Can we whisper? escrita por Meggs B Haloway


Capítulo 3
Capítulo 02 — Primeira impressão.


Notas iniciais do capítulo

Bom, eu gostaria mesmo que vocês comentassem, me dissessem o que vocês estão achando sobre Shelter. É isso.



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• 05 de Janeiro, 2010 •

O sol de Glastonbury era escasso, completamente. Os raros raios que caiam do céu estavam irremediavelmente encoberto pelas nuvens pesadas às quais anunciavam que iria chover logo. E lá se ia meu dia perfeito. Eu bufei enquanto colocava minhas mãos dentro do casaco bege que eu vestia, e olhei para trás, tomando o cuidado de não me perder.

Eu estava sem celular, sem guarda-chuva, ou seja, se eu me perdesse, provavelmente iria ficar ensopada por algumas horas até eles perceberem que eu havia sumido. Ao avistar um lixeiro publico não tive coragem de jogar o chocolate que Riley havia me dado no lixo, por isso apenas suspirei diante minha fraqueza e continuei andando.

Eu parei em uma livraria, surpreendendo-me por lá ter uma. Isso era imbecil de minha parte, eu sabia, mas eu ainda considerava aquela cidade como ponto turístico de Católicos, Cristãos e outras coisas que a mamãe havia me contado. Há várias lendas sobre Glastonbury que envolve religião, e ainda dizia-se que fora aqui que crescera o cristianismo nas ilhas britânicas.

Eu tinha certeza que mamãe tinha passado bastante tempo aqui quando criança para que tivesse conhecimento sobre isso tudo, no entanto, para falar a verdade, eu não me interessava tanto tem lendas. Eram apenas… mentiras que as pessoas usavam para tornar algum lugar mais interessante. Claro que, para o meu bem, eu não falei isso para a minha mãe.

Quando eu me aproximei do porto que tinha naquele lugar, me surpreendi com o quanto eu gostava do cheiro de mar. O salgado misturado com cheiros diversos, madeira dos pequenos barcos que por ali vagavam e, por fim, o cheiro das aves que voavam por ali. O vento foi um problema quando eu me aproximei do caminho de madeira que levava ao oceano, pois ele começou a bagunçar meu cabelo e a jogá-lo para frente.

Apertei meus braços uns contra os outros quando percebi que estava começando a ficar mais frio do que o meu casaco agüentava, mas não me mexi um milímetro. Eu queria ficar ali, vendo aquela paisagem que me era estranha. Certamente fazia mais de anos que eu não ia a uma praia, Renée não gostava das mesmas, segundo meu pai ela tinha um trauma.

— Quer um casaco? — Um homem de cabelos cor de bronze comportados e com um rosto lindo, me ofereceu.

Eu lhe olhei por alguns segundos, tentando entender o porquê daquele estranho ter me oferecido um casaco sendo que sequer me conhecia. Era assim nessa vila pequena? Todo mundo era gentil uns com os outros? Mesmo que fosse, eu somente neguei com a cabeça, voltando a me virar para frente. Eu era assustada quando se tratava de homens muito gentis, minha mãe sempre me falava que eles sempre queriam algo em troca.

De qualquer jeito, permaneci onde estava com os braços firmemente cruzados contra o peito. Ele não poderia fazer nada comigo, afinal, tinha pessoas demais no porto.

— Isabella seu nome, não é? — Indagou.

— Quem é você? — Perguntei franzindo meu cenho e voltando a lhe olhar.

O homem sorriu tortamente.

— Edward. — Esse nome não me era estranho, mas eu não consegui fazer minha mente funcionar para saber de onde é que ele era. — Sou filho de Esme e você provavelmente se confundiu porque só olhava para o chão quando fomos apresentados.

