Um.

Dois.

Três cigarros. Duas xícaras de café.

A figura cansada do homem – que acendera um novo cigarro – permanecia imóvel em sua cama. Seus orbes esverdeados vagavam cansados por dentre a dança de fumaça e nicotina que se misturava ao ar, vinda de seu cigarro recém aceso. Postou o tão desejoso tubo branco em meio a seus lábios e tragou fortemente, logo desfrutando de uma confortante sensação. Seu vago olhar caiu em meio às brancas cortinas que se remexiam inquietas ao que o vento frio e úmido acertava-nas. Expeliu a fumaça cinza que há pouco poluíra seus pulmões, virando-se a fim de saber as horas.

20h19min.

Mal se lembrava da última vez em que tivera plena ciência de data ou hora.

Sua cafeteira apitou – mal se lembrava de ter programado-a – acordando-o de seus vagos pensamentos. Levantou-se, ainda cambaleante pela falta de boas noites de sono, seguindo em direção a sua pequena cozinha. Após adentrar ao cômodo e servir-se de uma xícara de café, percebe que o liquido está frio. Irrita-se percebendo que o som que ouvira a pouco não fora de sua cafeteira e sim, de seu celular. Pegou o objeto que descansava ao balcão rapidamente, fazendo sua expressão de descontentamento tornar-se pior ao ler o que havia escrito na brilhante tela de seu celular: uma nova mensagem. E, pior: da empresa em qual ele atualmente mantém um bom e respeitoso cargo.

Trabalho. Trabalho. Trabalho.

x x x

Respirações lentas. Brisas frias. Clima frio, porém agradável. Buzinas altas. Um alarme disparado e um homem despertando abruptamente.

Ainda embriagado pelo estado de torpor que acabara de sair, ele observou o cenário a sua volta; lençóis e cobertores espalhados a cama, juntamente a travesseiros fora de seus respectivos lugares e algumas poucas cinzas de cigarro que os manchava. Observou-se; dormira com as mesmas vestes do dia que se passara? Oh, mal sabia se era dia ou noite, afinal. Não se lembrava de ter deitado, ou ao menos de ter se preparado para dormir.

Massageou seus olhos lentamente, forçando-os a acostumar-se com a fraca luz que adentrava pelas janelas, iluminando minimamente o local. Permaneceu alguns segundos clareando seus pensamentos; logo após sentir-se melhor, levantou-se indo em direção a sua pequena cozinha. Por algum motivo desconhecido, as luzes de seu apartamento estavam acesas e as janelas abertas. Era dia, afinal. Talvez tivesse desmaiado de sono na última madrugada, após passar exaustantes horas trabalhando em frente ao seu computador – por isso deixara todas as luzes ligadas sem nem dar-se conta. O quão sarcástico era pensar que seu trabalho poderia vir a ser, algum dia, desgastante?

Soltou um audível grunhido de descontentamento para si após checar os armários de sua cozinha a procura de café e dar-se conta de que, brevemente, teria de ir ao mercado. Listou mentalmente suas obrigações do dia enquanto colocava algumas medidas do pó marrom na cafeteira, ligando-a em seguida. Seguiu para seu quarto, pegou seu maço de cigarros e seu isqueiro prateado. Acendeu rapidamente um dos que estavam no maço, sentindo seus pulmões serem invadidos por aquela ótima sensação.

Um.

Dois.

Três cigarros. Duas xícaras de café. Uma nova nota mental – ir ao mercado – e mais trabalho.