Todo dia era a mesma rotina chata. Fingir que acordei. Fingir que comi alguma coisa. Fingir ir ao trabalho. Fingir voltar para casa cansado. Fingir dormir. Fingir que não me importo mais. Fingir que vivi. O tempo havia passado rápido, rápido até demais. Parecia que foi ontem a minha trágica despedida sem dar um adeus para Sofia. Na medida do possível, eu estava bem aqui com minha irmã. Estava trabalhando em uma oficina, quer dizer, trabalhando não, me divertindo. Sempre gostei de carros e ainda receber para passar o dia "brincando" neles, para mim estava de bom tamanho.

- Jake, precisamos conversar. - Rebecca entrou em meu quarto e sentou na minha frente.

- Que foi? Vai terminar comigo? - Me fiz de surpreso.

- Não seja idiota. - Ela tentou esconder um riso. - É sério, preciso falar com você.

 - Pois diga então.

- Não acha que já está passando da hora de você voltar para casa?

 - Nossa, se quer me expulsar podia ter sido mais sutil pelo menos.

- É claro que não quero te expulsar Jake, não me entenda mal. Passar todo esse tempo com você perto de mim tem sido maravilhoso, mas eu quero que você seja feliz e pra que isso aconteça você tem que voltar para uma cidadezinha chamada Forks.

- Não acho que é hora pra isso ainda...

- E quando vai ser? - Ela se levantou. - Jake, já faz mais de um ano. Você não dá uma ligação para ela, sequer manda um e-mail, uma carta... Nada! Você acha isso certo?

- Ela também não me deu noticias!

 - Foi você quem foi embora, você é quem deve satisfações para ela.

- É que... - Comecei a falar, mas não terminei. - O que Jake? Me fala, o que é que tem de errado. - Não acho que consigo encara-la. Não depois de tudo o que eu fiz.

- Se você foi homem o suficiente para deixa-la, seja homem o suficiente para assumir seus erros e pedir desculpas. Tem ideia o que ela está passando também? Essa distância não faz bem para nenhum dos dois, e é você quem tem que por um fim nisso. - Rebecca saiu e fechou a porta.

Por mais que eu odiasse assumir, ela estava certa. Não podia viver fugindo da Sofia com medo da reação dela. Eu talvez devesse voltar para ela...

"Voltar para ela? Acorda Jacob, até parece que ela vai te querer de volta!" - Me dei uma bronca.

Mas ficar de braços cruzados também não ajudaria muito.

 - Quer saber? - Falei decidido. - Eu vou atrás dela, e ela vai ter que ao menos me ouvir.

Comecei a arrumar minhas coisas e em menos de 30min eu já estava pronto para voltar para ela.

- Parece que nossa breve conversa serviu de algo. - Rebecca disse orgulhosa de si. - Vai voltar para ver sua irmã algum dia? - Ela agora parecia triste, afinal, mesmo querendo que eu fosse embora ela gostava da minha companhia.

- Na próxima vez que nos vermos, te prometo que será para meu casório. - Sorri e a abracei. - E se eu voltar antes disso, eu lhe garanto que não será sozinho.

Algumas poucas horas depois eu estava em Forks. Senti o doce e enjoativo cheiro de vampiros.

“Os Cullen ainda por aqui?” – Pensei confuso. - “Melhor ir lá antes de ver a Sofia, aproveito e vejo com Alice como minha situação está com ela.”.

 Caminhei em direção à mansão, voltei a minha forma humana e me aproximei da grande casa.

- Os outros remédios que eu dei não estão mais ajudando Alice? – Reconheci a voz de Carlisle.

- Não. É como se não fizessem mais efeito. Carlisle você tem fazer alguma coisa. Não tem ideia do quão agonizante é a ouvir gritar de dor e não poder fazer nada.

 - Quem está gritando de dor? – Perguntei entrando. Carlisle e Alice me olharam surpresos, como se não me esperassem, mas isso era impossível, eles teriam sentido meu cheiro a quilômetros. A não ser que estivessem tão concentrados na bizarra conversa sobre medicamentos que nem perceberam minha presença.

- Pra quê tantos remédios? Não me digam agora que sanguessugas sofrem de dores nos ossos. – Revirei os olhos.

Alice me encarava visivelmente nervosa.

- Você precisa contar para ele. – Carlisle disse.

- Não, eu prometi. – Alice resmungou.

 - Contar o que? – Falei.

- Ele vai descobrir uma hora ou outra.

- Descobrir o que? – Disse ainda sendo ignorado.

- Ela não quer que ele saiba!

- Por Deus, parem de fingir que não estou aqui. O que raios está acontecendo? – Gritei. Carlisle saiu me deixando apenas com Alice.

 - Anda Alice, fala alguma coisa! Como está a Sofia?

 - Como você acha?

- Deve estar me odiando, isso é fato.

- Sem querer ofender, mas acho que você é o menor dos problemas dela agora.

- Como assim?

- É que... Como você sabe, ela sofreu aquele acidente de carro e pensávamos que ficaria tudo bem mais ela teve uma pequena complicação...

- Complicação? Explica isso direito Alice.

 - Resumindo os fatos Jake, foi descoberto um problema na perna dela e após a cirurgia ela perdeu a maior parte dos movimentos da perna.

 - O que? – Disse incrédulo. – Mas... Mas como ela está com tudo isso?

- Não podia estar pior. Ela está deprimida. Não sai de casa, não come direito, não quer ver ninguém. Ela basicamente se isolou das pessoas.

- Todos esses remédios são pra ela?

- São para as terríveis e torturantes dores que ela sente na perna. Vai por mim, você não vai querer ver quando ela está assim, eu me sinto uma inútil sem poder fazer nada para ajuda-la.

 - Mas então quer dizer que esses remédios não funcionam?

 - Até funcionavam, mas com o tempo eles foram perdendo o efeito sob o corpo dela.

Saí andando em direção a porta.

- Aonde você vai?

- Aonde você acha que eu vou?

- Eles se mudaram Jake, não moram mais naquela casa.

- Não é problema, é só você me dizer onde é a nova casa.

- Mas é que... Ela não está em casa.

- Como não? Você acabou de dizer que ela não quer sair de casa.

- É, mas ela não queria sair de casa, foi obrigada na verdade.

- Quem está com ela?

 - Você não vai gostar de saber... – Só pela cara da Alice eu sabia exatamente com quem a Sofia estava. Com aquele sanguessuga imbecil! Mas eu ia encontrar eles, nem que fosse no inferno.