Nem Todo Mundo Odeia O Chris - 1ª Temporada escrita por LivyBennet


Capítulo 12
Episódio Extra - Todo Mundo Odeia Jantares


Notas iniciais do capítulo

Esse episódio não tem na versão original. Eu criei o enredo e espero que gostem.
Dedico esse cap. em especial para Makenna, que queria tanto ler.



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POV. LIZZY (Brooklin – 1982)

Foi um sacrifício convencer minha mãe a deixar eu jantar na casa do Chris. Eles não queriam deixar nem por um decreto do presidente. Foi muita lábia e umas mentirinhas também. Prometi que não ia beber cerveja nem me drogar lá. Foi ridículo, mas eu não reclamei por que eu dependia daquilo. Ela me fez vestir o vestido, por que apesar de não gostar de negros ela não queria que eu passasse uma má impressão. Affy... Como se a mãe do Chris já não tivesse visto como eu me visto.

Mas depois de passado o chilique da minha mãe (ainda não se por que ela se importa), eu tinha que me familiarizar com o vestido e com a ideia de que eu ia jantar na casa dele.

Me vesti com uma hora de antecedência e fiquei me olhando no espelho e me achando ridícula. Eu odeio vestidos! Na verdade eu tenho preconceito com qualquer roupa que tenha só UM buraco embaixo. Então, nada de saias e vestidos. Mas eu queria fazer algo diferente, então resolvi usar por que eu queria, não por que ela tava mandando. Respirei bem fundo e resolvi descer.

Nervosa! Eu não posso ficar nervosa! Não posso! Mas eu to nervosa. Calma! Expira. Inspira. Expira. Inspira. Pronto. Acalmei. Assobiei três vezes e esperei.


POV. CHRIS

Normalmente eu não tenho gente jantando na minha casa, mas hoje era um dia diferente. A Lizzy ia jantar lá em casa. Eu não sei se ela tava nervosa, mas eu to. Até parece que sou eu que vou jantar na casa dela. Tava marcado pra ela estar lá em casa às 18:00h. Olhei pro meu relógio e eram 17:56h. Droga! Eu queria esperar ela lá em baixo e falar com ela antes, mas eu ainda tava me vestindo. Escutei três assobios e me desesperei. Ela tá me esperando! Droga! Me vesti o mais rápido que podia e desci correndo as escadas. Passei pela porta da cozinha e senti um cheiro muito bom saindo de lá. Minha mãe era demais.

Abri a porta da rua e vi. Eu tinha certeza que eu ia babar. Ela tava tão bonita. Muito mais bonita do que no Halloween. Naquele dia ela tava fantasiada, mas ali ela era ela mesma. Fiquei muito surpreso em ver ela de vestido. Só tinha visto de calça, exceto pelo Halloween, mas aquela não conta. Era um vestido meio curto que batia no joelho. Azul com preto de alças, mas quando olhei pros pés eu tive certeza que ela nunca deixaria de ser quem era. Ela tava de tênis! Eu ri e vi que ela tava rindo também.


POV. LIZZY

Ele demorou um pouco, mas eu ouvi quando ele desceu as escadas. Quando abriu a porta eu prendi a respiração. Seria a primeira vez que ele me via de vestido. Ele parou e me olhou da cabeça aos pés e eu fiz o mesmo. Ele tava de jeans e uma camisa branca manga longa, mas... Eu ri pra caramba! Ele tinha calçado os sapatos diferentes. Eu gargalhei e ele me olhou.

“O-oi.”

“Oi, Chris. Tá bonito.” Fiquei meio sem graça de falar, mas ele era meu amigo.

“Vo-você tá muito bonita também.” Eu olhei pros pés dele e ri de novo. “Do que você tá rindo?” Eu ri mais ainda.

“Você calçou sapatos diferentes.” Eu tava quase perdendo o fôlego de tanto rir por que ele não tinha notado ainda. Ele ficou muito sem graça.

“Ah. É que eu desci apressado e nem notei. Entra.” Nós entramos e subimos as escadas. Ele me mostrou um pouco da casa. A sala e a cozinha eu vi que eram no primeiro andar. Os quartos e o banheiro eram no segundo.

“Quer subir? Eu vou só trocar os sapatos.”

