Brian fechou os olhos e respirou fundo.

- Tudo bem, Brian. Mas para o que você se preparou tanto?

- Bom, lembra-se de quando todos ficaram preocupados comigo depois da morte de seu pai? - disse, enquanto reabria os olhos que se tornaram mais claros, quase como cor de mel.

- Claro, você não se alimentava direito e ficava isolado. Pensamos até que estava com depressão. Mas depois melhorou.

- É, na verdade não era bem isso. - ele disse calmo, tomando coragem para falar o resto, como se tivesse medo do assunto. - Alguns dias depois que seu pai se foi, recebi uma carta. Uma carta dele.

- O quê? Como assim? Me explique isso! - eu me exaltei.

- A pessoa que veio me entregar disse que Jimmy lhe entregou a carta uma semana antes e que lhe instruiu para me entregar somente no dia combinado.

- Mas o que tinha nessa carta, Brian? - perguntei em desespero, começado a tremer. - Por que não me contou antes?

- Calma, vou explicar tudo. Eu recebi o envelope e vim para cá para abri-lo, aqui ninguém poderia me incomodar. Quando o abri, percebi que havia uma carta e mais um envelope. A carta com meu nome e o envelope com o seu. A abri, e realmente era a letra de Jimmy. Ele me dizia que estava sentindo a morte o alcançar e que se eu tivesse recebido esta carta, era porque estava certo. Explicou-me que o outro envelope era para eu entregar a você, quando soubesse que estava pronta e com maturidade suficiente para entender. Disse que o conteúdo do envelope é para você, mas que se for de sua vontade, que compartilhe com seus amigos mais próximos e a banda. Mas que não deixe Leana ver, pelo menos a carta, mas que "o resto" pode usar como quiser.

- Como assim, "o resto"? - perguntei aflita. Já estava suando frio.

- Eu também não sei. Jimmy não disse o que era e eu obviamente não abri. É para você.

- Mas então, onde está este envelope? Quando você poderá me mostrar? - as palavras saíram quase que todas de uma vez.

- Durante esse tempo todo fiquei pensando qual seria o melhor momento para lhe entregar. E realmente fiquei muito confuso. Eu não sei o que tem lá, o que tornou minha decisão ainda mais difícil. Mas você tem se mostrado uma pessoa madura ultimamente - ele sorriu e eu retribui, agradecendo o elogio. - E percebi que este seria o momento perfeito.

Ele se levantou e foi até outro canto da sala, onde eu ainda não tinha visto. Pegou um envelope branco e com ele nas mãos tornou a sentar-se do meu lado.

- Aud, aqui está. - disse entregando-me.

- Obrigada, Brian. - o abracei.

- Bom, vou deixá-la sozinha. Estarei lá embaixo, ok?

- Não. Por favor, fique comigo.

- Está com medo de ficar sozinha neste quarto? - disse-me, com preocupação.

- Não. É só que... Quero que veja comigo. Você foi o escolhido por Jimmy para guardar este segredo porque era o melhor amigo dele, e agora também é o meu. Peço, por favor, que fique aqui comigo, Brian. E que leia também.

- Obrigado pela confiança, querida. - abriu um lindo sorriso. - Claro, se é assim que deseja, ficarei aqui a seu lado. - beijou minha testa.

Havia chegado o grande momento. Abri o envelope, tirei o que ele continha: uma carta, um CD e uma foto. Resolvi que primeiro veria a foto. Era o retrato do melhor dia de nossas vidas, o Natal de 2009. Estávamos todos na piscina, eu nos ombros de meu pai.

As lágrimas rolaram, mas não só em meu rosto, Brian também estava chorando. Virei a fotografia e lá estava escrito:

"A place of hope and no pain. Perfect skies with no rain."

Já com os olhos embaçados pelas lágrimas, decidi abrir a carta.

"Querida Aud,

Feliz aniversário! Sim, eu sei que é seu aniversário. Conheço o Gates há bastante tempo para saber que ele é muito previsível. É óbvio que te entregaria hoje..."

Eu e Brian nos olhamos e rimos. Ele estava tão surpreso quanto eu.

"... Bom, estou lhe escrevendo para deixar claro que estou bem. Meus últimos dias de vida não poderiam ser melhores. Mas senti que meu tempo aqui está chegando ao fim.

Esperei que estivesse pronta ao ler isso, porque antes não poderia compreender.

Toda minha vida fui forçado a ficar com Leana. Não a amo, só estou com ela até hoje por chantagem. Mas decidi que não iria mais ceder. Falei com ela, mesmo sabendo que não ficaria por isso mesmo. A conhecia, sabia que iria fazer outra chantagem para não perder suas mordomias. Foi então que um dia ela me disse que se não fizesse suas vontades, mataria minha filha. Sim Aud, ela disse isso, e você conhece a mãe que tem, sabe que ela teria coragem de fazer uma proposta dessas, como a fez. Então resolvi fazer meu testamento, passando tudo para o nome dela e para o seu, para que finalmente nos deixe em paz.

Sinto que algo vai acontecer e que tem relação com o que acabei de te contar. Mas não temo. Estou no fim da estrada que me levará à liberdade e me livrará da dor. Estou esperançoso.

Então, espero que você e todos os que estavam a meu lado encontrem seu caminho, quando eu não estiver mais com vocês.

Levo um pedaço de você comigo e me prometa que nunca ficará com medo, pois também te deixo com um pedaço meu, o meu coração.

                                                                                         Jimmy Sullivan 23/12/2009."

As lágrimas que estavam começando a ser controladas, agora voltaram com força total. Senti uma dor intensa no peito e na cabeça, como se a qualquer momento eu fosse explodir. Eu agora soluçava ao chorar. Brian me abraçou fortemente, também chorando, mas mais contido.

- Calma, Audrey. Vai ficar tudo bem.

- Aquela mulher, aquela mulher que mora comigo, com a qual convivi por meus 16 anos... Ela matou meu pai, Brian. Ela matou ele! - gritei sem controle da voz. Brian me abraçou ainda mais forte, seu rosto coberto por tantas lágrimas quanto o meu.

Ficamos alguns minutos quietos e abraçados. Cada gota de lágrima me trazia uma lembrança mais bonita de Jimmy. O sorriso, o olhar, o abraço; alma e coração mais puros e perfeitos que já vi. 

 Me entregava à minha dor naquele momento. De corpo e alma. Corpo e alma atingidos, corpo e alma feridos.

  Até que Brian me lembrou: