Serpentes e Leões escrita por Gaia Syrdm


Capítulo 2
Truques e mistérios a solta


Notas iniciais do capítulo

Só uma adendo rápido!
O nome Chikage Kakinouchi é pronunciado como: Tikague Kakinouiti, pois "chi" em japonês se pronuncia "ti" e "ge" é "gue", como em guerreiros.



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– Ei, Maxxcy, é verdade que Chikei foi transferido?

– Sim, ele marcou bobeira e Era o pegou.

– E Niki não pôde fazer nada?

– Acho que nem tentou. De qualquer forma, isso era inevitável. Desde o começo era um tanto quanto óbvio que isso ia acontecer. Depois quem mais poderia ter ido? Eu, você? Somos os únicos aqui com qualificações.

– Somos? Eu nunca poderia ir, nem posso sair daqui. E você, bem, eu teria dó de qualquer um que cruzasse seu caminho. Acho que tem razão quanto a ele ser o único... Vou sentir falta dele.

– Ele vai voltar. São só sete meses, não é muito, é?

– Para os mortos, não é nada, mas para você, que já tem 28, muito. Praticamente 3% da sua expectativa de vida... Não gosto de pensar nisso.

– É fácil, não pense.

Capítulo 2 – Truques e mistérios a solta

Tédio, ele odiava o tédio. Era uma pessoa agitada, não gostava de ficar parado, não estava acostumado com tempo livre, nunca o tivera antes. Só conseguia ficar parado nas aulas porque adorava aprender. Mas era impossível dizer que estava aprendendo algo agora!

– Aula chata – murmurou, impaciente.

Estava sentado no fundo da sala, praticamente deitado na cadeira, mordendo a ponta da pena, a atenção muito longe da fala do professor fantasma. Olhou no relógio, apenas 30 minutos haviam se passado. Então ele ainda devia ficar preso naquela sala por mais uma hora e meia? Mas nem sob tortura ele aguentaria tal coisa, nem mesmo Era poderia forçá-lo a isso. A não ser, claro, se ela o submetesse a um Imperius.

Se continuasse assim ia dormir.

Até que não seria má idéia, apagar por completo. E nem estava com sono antes de entrar na maldita sala. Sempre fora do tipo que dormia pouco, um costume intensificado ao máximo na infância. Olhou para os lados apenas para constatar que todos estavam na mesma situação, ou seja, mais dormindo do que acordados, alguns já dormindo de fato. Olhou no relógio mais uma vez apenas para constatar que apenas dois minutos haviam se passado. Bufou, irritado. Como se as revoltas de gigantes e duendes lhe interessassem, guerras em geral eram puro desperdício de tempo. Odiava guerras e odiava estudá-las, não bastava simplesmente falar quem era o suposto vencedor, quais as perdas e ganhos e concluir com "elas são inúteis"? Apenas um minuto... seus olhos estavam pesados. Que saudades de seus amigos, já estava a cinco dias na nova escola. Muito sono. Tinha se comportado bem, o pessoal era legal, mas sentia falta da sua turma. Será que existia algum aluno que não dormisse naquela aula? Ah, se Maxxcy estivesse ali. Apenas um minuto mais. Sentia falta das brincadeiras dos amigos, das traquinagens deles. Por que, diabos, ele tinha que saber de um maldito conflito do qual nunca ouvira falar? Mas, desde quando ele se mantinha tão bem comportado por tantos dias? Cinco dias já, não?

– Um fantasma, hã – murmurou olhando para o professor. Não, não ia dormir, ia se divertir, o que era algo muito mais produtivo, com certeza. Será que daria certo, já fazia tanto tempo... Bem, quem não arrisca não petisca – Gomen ne, sensei, [1] mas estamos precisando urgentemente de umas risadas para acordar. Você não quer uma sala de 20 alunos apagados, quer? – sussurrou para si mesmo, tão baixo que nem se seu colega do lado não estivesse no seu décimo sono, ouviria. Da mesma forma ninguém ouviu as palavras que ele disse em seguida.

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– Hermione, aonde você vai? Só temos aula depois do almoço agora.

– Vou na Biblioteca, Rony. Tenho que pegar uns livros. – respondeu a garota e Harry se perguntou como ela carregaria mais livros do que já carregava. Era impressão sua ou a quantidade havia aumentado?

– Não sei porque eu ainda pergunto – disse Rony ao moreno – depois de seis anos eu já devia saber que essa era a resposta.

– Não acha que ela está carregando mais livros que o normal?

