Os Clichês de Rosemary escrita por Gabriel Campos


Capítulo 16
A química do primeiro beijo


Notas iniciais do capítulo

Ok, eu cometi o pecado de parar no capítulo do beijo, mas peço que me perdoem pq eu tô passando por algumas crises de existência após assistir as duas temporadas de My Mad Fat Diary, série que parece que foi feita baseada na minha vida.
Mas beleza, queria mandar um abraço e um milhão de beijos pras leitoras Giovanna Lu, Naughty, Taikatalvi e DWinchester. Eu não mereço todo esse carinho :3 (odeio essas notas pq não dá pra colocar coração)
Sem mais delongas, vamos ao capítulo?



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Como o meu irmão mandou um baita de um spoiler no capítulo passado, vou contar como tudo se sucedeu.

Eu nunca pensei que meu primeiro beijo fosse acontecer. Os garotos da escola não me notavam e eu também não notava nada de especial neles. Empate.

No entanto, nas poucas vezes em que eu estive com Sebastian, senti-me diferente. E eu achava até então que era recíproco.

Após o jantar cheio de revelações, resolvi subir as escadas e ir para o quarto, mais pilhada com o vestibular do que nunca: se eu não passasse em arquitetura, não receberia aquele dinheiro. Não que eu precisasse de dinheiro, mas eu já sabia o que faria com ele. E estava com vergonha de falar para Sebastian que, junto ao seu cão-guia, me acompanhava.

Chegamos ao quarto. Ele sentou-se na cama enquanto eu, desesperada, corri para pegar minhas apostilas para estudar e dar uma última revisada no conteúdo antes de dormir.

— O que você tá fazendo, Rose? — perguntou ele, alisando com os pés descalços a pelagem do seu cão, este deitado no tapete perto da cama — Tá parecendo pilhada com alguma coisa... é sobre aquele negócio que o seu pai falou? Do dinheiro?

— É sim — respondi, folheando as páginas do livro, sentada ao lado de Sebastian na cama — Papai quer garantir um futuro bom pra gente. Eu nem tô ligando muito pro dinheiro, não quero passar minha vida como uma preguiçosa, como a Marjorie. Mas já sei o que eu vou fazer com ele. — desabafei, um pouco vergonhosa.

— Sério? — ele parecia ter percebido o tremular do meu tom de voz — Pode me contar o que é?

— Vou realizar o sonho de alguém. — achei a página que procurava — Alguém que gosto muito.

— Legal da sua parte. — respondeu ele, um pouco sem jeito, com o rosto virado para mim, mas inclinado para baixo — Acho que o seu pai impôs aquelas condições para você e o seu irmão para ter certeza de que está fazendo a coisa certa.

— Como assim? — indaguei, depois voltei a ler o livro de química. Eu conseguia ler e prestar atenção no que ele falava sem problemas.

— Tipo, se você passar no vestibular isso vai mostrar a ele que você é dedicada e que é madura o suficiente para administrar uma grande quantia em dinheiro. Se o Rubem formar uma família, quer dizer que ele tem responsabilidades. Ou pelo menos vai ser obrigado a ter.

Dei duas leves batidinhas no ombro esquerdo de Sebastian.

— Acho que papai nem imagina que Rubem é... cê sabe...

— Homossexual? — completou Sebastian. — Também achei isso. Qualquer um percebe que seu irmão dá muita pinta, mas por algum motivo seu pai ainda não percebeu.

— É porque Zeferino é um homem conservador, viveu no interior boa parte da vida dele. Muitos rapazes e moças homossexuais acabam se escondendo porque as pessoas de lá abominam esse comportamento. Meu pai acaba achando que o estilo de Rubem é o estilo de um homem moderno da cidade grande, tadinho. — acabamos rindo — E papai mal sabe que eu levei bomba em química orgânica esse ano. Boa parte da prova de química no vestibular é orgânica, aliás. Acho que nem eu, nem Rubem tocaremos nesse dinheiro tão cedo.

