Can we whisper? escrita por Meggs B Haloway


Capítulo 29
Capítulo 28 ― Insegurança.


Notas iniciais do capítulo

Okayyyyyy, espero que gostem e... comentem quando terminarem porque o último capítulo teve poucos reviews e eu fiquei me perguntando se vocês não tinham gostado do mesmo. Enfimm, é isso ai, gente ♥ só mais um capítulo e epílogo pra terminar ]:



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Edward olhou para as minhas mãos e depois para o meu rosto, sorrindo levemente com o meu lábio inferior preso entre os dentes. Ele pegou minhas mãos, apertando-as com as minhas como se fosse acalmar-me um pouco mais. Eu não o olhei, fiquei olhando para frente fixamente enquanto o avião erguia voo.

— Por que você não tenta dormir um pouco? — Ele sugeriu.

Neguei com o rosto, dessa vez permitindo um olhar de três segundos para seu rosto descontraído.

— Olhe só, a gente está indo para Florença por duas semanas, quase três e você sabe a quantas palestras nós vamos? Só três, você não precisa ficar nervosa por achar que é nova demais para mim porque o que importa é o que eu penso não o que os outros talvez vão achar. Vamos sair mais do que vamos a palestras ou jantares.

— Você não me falou dessa parte de jantares. — Murmurei. — Só eram palestras e almoços.

— Não é nada demais, se quer saber mesmo. Você vai gostar das pessoas que irão estar lá, eu tenho certeza disso.

— Você não está falando isso apenas para me tranquilizar, está? — O olhei com os olhos atentos, não deixando escapar nenhum detalhe que o incriminasse como mentiroso. Ele sorriu e colocou a franja que caia em meus olhos atrás de minha orelha.

— Não, não estou. E está tarde, Bella, vá dormir, assim a viagem ficará mais curta.

Ele beijou-me na testa delicadamente e me entregou o travesseiro que havia trazido para nós estarmos mais confortáveis. E então como se não bastasse ser tarde e meus olhos estarem pesados, ele começou a acariciar a mão que ele ainda segurava.

E na verdade, a viagem pareceu mesmo mais curta. Não pelo fato de eu estar dormindo, pois eu só fiquei dormindo pela primeira escala, estando no resto mais acordada que nunca enquanto me concentrava em ler algum dos vários livros que eu houvera trazido para me distrair, escutando música ou conversando amenidades com Edward. Eu o fizera prometer mais de uma vez que não seriam desagradáveis comigo, mesmo sendo uma coisa fora de seu controle. Ele prometera mesmo assim.

Ele dormiu na maioria do tempo de viagem que tivemos, parecendo cansado, apesar de estar de folga por cinco dias. Eu não o acordei por besteira, só o acordei quando foi à hora de soltar os cintos e finalmente descer do avião que estava deixando-me enjoada pela grande quantidade de horas que estávamos nele.

E de novo, sem me cansar, eu percebia o tanto que ele era lindo quando acordava, mesmo sem as roupas amarrotadas e maiores que o normal. Ele estava com o rosto amassado e corado, brevemente confuso sobre onde estava e o que teria de fazer a seguir. Edward estava de bom humor — não que o mau-humor fosse comum pra ele; não era —, parecendo absorver o clima de Florença.

Sol, com algumas nuvens que não deixava a cidade tão quente. Céu azul e nuvens parecendo um grande pedaço de algodão. A cidade era linda, disso eu não tive nenhuma dúvida quando eu tive oportunidade de vê-la assim que sai do aeroporto com a mala em minha mão. Edward estava levando a minha, mas ele dissera-me que não seria problema nenhum já que o carro locado estaria esperando por nós.

E para minha surpresa, ele sabia falar Italiano perfeitamente. Tinha como ser mais perfeito? Ele ficava lindo falando à língua que eu nunca conseguira ou tentara aprender já que nunca me daria bem nas provas do curso que eu tinha tentado fazer. Nas primeiras semanas, eu já tinha desistido do mesmo, entediada.

