-Tem certeza que não quer ir comigo?

-Tenho! Quantas vezes já te falei, Garrett? - perguntei ao meu irmão que havia decidido ser um idiota ultimamente.

-Você só não vai por causa do John! - falou revirando os olhos.

-Eu não vou porque tenho um compromisso - menti.

-Que compromisso?

-Coisa de garota - menti de novo.

-Depois não diga que eu não convidei - falou, derrotado, enquanto saía do meu quarto.Tinha que ser ele pra me incomodar. Eu estava lendo um livro, O Dia das Bruxas, e ele me incomodou. E ele sabe que eu DETESTO que me incomodem enquanto 'to lendo meus livros. Mas uma coisa ele tinha razão. Eu realmente não iria no ensaio com ele por causa do John.

Aí você se pergunta. Que John?

Meu namorado, quer dizer. Ex-namorado. John O'callaghan, o idiota vocalista da banda do meu irmão, o The Maine. E isso significa que enquanto eu estiver perto do Garrett, ele vai estar por perto. E não quero mais olhar na cara dele por um bom tempo. Melhor, não quero olhar pra cara dele até eu morrer.

Garret bateu novamente na porta. Sabia quem era porque além de mim, ele era o único na casa. 

-O que é, caralho? - perguntei fazendo cara feia.

-Só pra avisar que hoje a noite vai ter pizza aqui em casa, e o pessoal vai vir aqui. 

-Tá, e dai? - perguntei indiferente - Vou ficar no meu quarto.

-Tanto faz - deu de ombros - Era só pra avisar.

Depois que Garrett saiu, decidi que iria matar tempo na casa da minha amiga, Bianca. Levantei com preguiça da minha cama, tirei o pijama e escolhi qualquer outra roupa. Um short jeans, um all star e uma camiseta da minha banda preferida, Avenged Sevenfold. Parei por uns segundos e me encarei no espelho. Realmente, Garrett havia ficado com a beleza dos irmãos. E com a inteligência. E com todas as características boas. Enquanto Garrett tem aquele cabelo maravilhoso, eu tenho a droga de uns cabelos que não se decidem entre o castanho claro e o loiro escuro. Nem entre o cacheado e o liso. Meio termo em tudo. Somente os olhos que temos da mesma cor.

Caminhei até a casa de Bianca, afinal era apenas uns 4 quarteirões dali. Não era muito longe, e eu estava com vontade de caminhar aquele dia. Algo raro. Quando cheguei ao meu destino, nem toquei a campainha, apenas entrei, pois sabia que Bia estava sozinha em casa e não trancava a porta. 

-Bianca - gritei, logo depois de fechar a porta atrás de mim.

-E ai, Mandy! - ela gritou do quarto dela, no segundo andar. Subi as escadas com cuidado, já perdi a conta quantas vezes tropecei naqueles degraus - Tudo bem?

Bia estava deitada com as costas no chão e com as pernas em cima da cama lendo um livro.

-Não 'tá nada bem - falei me jogando na sua cama, e só não esmaguei suas pernas porque era de casal.

-O que aconteceu?

-Imagina se o puto do Garrett não ia fazer a noite da pizza lá em casa - perguntei revirando os olhos - É óbvio que ele fez isso de propósito! 

-Eu também faria se fosse ele...

-Bia!!!

-Mandy, escuta aqui! Você e o John terminaram sem mais nem menos, não deram explicações pra mim de porquê fizeram isso... É óbvio que tá todo mundo querendo saber o que aconteceu entre vocês. Nem eu sei!

-Eu não quero que ninguém saiba.

-Nem a sua melhor amiga???

-Desculpa, Bia, mas é muito pessoal...

-E eu não te conto nada das minhas coisas, não é? - ela perguntou, irritada. Seu rosto estava vermelho e ela me fuzilou com os olhos de um jeito que eu fiquei com medo.

-Bia...

-Não precisa dizer nada Amanda. Eu sei que você detesta compartilhar suas coisas, mas eu podia te ajudar.

Pensei por uns segundos.

-Você realmente não pode... É uma coisa minha e do John.

-Então se resolva sozinha - ela disse saindo do quarto, e batendo a porta do banheiro.

Corri para ir falar com ela, mas ouvi a fechadura sendo trancada.

-Desculpe, Bia - falei, antes de pegar minha bolsa e seguir o caminho para casa.