“Quero.” Sorri com uma cara maliciosa. “Quero ver como é seu quarto.” Ele sorriu e subimos.

“Nem se anima. É simples e só não tá desarrumado por que minha mãe disse que arranca nosso couro.”

“Nosso?” Ele dormia com alguém? Como assim?

“É que eu divido o quarto com o Drew.” Entrei no quarto e era realmente simples. Uma mesa, uma cadeira, uma cômoda e duas camas. Ele foi trocar o sapato e eu fiquei observando.

“Qual é a sua?”

“É a da direita.” Notei que a parede perto da cama do Drew tinha o nome dele grafitado, mas também notei que a parede que a cama do Chris ficava encostada, fazia parede com o meu quarto. Aquilo me deu uma ideia tão legal que eu resolvi guardar ela no fundo da memória. Iria trabalhar nela depois. Ele terminou de trocar o sapato.

“Vamos. Minha mãe já deve estar esperando a gente.”

“Ok.”

“Depois eu quero ver seu quarto.” Fiquei com vergonha, mas deixei pra lá.

“Ok. Só quero ver como você vai fazer isso.”

“Eu também.” Rimos.

Quando chegamos na sala os pais e os irmãos dele estavam esperando a gente. Ficaram todos me olhando, principalmente o pai dele. Ele era grande e careca, mas eu fui com a cara dele. A mãe do Chris eu já tinha visto e falado com ela. O Drew só tinha visto de longe e ele também não parava de me olhar. Fiquei um pouco constrangida, mas não liguei. A Tonya eu também já conhecia e já tinha falado (gritado e passado um sermão) com ela. Quem falou primeiro foi a mãe dele.

“Oi, fofa. Pode entrar e sentar.” Fiz o que ela disse e ela foi caminhando pra cozinha. “Espera só um pouco que eu já vou colocar a mesa. Drew, Tonya, me ajudem aqui.”

“Por que eu? É sempre o Chris quem bota a mesa.” Tonya.

“Mas hoje eu dizendo pra vocês colocarem. Anda.” Eles foram reclamando. Me senti bem em saber que minha presença mudava um pouco as coisas pro Chris. Ele já fazia coisas demais.

“Então, é Lizzy, né?”

“É sim, seu Jullius.”

“Vocês se conheceram no colégio?”

“É. Eu conheci o Chris quando...” o Chris me chamou atenção e eu entendi que ele não queria que o pai soubesse da surra na escola. “... quando eu tropecei e ele e o Greg me ajudaram a levantar. Foi um acaso.”

“Ah. E depois você se mudou pra cá. Interessante. A vizinhança inteira achou estranho. Brancos se mudando PRA Bed-Stuy.”

“É, mas eu adorei a ideia. Sempre escutei falar daqui, mas nunca tive a oportunidade de vir e agora eu moro aqui.” A mãe dele voltou e chamou todos pra mesa.

Sentamos (me sentei entre o Chris e a mãe dele) e nos servimos. Sinceramente? A comida tava muuuuuuuuito boa! Desculpa, mãe, mas tava melhor que a sua também. A mãe dele tem uma mão na cozinha... Não sei como eles não são gordos. Apesar de tudo, a conversa girou em torno de mim.

“Você se mudou de onde?” Rochelle.

“Do Queens. Eu morava lá com meus pais e minha irmã.”

“Tem uma irmã?” Jullius.

“Tenho. Ela se mudou com a gente, mas faz faculdade em Harvard, então ela só visita nas férias. Ela chega amanhã pra passar o Ano Novo.” Minha vergonha começou aqui.

“Vocês dois são namorados?” Drew.

“Drew!” Rochelle e Jullius. Eu vi que o Chris ficou nervoso e não conseguiu nem falar depois dessa. Respirei bem fundo e respondi calmamente.

“Não, Drew. Somos amigos de escola.”

“Mas podem ser namorados, não podem?” Dona Rochelle me olhou pedindo desculpas. Eu respondi calmamente de novo.

“Não. Nós não gostamos um do outro desse jeito. É só amizade.” Por algum motivo me fez sentir um pouco triste dizer aquilo em voz alta e o Chris olhou pra mim de um jeito estranho que eu não soube o que era. A dona Rochelle olhou pro Drew de um jeito que eu tive certeza de ele ia levar uns tapas.