– São as provas, sabe como ela gosta de começar a estudar 10 semanas antes! Sabe, ouvi dizer que o japonês da Sonserina conseguiu ser elogiado pela McGonnagal! E pelo Fliwitch também. Não que ele não elogie facilmente, mas... E ele está fazendo Runas Antigas com a Hermione.

– Hum... interessante. – disse Harry, mesmo que não achasse tão interessante assim. Ok, parecia que o cara era bom mesmo, mas o que lhe importava ele ser bom ou que matérias ele fazia? Apesar de todos parecerem interessados. Kakiou, Kainou, Kakichi, Kakinochi, Kanochi, em todos os lugares Harry ouvia o nome estranho do sonserino ser falado. E claro, com uma grande diversidade de pronuncias. O moreno ainda nem sabia qual era realmente o nome dele! (E não acreditava que conseguiria dizê-lo mesmo que soubesse). Rony teimava em chamá-lo de japonês ("porque sempre são japoneses"), mas Dimas dizia que ele tinha cara de chinês ("sabia que também existem chineses?"). Neville dizia coreano e Simas tailandês, apenas para contrariar. Alguns eram mais práticos e o chamavam de "oriental" ou mesmo de "o cara novo". De qualquer forma, Harry não sabia quase nada sobre ele. E não estava muito interessado em saber, não se sentia muito a vontade com aquele sorriso aberto, parecia que o outro estava sempre feliz! Também tinha dificuldade para crer que ele era homem. Quando o viu mais de perto, mais certeza teve que se tratava de uma mulher. Mas não era. Bem que diziam que os orientais eram todos iguais mesmo – Você não acha que Hermione está meio tensa? Desde que ele chegou?

– Ela está irritada por ter sido passada para trás, só isso. Logo ela acostuma. Por que um cara como ele não foi para a Corvinal, hein? Eu bem que preferiria assim, não teríamos que ver a Sonserina ganhando pontos atrás de pontos só por causa dele – e mudando de assunto drasticamente – Vamos jogar um pouco esta tarde, Harry?

Harry já ia responder que não podia, pois ia fazer uma ronda pelo castelo para tentar descobrir onde Malfoy andava escondido quando lembrou, mais uma vez, da cena nas masmorras. Malfoy e ele cara a cara. Merlim! Aquilo fora muito estranho. E absolutamente surreal.

Balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos e fazendo Rony entender que ele não queria jogar. Rony começou então a tentar convencer o amigo sem perceber que o mesmo estava com a mente em outro lugar.

Quando deu por si havia concordado em ir buscar Hermione na Biblioteca.

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Suas mãos estavam ardendo. Maldita professora e seu castigo escravo. O que ela estava pensando que ele era? Um mero elfo domestico? Se seu pai não estivesse preso ela ia ver só, como se atrevia a mandar um Malfoy fazer um serviço tão degradante, tão... abaixo de sua posição. Pensara em passar na enfermaria e arranjar algo para diminuir o intenso tom vermelho de suas mãos, mas mostrá-las para outra pessoa seria muita humilhação. Draco era um Malfoy, nunca antes tinha feito qualquer trabalho manual de limpeza, sendo assim suas mãos estavam quase em carne viva de tanto que ele esfregara a maldita masmorra que McGonnagal fizera o favor de escolher. O que ela esperava? Que um filho de Lucius Malfoy alguma vez na vida tivesse pegado numa escova de limpeza? Irritante. E suas mãos eram tão pálidas que os machucados adquiridos ficavam muito mais visíveis. Estava difícil escrever e comer, estava difícil olhar para elas. E muito mais difícil lembrar do que ocorrera na maldita masmorra.

Claro, uma das razões de suas antes tão belas mãos estarem destruídas era Potter. Potter como sempre. Ele tinhaque ter corrido para o mesmo lado que ele! Seu coração ainda disparava quando se lembrava de quando abriu os olhos e o encontrou embaixo de si.

Foi... wow, por um segundo ele realmente achou que Harry notaria seu coração, com todo o barulho que ele estava fazendo, como se quisesse fugir de seu peito. Seu corpo era quente e ele era forte. Sempre o chamava de magricela fracote, mas... bem, ele ainda era magro! Muito magro. Mas não tanto quanto as suas roupas faziam os outros acreditar. Roupas molhadas lhe caiam bem, deixavam ver que, mais cedo ou mais tarde, aquela magreza iria embora. Não que ele algum dia não tenha sido ridiculamente magro, claro. Parecia estar em eterno regime. Ou era essa a impressão que dava ao vê-lo comer perto de Weasley. Mas era justificável, afinal uma família pobre como aquela e que mais parecia um bando de coelhos, lógico que o ruivo tinha que aproveitar quando estava na escola.

