Família De Aparências escrita por SaraMendes15


Capítulo 6
Sentimentos Incompreendidos


Notas iniciais do capítulo

Há 9 anos que não pegava nesta fanfiction. A minha beta lançou-me o desafio de terminá-la. Aqui estou a tentar fazer essa proeza.



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O silêncio instalado naquele corredor só tornou aquele momento ainda mais aterrador. As tochas estavam com uma fraca luz, mas Hermione conseguiu aperceber-se que aqueles dois loiros estavam a olhar-se de forma intensa. Sabia que Lexie não escaparia de uma detenção, pelo que só estava na dúvida se seria ela ou Draco Malfoy a aplicar. Não sabia o que tinha dado na cabeça de Lexie Allinson para sair do dormitório e ir à procura dela para que ela visse a composição. Anotou mentalmente que se fosse Draco a passar a detenção, não deixaria de passar um raspanete na menina do primeiro ano.

— Então temos aqui uma Gryffindor fora do dormitório. – disse Draco com um semblante já mais neutro. – Bem, Granger, como é? Faço eu ou fazes tu?

Hermione sabia que Draco se referia à detenção e suspirou alto e bom som, dando um sorriso triste para Lexie que ainda não havia descolado o olhar do loiro à sua frente. Lexie também sabia que sofreria consequências pelo seu acto impensado. Desejou quase poder voltar no tempo. Tinha de ser mesmo o seu irmão a estar com Hermione Granger naquele preciso momento? Não sabia se o que lhe estava a irritar mais era a atitude de presunção do irmão ou a hesitação de Hermione em aplicar-lhe o castigo.

— Lexie, o que estás a fazer fora da torre? – a voz de Hermione era de repreensão, mas ainda assim doce. – Sabes perfeitamente que não podes estar a estas horas fora da cama.

Embora a constatação de Hermione tivesse dado a Lexie uma vontade inexplicável de revirar os olhos, a menina apenas disse num tom baixo:

— Desculpa, Hermione, tens razão. Devia ter esperado lá em cima. Aliás, desculpem-me os dois. – Lexie demonstrava-se calma, embora o seu coração batesse a mil à hora.

O monitor dos Slytherin deixou uma gargalhada morrer na garganta que não passou despercebido às duas Gryffindor. Passava-lhe na mente que aquela criança ia trazer-lhe muitos problemas. Era uma criança encantadora, embora ele não quisesse admitir, mas tinha também uma tendência para se colocar em sarilhos. Se ela soubesse o quanto ele tinha de se esforçar diariamente para cumprir o que prometera a progenitora de ambos, tentaria Lexie Allinson ser mais discreta? Uma criança mais vulgar? Deixaria de tentar travar amizade com o trio maravilha que era perito em desvendar segredos?

— 40 pontos a menos para a tua equipa, minha menina. – Draco estreitou o olhar para a irmã e a seguir girou nos calcanhares para sair dali.

Sabia perfeitamente que tinha acabado de aplicar o máximo que podia numa retirada de pontos. Era também do seu conhecimento que tinha acabado de deixar uma Hermione perplexa e uma Lexie desapontada no corredor de acesso às torres. Esperava que com o castigo pesado não aguçasse a curiosidade de Hermione Granger e que fosse suficiente para Lexie sentir na pele que ele estava chateado… na verdade ele estava muitíssimo chateado por saber que a sua pequena irmã lhe tinha mentido acerca da sua amizade com a monitora chefe dos Gryffindor.

— Idiota! Deu-te a detenção máxima! – exclamou Hermione Granger entre dentes num pequeno desabafo que não passou despercebida à menina loira ao seu lado. O olhar de Hermione ainda estreitava na direção em que Draco tinha desaparecido. – Vamos Lexie, não deverias estar aqui sequer. Lamento mesmo que isto tenha acontecido. Não podes andar atrás de mim nos corredores após a recolha dos alunos… no máximo esperavas por mim no dormitório ou na sala comum. – a voz era mais dura agora.