— Você nunca me falou sobre isso. — O acusei no banco de passageiro, ao lado de Edward, fitando minhas unhas como uma desculpa para olhar para baixo.

— Nunca foi importante até agora — Percebi seu olhar queimando meu rosto, mas permaneci de olhos baixos, arrependo-me por não ter dormido uma hora sequer durante os dois últimos voos. — Você está com sono? — Perguntou, colocando uma mão em meu joelho, chamando minha atenção.

Neguei com o rosto, levantando-o para olhá-lo. Ele estava passando a língua nos lábios ressecos, olhando para frente e prestando atenção no trânsito, mesmo que este mesmo fosse tranquilo. Mais tranquilo do que era em Bristol, o dando uma folga em intervalos de tempos para me olhar por alguns milésimos de segundos.

— Quando chegarmos ao hotel, você dorme quantas horas quiser. — Ele disse, olhando para o sol do meio-dia que entrava pelas janelas abertas. — Ainda que seja de manhã — Completou, cruzando seu olhar com o meu. — Pensei em comermos em algum restaurante, o que você acha?

Sorri, baixando meus olhos.

— O que você quer fazer, Edward? Você sempre me pergunta o que eu quero fazer, o que me agrada ou o que eu gosto. Quero que me diga o que você quer fazer agora, você não pode ser tão… sei lá, simplesmente escolha o que vamos fazer agora porque eu aceito tudo.

— Um discurso tão grande para me mandar escolher no final? — Ele me olhou com as sobrancelhas levantadas e um sorriso divertido em seus olhos acessos. Quando eu não fiz nada a não ser lhe olhar, ele respondeu: — A ideia do restaurante me parece uma boa ideia.

— Então nós vamos para o restaurante. — Concluí por fim, passando uma mão por seu cabelo e o bagunçando de propósito. Agora ele parecia um adolescente de dezessete anos, eu gostava.

Demoramos pouco tempo no restaurante, só comemos, conversamos um pouco sobre algo que era de pouca importância como… animais de estimação que ele queria ter, debatendo sobre o porquê de e eu não querer por causa do meu antigo e memorável Kato. Meu cachorro pelo qual eu prometera não ter mais nenhum. Edward achava, sinceramente, bobagem aquela promessa e disse que qualquer dia desses chegaria com um cachorro para me presentear.

Ele sabia que eu não tinha coragem de abandonar um cachorro, e descobrira aquilo naquele dia em que estávamos almoçando. Eu até tentara negar um pouco, blefar com a ameaça que ele não duvidasse de mim, mas ele sempre me conheceria bem o bastante para pegar-me até na minha mentira mais perfeita.

Não tinha graça mentir para ele. Era algo parecido com uma mensagem escrita na minha testa dizendo “o que eu estou falando nesse momento é mentira”, eu achava que tinha alguma coisa a ver com os meus olhos baixos quando eu mentia ou o lábio entre os dentes. Era… constrangedor quando ele murmurava simplesmente, com um sorriso convencido nos lábios “mentira”.

Era como se eu tivesse sido pega pelos meus pais fazendo uma coisa feia que eles desaprovassem.

Edward me contara que seu irmão, Emmett, estava aqui já que também executava a profissão de médico. Ele tinha vindo da Alemanha somente para isso, e claro para conhecer quem era a sortuda que estava com seu irmão. Edward rira ao me contar isso, apesar de achar que ele que era o sortudo.

— Não acho que seja verdade. Deve ser como seu irmão falou: eu sou a sortuda.

— Ah sim, sim. — Murmurou, sarcástico.

— Vamos encarar os fatos óbvios, Edward, por favor. — Eu sorri, animada com o desafio de mostrar a ele que mais uma vez eu estava certa. Era sempre ótimo discutir coisas evidentes com Edward; ele sempre acabava errado. — Quantas mulheres correm atrás de você mesmo?

