Something Like Love escrita por Boca de Netuno


Capítulo 3
capítulo três.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/20912/chapter/3

  
   Nunca uma quinta-feira passou tão rápido por mim quanto aquela. Despedi-me das garotas mais cedo, rumando para a biblioteca do colégio. Respirava o ar quente de um dia de outubro, sentindo-me incomodada com aquele burburinho das pessoas em volta de mim. Passei pelas portas da biblioteca, agradecendo por aquele silêncio agradável. Subi as escadas, deixando a mochila na entrada, como de costume.


   O lugar estava praticamente vazio, igual a todas as vezes que eu ia lá. Virei na terceira estante, já sabendo o que pretendia pegar emprestado. Meus olhos varreram as sessões, nem dando atenção à pessoa que tinha acabado de parar ao meu lado. Como não achava o que estava procurando, deixei os dedos percorrerem a estante, murmurando os nomes dos livros.


   "Qual você está procurando?" uma voz desconhecida falou baixo, parecendo meio incerta se deveria estar falando comigo ou não.


   "Moulin Rouge. Mas não acho em lugar nenhum." falei distraidamente. A voz serena calou-se por um momento, como se estivesse pensando no que falar.


   "Ah, sim. Você não vai achar." Desisti, então, de olhar as estantes, para encarar quem estava me ajudando. Por pouco não caio no chão com as pernas bambas. O que ele estava fazendo ali? - -"Uma garota pegou esse livro hoje de manhã. Rose alguma coisa" Parecia mais desinibido, para dizer o mínimo. "Lillian, certo?"


   "Sim." Sorri, mais largo do que gostaria. "Droga. Se Katie tivesse vindo comigo no intervalo, eu teria conseguido pegar. E com certeza a Rose não vai devolver em menos de uma semana" resmunguei, mais para mim do que para ele. "Mas obrigada, Patrick." disse, nervosa e com o rosto quente.


   "Hum, se você quiser o livro, eu posso te emprestar o meu." ele disse, me surpreendendo. "Trago pra você amanhã." sorriu fraco.


   "Jura? Seria ótimo! Eu estou querendo ler esse livro faz tempo. Obrigada mesmo!" revelei sem querer, falando tudo muito rápido. Ele alargou um pouco o sorriso, ainda tímido. Quando percebi que ele não diria mais nada, falei com a voz meio tremida "Ah, então, te vejo amanhã." Dei dois passos atrás, me virando lentamente, mas parei, lembrando de minha promessa comigo mesma e virei de novo para ele, sem saber direito o que estava se passando. "Sabe, achei que você fosse mais tímido." as palavras saíram do nada, uma vez que eu não as havia planejado.


   "Bom, aqui é meio que meu habitat, um lugar mais isolado deles," disse, acenando a cabeça em direção às salas de aula "então eu tendo a me soltar um pouco." ele riu, nervoso. "Sou voluntário pra cuidar da organização dos livros." explicou, uma vez que percebera que não o tinha feito.


   "Nem sabia que podia se voluntariar no colégio." falei, em um claro tom de surpresa.


   "Tem muita coisa que a gente descobre lendo os murais quando não tem com quem conversar." eu ri baixinho. Ele me encarou por alguns segundos, para depois dizer: "Então, tenho que voltar ao serviço." e olhou por cima do ombro para uma mesa empilhada com vários livros de capas e tamanhos diversos.


   "É, eu tenho que ir." apontei para trás. "Hum, até amanhã." disse, não sabendo como encerrar a conversa apropriadamente.


   "Até amanhã." ele acenou brevemente. Virei-me e fui embora, mordendo o lábio, contendo-me para não gritar. Desci silenciosamente as escadas, jogando a mochila nas costas e sorrindo o máximo que meu rosto permitia.


   Agora, quando eu lembro, foi a conversa mais tosca que eu já tive, mas, naquele dia, foi a melhor conversa do mundo, ainda mais porque eu finalmente sabia como me aproximar dele. E havia sido bem mais fácil do que eu havia imaginado. Tinha que me lembrar de agradecer imensamente a Katie por não ter ido comigo à biblioteca.


   Mamãe demorou para chegar a chegar, então fiquei sentada no chão, encostada num poste, observando as pessoas passar. Três casais passaram em minha frente, de mãos dadas ou abraçados. Por mais que eu também quisesse um romance, achava ridículo essas garotas fáceis, que assim que arrumavam namorado no colégio, punham a máscara de boa menina, e continuavam se mostrando para todo o colégio, bem no meio do pátio. Talvez fosse um pouco de inveja, por elas estarem aproveitando o que eu não conseguia. Suspirei alto, fechando os olhos por alguns segundos.


   Senti alguém bater em meu tênis repetidamente, chamando desnecessariamente minha atenção, já que nem precisei abrir os olhos para saber quem era.


   "Oi, Seth." sorri, abrindo os olhos. Ele olhava para mim sorrindo. "Onde você estava que ainda não foi embora?" perguntei, despreocupada.


   "Na biblioteca." Deu de ombros. Congelei, mas consegui manter a face indiferente. Ele não notara nada. "Desde quando você conversa com o Stumph?" Ou era o que eu pensava.


   "Se ele falar comigo amanhã, desde hoje." balancei a cabeça, sarcástica, mas ainda com medo das perguntas que viriam.


   O pior é que eu não conseguia mentir pro Seth. Ele era meu amigo da escola anterior. Meu único amigo, que isso fique marcado. Éramos os dois excluídos, a estranha e o homossexual. Jamais menti para ele. Nem tinha como, o desgraçado conseguia ver através de mim.


   "E você quer que ele fale?" perguntou, sem me encarar, como quem não quer nada.


   "Olhe, você realmente vai começar com esse assunto agora?", tentei escapar. Fui salva pela minha mãe, que chegou quando ele estava prestes a me bombardear com mais perguntas. "Má sorte hoje, Seth, Tiff chegou." disse, me levantando. Como o esperado, ele levantou-se junto.


   "Eu sempre posso pegar uma carona com você." ele sorriu, e eu realmente esperava que ele estivesse brincando.


   "Oi, Seth, quer uma carona?" mamãe perguntou, abaixando meu vidro. Tiffany adorava o Seth, mais do que qualquer outro amigo meu.


   "Não precisa, hoje é o Ed que vem me buscar, ele já deve estar chegando." ele sorriu e eu escondi meu rosto, para que eles não vissem meu sorriso aliviado.


   "Tem certeza? É caminho." ela insistiu, enquanto eu entrava no carro.


   "Tenho sim. Obrigado."


   "Ok, então. Diga à sua mãe que mandei um beijo."


   "Pode deixar." ele acenou. "Tchau, Lill."


   "Tchau, Seth." acenei de volta sorrindo, mas ainda gelada, enquanto o carro saía dos limites da escola.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

n/a: particularmente, eu adoro o seth ele é chato, mas é um ótimo amigo