Nem Todo Mundo Odeia O Chris - 1ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 7
Todo Mundo Odeia a Babá


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora. O cap tá pronto desde ontem, mas eu não tenho como postar dia de quinta. Aproveitem!



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POV. CHRIS (Brooklin – 1982)

                Apesar de ter apenas treze anos, eu tinha sempre que cuidar dos meus irmãos. Tudo o que acontecia com eles sempre era minha culpa. Pelo menos tudo de ruim que acontecia com eles. Se eles quebravam alguma coisa, o culpado era eu. Se eles se machucassem, a culpa era minha. Eu me sentia um pai de treze anos. Uma vez a Tonya se sujou por que queria fazer biscoitos e minha mãe disse que era culpa minha. Eu só tinha me sentado por um minuto e ela sujou a cozinha inteira e desperdiçou um saco inteiro de farinha. No final, eu tive que limpar tudo. Graças a eles, cuidei das crianças dos outros até ter que cuidar das minhas. Meu nome era o mais falado naquela casa. Bem, falado não, gritado. CHRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIISSS!!!!!!!!

                Eu tomava conta deles de dia, mas minha mãe achava que eu não podia fazer isso a noite, pelo que eu dava graças a Deus. Uma noite quando meus pais iam sair pra jantar (que fique constado que isso era MUITO raro!), eles chamaram a babá que ficava com os filhos de uma amiga da minha mãe, a Sheila. O nome da babá era Ivete. Enquanto minha mãe dava instruções pra babá, meu pai dava instruções pra mim.

                “Chris, eu não quero que aquela mulher ligue pra nós. É muito difícil eu e sua mãe sairmos, e eu não quero que nada dê errado. Se tiver algum problema, resolva.” Eu sabia que não era um pedido, era uma intimação.

                Não muito depois dos meus pais saírem, eu recebi uma visita inesperada, mas muito bem recebida.

                “Lizzy!” Eu ficava tão feliz toda vez que ela vinha me ver.

                “Oi, Chris. Tá ocupado?”

                “Não, só vou assistir um jogo de basquete. Vai começar daqui a pouco. Quer entrar?” Ia ser tão legal se ela ficasse.

                “Eu queria muito, mas eu não posso. Meus pais deixaram só que eu ficasse na frente de casa. Então você não vai sair, né?” Ela parecia triste. Eu não queria vê-la triste. Eu me importava muito com ela, ainda mais depois do Halloween quando aconteceu... o beijo. Eu achei que ia ficar estranho, mas não ficou, e eu achei isso ótimo.

                “Um segundo.” Entrei e pedi ao Drew pra me chamar quando o jogo fosse começar e disse à babá que ia lá fora. “Pronto. Falta meia hora pra começar, então fico com você até lá.” Ela sorriu.

                “Tá bem.” Descemos. “Você gosta muito de basquete?”

                “Demais. É quase um vício.” Daí comecei a falar sobre basquete e ela só escutava. Às vezes ela ria de um jeito engraçado, mas eu sabia que ela tava gostando. Quando o Drew gritou me chamando eu fiquei triste por ter que entrar. Era tão bom conversar com ela. Mas ela disse que mais tarde voltava, depois do jogo. Entrei.

POV. LIZZY

                Ele fala de basquete de um jeito que me deu até curiosidade de assistir. Eu ainda não consegui tirar a noite de Halloween da cabeça. Depois que eu entrei, me arrependi de ter beijado ele. Foi no rosto, mas eu achei que ia ficar um clima estranho, que ele ia me evitar e eu não queria perder a amizade dele. Mas não. Ele continuou o mesmo. Não me evitou, não ficou sem graça como eu achei que ele ficaria. Ele nem contou pro Greg, e eu achei que ele fosse contar. Ele é tão legal, um ótimo amigo mesmo.

Pensando nisso... Quer saber? Eu vou fazer uma surpresa pra ele. Eu sempre gostei de dar presentes pros outros, agora vou dar presente pra alguém que eu gosto... quer dizer, que é meu amigo. Eu tenho certeza que ele vai adorar, afinal ele gosta desse tipo de coisa. Eu só não sei se ele vai ter como usar...

POV. CHRIS

                A Ivete lá em casa era como se eu não fosse o irmão mais velho, e eu só tinha que me preocupar comigo mesmo. Tava tudo correndo bem quando a Ivete soltou a bomba que acabou com a minha noite.

                “Chris, preciso sair.” WHAT?

                “Como assim precisa sair? E a gente? Você é nossa babá.”

                “Preciso fazer uma coisa.”

                “Você já está fazendo uma coisa, está cuidando da gente.” Ela fingiu que não escutou.

                “Eu volto logo.” Naquele momento eu queria dar uma tijolada nela.

                Ela logo voltou, mas tinha um problema: voltou com um bebê.

                “O quê? Não pode trazer um bebê pra cá.”

                “É só por um tempinho.”

                “Estou com fome. O que tem pra comer?” Tonya.