Foi aquilo. Aquilo acabou com todos os seus argumentos, mesmo que ele insistisse em dizer que só estava interessado em uma mulher e esta mulher estava na sua frente. Esse argumento dele já estava passado de tanto que ele já o havia usado, mas eu nunca me cansaria de escutar o mesmo. Era sempre bom relembrar que Edward me queria. E era só a eu.

O quarto de hotel em que estávamos ficava na cobertura e a primeira coisa que eu notei ao abrir a porta era que ele era lindo. Perfeitamente organizado, espaçoso como se fosse um apartamento inteiro presente ali, a decoração era planejada, com tapetes beges e cortinas brancas e na cor vinho.

— Não queria que gastasse muito. — Me virei para Edward, o olhando com olhos acusadores.

Ele sorriu, empurrando-me de leve para frente e fechando a porta atrás de nós, trazendo também nossas cinco malas. Ele olhou ao redor de si antes de virar-se para mim, um sorriso torto balançando seu rosto.

— Eu não gastei nada, Bella. O Hospital paga para que eu esteja aqui com você. Isso é uma das rarascoisas que eu gosto nele… as coisas que promovem e o quanto gasta para uma pessoa dar apenas uma palestra e ficar quase um mês em Florença. Como se fosse torturante fazer isso. — Falou mais pra si do que para mim.

Sorri para ele, puxando minhas três malas para o centro do quarto. Olhando ao redor e percebendo que eu não me acostumaria tão cedo com a imensidão do quarto que estávamos. A primeira coisa que Edward fez foi tirar seus sapatos e ficar só de meia, pegando sua mala e arrumando as coisas dentro do closet temporário oferecido.

Fui para o seu lado, sentando-me no chão porque obviamente não sabia o que fazer naquele quarto enorme. Arrumei minhas coisas de modo meticuloso, dobrando cuidadosamente cada peça de roupa e estendendo as que não podiam dobrar. Ajudei Edward a deixar de ser bagunçado e arrumar as roupas direito, eu o ensinei a dobrar uma camisa de modo que ela não ficasse amassada.

Ele não sabia fazer nada sozinho, mas por cima disso tudo, quem acabou dormindo depois do banho em seus braços fui eu. Eu não pude descrever o que tinha acontecido com clareza, eu me lembrava de ter entrado no banheiro para tomar banho e depois Edward entrou no banheiro também, juntando-se ao banho. Não aconteceu nada — assim como nos últimos três dias —, ele somente tomou banho comigo, e me colocou na cama quando eu já estava vestida apropriadamente.

E depois disso, eu apaguei. Completamente. Não me lembro de nada, dedos nas costas, muito menos olhares ou beijos na testa antes de dormir. Lembro apenas de ter gostado da maciez da cama, me virado para o lado oposto de Edward, sentindo suas mãos me puxar de volta para ele como se fosse um travesseiro para dormir agarrado e seu rosto encaixado em meu ombro.

Só foi isso.

Meu sono foi pesado e eu dormira mais que o necessário, eu tinha certeza, quando acordei e lá estava o quarto escuro e nenhum sinal de Edward na cama. Demorei um pouco para me levantar da mesma, me contentando em passar a mão no espaço vazio, vendo se não tinha esquecido algum e talvez fosse lá onde Edward estava.

Quando eu fiquei sentada na cama, passando os dedos por meu cabelo, vi que a luz do banheiro estava acessa e pelo barulho mínimo que se fazia lá dentro, lá estava ele escovando os dentes. Eram três e vinte e cinco da madrugada e isso não era hora para uma pessoa normal se acordar, mas eu não tinha mais vontade alguma de ficar na cama.

Eu tinha dormido mais de doze horas? Isso era normal? Talvez o cansaço reprimido durante o voo e o almoço fizesse isso comigo. Sempre acontecia quando eu tinha que fazer alguma viagem grande, aconteceu exatamente isso comigo quando eu fui dos Estados Unidos para Inglaterra.

— Deveria ter dormido mais um pouco. — Edward disse, assim que saiu do banheiro e me viu sentada na cama, enrolada com o lençol como se estivesse frio demais para que eu pudesse suportar.