Lexie apenas assentiu com a cabeça e seguiu Hermione com uma batalha a acontecer dentro da sua mente. Se Draco lhe tinha dado a detenção máxima o objetivo era demonstrar-lhe o quão chateado estava. E tinha a certeza que não se prendia com o facto de ela estar fora do dormitório às dez horas da noite. Enquanto subia as escadas para o dormitório feminino, reparou que as figuras dos quadros estavam ausentes, provavelmente para tirar umas horas de sono. Esse pormenor poderia ter arrancado um sorriso da menina, mas ela estava demasiado preocupada com o que iria fazer.

Antes de entrar no dormitório, ouviu uma voz masculina entoar na zona comum que acabara de abandonar e deixou-se ficar a tentar captar a conversa, pois sabia que Hermione ainda lá estava a ver a sua composição.

— Como correu a monitoria com o irritante do Malfoy? – a voz de Ron era baixa, mas como era masculina e forte fez-se ouvir na parte de cima da escadaria.

Lexie sentiu os seus punhos cerrarem com o adjectivo que o ruivo dera ao seu irmão.

— Não correu mal, tendo em conta as expectativas. Só que ao chegarmos ao corredor de acesso às torres das equipas estava lá a Lexie Allinson com esta composição para eu ver… - disse Hermione, abanando o pergaminho.

— E o que fizeste? – perguntou Ron, sentando-se desajeitadamente numa das poltronas vermelhas.

— Eu? O maldito não me deu tempo sequer de fazer nada, aplicou uma retirada de 40 pontos à Lexie! – Hermione ainda não estava conformada com o castigo de Draco Malfoy.

— 40 pontos? Mas ele enlouqueceu? O Liam disse que isso era uma retirada de pontos em situações extremas…

— Sim, para situações de repetição de acontecimento ou se for um aluno do quarto ano para cima. Não é para ser aplicado a uma aluna do primeiro ano, Ron. Ele foi muito injusto e ainda me deixou o relatório para fazer.

— É só o Malfoy a demonstrar mais uma vez que consegue ser um preconceituoso extremista. Aposto que se fosse um Slytherin ele nem 20 pontos tirava.

Hermione abanou a cabeça inconformada e levantou-se para ir ter com o amigo. Já não se estava a conseguir concentrar na composição e prometera a Lexie que lhe entregava com as devidas correcções na manhã seguinte. Mas agora só queria relaxar um pouco com o seu melhor amigo ruivo. Chegando perto do sofá onde estava Ron, sentou-se no braço do sofá com um suspiro dramático antes de falar:

— E tu e a Parkinson? Sem problemas?

— Uma boca aqui, outra ali, mas correu dentro da normalidade. Sem episódios bizarros para relatar. Mas tu sabes que te preferia aturar a ti a falar sobre História da Magia sem parares para respirar… - o sorriso travesso de Ron fez Hermione dar uma gargalhada sonora.

No andar de cima Lexie, que perdera o interesse na conversa dos dois amigos, dirigiu-se para o dormitório e vestiu o pijama, evitando fazer qualquer barulho ou teria umas quantas Gryffindor a reclamarem. Deitou-se e tentou adormecer, esperando que os recentes acontecimentos se fossem dissipando da mente para darem lugar a um alegre sonho com o seu pai e o seu melhor amigo de quatro patas.

xxx

Na manhã seguinte quando acordou viu a sua composição sobre o manto que estava dobrado numa cadeira. Quando Hermione se fora deitar na noite anterior já devia de estar a dormir e, por isso, apenas lhe tinha deixado o trabalho de casa com algumas anotações nas margens e sublinhado uma ou outra frase. Lexie sentiu-se feliz que apenas tivesse de fazer umas pequenas alterações do ponto de vista de Hermione Granger, pois dizia-se pelos corredores que ela era uma aluna brilhante.

Após fazer a sua higiene matinal e esperar que Naomi, a sua nova colega de equipa, estivesse também pronta, desceu para o salão principal para tomar o pequeno almoço. O incidente da noite anterior ainda estava bem recente e mal resolvido, quer na sua mente como com o seu irmão, revelando-se na falta de apetite da pequena. Percorreu a mesa até chegar ao seu lugar e não soube dizer se se sentiu mais incomodada com os risinhos histéricos de Charlotte Broad e companhia ou se ver por lugar de Draco desocupado. Preferia ver o irmão sentando a lançar-lhe um olhar pesado do que não o ver. Pressentia que a ausência significava que ela estava em maus lençóis, piores do que o que esperava. Hermione Granger também não estava no seu habitual lugar a dar-lhe os bons dias alegres como habitualmente.

xxx

Hermione Granger dirigia-se em passos rápidos para a sala dos monitores. Tinha recebido recado por Dean Thomas para que ela se pudesse juntar a uma breve reunião com Liam, o monitor chefe.