                “Droga! Esqueci que a mãe de vocês deixou um frango no forno pra vocês.” Ela foi olhar e o frango tava queimado. “Eu vou comprar um frango de padaria. Olhe o bebê.”

                “Já disse: não pode deixar ele aqui.”

                “Mas eu volto já. Vai ficar tudo bem.”

                Naquele momento, tive certeza de duas coisas: ela não ia voltar logo e nada ia ficar bem. Eu fiquei olhando o bebê e o Drew não parava de falar do jogo. Eu tava perdendo e ele não ficava quieto. Tava praticamente narrando o jogo que eu não podia assistir. O telefone tocou e era minha mãe. Ela perguntou se tava todo bem e eu menti e disse que tava. Mas o bebê ‘falou’ alguma coisa e ela escutou, eu tive que dizer que era a TV. Depois fiquei pensando se não era melhor eu ter falado tudo pra ela, mas eu imaginei que não podia piorar. Engano total.

                Um tal de Mário chegou e perguntou pela Ivete, eu disse que ela tinha saído. A Tonya veio com o bebê e ele viu.

                “É o meu bebê?” Olhei de um pro outro.

                “Não sei.”

                “Ele é a cara da mãe.” Ele pegou o bebê no colo. Eu devia ter impedido, mas um negro não segura um filho que não fez.

                Ele perguntou pra onde ela tinha ido, nós dissemos e depois ele disse que ia levar o bebê. Falei que ele não podia, mas ele disse que estaria na casa da mãe dele. E o Drew continuava me enchendo, narrando o jogo. Mandei ele calar a boca. Eu tava perdendo o jogo inteiro.

                Quando a Ivete voltou, pelo menos a comida ela trouxe. Ela perguntou pelo bebê e eu disse que o pai tinha levado.

                “Deixou um estranho levar o meu bebê?”

                “Não era um estranho, era o pai.”

                “Podia ser qualquer um.”

                “Ele perguntou por você e o bebê olhou pra ele e disse ‘papa’. Quem mais poderia ser?”

                “Eu não sei. Pra onde ele levou meu filho?”

                “Pra casa da mãe dele.”

                “Ok. Eu vou lá buscar meu filho e volto logo.”

                “De novo?” Ela fingiu que não escutou e saiu. Pelo menos ela tinha trazido a comida.

                Na cozinha, mais uma mulher tava querendo me matar.

                “Tonya! O que pensa que tá fazendo?”

                “Ligando pra mamãe.”

                “Não, sua maluca. Se você ligar vai estragar o jantar deles, aí o papai me mata. Deixa que eu resolvo isso.” Ela foi sentar.

                De novo alguém bateu na porta, pensei que era a Ivete e abri.

                “A Ivete está?”

                “Não. Quem é a senhora?”

                “Sou a mãe dela. Eu vim buscar o bebê, mas vou esperar por ela. Posso entrar?” Ela perguntou como se eu tivesse escolha.

                “Pode, mas o bebê não está aqui. O pai levou.”

                “Onde ela está?”

                “Foi buscar o bebê e disse que voltava logo, mas já faz meia hora.” Ela entrou e sentou à mesa.

                Depois de uns dez minutos a Ivete chegou com o bebê. Aí teve o maior bate-boca dela com a mãe. Foi até engraçado, mas eu tive que tomar uma atitude.

                “Olha, o bebê não pode ficar aqui.” Virei pra mãe dela. “Você leva o bebê antes que meus pais cheguem ou não vai sobrar ninguém vivo aqui quando minha mãe chegar.” Ainda bem que elas me ouviram. A mãe dela foi embora com o bebê e finalmente eu estava livre pra assistir meu jogo. Quando sentei no sofá, o jogo acabou. Admito, fiquei deprimido e o Drew ainda ficou tirando onda com a minha cara. Eu queria muito ver aquele jogo.

                Quando meus pais voltaram a Ivete tentou o máximo possível fingir que tinha corrido tudo bem. Eu fiquei pensando se eu contava, mas como tudo deu certo eu decidi ficar calado. Mas aí eu pensei que eu tinha perdido meu jogo por causa dela. E também pensei em quanto meu pai confiado em mim, e não contar seria trair a confiança dele. Aí contei tudo.

                “Não! Ela está mentindo! Primeiro a mãe dela ligou, ela saiu e deixou a gente sozinho, quando voltou, veio com um bebê. Depois ela queimou o frango, aí saiu pra comprar comida pra gente e deixou o bebê aqui. Alguém bateu na porta e era Mário, o pai do bebê. Ele levou o bebê embora. Quando ela voltou com a comida, foi atrás do Mário pra pegar o bebê de volta. Aí a mãe dela veio aqui pra pegar o bebê e teve que esperar até ela chegar. Quando ela voltou de novo com o bebê teve o maior bate-boca com a mãe. Aí eu disse que o bebê não podia ficar aqui, nem a mãe dela. Só aí ela começou a fazer trança francesa no cabelo da Tonya. No final eu perdi meu jogo inteiro e agora ela tá tentando convencer vocês de que correu tudo bem, mas NÃO CORREU!” Saí da sala. Eu já sabia que provavelmente minha mãe daria uma bifa nela e pegaria o dinheiro de volta. Mas eu não queria saber disso. Eu precisava conversar com alguém.