— Até porque dormir mais de doze horas é muito pouco, não é? — Sorri para ele.

Tomamos café da manhã antes da hora no quarto mesmo, e depois eu me deitei na cama apenas para escutar música e ler um livro, enquanto Edward lia também um livro, mas era para a palestra que ele iria escutar. Perguntei-me se ele estava muito nervoso por causa disso, e se ele estivesse, não estava deixando transparecer nada sobre isso.

Ele era autoconfiante ao extremo e aquilo era mais uma das várias coisas que o fazia ficar mais irresistível. Se eu fosse citar as coisas que o deixava mais bonito cujo normal para um ser humano, iria demorar muito já que eu era uma boba que via perfeições nele ainda que estas mesmas não existissem.

Ele leu o pequeno livrinho umas duas vezes até virar-se para mim, encaixando seu rosto em minhas pernas, olhando-me curiosamente.

— O que você está fazendo?

— Estou tentando ver se consigo me distrair por algumas horas e tentar desligar-me da questão de que roupa eu vou vestir hoje mais tarde. — Olhei para ele, jogando meu ipod pela cama. — O que eu vou vestir hoje, Edward? — O indaguei, mordendo meus lábios, nervosa.

Ele sorriu, levantando seu rosto e ficando do meu lado, puxando minhas pernas para que eu ficasse quase em cima dele.

— Está mesmo me pedindo para escolher uma roupa para você? — Seu tom era divertido e eu também duvidava de sua capacidade de escolher alguma roupa para mim.

— Me diga o que é apropriado então. O que costumam usar? Não posso ir com alguma coisa que seja muito ruim, ou muito arrumada demais.

— Nada de vestidos, obviamente. Vai ser de dia e a maioria das mulheres irá de calça jeans ou as mais velhas, com seus quarenta e tantos anos, com saia e um terno com alguma cor ridícula. Isso serviu de alguma coisa?

— Sim. — Inclinei-me um pouco para frente para beijar de leve seus lábios, levantando-me para ir direto para o closet.

Ele me seguiu, sentando-se no chão enquanto eu ficava em pé, escolhendo as roupas com a maior cautela possível. Terminei por fim com uma blusa e um casaco que Alice tinha me feito comprar, mesmo eu não querendo, mas que agora eu via o senso de oportunidade que ela tinha. Era arrumada, quase formal e Edward parecera aprovar quando o mostrei.

Eram nove horas da manhã e eu já estava pronta, esperando que Edward terminasse de fazer sua barba, tomar banho para assim irmos para o lugar aonde ele iria dar a palestra para centenas de pessoas. Sua calma me contagiava, e meus pensamentos de extremo pânico por não saber o que fazer já haviam passado.

— Você está linda. — Ele disse assim que saiu do banheiro, vendo-me em pé, ajeitando mais uma vez meus cabelos.

Eu sorri, baixando meus olhos e virando-me na sua direção.

— Bom… eu posso dizer que você também já está bonito. — Eu disse, observando seus cabelos bagunçados e a toalha enrolada ao redor de sua cintura. — Como sempre — Revirei meus olhos com seu sorriso convencido.

O lugar que fomos se encontrava abarrotado de pessoas e antes de entrar pela porta, meus pés meio que travaram, em pânico. Edward parou de andar também, olhou-me por alguns segundos e sorriu, dizendo por meio de olhar que estava tudo bem, voltando a andar com a mão em minha cintura.

Não entramos pela porta normal, entramos por uma entrada em que não tinha quase ninguém e era de frente para as cadeiras de auditório. Mordi meu lábio inferior levemente, olhando para o chão, de repente mais insegura do que pensei poder estar em toda a minha vida.

— Eu nunca mais tinha te visto tão vermelha quanto está agora. — Edward murmurou em meu ouvido. — Respire, Bella.

— Eu estou respirando. 

Ele riu, descontraído.