E aqueles olhos... Draco sabia que eram verdes demais, isso sempre fora comentado por todos, em todas as partes. Dizer que nunca antes tinha percebido o quão verdes eram era pura hipocrisia idiota. Ele já tinha percebido, assim como todos. A diferença é que olhá-los de tão perto, ver aquele brilho a poucos centímetros de si. Eram bonitos, não dava para negar, mas não tanto como o quadro completo que vira, o rosto meio moreno emoldurado pelos cabelos negros e molhados, eram essas cores mais escuras que davam ainda mais vida aos olhos verdes. Era o corado das bochechas que deixava tudo mais surreal. Era saber que era o corpo de Potter abaixo do seu. De Harry. Que aquele era o seu calor.

Claro que tanta proximidade, por sabe Merlin quanto tempo, o fez imaginar demais. Mas por poucos segundos (e com certeza foram segundos), Draco acreditou que Harry quis beijá-lo. Por pequenos segundos ele achou ter visto os olhos do moreno dirigidos exatamente para os seus lábios. E quase gemeu quando o viu o moreno umidecer seus próprios lábios, que eram mais cheios do que os seus. Então, o maldito balde caiu e tudo se acabou. Rápido como começou.

O clima pesado os fez trabalhar ainda mais rápido e Draco, nervoso, esfregou com ainda mais força a sujeira que teimava em querer vencer a batalha contra seu esfregão. No fim acabara com as mãos mais machucadas do que o necessário.

Maldito Potter e maldito balde.

E suas mãos estavam custando a sarar.

Não que ele fosse usá-las no momento, era aula de Bins e Draco nunca se dignava a escrever algo que o fantasma dissesse. Não que não gostasse de História, ele gostava. Mas era impossível manter a atenção na voz monótona por mais de cinco minutos. No fim, contava com as anotações de Pansy e a ajuda dos livros mesmo. Não era um final tão mal assim, já que nunca reprovara. Óbvio que a única aluna que ia bem na matéria era Granger. Maldita Granger, não importava o quanto tentava, era sempre ela a melhor aluna, sempre ela com as melhores notas e todas as respostas na ponta da língua.

Olhou para trás, sem precisar disfarçar, não era como se Bins ligasse para o que ocorria em sua sala, mesmo. No fundo na sala estava Kakinouchi e ele parecia muito entediado, não anotava nada e ficava girando a pena nos dedos. Hum... ele tinha mãos ágeis, a pena girava e girava e não parava nem caia, sua velocidade quase constante. Mas, caramba, como ele parecia uma garota! Quando Snape o apresentou a Sonserina todos acharam que fosse uma garota, foi um choque coletivo quando ele disse que era um rapaz, quando ele se dirigiu para o dormitório masculino. O dormitório ao lado do de Draco. O cabelo revolto e bagunçado lhe davam um ar mais feminino ainda, pois era muito cheio. Mas não era despenteado como Draco achara de inicio, era liso e sedoso, pelo que parecia. Não demorou para o loiro perceber que Kakinouchi tinha a mania de passar as mãos no cabelo o tempo todo e que seus dedos nunca ficavam travados no meio da bagunça. Então não era um cabelo embaraçado, apenas repicado de forma a parecer bagunçado. E emolduravam seu rosto de forma tão... mesmo sabendo que era um rapaz, muitas vezes era difícil vê-lo como um.

Mas o que isso importava? Estava feliz por ele ter ido para a Sonserina, feliz por ter alguém que também respondia a todas as perguntas. Granger não era mais a única e nem a melhor e Draco queria muito ter visto a cara dela ao ser colocada em segundo lugar. Ainda não tivera essa oportunidade, pois estava esfregando o chão como um empregado trouxa faria.

Não havia falado com Kakinouchi ainda, mas já simpatizava com ele. Ele parecia alegre por natureza, e era do tipo que fazia as pessoas gostarem dele instantaneamente, e ele não apenas tinha desbancado a sangue-ruim como estava conquistando todas as sonserinas. Era algo contraditório, é verdade, gostar do cara que estava pegando as suas garotas. Antes do oriental aparecer todas as garotas queriam uma chance com ele. Com Draco Malfoy. E não apenas devido ao seu sobrenome. Draco sabia que era o mais bonito da Sonserina, sabia que era um dos mais bonitos da escola (apesar das garotas de outras casas manterem uma certa distancia, ele percebia seus olhares). E em cinco dias um novato já estava nas graças da maioria das garotas da sua casa e o loiro já tinha notado os olhares que ele recebia de algumas garotas nos corredores. Mas não ligava.