--

Havia nuvens escuras no céu, e estava trovejando. Logo iria chover, mas eu esperava chegar em casa seca. Caminhei duas quadras quando os pingos começaram. Como no início eram fracos, continuei caminhando, mas quando engrossaram, comecei a correr até em casa. 

-Merda - murmurei, enquanto tirava meus tênis na entrada de casa - Tinha que ser comigo, né... Tudo que acontece de errado, é com você, Amanda...

Assim que entrei estava pretendendo subir para meu quarto e tomar um banho bem quente, mas antes que pudesse subir as escadas, Garrett apareceu com várias caixas de pizzas congeladas nos braços.

-Ei, anãzinha, vem aqui me ajudar a pegar os refrigerantas.

-Pega você sozinho - falei friamente, enquanto voltava  a subir as escadas.

Joguei minha bolsa em cima da cama, e fui em direção ao banheiro, enquanto já ia tirando a camiseta. Pus música, afinal um banho não é um banho sem música. Começou a tocar Paradise, do Coldplay.

"When she was just a girl

She expected the world

But it flew away from her reach

So she ran away in her sleep"

(Quando ela era apenas uma garota

Ela tinha expectativas com o mundo

Mas isso voou além de seu alcance

Então ela fugiu em seu sono)

Nunca fui boa com meus sentimentos, principalmente em demonstrá-los. Bem, não todos os meus sentimentos. Apenas aquele um... Ódio era o que as pessoas mais viam em mim, afinal eu estava sempre braba. Mas também, tudo que os outros faziam me irritava. Sentei no piso do banheiro, enquanto a água quente escorria pelo meu corpo e eu cantarolava a música.

"And dreamed of para-para-paradise

Para-para-paradise

Para-para-paradise

Every time she closed her eyes"
(E sonhou com o para-para-paraíso

Para-para-paraíso

Para-para-paraíso

Toda vez que ela fechava os olhos)

John. Não sei porquê qualquer coisa que eu fazia, esse nome aparecia em minha cabeça. Eu podia estar escovando os dentes, ou comendo batatas-fritas, que alguma coisa me lembrava dele. Não foi justo o que aconteceu conosco. Me arrependo, obviamente, de não ter dado a ele a chance de explicar. Mas eu estava mais irritada do que o normal aquele dia, e estava cansada dele esconder coisas de mim.

"When she was just a girl

She expected the world

But it flew away from her reach

And bullets catch in her teeth"

(Quando ela era apenas uma garota

Ela tinha expectativas com o mundo

Mas isso voou além de seu alcance

E balas foram pegas com seus dentes)

-Para-para-paradise - cantarolei, enquanto esfregava as mãos nos olhos para contar as lágrimas. Não seriam notadas por causa da água do chuveiro, mas eu já estava acostumada a fazer aquilo. Então desabei.

Se antes eram apenas algumas lágrimas, agora toda a represa de lágrimas havia arrebentado. Comecei a chorar e a soluçar muito alto, sem me importar com mais alguém.

"Life goes onIt gets so heavy

The wheel breaks the butterfly

Every tear, a waterfallIn the nigh

tThe stormy night

She closed her eyesIn the night

The stormy night

Away she flied"

(A vida continua

Fica tão pesada

A roda corrompe a borboleta

Cada lágrima, uma cachoeira

Na noite

Na noite de tempestade

Ela fechou os olhos

Na noite

Na noite de tempestade

Ela voou para longe)

-Por que você é tão idiota, Amanda? Você sabia que se você se metesse com John Cornelius O'callaghan V, você iria acabar do jeito que está nesse momento. Magoada, irritada e com vontade de matar aquele poste magrela, com aqueles olhos e... Cala a boca, Amanda - falei para mim mesma - Para com isso. Agora. A partir desse momento, John O'callaghan morreu para você. Esqueça que ele existe.

Após mais alguns minutos no banho, que calculei que havia demorado no mínimo uma meia hora, desliguei o chuveiro e me enrolei em uma toalha.

"And dreamed of para-para-paradise

Para-para-paradise

Para-para-paradise

Whoa-oh-oh oh-oooh oh-oh-oh"

(E sonhou com o para-para-paraíso

Para-para-paraíso

Para-para-paraíso

Whoa-oh-oh oh-oooh oh-oh-oh)

Abri a porta do banheiro, ainda cantarolando a música que ficou repetindo diversas vezes durante o banho, e me preparando para ir pegar minhas roupas, quando notei algo na minha cama. Algo não. Alguém. John.

