Paradise escrita por HévilaChavez, Syrinx


Capítulo 4
Capítulo 4 - Nárnia outra vez




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–Oi, tudo bem com vocês? – perguntei sentando-me diante deles com um sorriso de orelha a orelha.

Nick comia uma torrada, e quase engasgou ao me ver.

–Você não cumpriu a aposta? – ele perguntou de boca cheia, incrédulo, me analisando de cima a baixo, como se eu fosse uma traíra.

–Eu sabia que você ia desistir. – opinou Liz, dando um gole de suco.

Fiz cara de nojo para os dois e falei, sorridente:

–É verdade. Tem um lugar lá.

Se antes Nick quase havia engasgado ao me ver, dessa vez ele engasgou mesmo. Começou a tossir histericamente. Seus olhos se encheram de lágrimas e ele estava vermelho, porque não conseguia respirar. Uma pessoa normal ficaria preocupada com ele e dariam, no mínimo, uns tapinhas nas costas para ver se adiantava alguma coisa. Mas ao invés disso, Liz quase pulou por cima da mesa para o meu lado, me encarando com os seus enormes olhos azuis e o ignorando completamente. Eu, entretanto, fui para perto dele comecei a esfregar suas costas até que recuperasse o ar. Quando finalmente ele pareceu estar bem, os dois me olharam, enquanto eu ainda ria, pedindo uma explicação para o que eu acabara de falar.

–O túnel vai acabar em Nárnia. – Comecei.

–Nárnia? – os dois falaram em coro, se olhando.

–É. É outro mundo completamente diferente do nosso. Lá tem animais incríveis, árvores de todos os tamanhos. Tem também um castelo lindo. Ah, e tem também um rio que tem a água mais cristalina do que a água que a gente bebe na cantina.

Fiquei esperando uma reação deles. Nick abriu a boca e começou a rir alto, histericamente. Senti minha pele corar de vergonha e indignação.

–Por que está rindo? – falei raivosa, cruzando os braços.

–Como você descobriu essa tal Nárnia se não passou nem dois minutos lá?

Respirei fundo e comecei a calcular como iria explicar aquilo para eles. Muito provavelmente não acreditariam em uma palavra que eu dissesse e ririam outra vez.

–Eu também não entendi, por isso acabei perdendo a aposta. Mas o tempo lá parece que passa mais rápido, não sei.

–Ah, Rachel. Fala sério, né? Eu acho que você estava sonhando acordada. – Nick falou, dando mais uma mordida na sua torrada, enquanto eu torcia para que ele engasgasse com ela de novo.

–Pois eu acho que ela pode estar falando a verdade. – Liz falou, levantando-se da mesa prontamente.

Meu sorriso voltou a ocupar meu rosto. Me levantando, fui até o lado dela batendo palminhas de alegria enquanto ele me olhava incrédulo. Deixando a torrada de lado, ele também levantou e dirigiu-se a mim.

–Desculpa, Rachel. Mas é que isso que você está falando é impossível. – e saiu, deixando eu e Liz plantadas.

–Não fica assim não, Rachel. Deixa ele pra lá. – ela tentou me conformar.

Ela parecia que realmente acreditava em mim. Senti-me alegre de novo e nem mais lembrava que Nick achava que eu era louca.

–Que bom que acredita em mim. A gente se conheceu ontem e acho que já é minha melhor amiga. – Sorri para ela.

Estava tudo bem até virmos algumas pessoas correndo em nossa direção. Comecei a escutar um barulho estranho. Um barulho de avião. Não podia ser. A maldita guerra de novo. Decidi que iria embora para Nárnia pelo menos até aquele inferno acabar. Puxei Liz pelo braço, correndo entre as pessoas.

–Rachel, o que está fazendo? Eles vão bombardear a escola!

Eu ignorei os gritos dela e continuei correndo. Havia um certo pânico no ar, os alunos corriam para os seus quartos, e agora atravessávamos o saguão principal. Antes que eu pudesse entrar no túnel, lembrei-me de Nick.

–Por favor, fique aqui. Eu vou atrás do Nick. – ordenei, soltando a mão dela.

–Mas Rachel, a gente tem que se proteger o mais rápido possível! – ela gritou, mas eu quase não a escutei por causa do barulho dos aviões e das pessoas em pânico.

–Não saia daqui! – gritei de volta ao me afastar.

Onde estaria aquele garoto? Será que ele teria ido se trancar no quarto que nem todo mundo? Tudo bem que ele havia me ofendido, mas eu não o deixaria ali fora sozinho quando temos um lugar perfeito para nos proteger.

