-É muito injusto isso! Eu quero ver!

         -Não. Chega dessa discussão, vai... Desista!

         -Ainda estou chateada.

         -Amor... Eu voltei! Não é isso que importa?

         -Óbvio que não!

         -E por que não? – Perguntou-me confuso.

         -Porque eu fiquei muito preocupada com você essa semana! Quero saber o que andou fazendo! E além do mais, você só voltou mesmo porque eu fiz a poção!

         -E não entendeu pra que ela serve...

         -Isso é que não importa!

         Ville me abraçou a deu um beijo em minha testa. Eu estava tão eufórica por ele estar de volta! Ali, em meus braços, que era o seu lugar. Sem mencionar sua mente colada na minha... Tudo em seu devido lugar.

         Mas admito que eu estava paranóica. Queria saber exatamente o que acontecera ao meu vampiro enquanto ele esteve fora.

         -Primeiro, - Ele disse – a poção me atrai porque tem gosto bom. Tem cheiro bom... Enfim, é a única coisa além de sangue que os vampiros apreciam.

         -Pensei que gostassem de sangue.

         -Adoramos! É maravilhoso, na verdade. Só que... É um pouco frustrante ter que beber a mesma coisa por toda a eternidade.

         -OMG! É verdade! Hey, Ville... Quantos anos você tem?

         -Ah... Não lembro.

         -Lembra sim!

         -Não lembro exatamente. Não ligo para datas... Mas acho que estou lá pra... Um século e meio. Talvez um pouco mais.

         -150 anos?

         -Eu acho...

         -WOW!

         Ele divertia-se com minhas reações. Cada suspiro meu, valia por uma risadinha dele. E aquele sorriso era de matar...

         -Ville... E semana passada?

         -Ah... Foi uma semana difícil pra mim. No início, foi mais fácil... Eu só estava me sentindo mal pela dor. O lado psicológico estava meio perdido.

         -Dor? Que dor?

         -Aquela dor. A que eu senti no dia que fui embora.

         -Não quer explicar de onde ela veio?

         Silêncio total.

         -O que você vai fazer se eu não explicar? – Perguntou.

         -Pular pela janela!

         -E cair nos arbustos lá fora? Vá em frente, pelo menos não vai ser tão doloroso assim.

         -Eu não estava falando da minha janela! Estava falando da última janela do último andar de um prédio de 157 andares!

         -Ha! Isso sim vai deixar umas marcas...

         -Explica logo!

         Silêncio outra vez.

         -Será que isso não é óbvio? – Ele falou, impacientemente.

         -Não!

         -Amor... Você é uma humana, eu sou um vampiro! Não fomos realmente feitos um para o outro! Um vampiro não pode se apaixonar por uma humana! Quando os dois estão juntos, coisas muito erradas acontecem. E quem é que se dá mal? O vampiro, claro!

         -Quer dizer que a gente nunca vai poder... de novo?

         -Ah... A gente pode, amor... Mas é que... Eu vou ficar estranho depois.

         -Ta...

         Ele percebeu que fiquei meio triste e me beijou.

         -Não se preocupe com isso agora. A gente dá um jeito.

         Eu sorri e o abracei.

         -Mas retornando... Eu senti muita dor no primeiro dia. Um pouco de culpa também, mas era pouca. Depois que minha mente foi clareando, eu realmente senti sua falta. Mais que de costume. Aí, resolvi aparecer para te observar, mas tive medo... Medo do seu medo. Eu não sabia como você iria reagir. Mas com o tempo, eu fui tentando convencer a mim mesmo de que era uma coisa boa voltar.

         -E seus inimigos?

         -Que inimigos?

         -Não tente me enganar. Eu sei que está com problemas.

         -Maldição... Onde é que ficou sabendo disso?

         -Com a Tia!

         -Ah... Eu odeio essa mulher.

         Silêncio outra vez. Dava para perceber que ele não queria falar sobre esses assuntos.

         -Mas e os inimigos?

         -Ah... Encontrei com um pessoal ruim. E eles só estão medindo forças para me matar. Só isso.

         -Te matar?

         -É. O de sempre mesmo, nada muito sério.

         -Nada muito sério? Ville, isso é terrível!

         -Não se preocupe, amor. Eles não são de nada.

         E então, Ville me explicou que não estava “totalmente” sozinho. A maioria dos vampiros, segundo ele, participava de “círculos”. Isso era quase um tipo de irmandade. Não que eles andassem juntos o tempo todo, mas o círculo estava sempre girando: cada membro sempre sabia o que estava acontecendo na vida dos outros membros. No círculo dele, havia outros quatro vampiros.

         -Nada com que se preocupar, como eu disse.

         No entanto, era evidente que ele ainda estava um pouco tenso em relação a isso. Algo ainda estava errado.

         -Qual é o problema então?

         -O seu ex.

         Ben? O que ele tinha a ver com a situação? Só era um bobão normal. Assim como eu...

         -O que tem ele?

         -Nada. Além do fato de ser um cachorro, miserável, traiçoeiro, duas caras, melhor amigo do homem, animal irracional, idiota, imbecil, mal cheiroso... Ah, não tem nada de errado com ele.

         -Que qualidades boas! – Disse eu sarcasticamente.

         -Para combinar com o tipo de idiota que ele é.

         -E você o odeia porque...

         -Ainda não está claro, amor?

         Silêncio. É claro que não estava!

         -Ele é um lobisomem.