Um leve pressentimento dizia-lhe que estava relacionado com o relatório da noite anterior que tinha lançado já perto da meia-noite, após corrigir a composição de Transfiguração. Quando chegou à sala, o pressentimento passou a confirmação. De frente para Liam, já lá estava um loiro platinado sentado. Hermione deu um seco bom dia, sentou-se na cadeira vaga ao lado de Draco Malfoy. Sorriu levemente para Liam para compensar a falta de alegria no cumprimento e evitou olhar na direção de Draco, já que sabia que seria ignorada por ele de qualquer das formas. A sua cadeira estava perigosamente perto dele e, quando ele se compôs, Hermione sentiu o cheiro do seu perfume, madeira e menta, uma fragância agradável que ela tentou não absorver mais do que o necessário.

— Vais começar a falar, Stevens? – a voz de Draco estava um pouco rouca devido ao estado ainda ensonado do Slytherin. - Não tenho propriamente a manhã toda para estar aqui. – no entanto, a sua típica arrogância estava patente na voz.

— Vocês devem calcular que como estão aqui só os dois está relacionado com um acontecimento da vossa monitoria de ontem.

Até Hermione teve vontade de revirar os olhos. Liam Stevens era um rapaz simpático mas tinha uma tendência de enrolar um pouco os assuntos.

— O que se passou para serem retirados 40 pontos a uma aluna dos Gryffindor? – perguntou diretamente, observando primeiro Hermione que arqueou uma sobrancelha na direção de Draco como se esperasse que ele justificasse o ato. Depois o olhar de Liam pousou sobre o loiro que estava de braços cruzados, não demonstrando qualquer arrependimento pela aplicação da detenção.

— Ora, a aluna circulava pelo corredor após horário de recolha, qual é a dúvida?

— Era uma aluna do primeiro ano! – vociferou uma Hermione Granger furiosa. – O Malfoy que se justifique porque foi ele que aplicou a detenção à Lexie Allinson.

Draco Malfoy não se mostrou nem um pouco incomodado com a reação da Gryffindor. Apenas de soslaio a viu cruzar os braços de forma bruta e abanar a cabeça negativamente, fazendo os caracóis castanho balançarem.

— Malfoy? Queres explicar-te? – a pergunta de Liam Stevens não era na realidade uma questão, era uma ordem camuflada como se achasse que precisasse de ser cuidadoso com o Slytherin.

— Já disse, a aluna estava fora do dormitório. Já tínhamos feito as rondas, não podia deixar passar em branco.

— Eu não disse que tinhas de deixar passar em branco, Malfoy. – Hermione falou agressivamente, colocando-se de lado para o visualizar melhor.

Draco sorriu sem vontade e com uma expressão de gozo estampada na face. Não lhe apetecia nada discutir com ela ou ter de explicar melhor o que o levou a fazer o que fez. Estava feito e pronto. Olhou bem no olho castanho de Hermione Granger que o fulminava. Não pôde deixar de reparar como aquele castanho avelã era intrigante, sabia que era um olhar meigo, doce, mas na sua direção perdia esses adjetivos para se transformar num olhar matador, quase em chamas. Cinza-azulado encarava castanho chamas naquele momento.

— Terias agido da mesma forma se fosse um Slytherin, Granger, não inventes. – a tensão não estava só no olhar mas também na voz rude e de escárnio.

— Eu nunca teria retirado 40 pontos aos Slytherin se fosse um aluno do primeiro ano! Isso foi aproveitamento da situação. Mas não sei por que motivo me espanta. – Hermione continuou com cara fechada e deu por determinada a discussão com um suspiro, desviando por fim dos olhos cinzentos que a extinguiam por completo.

— Malfoy todos os pontos que são retirados eu tenho de justificar perante os diretores das respetivas equipas e, muito honestamente, foste mão pesada com a miúda. – o tom de Liam não era de julgamento, o que irritou Hermione, mais parecia uma justificação por parte dele. – Para a próxima não sejas tão impulsivo, analisa a situação e sobretudo trabalhem em equipa!