— Ah sim, a amiga de minha mãe. — Corei por algum motivo que não sabia muito bem, e coloquei novamente as mãos dentro do meu casaco, tremendo quando outro vento bateu em mim. — O que está fazendo aqui? — Indaguei, quase chegando a me sentir irritada por ele estar ao meu lado, como um cricri.

Edward sorriu.

— O mesmo que você.

— Aposto que não. — Murmurei.

Uma pessoa normal não falaria com essa criatura perfeita ao meu lado desse modo tão grosseiro quanto eu estava falando, sobretudo eu estava tentando fugir das pessoas que falavam demais, estava tentando ficar longe de, mais especificamente, homens que eram idiotas e bonitos ao mesmo tempo. Será que ele não percebia o quanto eu estava desconfortável?

Tremi novamente, e quando eu o vi já estava começando a tirar o casaco para me dar.

— É normal as pessoas fazerem isso normalmente ou está tentando ter alguma coisa em troca? — Indaguei, e ri quando ele riu. Eu era uma babaca, completamente.

— Estamos na Inglaterra, oras. Mais especificamente em Glastonbury, ou seja, aqui é muito normal. E sabe, isso acontece muito quando está no período mais frio do ano e uma pessoa vem desprevenida para o porto. Não é muito inteligente de sua parte, sabia? — Ele estendeu o casaco para mim, e eu sem escolhas aceitei, enquanto baixava meus olhos e ria.

— Não, não sabia. Depois eu procuro no Google a respeito disso. — Apesar de eu já estar com um casaco fino e leve, o de Edward entrou sem dificuldades em meus braços. — Você não vai ficar com frio? — Indaguei agora preocupada com ele.

Eu tinha que admitir que ele fosse bonito, e até agora não chegou a ser idiota. Pelo menos, não comigo. Ainda.

— Não, eu já estou acostumado. — Ele respondeu. — E então… você vai ficar parada aqui pelo resto do dia? — Indagou.

— Tudo para não ir para casa agora. — Dei de ombros. — Acho que vou ficar aqui mesmo, não deve demorar tanto até estar na hora do almoço.

Na verdade, nem para casa eu queria ir quando fosse hora do almoço. Qual era graça, afinal? Comer uma coisa, e em seguida esta mesma ser despejada sobre a pia ou a bacia? Era mais fácil não comer e tudo ficaria bem, afinal. Eu suspirei ao pensar isso. Eu já havia chegado naquela parte da Bulimia a qual eu não precisava colocar meus dedos na boca, o vômito vinha sozinho por si.

— Por que não vem comigo até um dos castelos de Glastonbury? — Edward indagou, olhando-me de lado. Seu cenho se franziu quando eu ri, balançando minha cabeça em um sinal negativo e de desaprovação. — O que foi?

— Primeiro: Sua namorada vai ficar com raiva de você. Segundo: Uma pessoa não vai com outra até um lugar que, provavelmente, é escuro e deserto. Isso não é sensato, se quer mesmo saber. E também eu nem te conheço direito.

— Eu não tenho namorada. — Ele informou com um sorriso cheio de malicia. — E vai estar cheio de turistas quando chegamos lá. Bom, nós nunca vamos nos conhecer “direito” se você não deixar de ser tão paranóica.

— Você me chamando de paranóica na primeira vez que nos falamos não lhe dá pontos positivos, na verdade. A primeira impressão é a que fica. — Murmurei ignorando o fato que ele não tinha namorada. Apostava agora que ele tinha alguma doença sexualmente transmissível, algo parecido ou pior.

Ele revirou os olhos.

— Espera… quantos anos você tem? — Ele indagou.

—16 — Informei timidamente.

Edward balançou a cabeça de forma negativa, assim como eu havia feito alguns minutos atrás. Ele pensou por alguns segundos antes de finalmente falar alguma coisa.

— Se seu pai me prender, vai ser culpa sua. — O tom de sua voz foi baixo, e era provável que não fosse para eu escutar aquilo. — Vamos? — Indagou.

