Após tanta dor, eu não sentia mais o meu corpo. Parecia estranhamente correto morrer assim. Vlad nada disse. Ele só queria sua vingança.

         Senti uma fisgada no estômago. Era um pedaço pontiagudo de madeira que ele usou para me perfurar violentamente.

         -Morra, sua desgraçada! – gritou.

         -Acho que não, Vlad.

         Um grito. Vlad fitou seus olhos azuis nos meus e sussurrou um ligeiro “obrigado” antes de sumir como que numa fumaça. Agora ele e Victoria poderiam estar juntos, não? E minha memória voltou em mais um flash repentino. Tudo fazia sentido agora. Virei-me para o meu salvador. Ele se encontrava tão ensangüentado quanto eu e o amei ainda mais por causa disso.

         -A culpa é minha, Jessy... É só minha.

         -Não importa mais. Já acabou.

         Ele ajoelhou-se ao meu lado, suas feridas sarando rapidamente.

         -Você vai morrer. – disse-me, melancolicamente. – Não me deixe...

         -Eu tenho que ir... Foi o que eu sempre quis. Morrer pelo meu amor.

         Não acredito que me voltei contra mim mesma: que desejo idiota. Eu não queria deixá-lo de verdade. O que me animou foi que, pelo menos, nossas mentes voltaram a ficar em sintonia. O vazio se fora. Mas logo voltaria.

         Ele arrancou o pedaço de madeira de cima de mim e senti a minha vida por um fio. Estava quase na hora. Ele começou a chorar lágrimas silenciosas.

         -Vou ficar bem! – tentei tranqüilizá-lo.

         -Eu sei. Sei que vai.

         Ele mordeu seus lábios, fazendo sangrar a si mesmo. Depois, beijou-me. Adormeci no ultimo e mais profundo sono de minha vida.