— Equipa? Nós os dois? – foi a vez de Hermione colocar um tom divertido e descrente ao mesmo tempo. Uma perfeita ironia.

— Exato. – disse simplesmente Draco.

— Vejam só como estão de acordo neste momento. – disse Liam, tentando ter piada mas não obteve nenhum sorriso do par à sua frente. – Apelo ao vosso bom senso. E espero que o turno de hoje vos corra bem. Estão liberados.

Draco levantou-se imediatamente, fazendo um barulho estrondoso com a cadeira. Já Hermione deixou-se ficar, pois queria dar uma palavra ao chefe dos monitores. Não achava minimamente justo que ele não tivesse sido um pouco mais rude com Malfoy por ele ser quem era. Não se devia mostrar amedrontado por estar perante o arrogante e irritante Draco Malfoy. Hermione não podia sair dali entalada, até porque achava que o Hufflepuff à sua frente era digno de elogios no seu trabalho, exceto nesta situação em particular.

— Liam, desculpa, mas preciso de te dizer uma coisa.

Liam encostou-se à mesa atrás de si e deu um sorriso de incentivo para a morena à sua frente continuar. O rapaz achava Hermione Granger bastante interessante. Notava que ela era uma rapariga justa, inteligente e muito aplicada. Fisicamente achava que ela tinha ficado bem mais interessante nesse ano com os cabelos abaixo dos ombros cacheados, face lisa, pele com aspeto saudável, um sorriso encantador e o seu corpo estava mais de mulher, com formas mais acentuadas. Tinha ficado muito satisfeito quando soube que de certa forma poderia privar mais com ela na semana em que fariam monitoria e assim conhecerem-se um pouco melhor.

— O que se passa, Granger?

— Eu sei que não achaste minimamente justo o que o Malfoy fez, mas acho que foste demasiado brando. – Hermione não quis atacar de imediato. – Serias assim com qualquer um dos outros monitores?

Liam susteve a respiração discretamente. Ela tinha razão, mas não daria o braço a torcer.

— O ano ainda agora começou… sei que vocês não se dão muito bem, talvez isso tenha levado ao comportamento exagerado do Malfoy…

— Liam ele aproveitou-se à descarado do poder que tem como monitor. – Hermione interrompeu com o olhar marcado por desilusão.

Liam Stevens desencostou-se na mesa e colocou uma mão em cima do ombro de Hermione delicadamente. Depois deu-lhe um sorriso fraco perante a falta de argumentos e suspirou antes de falar:

— Granger, prometo que não voltará a acontecer. Vamos dar um tempo para as pessoas se habituarem a isto de serem monitores. Nem todos têm o teu senso de justiça. Se acontecer novamente dou-te a minha palavra que eu mesmo levarei as coisas a outras proporções.

Hermione sorriu-lhe tristemente e murmurou um até logo, saindo da sala com um espírito derrotado. Depois dirigiu-se para a aula de Poções que deveria estar para começar. Subiu a torre em passos acelerados, cumprimentando um ou outro aluno que conhecia. Quando entrou na sala de aula, ouviu o típico burburinho de alunos a conversarem enquanto o professor não chegava. Viu Ron e Harry já sentados e dirigiu-se ao seu lugar que ficava ao lado de Neville. Draco também já estava ao lado de Pansy Parkinson a desenhar com a pena um campo de quidditch numa postura relaxada.

Assim que Severus Snape entrou na sala cessou qualquer barulho existente. Sem proferir uma palavra de bons dias, Snape apontou com a varinha para um quadro negro e em letras brancas apareceram as palavras "Poção Envelhecimento". Depois começou um breve discurso acerca do criador da poção e de que formas já tinha sido usada no passado.

— Alguém sabe quem usou mais esta poção? Com que propósito?

Hermione Granger tinha o braço esticado o mais alto que conseguia. Por breves momentos pensou que Snape ia fazer de conta que ela não existia. Por vezes, Snape respondia às suas próprias perguntas só para não deixar Hermione responder. Sabia que o seu lado de sabe tudo irritava o seu professor à frente, mas não ia deixar de ser quem é por causa disso nem por causa de ninguém. Também se apercebia dos burburinhos dos alunos à sua volta, por diversas vezes ouvia até risadas, mas ao final de cinco anos já estava habituada.