Eu o olhei por alguns segundos, o fuzilando com os olhos.

— Você me matando com os olhos não lhe dá pontos positivos, se quer saber. — Ele citou com um sorriso divertido enquanto me puxava pelo casaco para trás.

Eu o ignorei.

Por que diabos todo mundo gostava de puxar o casaco que eu estava vestida? Era mais fácil do que puxar meu braço ou alguma coisa assim. Que merda, eu odiava isso, no entanto Riley sempre continuava a fazer como se eu amasse. Revirei meus olhos, afastando-me dele para fazê-lo soltar o casaco — eu não demoraria a cair se ele continuasse a segurá-lo.

— As pessoas daqui são antiquadas demais por ser a maioria católica. — Ele disse, notando o quanto eu estava desconfortável pelo olhar que as pessoas passavam me fitando. — E também, você é nova aqui. É normal esse tipo de olhar. — Murmurou.

— Se você diz… — Dei de ombros. — Você não vai ser preso, vai?

Ele sorriu maliciosamente.

— Espero que não.

— Edward! Estou falando sério. — Eu resmunguei.

— Não vou ser preso. A não ser que… — Ele se interrompeu. — Você não vai querer saber do resto, esqueça.

Eu assenti, com o pressentimento súbito que eu não iria querer saber mesmo do que ele tinha para falar depois do “a não ser que…”. Eu passava olhando para tudo, querendo aprender a caminhar naquela pequena vila sem que precisasse pensar para isso — assim como acontecia em Londres. E eu odiava mudanças por isso, eu tinha que me acostumar aos lugares o mais rápido possível.

— Quantos anos você tem? — Indaguei.

— 23. — Ele respondeu, dando de ombros.

— Você é velho. — Eu disse sem pensar.

Ele riu, olhando-me brevemente como se eu fosse uma anormal.

— Por que você seria preso? — Indaguei, com os olhos baixos.

— Tem algumas leis sobre Glastonbury que não consta na constituição. E bom… eu andar com você pode ser considerado como um crime para eles, pois você é menor de idade e eu sou maior. Como eu disse, eles são extremamente antiquados.

— Mas nesse caso, você não pode ir preso, pode? — Levantei meu rosto para ele.

— Se eu disser que não você parará de me perguntar sobre isso e ficará mais tranqüila? — Ele me olhou, sorrindo torto enquanto passava a língua pelos lábios ressecos. Eu olhei para o outro lado da rua, estremecendo por algo que não tinha a ver com o frio excessivo.

— Talvez. — Finalmente murmurei.

Eu fiquei calada enquanto andava ao seu lado, tentando não escorregar no chão escorregadio, tomando cuidado para não dar um passo impensado e acabar caindo na frente de todos, principalmente de Edward. Ele tinha cara daquela pessoa que primeiro riria de mim e depois me ajudaria a levantar — e nesse momento eu não estava querendo ficar com raiva de mais alguém.

Ainda não tinha começado a chover, e esperava que não começasse nem tão cedo. Isso iria estragar meu passeio turístico ao castelo, e me molharia. Nesse frio, tudo que eu menos queria era ficar ensopada ao voltar para casa. Eu tinha certeza que ficaria doente e me observariam por dias sem fim — ou seja, ferrariam com a minha vida porque eu odiava quem ficava muito perto de mim.

Eu olhei para Edward mais uma vez, mais rápido dessa vez, pois eu havia ficado com vergonha por ele já estar olhando para mim. Agarrei a manga enorme do casaco que eu estava, prendendo-as com força entre meus dedos, nervosa e envergonhada. Era totalmente patético que eu estivesse assim, logo eu que nunca tinha ficado encabulada por nada, por isso somente olhei para baixo enquanto andava.