                Quando cheguei lá fora, assobiei três vezes embaixo da janela da Lizzy; era o nosso código. Três minutos depois ela desceu e parecia bem animada, também parecia estar escondendo alguma coisa com as mãos atrás das costas.

                “Gostou do jogo?”

                “Não. Nem consegui assistir.” Aí contei pra ela tudo o que tinha acontecido.

                “Nossa, Chris. Por que não me chamou? Eu poderia ter ajudado em alguma coisa.” Ela estava sempre disposta a ajudar.

                “Eu não queria envolver você. Era problema meu.”

                “Ok. Mas você resolveu tudo, hein.” Ela sorriu e eu resolvi perguntar.

                “O que isso que você tá escondendo?” Ela sorriu sem graça.

                “Ah, é só uma coisa que eu fiz pra você.” Ela me entregou uma fita betamax.

                “O que é?” Não tinha nome na fita.

                “É o jogo de hoje.” Ele ficou muito vermelha. “Eu vi o quanto você gostava e gravei pra você.” Ela disse e ficou encarando os pés.

                “Nossa. Obrigada, Lizzy, mas eu não tenho o aparelho pra rodar a fita.” Fiquei muito surpreso pelo presente e triste por que não podia assistir.

                “Eu te empresto o meu.” Ela aparentemente ficava muito feliz quando dava presentes pros outros.

                “Seu pais não vão achar ruim?”

                “Não. Eu tenho um só meu. Espera só.” Ela subiu e desceu com um betamax. “Toma. E só é pra me devolver depois que assistir o jogo.” Eu ri da cara séria que ela fez.

                “Tá bom. Valeu por me escutar.” Ela não tinha ideia do quanto tinha sido ótimo. Talvez tenha sido o mesmo impulso de amizade que ela sentiu outro dia ou outra coisa, mas eu a abracei. Ela ficou tensa no começo, mas depois relaxou e retribuiu. Fiquei muito feliz por ter uma amiga como ela. A gente se separou e ela tava meio sem graça.

                “Que nada. Pra isso servem os amigos.”

                “Ok. Posso assistir meu jogo agora?”

                “Deve. Vai logo, viciado.” Nós rimos.

                “Tá bom. Qualquer coisa é só assobiar. Tchau.”

                “Tchau.”

POV. LIZZY

                Ele ficou tão feliz com a fita. Tenho certeza que ele vai assistir toda hoje e ele merece. O sufoco que ele passou... Se fosse eu, tinha mandado tudo pro espaço. Os irmãos dele também não ajudam. Pelo que ele fala, o Drew tem a mentalidade de um garoto de cinco anos; só quer saber de TV e filmes de karatê. A Tonya, aparentemente, pega no pé do Chris por besteira e faz ele se ferrar só pra assistir o show. Se eu pegar aquela garota de jeito, ela vai ver o que é bom pra ela.

                Mas o Chris não. Ele, apesar da idade, parece ter muita responsabilidade. E por mais que eu ache injusto que a mãe dele deixa a maioria das coisas nas costas dele, acho que isso ajudou a formar o caráter que ele tem hoje. E eu gosto muito dele desse jeito. Principalmente perto.

                Ok. O abraço. Eu sei que tem gente querendo saber o que eu achei. Foi ótimo! É a primeira demonstração de carinho que ele tem por mim desde que a gente se conheceu. E isso tem uns dois meses. Eu A-DO-REI! Só queria que ele não ficasse com vergonha depois... Affy... Olha quem fala. Eu fiquei toda errada. Mas ser amiga dele é muito bom!

POV. CHRIS

                Quando eu subi, cruzei com a Ivete na escada e ela me deu um olhar mortal, mas eu nem liguei. Tava muito feliz com o presente da Lizzy. Ela tinha se dado o trabalho de gravar o jogo inteiro pra mim. Eu adorava aquela garota. Ela sempre adivinhava o que eu queria.

                Por ter cuidado da casa e resolvido todos os problemas, minha mãe me deixou assistir o jogo e mandou o Drew e a Tonya dormirem. Finalmente um tempo sozinho, mas seria melhor se ela estivesse ali.

                “Ei, Chris, quem te deu a fita do jogo?” O Drew perguntou.

                “A Lizzy, e me emprestou o Betamax dela.”

                “Cara, essa garota tá afim de você.”

                “Que nada.” Ri, lembrando que esse era o bordão da Lizzy. “Ela é só minha amiga.”

                O jogo foi incrível. Tinha cada sexta, cada arremesso! Naquela noite eu fui dormir tarde, mas, falando sério, valeu muito a pena. Valeu Lizzy!

...

Por: LivyBennet


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Notas finais do capítulo

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