Nem Todo Mundo Odeia O Chris - 1ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 14
Todo Mundo Odeia Tirar Foto


Notas iniciais do capítulo

Mais um! mais um!



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POV. CHRIS (Brooklin – 1983)

                De todas as coisas que poderiam me ajudar a ficar maneiro, a mais fácil e simples era a foto da escola. Se a foto ficasse legal todo mundo ia querer uma e você ia ficar popular. Então, naquele ano eu ia me preparar e não ia fazer feio. O primeiro passo era achar a roupa certa. Mas pro meu azar minha mãe já tinha a roupa certa: uma camisa velha do Drew. Como eu aguento isso? A porcaria da blusa tinha um carrinho no meio. Eu não ia usar isso.

                “Mãe, eu pareço um idiota.”

                “Eu não acho.” Ela não ia ser fácil de dobrar.

                “Será que eu não posso usar outra coisa?”

                “Olha alguma coisa que depois eu vejo com você.”

                “Mas eu não tenho nada especial.” Um planinho malévolo apareceu na minha mente e eu decidi pôr em prática. Era o único jeito dela gastar dinheiro comigo. “Mãe, eu sou o único negro de lá, eles me chamam de marginal e delinquente. Com essa roupa vão pensar que eu vivo de caridade.” Na mosca!

                “A gente vive de caridade?”

                “Não.”

                “Volta mais cedo da escola que a gente sai pra comprar uma roupa.” YES!!!!!! Eu sou o cara!

                Na escola o Greg tava mais parecido com a Lizzy do que se fossem irmãos. Ele apareceu com um visual rock paulera. Cabelo pra cima e a jaqueta que o pai dele tinha comprado. Vi até a Lizzy fazer ‘Uau!’.

                “O que isso, Greg?” Lizzy.

                “Novo visual pra foto.”

                “Na foto é pra gente parecer com nós mesmos, não com o Billy Idol.” Lizzy.

                “Era isso ou Boy George.” Gargalhei com essa.

                “Aquele andrógeno? Você ia ficar hilário.” Lizzy.

                “Olha o cabelinho dela.” Caruzo. A Lizzy fica fula quando vê ele.

                “Oi, Caruzo. Sai daqui antes que eu faça você tirar a foto de cuecas!”

                “Falô, machão.” Agora ferrou!

                Ele correu, mas a Lizzy era mais rápida e deu um chute na comissão traseira do indivíduo. Ri demais. Ela voltou com mais raiva, mas tava sorrindo.

                “Que sorriso é esse?” Greg.

                “Amanhã vocês vão saber. Ele vai ver quem é o machão.” Até eu fiquei com medo.

                Depois da aula, fui com a minha mãe e a Lizzy comprar minha roupa. Era numa loja do bairro que não era muito cara. Só pra constar, não fui eu que chamei a Lizzy, foi minha mãe. Ela queria outra opinião. Ela achava que apesar da Lizzy se vestir como se vestia, ela tinha uma alma feminina só por causa do vestido que ela usou pra ir jantar lá em casa. Mulheres.

                Passamos quase uma hora lá dentro. Provei tanta roupa que já tava a fim de tirar a foto de cuecas. Por fim minha mãe e a Lizzy se decidiram por uma roupa com um agasalho de camurça. Ainda bem que a Lizzy tava lá, senão eu ia tirar a foto parecendo o Prince.

                No dia seguinte cheguei na escola me sentindo o verdadeiro cara. Com meu agasalho de camurça até as meninas brancas falavam comigo. O Greg tava parecendo mais um almofadinha de terno com o cabelo penteado pra trás. A Lizzy tava com o estilo de sempre, mas o cabelo tava solto. Babei por uns minutos, mas me recuperei. Ela ficava muito melhor com o cabelo solto. Olhei pra jaqueta dela e lembrei da que ela tinha me emprestado e eu tinha devolvido a uma semana. Senti falta. Eu gostava da jaqueta, mas acordo é acordo.

                O desastre aconteceu depois da educação física. Quando fui ao meu armário, tinham roubado minha roupa e eu já sabia quem era o culpado: Caruzo. Resolvi colocar ele contra a parede e coloquei a boca no trombone. A vice-diretora chegou e mandou o Caruzo abrir o armário. Eu já tava sentindo o gosto da vitória quando vi o armário vazio. O Caruzo se safou e eu levei a maior bronca. Brincadeira, viu.

                Eu não via a Lizzy desde que fui pra educação física, então achei que ela tava aprontando. Ela acabou encontrando a gente na sala do achados e perdidos (ideia do Greg) quando fui lá tentar conseguir uma roupa.