— Você tem alguma coisa contra subir uma pequena ladeira? — Indagou, puxando-me pelo casaco de novo, detendo-me quando eu comecei a seguir pelo caminho oposto. Eu lhe olhei furiosa quando ele fez isso, mas quando ele levantou as mãos em sinal de rendição, ri levemente enquanto negava com o rosto. — Sabe como é… tem lama e essas coisas que garotas como você não gostam.

— Poupe-me. Eu não… importo-me com isso.

— Eu percebo… garotas normais não andariam com uma pessoa sem conhecê-la primeiro. — Edward murmurou lançando-me um sorriso torto.

— Você quem me chamou para conhecer castelos. — Dei de ombros. — Você deve estar mais errado do que eu ao chamar uma estranha. Mas isso não conta tanto, não é? Isso deve ser normal para homens. — Revirei meus olhos. — Vamos subir ou não? — Indaguei sorrindo brevemente enquanto encaixava um de meus pés na grama lamacenta.

Ele subiu dois pés, amostrando-se enquanto estendia a mão para que eu a pegasse, pois ao que parecia eu não iria conseguir sem enfiar minhas duas mãos dentro da lama e andar como um animal. Eu certamente não faria isso, iria achar um modo de subir mais conveniente. Eu aceitei sua mão sem pensar duas vezes, e assim que me fixei de maneira segura no chão, olhei a minha volta, vendo o quanto aquele lugar era maravilhoso.

— Você falou que tinha muitos turistas. — Eu disse, franzindo meu cenho.

Edward revirou seus olhos.

— Eles estão do outro lado, Isabella. — Ele disse. — Não te trouxe para um lugar deserto. E antes que você pergunte o porquê de não termos vindo pelo o outro lado, lhe digo que estávamos no caminho certo para somente…

— Está bem. Não precisa gritar comigo.

— Eu não gritei com você. — Rebateu olhando-me com raiva por eu ter lhe interrompido.

— Mas estava aumentando a voz.

Eu cruzei meus braços com vontade de jogar aquele casaco na cara dele e sair correndo de volta para casa. Distraí-me de sua presença percebendo o quanto era bonito o lugar que não tinha árvores encobrindo todo seu encanto. Ao longe eu podia ver as ruínas dos castelos, fazendo-me perceber o quanto estávamos longe de chegar lá.

Eu iria falar isso com Edward, mas deixei para lá, desviando meu olhar do rosto dele para o chão, descruzando meus braços e colocando minhas mãos dentro de seu casaco, aquecendo-as porque estavam geladas demais. Senti seu olhar queimando meu rosto assim que eu executei aquele ato, no entanto o ignorei ainda sentida.

— Vou te chamar de Bella, você é extremamente sensível e… miúda. — Ele disse. — E Bella é um apelido… bom, é parecido com você.

— Espero que isso seja uma coisa boa. — Murmurei.

Edward assentiu.

Ele me olhou de novo, e eu de novo só fiz olhar para baixo e corar enquanto apertava meus dedos uns contra os outros, nervosa. Eu não estava acostumada com aquele tipo de olhar, era… tudo que eu não entendia. Ninguém nunca havia me olhado daquela forma, e eu não podia entender se era um olhar bom ou não.

Mordi meus lábios e puxei meus cabelos sob o ombro esquerdo, pois ele estava caindo em meus olhos toda vez que eu subia aquela rampa de grama. Edward conhecia um atalho, então a caminhada não foi muito longa como eu previa que fosse, foi… tão normal quanto caminhar de casa para a escola. Claro que quando eu cheguei ao topo minhas pernas estavam trêmulas e com as batatas doendo, mas isso foi insignificante diante a magnitude daquele lugar.

Era mesmo um castelo! Antes eu achava que quando chegássemos aqui no alto iria ser só um monte de ruína — e por parte era, mas só porque o tempo havia o desgastado —, mas não. Eram ruínas de realmente um castelo. Edward olhou para mim como se eu fosse novamente uma anormal enquanto eu sorria, sem palavras para descrever o quanto eu estava maravilhada.