— Você vai se sentar ali assim como todos os acompanhantes — Ele apontou para um lugar que tinha em cima do palco, quase escondido do auditório. — E eu vou me sentar ali no meio. Só é uma hora e depois nós vamos embora, tudo bem?

Mordi meus lábios, assentindo. Edward me olhou por alguns segundos, pegou meu rosto em suas mãos e beijou-me cautelosa e rapidamente. Ajeitei sua gola do paletó, subi suas mangas que estavam colocadas de um modo errado — sendo que eu não vira antes — e limpei o breve resquício de batom que tinha em seus lábios.

— Respire. — Ele me instruiu antes beijar minha testa e ir sentar-se no seu lugar.

Sem escolhas, fui me sentar onde Edward me dissera para sentar, remexendo minhas mãos desconfortavelmente e pegando meu celular enquanto aquilo não começava. Mandei mensagens de texto para Renée, para Alice — demorando-me mais ao digitar a dela já que eu tinha mais coisas para informá-la. Não lhe falei sobre o meu nervosismo, prevendo que ela me xingaria pelo resto do mês se soubesse que eu estava insegura.

Bom, deixei isso de lado, e informei as coisas mais fúteis que conseguir achar. Tinha mais pessoas sentadas no mesmo lugar que eu, mas estavam ignorando-me — para minha grande felicidade — e prestando atenção em se ver no espelho ou soltar beijinhos para seus maridos, noivos ou namorados que estavam no centro. Para Edward, eu somente sorri torto, acenando discretamente.

Não demorou tanto para sairmos de lá, entretanto eu pensava que isso era porque Edward tinha me distraído com seus olhares e sorrisos que vinham de cinco em cinco minutos. Talvez tenha sido isso que tinha me distraído, ou talvez tenha sido o fato de eu sequer ter escutado a palestra que se passara.

— Quer jantar fora? — Perguntou Edward assim que as portas do auditório se abriram. — Emmett e a mais nova namorada dele estão nos chamando.

Eu sorri.

— O que você quer dizer com “mais nova”? — Ajeitei por mais uma vez a gola de seu paletó, passando os dedos por seu cabelo em seguida, o ajeitando no penteado que estava antes.

— Quero dizer que ele tem muitas e que está é a temporária de Florença. — Ele revirou os olhos, pegando minha mão que deslizou por sua bochecha, beijando-me nos lábios por apenas dois segundos que me pareceram, na verdade, milésimos de segundos.

Iríamos encontrar o irmão de Edward já no restaurante porque ele estava com carro. Era cedo ainda, duas horas da tarde e eu estava com fome, pois tinha tomado café da manhã muito cedo e ainda não tinha almoçado ainda.

— Quando é a próxima palestra mesmo? — Indaguei.

— No final dessa semana, por isso você já pode começar a pensar aonde você quer ir durante esses dias que não vamos para lugar nenhum.

— Para onde você pensa em ir?

Ele sorriu, malicioso.

— Agora tudo em que penso é em não sair do quarto com você, mais detalhadamente da cama. — Edward disse. — Mas como eu quero que aproveite essas semanas na Itália, podemos ir para… sei lá, eu não faço ideia onde são os pontos turísticos daqui.

— Não quero sair pra canto nenhum também.

Ele sorriu abertamente também.

— Mas nós vamos, sua pervertida.

Eu ri, olhando-o com uma expressão incrédula em meu rosto.

— Você acaba de dizer que não quer sair do quarto de hotel comigo e eu que sou a pervertida? — Perguntei. — Olha a injustiça.

— Quem concorda é pior.

— Não mesmo! Eu só falei que não queria sair. — Acabei rindo com a risada que saíra de seus lábios na minha tentativa de me inocentar.

— Vamos fingir que não tinha duplo sentido em suas palavras.

Eu sorri, maliciosamente assim como ele fizera alguns segundos atrás.

— Não sorria assim para mim se você quer mesmo sair desse carro. — Ele precaveu, parando de me olhar e estacionando o carro de frente ao restaurante, deixando o casaco de seu paletó dentro do mesmo.