                “Oi, meninos. Soube que roubaram sua roupa, Chris. Foi o Caruzo, não foi?”

                “Acho que não. Não tava no armário dele.”

                “Ainda assim, acho que foi ele, mas ele vai ver só. Aprontei uma tão boa com ele.”

                “O que fez?” Ela deu aquele sorriso cruel que me dá medo.

                “Vocês vão ver. Mas e aí? Encontrou alguma coisa?”

                “Não. Nada que preste. Eu to perdido, minha mãe vai me matar.”

                “Mas não é culpa sua.”

                “E desde quando ela liga?” Ela rolou os olhos e pareceu que teve uma ideia.

                “Droga! Como eu sou tão lenta?”

                “O que foi?”

                “A jaqueta, Chris. A que eu te dei.”

                “Emprestou.”

                “Ok, emprestei.”

                “Mas eu já devolvi. Deve tá na sua casa.”

                “Engano seu. Tá aqui na minha mochila.”

                “Você trouxe? Por que?”

                “Eu não esvazio minha mochila de um dia pro outro, então continua aqui.” Ela tirou a jaqueta da bolsa e me entregou. O Greg babou pela jaqueta.

                “Caramba, cara. Muito maneira. Onde arranjou, Lizzy?”

                “Comprei, mas minha irmã não me deixou vestir, pois era de homem.”

                “Maneiro.”

                “Agora é só você encontrar uma calça. A jaqueta é grande, então se o dono da calça ver, não vai reconhecer.” Olhei pra ela mais agradecido que surpreso.

                “Valeu, Lizzy. Eu tava ferrado. Na verdade, eu ainda to, mas depois eu vejo isso.”

                “Que nada.” Nós três rimos e eu fui trocar de roupa.

                Na boa, eu sentia falta do meu agasalho de camurça, mas foi irado ver a cara do Caruzo quando me viu de jaqueta. Ele ficou paralisado. É claro que ele não contava com isso. A gente passou por ele e eu vi a Lizzy falar ‘Eu vou te ferrar’ pra ele. Fora a história do roubo, eu ainda tava me sentindo. A calça jeans, a camisa amarela e a jaqueta ficaram muito iradas. A Lizzy era demais. A coisa mais maneira na roupa era os tênis. Era um par de All Star que a gente encontrou.

                Na sala da foto tava tudo pronto pra tirar a foto quando a vice-diretora chegou e me chamou. Eu saí, mas vi que a Lizzy me acompanhou.

                “O que foi?” Eu.

                “Esse garoto está dizendo que os tênis são dele.” Olhei pro garoto e me senti ferrado de novo. Já ia tirar o tênis quando a Lizzy falou.

                “É mentira. O tênis é meu. Eu emprestei pro Chris.”

                “Mas é tênis masculino.” Vice-diretora.

                “E você acha que a minha jaqueta é de quê?” Fiquei chocado com a cara de pau dela, mas foi bem convincente. Sussurrei um ‘valeu’ pra ela e a gente entrou.

                A foto foi normal e eu ganhei o tênis. Só podia ser coisa da Lizzy mesmo. Mas a parte melhor tava lá fora. Quando a gente saiu da sala o Caruzo nos esperava vestido do mesmo jeito que eu estava antes: só com a roupa de baixo. Só aí percebi que ele não tinha tirado a foto.

                “Foi você que roubou minha roupa.” Ele falou pra Lizzy. Ela sorriu daquele jeito mesmo.

                “Prova.” Ela saiu e nós também.

                Na volta fiquei triste por que voltei sozinho. A Lizzy ia pegar um livro na casa do Greg. Senti uma coisa muito ruim quando ela disse que ia na casa dele. Uma raiva misturada com uma vontade de quebrar a cara do Greg. Mas me acalmei e fui pra casa.

POV. LIZZY

                “Anda, Greg. Vai amarelar agora?”

                “Eu não sei se é certo. Nós não devíamos fazer isso.”

                “Rápido, deixa de ser mole. Você só precisa entrar.”

                Fazia 25 min que eu tava tentando convencer o Greg a me ajudar. Já tava perdendo a paciência.

                “Eu não sei. É errado.” Perdi. Empurrei ele pra dentro.

                Motivo? Eu tava tentando achar a roupa do Chris. Ok, eu menti. Não tinha livro nenhum na casa do Greg, eu só queria que ele me ajudasse.

                No banheiro masculino tinha um forro que ligava o masculino ao feminino. A abertura era um alçapão e eu tinha certeza que o Caruzo sabia daquilo e tinha colocado a roupa do Chris lá. Eu só precisava que o Greg olhasse se vinha alguém.

