Senti um cheiro de alguma coisa queimando, abri os olhos e vi Daniel com uma espécie de peixe, eu o olhei meio espantada como ele havia conseguido arranjar um peixe. Ele viu que eu acordei e disse:

– Oi...

– Hey, o que é isso?

– Você precisa comer, faz quase três dias que você não come nada.

– Nem me fale, estou faminta. Mas me responde uma coisa, você se alimenta de sangue?

– Sim.

– E quanto tempo você está sem se alimentar?

– Quase cinco dias!

– E quanto tempo você consegue ficar sem?

– Geralmente três dias, mas eu ainda estou bem!

– Tem certeza, Dan?

– Sim, tenho certeza. Agora por favor, coloca sua roupa. Porque eu não vou agüentar, ficar ao seu lado com você nua.

– Ok, você quem manda.

Me levantei, coloquei o vestido. Senti algumas dores musculares, mas era natural, afinal eu fiz muito esforço... Daniel terminou de assar o peixe e me deu para comer, estava comendo quando eu o indaguei.

–Hey, onde você conseguiu esse peixe?

– Temos um lago nessa caverna, por algum motivo do qual eu ainda não sei, temos alguns peixes por aqui.

– Está uma delicia, depois de terminar aqui, eu vou ir ao lago. Você vai comigo?

Ele assentiu, e eu continuei degustando meu delicioso peixe. Assim que terminei, o chamei e seguimos em direção ao lago, estávamos na metade do lago, quando ele caiu de joelhos no chão, tinha algo de errado com ele, me abaixei e percebi que ele suava, tinha profundas marcas embaixo dos olhos. Eu tentei fazer com que levantasse, mas ele não tinha forças.

– Dan, o que está acontecendo?

– Estou fraco – ele disse roucamente.

– Vamos voltar, para a fogueira. Venha eu vou te ajudar.

Passei meus braços em seu tronco e o elevei, ele era pesado, e como não tinha forças para andar, eu praticamente o arrastei até a fogueira, coloquei o deitado ao lado da fogueira, ele agora tremia muito, e eu me arrependia de ter acabado com sua camiseta, eu sabia que o fogo o ajudaria a esquentar. Mas cada minuto que passava Daniel piorava, eu não sabia mais o que fazer. E nem por qual motivo ele ficara assim, eu deitei ao seu lado e o abracei, achei que assim ele poderia se aquecer mais rápido, só então eu percebi que não era de frio que ele estava tremendo, ele parecia um drogado que ficava muito tempo sem sua droga, ele estava em estado de abstinência. Ele precisava se alimentar, e eu era a única pessoa que podia ajudá-lo.

– Dan...– sussurrei em seu ouvido- Você precisa se alimentar.

Eu lhe dei meu pulso, ele abriu os olhos. Olhou profundamente em meus olhos e disse:

– Eu não vou me alimentar de você, nem que eu morra.

– Você salvou minha vida duas vezes, está na hora de eu fazer o mesmo, não quero ninguém morrendo por minha causa. Eu não estou pedindo Daniel, estou te dizendo que você vai se alimentar.

– E eu disse que não. Não me peça para fazer isso Lou, vai contra tudo o que eu sou.

– Dan, você não vai me matar, apenas para você melhorar!

– E se eu não conseguir parar?

– Eu sei que você vai parar!

– Por quê?

– Porque eu confio em você!

Ele olhou pra mim, e novamente eu coloquei meu pulso em sua frente. Ele carinhosamente o segurou, e logo em seguida eu senti uma picada, sentia meu sangue fluindo em sua boca, e isso era extasiante, prazeroso. Não tanto quanto o que senti ontem, mas muito prazeroso.

Daniel estava mais corado, eu percebi que suas forças estavam cada vez melhores, mas antes que ele pudesse terminar, ele foi arremessado para longe e meu pulso foi rasgado. Eu senti muito sangue saindo, ainda nem tinha visto quem foi o infeliz que havia feito isso, mas percebi que Daniel, não gostou nenhum pouco da nossa visita.

...

Ainda estava chovendo, e eu tinha uma péssima sensação, alguma coisa estava acontecendo com Louise. E eu não podia mais esperar, olhei para Athus e disse:

– Sinto muito amigo, mas pra mim já deu. Eu vou atrás de Louise agora.