— Miss Granger.

— O famoso feiticeiro japonês Nyuro Wang quando estava a ser procurado em todo o Japão, por ter roubado direitos de autor, tomou um frasco inteiro da poção para envelhecer e fez-se passar pelo seu próprio avô, alegando não saber se Nyuro Wang. Teve sucesso e só se veio a saber no leito da sua morte que ele revelou por vontade própria ao jornal da localidade.

Alguns alunos riram-se da situação e outros murmuravam por pontos para os Gryffindor. O professor Snape por sua vez estava com uma expressão neutra e virando-se de costas para a turma disse:

— 20 pontos para os Gryffindor. – a voz era monocórdica sem qualquer emoção. – Agora podem levantar-se das cadeiras e ir buscar ao armário o que precisam para fazer esta poção.

— Estão se a esquecer que o Fred e o George usaram a mesma poção no Torneio dos Bruxos o ano passado… - disse Ron em tom baixo e divertido.

Harry conteve-se para não dar uma gargalhada ao lembrar-se do momento hilariante. Pobres Weasley! Achavam que o Dumbledore se deixaria enganar com uma poção de envelhecimento?

Neville também se ria do assunto, mas Hermione já estava a dirigir-se para o armário para ir buscar os ingredientes necessários para executar a tarefa. Já lá estava Draco Malfoy com um tabuleiro a levitar enquanto pousava alguns ingredientes. Olhou de soslaio para a morena que se colocava em bicos de pés para chegar a um frasco da última estante.

xxx

Draco estava na sala comum dos Slytherin, aguardando que chegasse a hora do bilhete que tinha enviado a Lexie para o encontro no corujal. Estava sentado desleixadamente numa poltrona, uma das almofadas de veludo verde escuro a tapar-lhe o rosto para escurecer um pouco o cenário diurno que ainda se apresentava lá fora. Estava com raiva e assim tinha estado durante todo o dia. Para ajudar o sentimento negativo a florescer tivera duas aulas com os Gryffindor, onde o motivo da discussão que teria com Lexie estava lá: Hermione Granger.

Assim a hora se aproximou do programado, Draco levantou-se num ápice, deu uma desculpa esfarrapada a Zabini que pareceu acreditar e dirigiu-se em passos acelerados até ao corujal. Não se podia esquecer de lançar um "abiffiato" para poder falar à vontade com a irmã. Não era frequente encontrarem-se neste horário devido há possibilidade de algum aluno ir enviar uma carta e encontrá-los lá. Mas desta vez ele não aguentava até sexta-feira.

Fez questão de se lembrar que Lexie era apenas uma criança de onze anos. Não podia esperar que se comportasse como uma adolescente. No entanto, também fez questão de se lembrar que Lexie teria de ser responsável pelos seus comportamentos e mentir seria algo que ele não admitiria que ela repetisse.

Subiu a escadaria até ao corujal a sentir o seu estomago embrulhar, sabendo que a sensação era pelos nervos que estava a vivenciar. Estava tão irritado que teve de respirar fundo antes de entrar na área das corujas. Avistou Lexie acariciar uma das aves cinzentas que parecia estar a gostar do carinho. Observou o manto da irmã amarrotado e meio que torto no seu corpo, o que lhe fez ter uma súbita vontade de ajeitá-lo mas conteve-se. Logo ele que era todo perfeccionista em como a roupa deveria assentar no corpo.

— Draco. – apenas disse a pequena, já virada de frente para o irmão e dando-lhe toda a sua atenção.

Era estranho, mas nenhum dos dois sabia bem como reagir perante o outro. No fundo eram dois desconhecidos que foram obrigados a aceitar os laços de sangue que possuíam. Para Draco era especialmente difícil lidar com Lexie, pois era pouco sentimentalista ou pelo menos tinha tendência a fechar-se mais em copas quando o assunto eram os seus sentimentos. E ter de se entender com Lexie que era uma criança afectuosa e muito directa não lhe estava a facilitar a vida.

— Eu sei que te devo um pedido de desculpas.

