Tudo estava uma maravilha. A audiência gritava encantada e já chegando o final do show não deixavam de pedir outra, quando viam que terminava uma musica.

Mas finalmente chegou o momento em que as luzes se apagaram, e só ficaram Ray e ele, iluminado por uma luz azul celeste. Ambos sentados em bancos de madeira.

E fechou os olhos, lançou um suspiro, e supôs que cada gesto, suspiro, respiração, e palavra eram dedicadas a ele. Seu salvador, seu guia, seu amor imaginário.

Os primeiros acordes soaram e o público aplaudiu emocionado quando Gerard falou que era uma musica nova.

I want to trip inside your head
Spend the day there...
To hear the things you haven't said
And see what you might see

Sua voz soava calma e sensualmente movia as mãos correndo o microfone de cima a baixo.

Freedom has a scent
Like the top of a new born baby's head

O ritmo se acelerou e abriu os olhos vendo as mãos levantadas e as pulseiras brilhantes agitando-se de um lado a outro.

The songs are in your eyes
I see them when you smile
I've seen enough I'm not giving up
On a miracle drug

E novamente imaginou esses lábios. E novamente se perdeu relembrando seu sabor. O melhor sabor do mundo, a droga mais milagrosa.

Of science and the human heart
There is no limit
There is no failure here sweetheart
Just when you quit...

Terminou a estrofe e sorrio. Esperava que Frank não cobrasse direitos autorais por tão belas palavras.

I am you and you are mine
Love makes nonsense of space
And time...will disappear
Love and logic keep us clear
Reason is on our side, love...

Estava apaixonado. Tão apaixonado.

E era patético. O mais patético que poderia ter passado, apaixonado por uma ilusão. Seguiu cantando com intensidade, com paixão e crendo veemente em cada palavra. Sentindo como só Gerard Way poderia sentir as notas e os acordes, saboreando a letra e deixando-a ir com suavidade.

Logo chegou o solo de seu guitarrista e amigo, e aproveitou o tempo para ver os fãs. Havia garotas de todas as idades, cores de cabelo e estaturas. A primeira fila estava coberta quase toda por cartazes fosforescentes, correu os olhos rapidamente ate chegar à margem e ver ele. Piscou varias vezes, incrédulo pelo que via, mas era ele mesmo, Frank de dois anos trás, vestido de preto e com o cabelo maior, mas era seu Frank.

God i need your help tonight

Sussurrou voltando seus lábios ao microfone. A audiência enlouqueceu e Gerard continuou cantando, olhando um ponto especifico que agitava os braços e sorria de forma encantadora, encerrando qualquer duvida. Esse era Frank.

Beneath the noise
Below the din
I hear a voice
It's whispering
In science and in medicine"
I was a stranger
You took me in"

O suposto Frank brincava e olhando Gerard com toda a adoração característica de um fã.

Miracle, miracle droug.

E a musica terminou. Agradeceu a presença com entusiasmo e se despediu do publico, apesar de seus insistentes comentários, gritos e aplausos.

Abaixo do palco, pediu uma toalha e controlava sua agitada respiração e o acelerado coração. Não podia ser Frank. Frank não existe, é sua imaginação. Sua imaginação criou Frank. Frank não existe!

-Gerard, os garotos com passe VIP te esperam na sala. -Gerard recuperou a compostura e assentiu enquanto bebia água. -Os mando passar juntos ou um a um?

-São muitos?

-Quatro.

-Um a um, e depois eu vou.

Gerard entrou na sala de reuniões. Havia uma sala anexa, pequena, onde os sortudos com passes VIP esperavam. Um a um foram chamados para estar com Gerard Way. E ate a terceira pessoa havia sido garotas que pediam fotos, autógrafos, e um beijo na bochecha que terminava nos lábios quando giravam a cabeça de propósito. Gerard ria e deu a cada uma não mais de que oito minutos, mas as fãs saiam com uma emoção tão grande, que poderiam morrer nesse instante, mas iriam sorrindo.

Logo, finalmente deu passe a seu ultimo admirador. Gerard se sentou sobre a enorme mesa de reuniões e esperou outra jovenzinha gritona que lhe roubaria beijos, mas o que entrou foi perturbadoramente melhor.

Em frente a ele, Frank Iero, seu amor imaginário, vestido de preto, suado, despenteado e na mão direita uma revista. Seu olhar estava perdido no maravilhoso mundo do tapete escuro e parecia não querer sair dali.

-Frank... -Disse Gerard, seguro de seu nome, mas não de sua presença. Sua imaginação estava jogando com ele outra vez? Pôs-se de pé ante a falta de atenção do jovem, abriu a porta do corredor e a encontrou vazia, então deduziu que Frank seria a quarta pessoa a chegar, e isso significava que havia sido visto por Chuck. O havia visto!

Estava Chuck tão louco como ele então?

-Frank. -Voltou a seu lugar, sentando sobre a mesa, lançando um suspiro e tratando de chamar a atenção de seu amigo imaginário. Algo definitivamente estava errado, seu Frank era inquieto, queria tocá-lo quase todo o tempo e falava sem parar, direto ao ponto. Com seu Frank nem sequer teria que falar, porque lia sua mente, porque Frank era seu, e ele era de Frank. Não existiam sem o outro.

-Isto é tão estranho. -Murmurou o garoto acanhado.

Gerard nunca havia visto esse vermelho, e lhe encantava. Este Frank era precioso e enigmático, justamente como o anterior, mas muito mais tímido e encantador. Teria que voltar a se sentir feliz por imaginar algo incrivelmente melhor.

-Como sabe meu nome? -Perguntou o garoto levantando os olhos por fim, permanecendo tenso pelos olhos verdes do cantor.

-Te conheço desde os quatro anos Frank, tenho que saber teu nome.

Frank deu um pequeno salto em seu lugar ao ouvir isso.

-Isso também aconteceu com você? Porque eu estou confundido o fanatismo e a vontade de conhecer meu cantor favorito, mas sinto que te conheço de toda a vida. Sempre esteve comigo.