Primeiro porque não gostava de nenhuma delas, segundo porque era muito bom se ver livre de Pansy que antes teimava em ficar no seu pé 24 horas por dia. Não que ele não gostasse de Pansy, ela era uma boa amiga. Mas parecia não entender que era apenas uma boa amiga. Era bom vê-la babando em outro cara, era bom não ser mais chamado na frente de todos por apelidos idiotas.

Pansy parecia não ter muita noção às vezes. E era irritantemente aguda na opinião de Draco. Triste sina a sua, seus amigos ou eram completos idiotas ou eram naturalmente irritantes. Apenas Zabini salvava. Poderia se questionar o porquê ainda ficava próximo deles, mas a verdade era que não era algo a se questionar. Era algo a se aceitar. Crabe e Goyle haviam servido Lucius Malfoy. Nada mais natural do que os filhos deles servirem Draco Malfoy. Draco crescera acostumado a essa ideia. Não era algo que ele um dia aprendera a contestar. Ele também gostava de um pouco de solidão, então duas pessoas que mal sabiam pensar direito eram boas companhias quando se queria um pouco de silencio. Os dois não eram de falar, assim, ele se mantinha perto dos dois quando queria um pouco de solidão e perto de Pansy e Blaise quando queria conversar.

"Se a voz dela não fosse tão irritante, ela b... o que houve com a voz do professor Bins?" – questionou-se quando a voz arranhada quebrou seus pensamentos. A voz dele estava... enrolando? E era impressão sua ou...

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Se tinha uma coisa que Hermione não admitia para si mesma era o desconhecimento. Sempre estudara muito, queria boas notas e um bom futuro. Tinha plena consciência que sua época de estudante influenciaria todo o seu futuro. Suas notas, o que estudara, quais matérias dera mais valor. Claro que amava aprender, mas mais do que isso, Hermione sempre dera o melhor de si em tudo o que fazia. Não gostava quando a chamavam de sabe-tudo de modo a insultar, mas adorava quando seus esforços eram reconhecidos. O choque que tivera no inicio da semana não era apenas porque ficara em segundo lugar, ela sempre ficava em segundo lugar em Defesa Contra as Artes das Trevas para Harry e realmente não se importava com isso. O que a ferira fora Snape. Não que o comportamento dele não fosse previsível, ele nunca cederia pontos a uma grifinória, ele nunca elogiaria seu trabalho e ele sempre elogiava os sonserinos. Sempre que possível, claro. Snape, pelo menos, não concedia nota sem que o aluno merecesse.

E esse era com certeza um ponto a favor de Snape.

Mas o modo como ele falara, o modo como deixara claro para todos que o trabalho improvisado de outro era muito superior ao dela, que lhe exigira tanto... Não fora o segundo lugar que a irritara, bom, ele também, afinal, ela tinha estudado, fora o modo como aquilo fora dito. E sem que percebesse ela estava disposta a provar que isso não aconteceria de novo. Mas o mesmo havia acontecido em Runas Antigas. Intimamente, ansiava para vê-lo perder para Harry na Aula de DCAT.

Suspirou enquanto forçava mais um grosso livro na mochila, devia aprender logo como aumentar o espaço interno das coisas, uma mochila pequena que coubesse todo o seu material era o seu sonho desde o 1º. ano. Snape que lhe aguardasse, na próxima ele teria de lhe elogiar.

Já estava saindo quando viu Harry e Rony entrando e correu a falar sobre qualquer coisa que não fosse a aula da tarde. Adorava Rony, mas ele era um idiota. Simples assim. Quer dizer, quantas dicas ela própria já lhe dera? Era óbvio, desde o 4ª. ano que ele gostava dela e fazia um ano que ela vinha tentando lhe dizer que gostava dele. Mas ele era uma anta ruiva que não conseguiria notar uma garota se declarando mesmo que ela dançasse na sua frente. Suspirou. Aquele rapaz conseguia realmente ser desligado. E insensível. Sabia que ela estava magoada com sua nota de Poções, sabia que ela não gostava do sonserino novo, mas teimava em falar dele e em fazê-la lembrar que Hogwarts agora contava com mais um sabe-tudo. Era como Harry uma vez falara: tem coisas que todos falam, mas ditas por alguém em especial machucam de uma forma que as outras pessoas não conseguem. Era como quando a chamavam de sabe-tudo. Todo grifinório já havia feito isso pelo menos uma vez. Isso não a magoava, às vezes até a orgulhava. Mas quando Snape o fez...

Rony era um idiota.