Eu nem esperei ele dizer nada, abri minhas asas e sai voando, eu sabia que a encontraria. Voei por cerca de uma hora, passei por algumas cavernas, mas a maioria delas era muito pequena e sempre tinha saída. Ate que eu sobrevoei pela mata, estava chegando na metade do caminho entre Juneau e o Canadá, quando eu vi um buraco no meio de uma pedra gigante, não havia como decifrar o que era, mas algo dentro de mim, me fazia chegar mais perto, parei em cima da pedra e olhei para o buraco, não me surpreendi quando vi um lago, então entrei, era uma caverna. E o buraco ficava em cima do grande lago, cheguei em terra firme e percebi alguns passos no chão arenoso, mais a frente havia um rastro, como se alguém tivesse sido arrastado, na mesma hora senti uma raiva tão grande, já imaginei aquele filhote de vampiro, com as mãos em Louise, tomando seu sangue. Mas se eu souber que ele realmente fez isso, eu vou o matar. Fui adentrando cada vez mais a caverna, ouvi vozes distantes, mas não consegui entender o que diziam, e então tudo ficou silencioso. Vi uma claridade e corri para lá, então vi Louise sentada em frente daquele maldito vampiro, que estava tomando sangue do pulso da minha Lou.

Eu não pensei duas vezes, com toda a minha rapidez sobrenatural, o arranquei de perto dela. Ele se levantou instantaneamente, e mostrou as presas para mim, percebi que Louise não mostrava reação, apenas olhava para seu pulso que agora estava rasgado, eu queria matá-lo. Aquele maldito, invoquei minha Gladius e assim que ela surgiu em minha mão parti para cima daquele filho da puta, infelizmente nunca cheguei a ele. Louise tinha barrado meu ataque com a sua espada, como ela havia sido tão rápida eu não sei. Eu a olhei com magoa, e disse:

– Porque você me parou? Ele estava se alimentando de você!

– Ele estava quase morrendo, queria que eu permitisse isso?

– Claro, ele é nosso inimigo Louise.

– Não, Miguel. Ele é seu inimigo. Se fosse meu inimigo, não teria me salvado duas vezes.

– Não interessa, ele só quer seu sangue. Ele precisa que você e Thor morram, para ficar vivos para sempre.

– Miguel, não fala uma coisa que você não sabe. – Daniel disse.

– Dan, deixa que eu resolvo. Ok! – Louise disse a ele.

– Dan? A vocês já estão íntimos, ficaram esses quatro dias se conhecendo! E já estão amiguinhos.

– Mais que amigos eu diria. – Daniel se intrometeu mais uma vez, eu não entendi o que ele disse até olhar para Louise.

– Porra Daniel, será que dá pra me deixar resolver o assunto?

– Desculpa. – Ele respondeu, nos deixando a sós.

– Louise, o que ele quis dizer com mais que amiguinhos? Vocês se envolveram?

– Isso não lhe diz respeito Miguel. Agora voltando ao assunto, sim eu dei sangue pra ele. Não queria que ele morresse por minha causa.

Eu não conseguia prestar atenção no que ela dizia apenas no que ele havia falado. Eu sentia algo me queimar por dentro, era como se meu coração fosse dilacerado, que estivesse sendo partido em mil partes. Eu nem ao menos conseguia me controlar, meus punhos estavam fechados querendo esmurrar alguém, eu olhei novamente pra ela e perguntei:

– O que aconteceu aqui Louise?

– Aconteceu o que Miguel?

– Você sabe bem o que eu estou te perguntando? Entre você e o filhote de vampiro?

– Eu...

– Você transou com ele? – eu perguntei, sentindo um nó na garganta.

– Sim. – ela respondeu num sussurro.