Correndo contra todos, eu pude enxergar seus cabelos pretos e brilhosos. Corri ainda mais depressa, e agarrei seu braço. Ele tentou livrar-se de mim, mas não conseguiu.

–Anda, a Liz está esperando a gente.

Comecei a puxá-lo para onde eu havia deixado Liz. Ele deixou-se guiar por mim, sem objeção. Passando por ela, agarrei também seu braço e saí em direção ao túnel. Eles me seguiam sem nem fazer careta, tapando os ouvidos por causa do enorme barulho. Chegando até a porta, a abri violentamente. Nick me olhou com um ar interrogativo, ao qual eu respondi indicando a porta com o queixo. Ele ainda ficou parado por um tempo, indeciso.

Liz nem pensou: Foi a primeira a entrar. Depois dela, eu também entrei, e depois Nick, que bateu com violência a porta atrás de nós. O barulho foi totalmente cessado com a batida da porta. Só havia nós, silêncio e a escuridão intensa, que, apesar de só ter me deparado com ela uma vez, já estava acostumada.

–Venham, é por aqui. – falei, pegando na mão dos dois e seguindo o extenso túnel.

No início, escutei Nick murmurar baixinho, mas depois ele parou. Parecia que estava começando a acreditar que eu não iria brincar com uma coisa tão séria. Caminhamos uns trinta segundos, que mais pareciam ser trinta minutos, até começarmos a enxergar a claridade. Vi Liz cobrir os olhos, enquanto Nick desvencilhava-se do meu forte aperto na mão dele. Soltei-a e corri para o fim do túnel, com um sorriso enorme no rosto. Quando cheguei do lado de fora, me virei para eles, os esperando de braços abertos. Liz veio correndo ao meu encontro e me abraçou forte, quase me derrubando.

–Nosso lugar! – ela exclamou, rindo.

Quando nos afastamos, vi que Nick me olhava como se pedisse desculpas. Ele veio até o meu encontro e me abraçou também.

–Me desculpa, Rachel. Eu devia saber que você não inventaria tudo isso. – ele disse, me apertando muito forte. Depois ele me ergueu no ar e começou a dar voltas e mais voltas comigo, comemorando, eu gritando freneticamente. Depois ele me colocou no chão e eu me afastei, pondo meus cabelos loiros atrás da orelha.

Liz parecia não acreditar, examinando cada pedra de Nárnia.

–Não é perfeito? – perguntei, rindo.

–Claro que é. Nárnia é perfeita. – Nick concordou olhando o céu incrivelmente azul daquele mundo.

O ar de Nárnia era mil vezes mais puro que o de Londres. E não havia guerras, só paz e tranqüilidade. E se tivessem, eram bem menos sangrentas que as nossas.

–EI! – um clique deu na minha mente – venham por aqui.

Puxei mais uma vez os dois pelo braço até o acampamento do Grande Rei Pedro.


Foi uma longa caminhada, porque o acampamento ficava a uma distância relativamente grande da saída do túnel. Mas o ar era tão puro e tudo tão perfeito que nós nem reclamamos. Íamos sem reclamar do cansaço. A uns quinze minutos eu estava exatamente ali e o sol estava a pino. Agora já estava prestes a anoitecer. Era incrível como o tempo passava rápido demais ali.

Apesar de só ter caminhado uma vez sobre as colinas, eu gravei bem o percurso até o gramado verde e totalmente plano onde estava o acampamento de Pedro. Eu tinha memória fotográfica assim como minha mãe. Quando ficamos no alto das colinas, eu pude enxergar as tendas vermelho sangue com amarelo ouro. Apontei para baixo e disse:

–É ali.

Liz e Nick me encararam.

–Você não falou que Nárnia já era habitada. – Nick perguntou, parecendo irritado com a ideia de dividirmos o lugar com mais alguém.

–É, eu não falei. Mas eu conheci o Grande Rei. – Falei pondo os braços para trás.

Liz não disse nada. Na verdade foi a primeira a descer a inclinada colina, em direção ao acampamento. Percebi que ela ficou bem mais interessada quando mencionei Pedro como rei e que o conhecia pessoalmente. Nick pareceu mais uma vez indeciso, me olhando da mesma forma de quando me olhou para entrar no túnel.

–Vocês não vêm? – Liz gritou já a alguns metros a nossa frente.

Decidi descer também, mas antes que o fizesse, analisei Nick com o olhar. E para minha surpresa, ele já dava um passo a frente. Ou Nick era bipolar ou adorava dar o braço a torcer. E uma terceira hipótese passou pela minha cabeça: Talvez ele sempre topasse algo se Liz fosse junto.










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