumada. A voz dele, no entanto, era um pouco chata, principalmente porque John não entendia nada que ele dizia, embora a médica traduzisse hora ou outra.


Estava de costas para a porta, mas ouviu-a abrindo. Mais alguém juntara-se aos três naquela sala. Ele não se virou, continuou o que estava fazendo: ficar parado.


– Qual é o seu nome? – era a voz de Shepard.


– Master Chief Oficial da Marinha UNSC, Spartan 117.


– O que? – foi a única coisa que Shepard conseguiu responder. – Do que está falando? UNSC?


– Se me permite perguntar, oficial, qual sua designação?


– Comandante – respondeu, com um pouco de incerteza.


– Aparentemente ele é seu superior, Shepard. – disse a médica ao observar a hierarquia do estranho humano.


– Não até saber se ele é da Aliança ou não. E provavelmente não é. O scan de DNA não bateu com ninguém do banco de dados da Aliança.


– O que é a Aliança? – perguntou o homem de armadura verde.


– Céus, outro amnésico... – Shepard levou a mão ao rosto. – De onde você veio, Master Chief? Quem é seu oficial comandante?


– Almirante Lord Terrence Hood – respondeu John. Ele demorou um pouco para escolher as palavras seguintes, e quando estava para pronunciá-las, aconteceu algo na sua armadura.


Uma projeção holográfica azulada saiu de um mircroprojetor do capacete dele. A humana e o alienígena se assustaram . Shepard nada fez, já conhecendo aquela que se apresentou.


– Comandante Shepard, se me permite perguntar, – a IA fez uma pequena pausa, esperando que a atenção cobrada lhe fosse devidamente concedida – mas em que ano nós estamos?


Não foi Shepard que respondeu. Uma voz vinda da própria nave que fez isso.


“Na contagem de tempo humana, 11 de março de 2185”


– Cortana – era a voz de John, que parecia levemente alterada com aquele notícia – nós... voltamos no tempo?


O alienígena começou a falar sem parar, os seus grandes olhos negros e serenos pareceram ficar maiores do que nunca. Andava de um lado para o outro fazendo conjecturas e mais conjecturas que John não tinha a menor ideia do que significavam.


– Como assim, voltaram no tempo? De que ano vocês são?


– 2552 – respondeu Cortana. – A minha última data do calendário humano registrado é 11 de Dezembro de 2552, mas... John... essa não parece-


– Vocês estão delirando? Chakwas você medicou esse cara? – Shepard perguntou com uma leve irritação.


– Se eu puder... – A IA disse mas foi logo cortada, curiosamente, por outra IA.


“Você não vai. Shepard, ela está tentando acessar os nossos bancos de dados”


Era EDI.


– Eu preciso de respostas! – Cortana respondeu indignada.


– E você as terá, assim que nos der algumas – disse Shepard ao sentar-se em uma cadeira próxima. Cruzou as pernas e tentou seu melhor olhar ameaçador para aquela IA que não tinha certeza se conseguia vê-la e para aquele capacete com visor dourado que não tinha certeza se lhe dignava qualquer atenção.


– Meu nome – começou o de armadura. Não sabe porque, mas sentiu-se um pouco intimidado ao falar aquilo. Talvez fosse o olhar que lhe foi dirigido. Talvez fosse a pessoa que lhe dirigiu. Estranho. Nunca se sentira assim antes. Não que lembrasse – É John 117. Esse é meu nome. Essa é minha designação. Eu sou um Spartan e soldado da UNSC, Comando Espacial das Nações Unidas da Terra. Essa é Cortana, uma inteligência artificial também pertencente à UNSC. Nós estavamos na Ark, a Instalação número 00 dos Forerunners combatendo em aliança com os Elites, os parasitas Flood e os Covenants, num último esforço para salvar o que restava da humanidade e dos sangueillis.


Shepard olhou longamente para a armadura verde. O seu olhar de intimidação se perdera no meio daquele discurso absurdamente fantasioso e ridículo. Tudo que tinha agora a dar para o tal Spartan 117 e aquela IA tagarela e louca era o seu mais puro e incrédulo olhar de perplexidade.


– Mas que... mas que merda toda foi essa? – foi a única coisa que conseguiu pronunciar.


A médica acompanhou o alienígena e arregalou os olhos, o alien, por sua vez, encontrou-se parado no meio da sala médica, tentando absorver tudo aquilo que o homem disse, mais as anteriores afirmações que eles vieram do futuro.


O homem de armadura se levantou e postou-se de pé, frente a Shepard, que demorou para retribuir o ato. Ficou em estado de perplexidade, porque aquele homem simplesmente era quase um gigante de tão alto. Não tinha notado isso até então. Ele tinha certamente mais de 2 metros e 10cm, se não muito mais que isso.


– Permissão para perguntar, Comandante – disse o homem de armadura. Shepard só assentiu, lentamente. Ele então retirou o capacete e mostrou um dos rostos mais pálidos que Shepard jamais vira. – E vocês, quem são? Qual a história de vocês?


Shepard congelou. Não sabia o que falar. A presença que aquele homem tinha era algo fora do normal. O sentimento dos outros daquela sala parecia mútuo ao seu. Todos parados. Mordin inclusive sem falar nada por mais de um minuto. Além do rosto pálido, ele tinha os olhos e cabelos castanhos, mais uma dezena de cicatrizes grandes ou pequenas espalhadas pela face.


– Eu... – as palavras saíam com dificuldade, mas depois de um tempo, conseguiu fazer o mesmo que o homem. Levantou-se, retirou o capacete e começou a falar, mas não antes de sentir-se ridiculamente menor que o gigante – Eu sou Andromeda Shepard. Sou a Comandante da Normandy, a espaçonave em que estamos. Sou temporariamente oficial da Aliança das Nações Unidas da Terra e também sou uma Spectre, agente de elite da Citadela.


– Você pode perceber agora, Comandante, que sua história me parece tão absurda quanto a minha.


John olhou longamente para a mulher a sua frente. Por mais que estivesse, como todos os outros naquela sala, espantada, ainda assim possuia uma coisa estanha naqueles olhos esverdeados como a sua armadura. Tinha algo dentro deles que queimava, assim como em uma pessoa que conheceu a muito tempo atrás. Mas as semelhanças paravam por aí, pois Shepard era ruiva e seu rosto tinha traços delicados, apesar de impor um respeito e ao mesmo tempo uma arrogância que pouco vira em uma mulher antes. Ela também tinha algumas cicatrizes pelo rosto, ainda que num número bem menor que as dele. Uma ia do lábio inferior até quase o queixo, e outra, a maior que tinha, descia de pouco abaixo o olho esquerdo até a bochecha do mesmo lado.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Yep, Shepard é mulher. Tinha pensado em usar o John Shepard padrão no início da história, mas já escrevendo resolvi mudar. A verdade é que a Shepard mulher me parece uma heroína muito mais crível que o John, muito devido à dublagem espetacular da Jennifer Hale. Ela pode ser boa, má, caucasiana, negra, asiática ou latina que a voz se encaixa perfeitamente na personagem, diferente do Shepard homem.
Tentei deixar esse aspecto misterioso na descriçao dela até ela tirar o capacete, só de brincadeira, rs.