-O que está fazendo aqui? - perguntei, cruzando os braços na frente do corpo e lançando a ele um olhar fulminante.

-Quero falar com você - falou, me encarando fundo nos olhos.

-Não tenho nada pra falar com você. Sai - falei, indicando a porta com a cabeça.

-Não até você me ouvir.

-Ótimo, se você não sai, eu saio.

Peguei minhas roupas e fui até o quarto do meu irmão, trancando a porta atrás de mim. Comecei a me vestir quando alguém bateu na porta.

-Que é?

-Sou eu, Amanda. Por favor, abre a porta - suplicou John. Ele parecia desesperado.

-O que você quer? - perguntei, ainda me enrolando na toalha, apenas vestida com as roupas de baixo, enquanto abria uma fresta da porta.

-Abre.

-Tanto faz - falei, enquanto soltava a porta e ia sentar na cama de Garrett - O que você quer?

-Quero te explicar...

-Explicar o quê? Explicar por que aquela loira vadia estava deitada na sua cama, só de calcinha e sutiã, e você deitado do lado dela? - perguntei raivosa. As lágrimas teimavam em escorrer, mas eu as segurava a todo custo. Ele não me veria chorar. Não novamente.

-Não é nada do que você está pensando! - ele disse, chegando para perto de mim, tentando segurar minhas mãos. Me esquivei, e ele deixou cair os braços - Que droga Amanda, aquela era a cunhada do Jared, que confundiu a minha casa com a do Jared, e chegou bêbada ali...

-Ah, é? E você claro, John O'callaghan, tão bondoso, deixou ela dormir na cama com você...

-Amanda, cala a boca - ele disse, enquanto me empurrava contra a parede. Minha toalha caiu no chão, mas naquele momento ele estava apenas olhando em meus olhos, embora seu corpo colado ao meu pudesse sentir que havia pouco tecido nos separando.

-Não me mande calar a boca - falei, tentando desviar os meus olhos dos seus.

-Então me deixe terminar de explicar! Eu ajudei a garota porque o Jared não atendia o celular, e como estava muito quente e ela estava com as roupas todas sujas e molhadas, coloquei ela daquele jeito na minha cama. E então ela me pediu para deitar do lado dela porque tinha medo de dormir sozinha no escuro!

-E você acreditou nela?

-Ela estava bêbada.

-Só por isso não quer dizer que não possa mentir - desafiei-o, olhando diretamente em seus olhos com raiva.

John então tirou os braços, que estava apoiados na parede, na altura da minha cabeça e os colocou em meus quadris, puxando-me mais para ele enquanto colava sua boca na minha. Com aquele toque direto, eu sabia que não havia chance de recusar o beijo. Nem dois segundos depois, minhas mãos já estavam puxando seus cabelos, e as dele estava passeando por todo o meu corpo. Desci minhas mãos para suas costas, e assim que pude, puxei sua camisa para cima. John não hesitou em tira-la e joga-la em um canto qualquer do quarto. Nesses poucos instantes que nos separamos, olhei nos olhos verdes dele, e eles estavam brilhando. Ele apertou minhas coxas mais forte do que o normal, e eu me impulsionei para cima enquanto ele me pegava no colo, ainda me empurrando contra a parede. Minha respiração estava ofegante, assim como a dele. Então seus lábios quentes deixaram minha boca e procuraram meu pescoço, o que me fez ficar arrepiada e soltar vários gemidos que eu queria segurar. As mãos de John procuraram o fecho do meu sutiã, mas antes que ele conseguisse abri-lo, a porta bateu contra a parede.

-Mas que merda é essa? - perguntou a voz de Garrett, enquanto John e eu nos separavamos ofegantes.

-Garrett - falamos ao mesmo tempo, e John me pos no chão.

Assim que o fez, me enrolei novamente na minha toalha, e John pos sua camisa.

-Achei que vocês não estavam mais juntos - falou novamente, confuso.

-E não estamos - falei ignorando os pedidos silenciosos de John para que eu ficasse ali, enquanto eu voltava para meu quarto.

Terminei de me vestir nos cincos minutos que fiquei ouvindo as vezes de John e Garrett falarem palavras que eu não conseguia ouvir direito. O que será que eles estavam conversando? "Para com isso Amanda, não te interessa mais. Você e John não estão mais juntos. Deixe os dois conversarem."