                Quando ele resolveu colaborar eu tava a um fio de matá-lo. Subi no alçapão e vi um armário deitado lá. Tava trancado, então eu peguei um grampo que eu sempre carrego comigo e arrombei. Exatamente como eu pensei, a roupa tava lá. Peguei a roupa e guardei na mochila e armei uma pegadinha pro Caruzo. Quando ele abrisse o armário amanhã ele ia levar uma chuva de pó azul na cara. E aquele pó demora tanto pra sair... Sorri malevolamente e desci.

                Achei que o Greg ia ter um infarto de tão nervoso que ele tava.

                “Pronto. Vamos.”

                “Até que enfim. Pensei que tinha morrido lá.” Rimos e saímos.

                “Valeu, Greg.”

                “De nada. O Chris é meu amigo também. Até amanhã.”

                “Até.” Dei as costas pra ele e corri pro ponto do ônibus. Tinha um dobrando a esquina.

POV. CHRIS

                Na hora do jantar tava todo mundo mostrando as fotos, mas eu tava com medo do que minha mãe ia achar das minhas. Resolvi contar do roubo da roupa antes que ela descobrisse. Ela ficou sem entender por que alguém roubaria minha roupa.

                “Acho que vocês não vão gostar.”

                “Chris, isso não importa. Você é um rapaz muito bonito e eu amo você do jeito que você é.” Me senti um pouco idiota, mas entreguei as fotos pra ela. Fiquei chocado quando ela gostou.

                “Ah, meu bebê. Tava todo bad boy. De quem é a jaqueta?”

                “A Lizzy me emprestou.” A campainha tocou. “Eu atendo.” Minha mãe ficou admirando minhas fotos e eu fui atender. “Oi, Lizzy. Entra.”

                “Não atrapalho?”

                “Que nada.” Ela entrou.

                “Oi, Lizzy.” Minha mãe.

                “Oi, dona Rochelle.”

                “Quer jantar?”

                “Não, obrigada, eu já jantei. Eu só vim aqui pra entregar uma coisa pro Chris.” Fiquei curioso. Só aí notei que ela tinha um embrulho na mão.

                “O que é?” Ela me entregou.

                “Abre.” Abri e vi minha roupa que o Caruzo tinha roubado.

                “Onde conseguiu?”

                “Eu descobri onde estava e o Greg me ajudou.”

                “Então não tinha livro?” Ela ficou vermelha.

                “Não.”

                “Eu bem que achei estranho.” Minha mãe se levantou e foi até onde a gente tava.

                “É a sua roupa, Chris?”

                “É, mãe. Ela achou.”

                “Então tinham roubado mesmo?” Olhei pra ela incrédulo. Ela não tinha acreditado em mim. Ah, não importa.

                “Valeu, Lizzy.”

                “De nada.” Abracei ela na frente da minha mãe. Eu não tava nem aí. Ela retribuiu e sorriu. Minha mãe ficou só olhando.

                “É muito bonita a amizade de vocês.”

                “Obrigada, dona Rochelle.”

                “Obrigada você, Lizzy. É bom saber que tem alguém além de mim que se importa com o Chris.”

                “Eu me importo. Ele é um grande amigo.” Elas sorriram uma pra outra.               “Chris, eu já tenho que ir. Passei só pra deixar sua roupa.”

                “Tá bom. Mãe, posso deixar a Lizzy?”

                “Pode. Vai lá. Mas volta logo, tem que terminar de jantar.”

                “Ok.”

                “Tchau, Lizzy.”

                “Tchau, dona Rochelle. Boa noite pra todos.”

                “Boa noite, Lizzy.” Todos responderam.

                Descemos e eu deixei ela na porta de casa.

                “Valeu mesmo pela roupa.”

                “De nada. Amanhã agradece o Greg.”

                “Ok.” Peguei uma foto pequena que tinha ficado no meu bolso e dei pra ela. “Pra você, se quiser.” Ela pegou a foto.

                “Quero sim. Pega uma minha.” Ela me deu uma. Eu ia dormir olhando pra aquela foto.

                “Ficou bonita.” Ela sorriu.

                “A sua também. Todo bad boy.” Nós rimos. “Boa noite, Chris.” Ela me abraçou.

                “Boa noite, Lizzy.” Ela entrou e eu subi olhando pra foto dela.

...

Por: LivyBennet


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Notas finais do capítulo

comentem! comentem!
P.S.: vou me ausentar um pouquinho, provas na faculdade.



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