Draco riu-se, mas era uma gargalhada sem vontade, irónica, carregada de sarcasmo. Antes de lhe responder lançou um "Abiffiato!" com a varinha apontada para o ar, ainda de costas para a sua irmã.

— Um pedido de desculpas?! Achas que é isso que me deves, Lexie? Tu por acaso sabes como tem sido difícil fazer a minha parte? – embora o tom fosse baixo a voz de Draco era carregada de agressividade, o que fez Lexie perder o ar inocente característico de uma criança da sua idade.

— E para mim? Tu achas que tem sido? Por acaso já te tentaste colocar no meu lugar, Draco? – a voz da pequena estava igualmente agressiva.

Draco fitou a figura tão parecida consigo, mas em versão feminina. Era isto que o tirava do sério, ela desculpava-se para evitar sermões, mas achava que estava em piores lençóis que ele. Se ela soubesse que Lucius Malfoy o cortaria em pedaços se ele descobrisse da sua existência talvez lhe começasse a dar algum valor.

— Quais tem sido as tuas complicações? A Broad? - a voz de Draco era um fio desesperado. Queria fazê-la entender que os seus problemas eram o dobro do tamanho.

— A Broad? Não, não é a Broad. É talvez o facto de eu estar num mundo completamente diferente ao que eu estava habituada até há uma semana atrás, também não ajuda saber que a minha mãe, figura essa que nunca fez questão de estar presente, vem ter contigo e nem sequer pede para me conhecer… ah, bem e talvez o facto de ter um irmão que demonstra que eu sou o fardo mais pesado da vida dele! - as palavras saltavam da boca de Lexie que estava amargurada, com as lágrimas a ponto de caírem dos seus olhos.

Draco demorou a processar todo o discurso de Lexie, pois perdera-se quando ela falara de Narcisa. Ela não entendia mesmo… não entendia que Narcisa teria cuidado dela com todo o carinho e amor que proporcionara a Draco, não fossem as circunstâncias dramáticas. Quis sentir-se solidário com os sentimentos da irmã, mas apenas disse:

— Não sejas idiota! – Draco disse entre dentes, apertando a cana do nariz e suspirando.

Era a vez da Gryffindor rir em descrença.

— Tu é que és o maior idiota! Deste a maior bandeira ao retirar os 40 pontos aos Gryffindor ontem… ainda achas que sou eu a idiota?! – os braços cruzados fizeram-na parecer uma adversária à altura.

Draco abriu a boca e voltou a fechar sem argumentar. Estava na altura de pô-la no lugar. Endireitou as costas e estreitou o olhar na direcção de Lexie de forma bastante ameaçadora.

— Eu já te disse que a Hermione Granger tem de ser eliminada da tua lista de amigas. Não quero voltar a ter de repetir. Não devias ter-me mentido, Lexie.

— A Hermione não é perigosa…

— Chega! - berrou Draco.

Ao ver o ar de assustado da irmã, virou costas e aproximou-se da ampla abertura do corujal. Sentia-se sufocado, precisava de respirar ar puro. Lexie estava a deixá-lo fora de si. Parecia uma criatura indomável. Já se sentia cansado e ainda agora o ano lectivo tinha começado.

Lexie sentiu-se igualmente tensa. Queria dizer-lhe que ele era um idiota, queria abanar-lhe os ombros e trazê-lo à vida, dizer-lhe que Hermione Granger tinha sido das poucas pessoas com quem ela se sentia completamente ela própria, sem ter de fingir.

— Não queres que eu me dê com a Hermione porque sabes perfeitamente que ela seria uma irmã melhor que tu! - aquele fora um golpe baixo da pequena.

Mas ela só queria magoá-lo como ela a estava a magoar a ela sem se preocupar minimamente com os seus sentimentos.

— Porra, Lexie! Tu não és um fardo, está bem? Mas tens sido um desafio enorme… não foi só a tua vida que mudou. Depois as tuas atitudes por vezes não ajudam, dificultam até… - Draco estava de costas, demasiado atordoado com a declaração de Lexie acerca de Hermione.