Eu ia falar alguma coisa, dizer que ela era louca. Que ela não podia ter feito isso, não pelos outros. Mas por mim, eu não queria saber sobre profecia, sobre Athus e Ariel. Nem mesmo sobre os vampiros, eu só queria que nada disso tivesse acontecido que eu tivesse dito a ela o quanto a amava antes dessa missão idiota começar, mas infelizmente eu não posso mudar o passado. Ela olhava pra mim, esperando que eu dissesse alguma coisa, mas eu não tinha palavras. Antes que eu pudesse sair para respirar um ar, Athus chegou. Louise correu em sua direção e foi abraçá-lo. Eu sabia o que iria acontecer agora, alguém teria que levar aquele maldito daqui. Porque querendo ou não, ele havia salvado a vida de Louise, era o mínimo que podíamos fazer por ele. Mas esse alguém não seria eu, porque se eu o fizesse iria estrangulá-lo.

...

Eu estava esperando que Miguel falasse alguma coisa, que me xingasse ou demonstrasse qualquer reação. Mas ele não fez nada disso, pelo contrario ele simplesmente olhava para mim, como se eu não fosse nada, e isso doeu. Eu havia sido uma vaca, eu sabia disso. Eu estava apaixonada por Miguel, sim eu era louca por ele. Mas havia me apaixonado por Daniel também. Senti um vento passar e vi meu pai parar atrás de Miguel, e corri para abraçá-lo.

– Ah papai senti sua falta!

– Eu também minha filha, eu também.

– Vamos sair daqui, você precisa se alimentar e descansar, depois conversaremos.

Eu apenas assenti, e chamei Daniel. Voltamos até o lago, e Miguel se postou ao meu lado, meu pai pegou nas mãos de Daniel e saiu primeiro. Antes que saíssemos, Miguel segurou meu pulso, disse alguma coisa em Latim e ele cicatrizou. Ele segurou em minha cintura e voou até o prédio da universidade. Me deixou em frente ao estacionamento, eu corri até Daniel e disse:

– Hey fique bem... E Obrigada por tudo o que fez por mim, nesses últimos dias.

– Você também, agora vai. Porque eu ainda não estou em condições de brigar com o Arcanjo de meia tigela ali. – ele piscou pra mim dizendo isso.

– Ok, qualquer coisa você me liga.

– Vai Lou, eu sei me virar...

Dei um beijo rápido em seu rosto e voltei para dentro do prédio principal, precisava descansar estava exausta. Corri para meu irmão ele me abraçou, foi para o meu quarto esperou que eu tomasse banho, só para deitar comigo e fazer cafuné para eu dormir. Foi gostoso, eu senti muita falta de Hector. Talvez mais do que de qualquer outra. E assim adormeci.

[...]

Acordei vendo a claridade, não sabia quanto tempo eu havia dormido. Mas me sentia revigorada, só estava com fome. Sabia que hoje seria um dia cheio de interrogatório, tanto de meu pai quanto de Miguel. Levantei, tomei um banho e me troquei. Coloquei um conjunto de moletom preto e fui tomar café, meu pai e Hector estavam na sala, dei um beijo em cada um. E disse:

– hey, bom dia!

– Boa Tarde Lou, já são três horas.

– Ual, quanto tempo eu dormi?

– quase dezessete horas.

– nossa. Cadê o Miguel?

– Voltou para o Paraíso hoje de manha.

– Porque?

– Disse que havia que fazer algumas coisas.

– humm...

– Ok, vou comer alguma coisa. E depois conversamos.

– Ah Lou, ele deixou isso para você.

Hector me entregou uma carta. Sai de meu quarto, e fui em direção ao refeitório. Assim que cheguei lá, montei um prato de comida, com arroz, feijão, bife e batata frita. Para tomar um copo de suco de limão e sentei, assim que terminei de comer, resolvi ler a carta de Miguel.

“Louise,

Fui convocado hoje cedo pelo conselho, por isso voltei mais cedo. Mesmo assim não poderia ter ficado ai, muito tempo. Seu treinamento comigo acabou, agora ele será feito com o seu pai. Espero que você não desista de tudo, por causa do seu casinho com aquele filhote de vampiro. Enfim, a decisão está em suas mãos. O sangue do seu tio corre em suas veias, portanto, pense bem no que vai fazer! Não só o destino dos anjos está na sua mão, mas o seu destino também.

Espero que reflita no que realmente quer!”

Miguel.

Ele estava bravo comigo, eu tinha certeza disso. Mas agora era hora de ir com papai e concluir esse treinamento. Era agora que eu viveria literalmente no inferno.