— Mas... tipo... — Sebastian parecia estar um pouco nervoso, talvez por estarmos sozinhos — Se você não tá preocupada com esse dinheiro, não tem motivos para ficar pensando nisso. Faça sua prova com tranquilidade.

— Mas, como eu já te disse, eu quero realizar o sonho de alguém. E eu tenho pressa.

— Que sonho? E de quem?

Meu coração estava a mil.

— Eu não posso contar. Eu tenho... tenho vergonha.

— Olha, no meu Ensino Médio eu era craque em química. Posso te ajudar essa semana, se você quiser. — disse ele, como se fosse o cara mais velho da face da Terra, mas só tinha vinte anos — Mas tem que me contar o que você pretende, pois sou um rapaz curioso. Quem sabe eu não possa te ajudar também a realizar o sonho desse seu colega?

— Talvez só o dinheiro compre a sua visão de volta, Sebastian. — resolvi dizer, com todas as palavras o que eu pretendia.

— V-você... você quer pagar minha cirurgia? — indagou ele, assustado, surpreso, nervoso.

Fiquei em silêncio. Sebastian tateou o ar até chegar no meu rosto. Buscou meu queixo e o alisou com o indicador. Senti um arrepio na minha espinha.

— Muito obrigado, Rosemary, mas não precisa.

— Por quê, Sebastian?! — exclamei, surpresa. — Você passou a vida toda esperando isso! Ainda há trinta e uma pessoas na sua frente na lista de espera para o transplante de córnea. Eu posso te ajudar a acelerar as coisas.

Ele não disse absolutamente nada até então. Com a mão cujo dedo indicador estava no meu queixo ele alisou minha bochecha direita e deixou sua mão em forma de concha pousada no local. Seu olhar, continuava sem foco, por trás daqueles óculos escuros. Todavia, para mim, seu olhar era mais vivo do que o de qualquer outra pessoa.

— Eu consigo te enxergar, Rosemary. — disse ele — Eu não sei como nem por quê, mas eu nunca me senti tão bem até te conhecer. Você me mostrou naquele passeio no parque que eu posso enxergar mesmo sem ter olhos. — Ele retirou a mão do meu rosto e buscou meu braço direito. Por fim, entrelaçou seus dedos nos meus — Você não precisa se preocupar comigo, tampouco me dar nada, pois tudo o que eu quero de você eu já tenho.

— O quê? — perguntei, tensa.

Então seus lábios encontraram os meus instintivamente. Nossos dedos se entrelaçaram ainda mais. Fechei os olhos. A escuridão sob minhas pálpebras era tomada por um mundo cor-de-rosa. Pude sentir o coração dele, acelerado, tanto quanto o meu: eles estavam sincronizados. O livro de química, que estava outrora sobre o meu colo, acabou caindo no chão.

Segundos depois alguém abriu a porta do meu quarto. Dóris e Rubem quase caíram para trás ao ver a cena entre Sebastian e eu nos beijando.

Desfizemos o nosso entrelaçar de dedos e nos recompusemos. Fiquei de pé, de costas para o meu irmão e sua amiga.

— Vamos pra casa, Sebastian? — disse Dóris, sem jeito — Vai ficar tarde.

— Claro, mana. Vem, Puff! — O cão se levantou e o seguiu; Sebastian virou para mim —Tchau, Rose.

— Até mais, Sebastian. — falei, sem nem sequer olhar para ele.

Eles saíram, no entanto Rubem continuou no quarto. Meu irmão me fitou, com um olhar bobo.

— Hum... Rosemary perdeu o BV! Vou contar pra mamãe quando eu chegar em casa, viu?

— Sai, Rubem! Não aconteceu nada!

Enquanto eu o empurrava para fora do quarto, meu irmão cantarolava “Rosemary perdeu o BV” incansavelmente.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo vai ser narrado pela Dona Solange.
O que acharam?
beijos!