“Garoto, come a tua comida e fica quieto.” Ela tentou falar baixo, mas eu ouvi. "Mas, então, sua irmã faz faculdade?”

“Faz arquitetura.” Lembrar da Cibele me deixou meio triste. Ela fazia tanta falta. “Era o que ela queria.” Minha voz deve ter soado triste, pois a mãe dele percebeu.

“Sente falta dela, não é?”

“Sinto. Era minha única amiga.”

“Não tinha outros amigos brancos?” Ela ficou surpresa. Eu entendo. Uma garota branca que não tem amigos é difícil de encontrar.

“É que eu sou meio antissocial. No Queens eu só tinha uma amiga, a Tasha, e ela é negra. Não sei que força do vento me fez falar com o Chris e o Greg, mas ainda bem que falei.” Sorri pra ele e ele retribuiu.

“Quem é esse Greg de quem vocês tanto falam?” Jullius. Essa foi uma pergunta que eu e o Chris pudemos responder.

“Ele é um amigo nosso, pai. Conheci ele no mesmo dia que conheci a Lizzy.”

“Ele é branco também?”

“É sim, e italiano também.” Lizzy.

“Hum. Meu filho só tem amigos brancos.” Ela falou em um tom alegre e nós rimos da observação.

Nada de extraordinário aconteceu no jantar e eu fiquei feliz que a Tonya nem falou comigo. Chris me disse que ela não contou pra mãe deles que eu gritei com ela. Se tivesse contado a dona Rochelle nem olhava na minha cara e o seu Jullius não me deixaria nem passar pela porta. Talvez a Tonya não seja tão ruim assim. Só talvez.

Depois que acabamos de comer, Drew e Tonya tiraram a mesa e lavaram a louça (fiquei feliz por livrar o Chris de novo) e eu, ele, o pai e a mãe dele fomos pra sala conversar. Falamos sobre o Queens, minha família, do que eu gostava, por que vim morar em Bed-Stuy. Aparentemente, eles ainda não tinham assimilado brancos em Bed-Stuy. Perguntaram sobre a escola, se eu achava boa (pareciam dar muito valor à minha opinião). Às vezes eles faziam perguntas que eu normalmente não responderia a qualquer um, principalmente a pessoas que estava conhecendo naquele momento, mas pelo Chris eu respondia. Foi legal e acima de tudo informativo. Dona Rochelle me mostrou a casa (não sei por que) e eu acabei gostando do que eu vi. Já tinha visto um pouco com o Chris, mas ela me mostrou mais devagar e mais detalhado. Descobri até que tinha um apartamento pra alugar no terceiro andar. Notei que a mãe do Chris tem uma vontade de mostrar que tem as coisas. Não é o tipo de atitude que eu tenha, mas eu também não condeno. E eu sabia que ia me divertir muito com esse jeito dela. Depois voltamos pra sala e eu olhei o relógio e me assustei: eram 20:30h. Eu tinha que ir pra casa.

“Chris, eu tenho que ir. Tá tarde já.”

“Tudo bem. Eu te deixo lá embaixo.”

“Dona Rochelle tava tudo muito bom, sua casa é linda e eu gostei muito da senhora.”

“Que é isso, fofa. Não foi nada.” Eu aumentei o ego dela, eu tenho certeza.

“Eu tenho que ir mesmo, mas se eu pudesse eu ficava mais um pouco. Tchau, seu Jullius. Dona Rochelle. Tchau, Drew, Tonya.” Eu resolvi falar com ela depois de tudo. Um ‘tchau’ não mata ninguém.

“Tchau, Lizzy.” Disseram todos.

Eu e o Chris descemos e ele foi me deixar na porta de casa (muuuuuuuuuuito distante).

“Sua mãe é legal. Seu pai também. O Drew e a Tonya.”

“Que bom que gostou. Pensei que ia achar eles esquisitos.”

“Que nada. Eu não acho VOCÊ esquisito.”

“Verdade. Nem com os sapatos diferentes você me acha esquisito?” Eu ri muito dessa.

“Não. Nem com os sapatos diferentes. Você é engraçado, não esquisito.” Pensei um pouco. “O Greg é esquisito.”

“Por que ele é viciado em ciências?”

“Também, mas tem outra coisa que ele me contou.” Me aproximei dele e acho que ele pensou em recuar um pouco, mas desistiu. Cheguei mais perto e cochichei no ouvido dele. “Ele me disse que dorme fantasiado de super-heróis.” Senti que ele prendeu a respiração e me afastei. Ele tentou responder, mas gaguejou um pouco.

“Se-sério. E-ele dorme vestido de personagens?”

“Sério. Eu imagino ele de Superman. Deve ficar muito engraçado.” Aqui ele parou de gaguejar.

“Por que?” Olhei pra ele incrédula.

“Imagina a cueca por cima da calça.” A gente riu que chorou, mas fizemos barulho o suficiente pro meu pai aparecer na janela de cima e me mandar entrar. “Droga! A gente podia ter rido um pouco mais baixo.”

“Eu não ia conseguir.” Olhei pra ele.

“Nem eu. Obrigada por tudo, Chris.”

“Que nada.”

“Para de roubar meu bordão.” Soquei ele no braço de leve e sorri. “Te vejo amanhã.”

“Te vejo amanhã.” Dessa vez ELE se aproximou e eu tentei recuar, mas desisti. Ele chegou mais perto e me deu um beijo no rosto. Ai, ai (suspiros). EPA! O QUE É ISSO? EU NÃO SUSPIRO POR NINGUÉM. ELE É MEU AMIGO! Ele sorriu pra mim e entrou e eu entrei também.

POV. CHRIS

No começo eu pensei até que ia ser um desastre, mas depois que começou eu me senti melhor. Fora algumas perguntas sem sentido do Drew e da minha mãe, tudo ficou legal. Ainda não consigo esquecer como ela tava linda. Mas uma coisa ainda me incomodava: saber a opinião da minha mãe.

Deixei a Lizzy na porta e voltei. Encontrei minha mãe na sala vendo TV.

“Oi, filho. Senta. Quer ver TV comigo?” Achei meio estranho aquilo, mas cedi.

“Ok.” Tomei coragem e perguntei. “Mãe, o que a senhora achou da Lizzy?” Ela me olhou e respondeu.

“Eu gostei muito dela, meu filho. Ela tem classe e sabe se portar. E antes que você pergunte, eu não fiz aquelas perguntas inadequadas por ser inconveniente, eu só queria ver como ela ia se portar.” Fiquei ansioso com aquilo. Minha mãe tinha testado a Lizzy e eu queria saber o resultado.

“E aí?”

“Ela foi muito bem. Respondeu sem revelar muito e não fez nenhuma desfeita. Fiquei até surpresa dela ficar tão calma com a pergunta sem noção do Drew.”

“Ela não se estressa fácil, não.”

“Isso é bom.” Olhei pra minha mãe imaginando se ela tinha percebido que ela é o completo contrário disso. “E você estava muito bem hoje também. Ainda bem que não me fez passar vergonha, senão arrancava o teu couro.”

“Mãe, eu vejo a Lizzy quase todo dia. Eu sei me comportar na frente dela.”

“Sei. Agora vai se ajeitar pra dormir. Já tá tarde. E não faz barulho, o Drew já foi dormir.”

“Ele nunca dorme a essa hora. Ele fica lendo.”

“Mas hoje ele tá dormindo depois das palmadas que eu dei nele.” Segurei o riso.

“Tá. Boa noite, mãe.”

“Boa noite.”

Subi e vi a luz do quarto dos meus pais acesa e deduzi que era o meu pai. Fui lá. Eu queria saber a opinião dele também.

“Pai.”

“Já não devia estar dormindo?” Tão receptivo.(ironia)

“Eu já tava indo, mas passei aqui pra perguntar o que o senhor achou da Lizzy.”

“Quer mesmo saber?” É claro que eu queria! Acenei com a cabeça. “Ela é muito educada e não tem preconceito com os negros. Pra mim isso já é qualidade suficiente.” Tive uma leve impressão de que meu pai usava esses mesmos critérios pra escolher um time de beisebol, mas deixei pra lá.

“Tá. Boa noite, pai.”

“Boa noite, Chris.”

...

Por: LivyBennet



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Notas finais do capítulo

Comentem! Comentem!
P.S.: eu vou pedir eternamente pra vcs comentarem! kkkkkk



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