Ele que me desse um desconto, eu nunca tinha visitado algo assim nem parecido. Era maravilhoso, chegava a ser… mágico! Eu quase podia ver passar a história do mesmo em minha frente, mesmo eu sequer sabendo da mesma.

O castelo era todo de pedra, completamente medieval.

— E se você pode ver ali do outro lado, tem os turistas também. — Edward disse, ao meu lado. — Se você gritar, todos vão ouvir e correr para lhe socorrer do maníaco que eu tenho certeza que você pensa que eu sou.

— Fico aliviada por isso. — Murmurei sarcasticamente, encolhendo meus ombros para passar por o que eu achava que era uma janela.

Edward segurou meu braço antes que eu colocasse as duas pernas para fora, puxando-me de volta como se eu fosse uma boneca de pano de tão fácil que ele o fez. O olhei incredulamente, tentando novamente, mas ele não me soltou, e me olhou de modo severo, fazendo-me sentir que ele era um adulto e eu uma criança.

— Você é doida, por acaso, Isabella? Se quiser descer a ladeira de uma forma melhor, é só se jogar daí onde você está. — Ele disse, segurando o casaco em vez do meu braço e me puxando para longe da janela. — Também é uma ótima alternativa se você quiser se suicidar. É aconselhável que se olhe para onde vai pisar antes de fazê-lo, sabe.

— Tenho certeza que eu sobreviveria. — Murmurei, mesmo sequer vendo a altura de onde estávamos. — E não me chama de Isabella, por favor. É Bella, Isa ou qualquer outra coisa que você quiser, só não… Isabella.

— Por quê? — Indagou ignorando a parte em que eu o havia provocado com meu ceticismo.

— É sério demais. — Respondi dando de ombros. — Parece que as pessoas estão reclamando comigo quando me chamam assim. — Cutuquei com meu tênis a terra que tinha em baixo de meus pés, e voltei meus olhos para cima.

— Bom, nesse caso eu estava mesmo reclamando com você por ser tão distraída a ponto de pisar em uma coisa que não tem nada sem ser íngreme embaixo. — Ele disse e riu, olhando-me cautelosamente. — Vai, Bella, ri. — Edward empurrou-me de forma gentil com seus ombros. — Você nunca ri sem ser sarcasticamente?

— Você que nunca viu. — Eu respondi. — Não estou de bom humor hoje, na verdade… porque eu costumo rir muito de vez em quando. Talvez um dia você veja, ou não.

— Terei tempo para isso.

Eu assenti desacreditando no que ele falava e fui para o outro cômodo do quarto, detendo-me e voltando para o outro quando vi que estava com muita gente dentro do mesmo. Não que eu fosse uma pessoa antissocial, eu só não gostava de quando tinham muitas pessoas dentro de um mesmo lugar, eu sempre os evitava, procurando ficar longe das mesmas. Não suportava que falassem quando eu estava pensando.

Voltei para perto da janela de onde Edward tinha me puxado e me sentei de forma cautelosa no espaço que ela tinha. Não era confortável, era melhor do que sentar no chão como ele estava fazendo, sem se importar se ele estava molhado ou não. Senti de novo seu olhar em mim enquanto, mexia na pedra molhada.

— Então… — Comecei, desistindo de tentar evitar seu olhar em cima de mim. — O que você faz da vida já que tem… 23 anos? Você deve estudar; trabalhar ou… viver do dinheiro dos seus pais e não fazer nada a não ser ficar deitado assistindo televisão. — Sorri de minha mente fértil.

— Entrego cartas no quarteirão quando estou de férias e… estou terminando medicina. Isso é com certeza melhor do quê ficar em cima do sofá e não fazer nada, você concorda?

— Bem melhor. — Respondi.

— Você está em que ano? Nono? — Indagou e eu o fuzilei com os olhos.