Já estavam saindo da Biblioteca quando viram Neville e Luna correndo até eles. Fazia tempo que não via Luna, mas os dois não deram tempo nenhum para cumprimentos:

– Ei, vocês precisam ver isso! Rápido! Venham ver! Na sala de História da Magia. – disse Neville.

– Mas o que aconteceu?

– O professor Bins, está muito engraçado mesmo! Venham ver – respondeu Luna, agarrando o livro que Hermione ainda tentava guardar e voltando para a sala do professor fantasma.

Não sobrou alternativa aos três além de segui-los.

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A frente da sala de História da Magia estava cheia de alunos de várias casas e a maioria estava rindo. E muito. Outros chegavam trazendo amigos para ver algo de muito engraçado que estava ocorrendo dentro da sala, assim como Neville e Luna haviam feito. A pergunta era: desde quando uma aula de História da Magia atraia tanta gente? E ainda fazia as pessoas rirem?

Alunos se acotovelavam para olhar dentro da sala e muitos já estavam quase lá dentro quando voltaram às pressas e por suas cabeças algo de um branco transparente passou como uma bala. Era grande e redondo e pareceria muito com um fantasma se não fosse sua forma não humana.

– O que é aquilo? Uma bola? Uma bola-fantasma? – perguntou Rony assim que a bola-fantasma passou por cima de sua cabeça e se chocou com a parede, voltando para a sala, mas batendo acima da porta e voltando novamente.

– Pinboll – falou Dino – viram como bate e volta como uma bolinha de Pinboll?

E era assim mesmo, a diferença era que cada batida numa parede a bola murchava um pouco e berrava. Mas seus gritos eram abafados parecendo aumentar de volume a cada vez que ela murchava

– Professor Bins! – um aluno gritou quando a bola já voltava a forma meio humana do fantasma professor. Isso quase explicava. Explicava o que era a forma que quicava pelas paredes, mas de forma alguma justificava como o professor havia sido inflado daquela forma, como se fosse um balão! E pior, parecia não terem amarrado a ponta. Ele murchava da mesma forma que uma bexiga cheia, mas solta antes de derem o nó, dando voltas e piruetas e batendo nas paredes, sem poder atravessá-las. Suas bochechas inchadas não permitiam que a voz saísse e por mais esquisita que fosse a situação (e mesmo num castelo de magia a situação era muito esquisita) a cena era definitivamente engraçada. Que criança nunca brincou de ver uma bexiga rodar e rodar antes de murchar e cair no chão?

– O que está acontecendo aqui? – perguntou uma voz grave que fez todas as risadas morrerem imediatamente, deixando que Harry notasse o quanto o professor Bins, agora terminando de murchar, estava abalado – Qual o motivo de tanta bagunça?

– Professor Dumbledore – disse Malfoy, saindo da sala de aula, o distintivo de Monitor brilhando no peito – Não sabemos dizer, estávamos tendo aula, como sempre, quando a voz do professor Bins falhou, começou a enrolar e ele começou a inchar. Inflou até ter uns dois metros e começou a se chocar com as paredes, até que atingiu a porta e saiu da sala. Mas parece que ele já voltou ao normal.

– Todos de volta para suas salas, todas as turmas do professor Bins de hoje estão dispensados – disse Dumbledore e não precisou falar uma segunda vez, em segundos o corredor estava absolutamente vazio, com exceção do diretor, do professor fantasma e de Filch

– Peça ao professor Flitwick para ir até a minha sala – conclui Dumbledore antes de também desaparecer, junto com o professor fantasma. Sobrou para o pobre zelador mal-humorado arrumar a bagunça de carteiras jogadas e pergaminhos espalhados enquanto maldizia os alunos indisciplinados que a escola aceitava e fosse quem fosse o causador de tanta bagunça. Malditos gêmeos Weasley e sua herança de destruição!

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Harry definitivamente odiou Malfoy um pouco mais ao vê-lo explicando o que acontecera ao professor Bins. Toda aquela pose de Monitor e de importante. Odiou ver como ele estufou o peito para falar, a autoridade que emanou dele. Por mais que Harry odiasse admitir ele queria ter sido um Monitor também e por mais que odiasse pensar assim e se sentisse o pior dos amigos, lá no fundo, ele achava que ele merecia esse posto mais do que Rony. Mas Rony nunca poderia saber disso. Depois perder para Rony era bem diferente de perder para Malfoy.