A porta se abriu silenciosamente atrás de mim, e eu não percebi que havia mais alguém no quarto, até que John segurou minha cintura por trás e me puxar para sentar no seu colo. Fiquei alguns segundos encarando aqueles olhos maravilhosamente lindos, até que ele começou a falar:

-Garrett me disse como você ficou mal... - desviei meus olhos quando ele disse isso - Mas eu não quero que você fique assim novamente... 

-Então some - falei tentando sair do seu colo, mas ele me puxou para mais perto de mim ainda.

-Desculpe por ser um idiota, Amanda. Mas eu só queria ajudar a garota... Você sabe que não suporto NÃO ajudar gente bêbada, você lembra - ele disse, com uma risadinha, e eu me lembrei do dia que eu havia ficado bêbada e ele havia me ajudado. Foi o primeiro dia que nos beijamos.

-Então você a ajudou para depois beijar ela? - perguntei emburrada.

-Não, a ajudei porque achei que precisava ajudar. Amanda... Eu não fiz nada com ela, eu mal toquei nela. Só a ajudei a entrar no chuveiro e fiquei cuidando para ela não se afogar... - disse dando uma risadinha, que Amanda não pôde deixar de corresponder.

-E então...? - perguntei, fazendo círculos com a minha unha na pele do braço de John.

-Ela se secou, e eu a levei até a cama. Não, não foi no colo - disse com a expressão divertida - Ela disse que estava com medo, e pediu para eu deitar do lado dela. Deitei, apaguei e no outro dia de manhã acordei com seus berros.

Fiquei olhando para o nada por alguns minutos, enquanto raciocinava se a história de John me convenceria ou não. Realmente, ele não parecia estar mentindo, e estava me abraçando de um jeito que apenas ele sabia abraçar. Sua respiração batia no meu pescoço, e logo senti seus lábios começarem a dar beijos naquela região. Mordi o lábio, e respirei profundamente.

-John... - chamei baixinho, e ele parou - Desculpe... por ser uma total idiota. Você sabe como eu sou... Quando vi você deitado com aquela loira... Foi a primeira coisa que me veio a mente... E parecia que eu esperava por aquilo...

-Como assim, "esperava por aquilo"? - perguntou confuso.

-John, você é famoso. Você é lindo. Tem todas essas garotas, e um zilhão de groupies por aí que fariam qualquer coisa pra estar naquela situação com você na cama, e não seria só para dormir... Queria que eu pensasse o que?

-Não precisava pensar nada... Era só me ouvir... Eu lhe explicaria... Mas como sempre você foi muito apressada, não é...? - perguntou, e eu dei uma risadinha enquanto ele beijava minha bochecha.

-Me desculpe por ser uma idiota completa.

-Eu não tenho o que te desculpar... Mas me desculpe também por ser... Eu.

Comecei a rir com aquilo. John era John, e sempre seria. Ele era aquele cara carinhoso e gentil que todas as garotas queriam se apaixonar, e eu tinha a ele. Ele poderia ser meu, era só eu dizer... 

-John?

-Fale, amor - ele disse, e eu não consegui segurar um sorriso involuntário.

-Você mesmo me desculpou?

-Já disse que não tinha o que desculpar.

-Então estamos bem novamente?

-Claro que estamos. Mas ainda vai querer ser minha namorada?

-Claro que vou - falei, e ele sorriu. O sorriso mais lindo que eu havia visto na vida. John era lindo. Não apenas por fora, mas por dentro também. Seus sentimentos, suas qualidades, seus defeitos... Tudo nele parecia ser tão simples para mim. Enquanto seus olhos verdes me olhavam, esperando que eu falasse mais alguma coisa, pus minha mão em seu queixo e o puxei para um beijo.

Ele não hesitou. Nunca hesitava. Seus lábios macios tocaram os meus, suas mãos apertaram de leve minha cintura e meus braços se colocaram automaticamente ao redor de seu pescoço. Depois de um tempo,  com muita dificuldade separei nossos lábios, que estavam vermelhos.

John me encarou confuso.

-Tenho que falar uma coisa - sussurrei. Não havia necessidade de falar alto.

-Estou ouvindo - disse, e parecia estar com medo do que eu iria dizer.

-Eu te amo - falei, expirando todo o ar que estava em meus pulmões. E um peso parecia ter ido junto com aquelas palavras, guardadas a tanto tempo.

Ele começou a sorrir lentamente, e disse:

-Eu também te amo, Amanda.

FIM