Ele riu de minha expressão raivosa, enquanto cutucava minha perna, vendo que eu iria ignorar sua pergunta idiota e extremamente irônica.

— Tudo bem, desculpe-me. — Ele se rendeu. — Em que ano do ensino médio você está? — Edward indagou, disparando seus olhos para mim. Olhei para o outro lado, tentando reagrupar meus pensamentos embaçados.

— Vou para o terceiro. — Respondi.

Um grupo de turistas veio e voltou ao perceber que só era nós dois naquele cômodo. Eu corei por isso e olhei para o lado oposto que Edward estava; concentrando-me em perceber o quanto era bonita a vista daquela altura. As casas pareciam de brinquedo e eram tão… simples, sem todos os enfeites e luxo que algumas possuíam.

Ao perceber que eu estava começando a escorregar para trás por causa da pedra, saí imediatamente dela, e me sentei do lado de Edward, encostada a parede. Eu poderia dormir aqui se não fosse pelo frio e pelo fato de onde eu estar sentada ser um lugar úmido e lamacento — apesar disso tudo, esse lugar me dava uma paz estranha a qual eu nunca provara.

— Estão vendendo cachorro-quente do outro lado, vou pegar um para você também, tudo bem? — Edward disse, levantando-se.

— Eu não quero, obrigada.

— Tem cappuccino também. — Ele ofereceu.

Eu suspirei.

— Obrigada, mas não. — Neguei novamente. Perguntei-me se aquilo estava ficando muito estranho ou algo assim, no entanto as calorias que eu havia ingerido no avião ainda estavam pesando em minha mente. Eu havia comido demais e tinha que compensar esses dias. — Estou sem fome.

Ele pressionou os olhos na minha direção, em uma expressão confusa. Baixei meu rosto, fingindo fitar minhas unhas para escapar daquilo, afinal eu não era a pessoa mais convincente quando mentia olhando nos olhos da pessoa. E eu tinha quase certeza que eu não conseguiria mentir olhando nos olhos de Edward, eram controladores demais para isso.

— Vamos, Bella, você está magra demais. — Lhe olhei cética e raivosamente ao mesmo tempo enquanto bufava e tentava controlar meus lábios para que deles não saíssem nada que me incriminasse como uma pessoa que tem a Mia.

Mentira! Mentira! Mentira! Ele é um mentiroso — minha mente acusou.

— Está quase na hora do almoço. — Eu disse. — Vou perder a fome.

— Faltam duas horas para o almoço. — Teimou ele.

Respirei fundo.

— Eu. Não. Quero. Tudo. Bem? — Minha voz saiu pausada por causa de meus dentes trincados. — Não adianta insistir.

— Você não sabe o que está perdendo. — Ele murmurou, se afastando.

— Ah, eu sei muito bem. — Não era para Edward ter escutado aquilo, no entanto ao que parece minha voz soou alta demais. Ele parou; se virou e me olhou por alguns segundos antes de retomar sua caminhada até os carrinhos que vendiam cachorro-quente.

Eu estava perdendo calorias. Eu estava perdendo tudo que eu não queria dentro de mim nesse exato momento, ou seja, quem saía vencedora era eu a final de contas.

Por algum motivo que eu não sabia, Edward demorou mais que o normal para voltar, e isso fora só porque ele comera em outro local. A partir daquele momento, tive medo que ele como quase licenciado em medicina, soubesse sobre a Mia. Ele voltou em dez minutos, e sentou-se novamente onde estava, ao meu lado, tão perto que seu braço podia tocar o meu.

Seu olhar disparou para o meu novamente, enquanto eu percebia que nossos rostos estavam próximos demais. Mais próximos do que deveriam estar em uma situação adequada. Desviar meu olhar foi à primeira coisa que eu fiz ao perceber

— Por que você não comeu? — Ele indagou, por fim.