Engraçado, há uma semana Harry diria que Malfoy parecia um moleque arrogante com aquele distintivo falando e agora falava que ele pensara que ele parecera importante. Bem, era um fato que ele nunca antes tinha deixado de olhar Malfoy como se ele fosse um eterno e irritante pivete de 11 anos, mimado e cheio de maus-hábitos. Pensando racionalmente era natural que ele tivesse crescido. Era natural também que ele não fosse mais tão arrogante e mimado, não depois de estar a mais de cinco anos longe dos pais e sendo tratado como qualquer outro aluno. Mais natural ainda que depois de ter o pai preso seus mimos tenham diminuído.

Mas não era nada natural ver Malfoy como Monitor e ele não.

– Caramba, vocês demoraram, hein? – disse Hagrid quando viu o trio se aproximando do espaço no qual o meio-gigante costumava dar suas aulas. Atrás dele havia diversas caixas grandes e isso por si só já deixava todos apreensivos, já imaginando que criatura fofinha Hagrid teria arranjado agora – O que aconteceu? É a primeira vez que duas turmas se atrasam juntas.

– Desculpe, Hagrid. Uma confusão no castelo. Alguém inflou o professor Bins, foi muito engraçado – disse Rony, rindo ao lembrar da cena.

– Mas de muito mal gosto, aquela brincadeira – rebateu Hermione que havia sido a única que não rira da cena, não conseguindo ver graça no que ela chamava de "uma brincadeira de muito mal gosto".

– E é? Nunca ouvi falar disso. Quem foi que fez isso? – perguntou o professor, surpreso.

– Ninguém sabe – respondeu Harry e não agüentando mais de curiosidade – o que tem nas caixas, Hagrid?

– Ah, vocês vão adorar! Arranje...

– Desculpe o atraso, professor – disse uma voz atrás do trio e Harry se surpreendeu com o tom meio grave, quase rouca, uma voz realmente gostosa. Era a primeira vez que ouvia a voz do sonserino japonês. Ou chinês. Ou coreano. O do nome difícil. O moreno tinha achado, quando Rony contara que a voz do outro era meio grossa que seria muito estranho, como uma menina com voz de menino, mas não. Era estranhamente perfeita a sincronia. Harry via pela primeira vez que o novato era mesmo um rapaz.

– Sem problemas, todos chegaram mesmo – disse Hagrid, analisando seu novo estudante - Não conheço você.

– Sou novo aqui, comecei na segunda. Meu nome é Chikage Kakinouchi. – respondeu e fingiu não ouvir Hermione murmurar "óbvio que é novo, o que mais seria?".

– Ora, seja bem vindo. Sou Hagrid, professor de Trato das Criaturas Mágicas. Vejo que caiu na Sonserina – disse ao notar o uniforme com tons verdes – alias, belas roupas. Mas... como é mesmo o seu nome?

– Kakinouchi. – e respondeu ainda se fazendo de surdo as alfinetadas de Hermione ("precisa sorrir até mesmo para dizer seu nome?").

– Nomezinho difícil o seu. Bem, Kaki-Kaki...

– Ka-ki-no-u-chi.

– Kakichi, seja bem vindo e sinta-se a vontade para perguntar qualquer coisa.

– Muito obrigado, professor – respondeu, sem corrigir mais uma vez seu nome. Já tinha percebido que seu nome seria um problema ali. – E vocês três são? – perguntou, virando ao trio que ainda estava ali.

– Harry Potter, Rony Weasley e Hermione Granger – respondeu o moreno, tomando a dianteira e apresentando o trio.

– Ah, Granger, de você eu já ouvi falar. Sangue-ruim, grifinória, a melhor aluna. Nossa, disseram que você é super inteligente!

– Se não reparou ainda você fez mais pontos do que eu em todas as aulas. – disse a garota azeda. Hagrid, ao ouvir, soltou um assovio e foi organizar os alunos. Kakinouchi não deixou de sorrir e respondeu com um dar de ombros:

– Mas você ainda é a aluna, eu sou o aluno.

Placar: Kakinouchi: 1, Hermione: 0.

– Bem, foi um prazer conhecer vocês. Já percebi que grifinorios e sonserinos não são muito amigos, mas espero que possamos nos dar bem – completou o sonserino, sorrindo ainda mais – Afinal, somos parceiros na liderança, não, senhorita Granger? – e como se soubesse que não receberia uma resposta o moreno se afastou, não sem antes desejar uma boa aula aos três.

– Você percebeu que ele disse que já tinha ouvido falar da Hermione e não de você? – disse Rony a Harry, quando os três se sentaram juntos, esperando fosse o que fosse que Hagrid tiraria das caixas.

– Eu percebi que ele falou sangue-ruim... mas não como um insulto e sim como um fato.