Não quis fitar os olhos tão semelhantes aos seus porque tinha receio que eles transbordassem de verdade naquela afirmação. Ele não desejava que a irmã achasse que ela era um fardo na sua vida. Nunca quis dar a entender isso, mas a sua falta de jeito para demonstrar o que sentia talvez deixasse essa dúvida na cabeça da pequena Gryffindor atrás de si. Como não se virou de frente de imediato para Lexie, não viu como os seus olhos se arregalaram quando ele pronunciara que ela não era um fardo.

— Por que motivo odeias tanto a Hermione?

— Eu simplesmente não gosto dela. - Draco disse numa confissão fraca de quem ele próprio não sabia os motivos de odiar tanto Hermione Granger.

Essa relutância na voz de Draco, fez Lexie prosseguir:

— A Broad odeia-me e chama-me de sangue de lama… diz que a minha mãe não é feiticeira, só porque eu não disse o nome dela. - Draco pela primeira vez ouvia com curiosidade a irmã. - E sei que tu ias chamar isso à Hermione…

— Tu não és sangue de lama! - constatou Draco.

— E a Hermione? - os olhos de Lexie não quiseram perder os de Draco de vista, precisava de questionar isso… o ódio que ele nutria pela morena da sua equipa parecia tão sem fundamento.

Draco estava a perder a pouca paciência que lhe restava.

— Eu não me vou afastar da Hermione, Draco… não quando os teus únicos motivos para odiá-la são ela ser filhas de pessoas iguais ao meu pai, sem dons mágicos. Ela foi a única pessoa que me fez sentir bem aqui e que demonstrou preocupação genuína em mim… não vou voltar a sentir-me sozinha porque tu odeias pessoas que consideras sangue de lama...

Foi a gota de água para Draco. Ele praticamente correu na direcção de Lexie para deixar bem claro quem daria as ordens ali.

— Ouve Lexie, pela última vez, eu não quero saber dos teus sentimentos pela Granger. Vais afastar-te dela se não… - desta vez Lexie encolhera-se ligeiramente com o trato do irmão.

— Se não o quê? O que vais fazer?

Draco mordeu o lábio inferior e conteve a ira que sentia.

— Vais afastar-te dela… - repetiu - e é para ontem! - Draco soletrou cada palavra para enfatizar que era a palavra final.

Ele não queria deixar dúvidas disso e era melhor que ela concordasse agora com ele. Para o bem dos dois, seria melhor que ela fizesse o que ele lhe pedia, ou melhor, ordenava. Por isso, apenas anuiu com a cabeça, sentindo-se ainda fragilizada. Nunca ninguém lhe tinha falado com tanta severidade. Sentiu um nó na sua garganta que não se desfazeria com facilidade enquanto observava Draco desaparecer do local, sem olhar para trás.

As lágrimas começaram a rolar pela sua face e sentiu-se abandonada ali no corujal de um castelo que mal conhecia, sabendo que estava privada de travar amizade com uma das poucas pessoas com quem realmente tinha criado empatia. As palavras de Draco a dizerem-lhe que ela não era um fardo ainda ecoavam na sua cabeça como uma tentativa de acreditar que ele possuía algum sentimento de carinho por ela. Mas teria de verdade?!


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Notas finais do capítulo

N/Beta:
Estou tão entusiasmada por teres voltado a esta história que já tinhas em mente há tanto tempo, que para mim é um sonho tornado realidade, porque sempre tive esperança que a continuasses.
Sinto-me privilegiada por sentir que também tenho um papel activo no desenrolar desta história, porque dás-me liberdade para dar opiniões e fazer algumas correcções que penso serem necessárias. Além disso sou a primeira a ler os capítulos, mas atenção caros leitores, eu posso ser a primeira a ler, mas tenho uma responsabilidade acrescida, porque não posso simplesmente ler tudo de seguida, por vezes tenho de voltar atrás para ver se não me escapou nada, porque quero que esteja tudo perfeito, pois a Sara confiou-me esta tarefa que eu aprecio e fico lisonjeada, logo quero estar à altura.
Sarita, nunca é demais agradecer o facto de confiares em mim, por isso obrigada.
Beijinhos grandes da tua, em primeiro lugar, Amiga, e em segundo lugar, Beta
Filipa Fernandes

P.S. Estou desejosa de ler o 7º capítulo, e vocês estão tão curiosos quanto eu?!



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