Em um ato de posse, ele entrelaçou sua mão com a minha, olhando-me de modo malicioso de novo. Balancei o rosto, lhe reprimindo com o olhar e apertando sua mão com mais força, quase chegando a beliscá-lo de leve. Edward só fez soltar uma gargalhada baixa, provavelmente percebendo minhas bochechas coradas com a sua indiscrição.

Pegamos uma mesa que estava no canto e era habitada por uma mulher loira, franzina e um homem de cabelos pretos e rasteiros, musculoso ao extremo.

— Bella, esse é Emmett e… — Edward pareceu fazer esforço para lembrar-se o nome da mulher loira. — Kate. — Finalmente murmurou.

Apertei a mão das duas pessoas, notando que entre Edward e Emmett não existia nenhuma semelhança a não serem os olhos que eram do mesmo tom de verde. O resto era tudo diferente, desde o formato do rosto até a cor da pele. Emmett era mais bronzeado que Edward, mesmo morando na Alemanha.

— Oi, Bella. — Kate foi a primeira a falar comigo e eu não pude deixar de perceber que ela tinha um sotaque estranho, deduzindo por fim que ela era de Florença mesmo.

— Oi. — Sorri para ela.

— Caramba Edward, você finalmente arranjou alguém decente, não foi? Finalmente! — Ele exclamou, com um sorriso infantil em seu rosto. — A Amber passava longe de decente, a Maria do colegial muito menos…

— Vai citar mesmo todas as minhas namoradas do colegial?

Foi um almoço descontraído, com as gracinhas de Emmett sempre irritando Edward. Ele agia como uma criança, e o sorriso era o que completava o conceito que eu possuía. Kate era calma, calada. Comeu pouco, dizendo estar sem fome, mas quando eu e Edward estávamos nos levantando da mesa eu notei qual era o seu verdadeiro problema.

Bulimia. Estava em seus dedos, em sua magreza excessiva e nas desculpas que ela dava ao recusar algo comestível que a oferecíamos. Troquei um olhar cauteloso com Edward — ele tinha notado no mesmo momento que eu —, baixando meus olhos rapidamente para ela não ficar sem graça ou algo desse tipo.

— Por que não saímos, Emmett? Só você e eu? Deixamos Bella e Kate ir para o shopping e você e eu vamos para algum outro lugar. — Ele me lançou um olhar significativo, voltando a olhar para Emmett que parecia pensar sobre o assunto.

Tudo que eu queria era ir de volta para algum lugar onde eu pudesse descansar e ficar com Edward, mas queria também ajudar Kate a enxergar o que ela estava fazendo a ter bulimia. Eu sabia, sim, que estava chegando de supetão e me metendo na vida de uma pessoa que eu sequer conhecia direito, porém era o certo a fazer.

Mordi meu lábio inferior, olhando para o chão.

— O que você acha, Kate? Vai ser legal. — Garanti a ela.

Deu de ombros, mostrando-se mais uma vez indiferente.

— Não tem problemas para você? — Perguntou Emmett.

— Não, não… é, vai se divertir por algumas horas.  — Ela sorriu sem mostrar os dentes, olhando para o chão e mantendo suas mãos atrás de suas costas mais uma vez.

A vida era tão irônica comigo. Muito irônica. Colocar uma pessoa com um transtorno alimentar na minha frente não podia ser chamado de outra coisa, era como se eu tivesse que ajudar alguém que tem a mesma doença que eu possuíra na adolescência. Eu tinha o sentimento que se eu não fizesse aquilo — abrisse os olhos dela — eu nunca me livraria da culpa.

— Por que você não fica com o carro que eu estou? — Edward ofereceu, puxando minha cintura com suavidade para a saída do restaurante.

— Não sei por que estou fazendo isso. — Admiti, sussurrando quando me certifiquei que eles não estavam a uma distância que desse para escutar.