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– Potter e Granger, hum... foi realmente um prazer, conhecer vocês...

– Que foi que disse, Kakichi?

– Nada, Parkinson, apenas pensei alto.

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No fim da aula Harry havia entendido plenamente o que Rony quis dizer com "respostas mais completas". Hermione respondeu todas as perguntas de Hagrid, mas Kakinouchi completou todas elas e no fim foi chamado para conversar um pouquinho com Hagrid, que não escondeu de ninguém o quanto estava surpreso com o conhecimento do jovem sonserino. E encantado!

Ao deixar a orla da floresta para voltar ao castelo Harry havia percebido duas coisas: Kakinouchi realmente sabia muito (o suficiente para encantar Hagrid, pelo menos quando se tratava de texugos mágicos [2]) e Hermione realmente não o gostava do rival. E ela deixara isso bem claro.

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– Mandou me chamar, Dumbledore?

– Sim, Flitwick. Sente-se – convidou o diretor, antes de continuar – Já ouviu falar do que aconteceu hoje ao professor Bins?

– Não, senhor.

– Alguém, e eu realmente não consigo imaginar quem, inflou o professor Bins, como se fosse um balão. Ele já murchou, mas está bastante abalado. O que acha disso?

– Algo impossível de ser feito, não existem feitiços que possam afetar um fantasma. Isso é uma piada, Dumbledore?

– Eu bem que queria que fosse, Flitwick, eu bem que queria.

– Dumbledore, um fantasma é uma criatura já morta, nossa magia não pode afetar os mortos. Tenho certeza que você sabe disso. Não temos esse poder. Pouquíssimas criaturas o têm e mesmo assim é sempre incompleto. Mesmo os olhos fatais do basilisco nada podem fazer. Realmente nunca ouvi falar de um feitiço amplificado por uma varinha, ou não, capaz de fazer algum estrago real num fantasma. Inflar um é... não consigo nem imaginar como algo assim seria possível. Talvez em Transfiguração, mas mesmo assim, precisamos de coisas vivas parem serem transfiguradas e fantasmas definitivamente não estão vivos. Quando isso aconteceu?

– Hoje mesmo. Há menos de duas horas. De acordo com o garoto Malfoy, Bins começou a inchar no meio da aula. Ele estava dando aula para o 6º. ano da Sonserina. O que pensa a respeito, então?

– Que mesmo que isso seja possível, e se realmente for possível, um aluno jamais conseguiria tal coisa. Mesmo um do 6º. ano, ou do 7º. ano. Seria necessário um nível de magia muito alto, sem falar de uma educação rigorosa, muita prática e um altíssimo conhecimento de magia negra. Ou branca. Não faço idéia, mas não consigo crer que haja uma magia branca que possa ser utilizada para atrapalhar os mortos. Não foi um aluno, Dumbledore. Mesmo aqueles que tenham crescido aprendendo magia negra não poderiam fazer algo do tipo. Talvez devesse falar com Snape ou Trancy [3], já que ambos tem um profundo conhecimento das artes negras. Mas, mesmo que algum deles conheça algo, não poderia ser um aluno a ter executado um feitiço desse porte. Foi outra pessoa.

– Quem? Quem além dos professores então poderia fazer algo do tipo?

– Dumbledore, nem mesmo um professor poderia.

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Droga de Malfoy! O cara que nascera apenas para perturbar Harry! Perturbara-o desde o trem no primeiro dia de aula e provavelmente faria isso até o último dia! Carinha irritante!

Droga. Da próxima vez que brigasse com ele ia verificar se estavam definitivamente longe da vista de McGonnagal e suas masmorras sujas.

Nem parecia que já era o quinto dia que passava com as mãos tão machucadas. Passar por uma semana de aulas daquela forma fora cruel. McGonnagal havia exagerado com certeza. Malfoy e dor, tudo junto. Se isso não era uma fase de azar pela qual passava, não queria tentar imaginar como seria uma. Não podia ser pior. Isso não era algo concebível.

– Qual o problema, Harry? Suas mãos estão doendo ainda?

– É, Rony. Mas já estão bem melhores do que estavam na segunda, com certeza. Só estou chateado que quando Hagrid traz algo realmente legal para a aula eu não posso participar direito. É um saco!

– Pense pelo lado positivo, Harry. Malfoy está bem pior do que você. Riquinho como é, provavelmente nunca antes tinha feito um serviço manual – disse Rony – percebeu que ele também mal participou das aula?

– É só isso mesmo, Harry? – perguntou Hermione, a voz naquele tom de quem sabe de mais alguma coisa - Você parece cansado também.