— Porque eu não estava com fome, Edward. — Tentei ser paciente ao lhe falar. — E olhe, está na hora de ir para casa agora, eu… e-eu tenho que fazer algumas coisas antes, ajudar a minha mãe porque aposto que ela está doida porque vocês vão almoçar lá.

— Você está mentindo.

Respirei fundo mais uma vez, e tentei me levantar. Sua mão se fechou em meu pulso, impossibilitando-me.

— Me deixe em paz! — Grunhi, girando meu braço de sua mão para tentar soltá-lo.

— É o quê? Anorexia ou Bulimia? — Ele indagou.

Parei de lutar enquanto lhe olhava tentando fazer com que minha expressão fosse cética o bastante para ele acreditar que estava ficando doido por pensar uma coisa delas de mim. Eu podia ver em seu rosto que eu não tinha sido convincente o bastante.

— Eu sabia que essa merda de passeio iria acabar dando errado.

— Então você tem mesmo algum transtorno alimentar! — Exclamou.

Eu olhei para o outro lado, tentando arranjar forças para resistir à vontade de lhe dar uma tapa na cara por ele ser tão inconveniente quando o assunto se tratava de mim. Mas que droga! Se eu não lhe falara nada, era certamente porque eu não queria que ele soubesse a respeito daquilo. Aliás, quem se orgulharia de ter Bulimia? O preconceito das pessoas eram maiores do que elas mesmas.

— Só por que eu não quis comer um cachorro-quente significa que eu tenho algum transtorno alimentar? — Tentei o desencorajar.

— Talvez não para as pessoas que não estejam terminando uma faculdade de medicina. — Edward rebateu, com pose de superior. — Olhe seus dedos, Bella, você os está vendo? Pois bem, para quem sabe sobre o assunto, significa que você tem bulimia.

— Você não sabe nada sobre mim, nós nos conhecemos hoje. — Sussurrei com a voz falha, voltando a mexer meu braço em sua mão de ferro.

— Então tudo bem. Tente me provar que você não tem bulimia.

— Eu não preciso provar nada para você, Edward, pelo amor de Deus!

Não deveria ser tão fácil saber tanto sobre mim em tão pouco tempo, deveria? Nem minha mãe sabia sobre isso. Talvez ela não soubesse por que eu passava o dia todo trancada no quarto, por minha mãe não ser médica, ou talvez porque eu nunca tivesse ficado com uma pessoa tanto tempo depois de ter a Mia. Como eu disse antes, esse passeio foi um erro, completamente.

— Você vai precisar provar para sua família, então.

— Você não tem o direito de se meter tanto em minha vida, será que não entende isso? Acabamos de nos conhecer — repeti mais uma vez. —, e isso significa que você não deve querer alterar tanto a minha vida. Eu estava muito bem antes, se quer saber.

— Bem, Bella? Você estava bem? — Ele indagou incrédulo. — Quem tem Bulimia nunca fica bem.

Meus olhos marejaram enquanto eu batia meu punho livre no chão com raiva, sem perceber que eu o estava ralando.

— Não deveria se importar tanto com isso. É a minha vida, não a sua.

— Mas eu me importo.

Não deveria! — Rebati, gritando.

Controlei o nível de minha voz por ter turistas por perto, e limpei as lágrimas que despencaram de meus olhos e caíram em minhas bochechas. Edward olhou para mim de novo por pouco tempo, pois seus olhos se fixaram em meu pulso. Ele suspirou e afastou os dois casacos que cobriam minha blusa fina, rasgando-a em um ato rápido que não dera tempo sequer para pensar.

— Discutimos isso depois. — Ele disse, pegando meu pulso e limpando de qualquer jeito o sangue que ele possuia, e o enfaixava com força com o trapo.

— Essa discussão está acabada.

— Não está. — Edward teimou. — Acredite em mim, ainda vamos discutir isso por muito tempo.




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Notas finais do capítulo

Espero que gostem. Beijos.