— Eu não sei por que eu cheguei a propor isso — Ele disse, em meu ouvido, beijando minha bochecha logo em seguida. — Tendo em vista que tudo que eu quero é ficar trancado no quarto com você. — Ele pôs as duas mãos em minha cintura, abaixando seu rosto e me encostando delicadamente no carro que viemos.

Seus lábios beijaram os meus ternamente, assim como suas mãos acariciaram minha cintura, fazendo-me estremecer de modo discreto.

— Você não me escapa essa noite. — Sussurrou, com os lábios a milímetros de distância dos meus.

— Eu não quero escapar. — Sorri para ele, descendo minhas mãos de seu cabelo, passando por seu rosto, pescoço e peito.

Enquanto Emmett e ele caminhavam para o carro que não estava muito longe, escutei Edward falar em um tom normal e sério:

— Não sei como um médico como você pode ser tão demente.

Kate falou apenas para me falar para que lado talvez fosse o caminho para o shopping enquanto eu dirigia. Ela não fazia a mínima ideia de onde ficava, apesar de morar aqui desde que nasceu. Kate confessara que não gostava muito de shopping e só ia quando era algum caso de extrema necessidade, e mesmo assim, o shopping o qual ela visitava não era perto dessa região onde estávamos.

Ela foi gentil durante a viagem, respondendo as tantas perguntas que eu fazia. Aos poucos, ela foi falando sobre ela mesma, falando sobre sua família — agora, a maioria, morta por velhice — e sobre os parentes que restaram. Falou sobre seu emprego medíocre e falou sobre Emmett, sobre o modo como eles se conheceram e a percepção que ela tinha sobre o relacionamento não durar muito.

Surpreendi-me que ela visse aquilo com tanta calma, como se fosse normal em sua vida isso acontecer muito. Era, de fato, normal para ela. Já tivera muitos relacionamentos desse jeito e tudo que não queria, em sua visão, era ficar sozinha por um longo período de tempo. Com Emmett era diferente, ela admitira, ele parecia realmente se importar com ele. Como ninguém nunca havia feito.

 Quero dizer que ele tem muitas e que está é a temporária de Florença — A voz de Edward era clara em minha mente e eu quase senti pena de Kate por isso, por Emmett e por tudo.

— E você e Edward? — Ela perguntou. Era a primeira pergunta que ela fazia no dia, rompendo sua bolha de reclusão.

— Ah, Edward e eu nos conhecemos desde… faz três anos, eu acho.

— Como se conheceram? — Disparou.

Sorri, baixando meus olhos e logo os voltando para a estrada a minha frente.

— Eu tinha acabado de me mudar para a cidade que ele estava passando as férias com a família e ele descobriu o meu segredo de cara. Eu fiquei irada no começo porque na minha cabeça era uma vergonha o que eu tinha, mas eu só precisava de um empurrão para parar com aquilo. Aliás, Bulimia pode causar muitos danos. Só que depois — Continuei, olhando-a de lado. Ela estava quieta, encolhida e com os dedos escondidos. — Ele teve que ir para Nottingham fazer faculdade e acabamos acabando o namoro. Só o reencontrei esse ano.

— E você está curada? — Indagou em um fio de voz. — Digo… da bulimia.

— Sim, não é tão difícil quando tem alguém ajudando. Você deveria tentar também. — Acrescentei casualmente.

— Como é? — Arfou. 

— Seus dedos, Kate; está na cara.

Ela baixou os olhos, com o queixo trêmulo e os olhos marejados.

— Emmett não pode saber disso. Edward está indo o contar, não é?

— Ele iria perceber uma hora ou outra. Ele é médico, não se pode esconder uma coisa dessas por tanto tempo. — Tentei fazer a minha voz soar calma, como se eu estivesse falando com alguma pessoa que estivesse prestes a correr. — Kate… você pode ir para algum médico… irão lhe ajudar. E nessas duas semanas que eu vou passar aqui, se você quiser, eu te ajudo. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Beijos e comentem!