– Tive um sonho muito estranho que não me deixou dormir – disse suspirando, sabendo que era esse um dos maiores medos dos dois – não, não como os do ano passado. Mas... sei lá... parecia um sonho do passado... cenas do passado. Muito estranho. O mais estranho é que eu nem me lembro dele. Só sei que o tive. E minhas mãos ainda estão doendo – disse, mostrando-as – por causa da última detenção que levei.

– Você não falou nada sobre ela, fora que Pirraça apareceu para incomodar. – disse Hermione – Sei que você e Malfoy não ficaram conversando como bons amigos, mas do jeito que você anda falando dele achei que ouviríamos mais detalhes sobre o que aconteceu.

– Eu não fico falando sobre ele!

– Ah, fica, cara. – disse Rony – parece que tudo o que acontece agora é culpa dele. Até pensei que você ia falar que o sonho foi culpa dele.

– Exagerado – ralhou Hermione, porém continuou, preocupada – Quando teve esse sonho, Harry?

– Sei lá... acho que na última noite ou na anterior, mas não tenho certeza – sim, mais ou menos, desde que fora obrigado a passar uma manhã com Malfoy e quase o bei... Peraí! O que ele ia pensar mesmo? Sacudiu a cabeça numa mania inconsciente que vinha desenvolvendo, a de negar com a cabeça seus pensamentos. Ele estava pirando. Era isso. Hermione tinha razão, ele andava meio estranho mesmo. Ficar encanado demais com as ações do sonserino estava afetando seu cérebro. Aquele projeto de Comensal realmente fazia muito mal a saúde!

E porque ele tinha que pensar tanto sobre aquele maldito acidente. Fora só um tombo, caramba! Nada demais. Por que tinha que pensar naquilo dia após dia, e ainda por cima como se fosse algo importante! Quando, por Merlin, ele tinha certeza que não havia nada de importante que valesse tanta atenção. Não era nem como se o loiro valesse tanta atenção, para inicio de conversa. E o pior de tudo era ficar encanado transformando algo banal e inocente em algo importante (coisa que definitivamente não era) quando Malfoy não ligava a mínima para o acontecido, afinal o loiro não lhe dirigira nenhum olhar nos últimos dias.

Mas por algum motivo Harry pareceu se lembrar de algo. Um tom de cinza com azul e amarelo claro. E água.

Parou com tudo no meio do caminho, assustado, fazendo uma ligação com essa pequena lembrança e um fato vergonhoso ocorrido a menos de uma semana. Assustado com o que isso podia significar, voltou a andar para junto dos seus amigos, murmurando para si mesmo:

– Quer saber, não vou mais saber do Malfoy. É isso, a partir de agora ele pode se ferrar que eu não ligo mais. Não quero nem saber o que ele é ou o que está fazendo. – decidiu, querendo a todo custo esquecer os olhos cinzas com manchas azuis, suas palavras baixas não pudendo ser ouvidas nem por seus amigos, ao seu lado, o que foi ótimo, assim eles não o encheram de perguntas sobre o porquê de uma decisão dessas sem aparente motivo, e melhor ainda porque o próprio Harry não tinha muita certeza. E de forma alguma externaria seus pensamentos sobre o maldito tombo e os malditos olhos não tão cinzentos que não saiam de sua cabeça.

O moreno só não percebera dois detalhes: fazia cinco dias que ele não pensava em Gina e que talvez já fosse um pouco tarde para mudar de idéia.

L&SL&SL&SL&SL&S

– Não vou mais saber do Malfoy. É isso, a partir de agra ele pode se ferrar que eu não ligo mais. Não quero nem saber o que ele é ou o que está fazendo – disse Harry, claro o bastante para que fosse ouvido pelo portador da pequena bola de cristal em sua mão, tão pequena quanto um lembrol [4].

– Tem certeza? – perguntou sorrindo o portador da pequena esfera a um Harry que não podia ouvi-lo.

continua...


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Notas finais do capítulo

- N/A: Esse capítulo não ficou bem o que eu queria, mas... acho que deu para passar. Sei lá, acho que o Harry está meio idiota... já o Draco está seguindo mais o que eu esperava. Claro que eu não podia esquecer o detalhe do que foi que ele pensou quando tinha Harry abaixo de si ^.^ De qualquer jeito esse virou um capítulo do Chikage mesmo, acho.
Desculpem os erros de português, incoerência ou qualquer coisa do gênero. Meu português não é dos melhores e o inglês e eu temos uma inimizade natural ^^"
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- Agradecimentos: Muito obrigada a todos que leram e pretendem acompanhar essa história!