Seven Reasons escrita por SumLee


Capítulo 3
Enxerga-me


Notas iniciais do capítulo

OOOOOOK, eu sei que sou uma desalmada e que mereço levar um belo de um soco. Mas antes de fazerem isso que tal lerem, hum? KKKKK



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I don't know where I'm at

(Eu não sei onde estou)

I'm standing at the back

(Eu estou parado na parte de trás)

And I'm tired of waiting

(E estou cansado de esperar)

I'm waiting here in line

(Eu estou esperando aqui na fila)

I'm hoping that I'll find

(Eu estou esperando encontrar)

What I've been chasing

(O que venho perseguindo)

2. Enxerga-me

– Então... - mordi o lábio inferior, olhando para o lado. - Você começa amanhã?

Eu em sentia sem jeito diante de Edward depois que as coisas se acalmaram e eu me toquei o que tinha acabado de passar. Estava envergonhada, com raiva, tristeza, decepção... Eram tantas coisas que passavam dentro de mim e eu só conseguia me concentrar em Edward, sem conseguir expressar realmente o que queria. E para ficar ainda mais confuso, eu não sabia o que queria expressar para ele. Soca-lo, talvez? Por ter conseguido me convencer a parar, por ter usado meu momento de fraqueza e feito eu desistir de tudo em um passe da mágica. Mas eu também queria agradece-lo por querer gastar o tempo dele tentando me convencer de algo que eu sabia que não daria certo.

Eu estava fazendo um jogo.

Era isso que eu me convencia. Eu jogava, querendo ter um pouco mais de diversão antes de partir. Eu merecia isso. Tinha percebido que não queria acabar com minha vida tendo dentro de mim um sentimento de angustia, desespero, dor. Eu queria ter um pouco de felicidade. Mas não daquela de liberdade, macabra. Eu queria a felicidade que via muitos terem. Sorrisos sinceros, sem preocupação com a vida. Ou que vá se matar...

– Pode ser. - ele concordou.

– Ok... - balancei a cabeça, me virando para minha Chevy velha e vermelha desbotada.

A pintura estava descascando, e eu usei aquilo como uma desculpa silenciosa para não olhar para ele. O silencio que se instalou ali foi sufocante. Eu não sabia como agir, falar ou olhar para Edward. Os olhos verdes dele me deixavam sem jeito, porque eram tão profundos e tão perspicaz que incomodava ao olhar. Quando me encarava, eu sentia eles perfurarem minha carne, ultrapassar minha alma e ver através dela, queimando as partes dolorosas. Era tudo isso que me incomodava, porque eu sabia que ele não estava fazendo isso, era só a sua presença. Os fantasmas dentro de mim voltariam assim que seu olhar não estivesse em mim, e isso não era nada bom. Pois eu sabia bem como eu ficava quando era bom para mim.

Dependencia.

Podia ser considerado uma doença, mas quando não se tinha nada bom na sua vida, e de repetende aparecesse algo, você iria querer segurar aquilo com unhas e dentes. Deveria me refrear antes que esse sentimento se aflorasse ainda mais em mim, pois sabia que seria apenas uma semana com Edward e nada mais. Logo, eu entraria no meu buraco e estaria bem aqui novamente, soltando o "sinto muito" falso e caindo nas águas profundas para nunca mais abrir os olhos.

– Bella, tem uma coisa me incomodando. - Edward murmurou, me fazendo encara-lo.

Ele deu um passo a frente, desencostando do carro e ficando na minha frente. Ele pegou minha mão e me fez ficar certa, para assim encara-lo. Ofeguei - como fazia todas vezes que via seu rosto tão perto do meu - e senti minhas pernas moles. Eu custava que aquele garoto era uma anjo que usava seus poderes para me deixar parecendo uma idiota, pois era impossivel uma pessoa normal fazer meu coração palpitar tão forte e minha cabeça ficar nebulosa, quase que anestesiada de tudo.

– O-o que? - perguntei.

– Eu preciso ter a certeza de que você vai chegar em casa. - pegou meu rosto em suas mãos, e eu senti minhas bochechas corarem violentamente com aquilo. - Que você não vai mudar de idéia quando eu me afastar, e decidir fazer novamente. Não quero que nosso acordo acabe antes do tempo...

A intensidade de suas palavras, do seu olhar, fez eu ficar em silêncio e não dizer o que pensava. Eu não podia dizer por eu mesma se iria mudar de idéia na metade do caminho e meter meu carro de frente com um caminhão, então também não poderia prometer para ele. Mas como falar isso quando seus olhos verdes me hipinotizavam me fazendo concordar com a cabeça? Ele fazia eu perder qualquer linha de raciocinio, e os incomodos sumirem.

– Eu não sei. - admiti, não me deixando levar pelos meus movimentos anteriores.

Ele apertou os lábios em uma linha fina e seus olhos foram para atrás de mim. Vi um sentimento passar por eles, mas não consegui distinguir qual era antes que sumisse, o que me deixou ainda mais aflita. Ele iria desistir de mim, eu sentia. E, quando percebi, o desespero já tomava conta da minha cabeça, do meu corpo e algo dentro de mim gritava para que eu fizesse alguma coisa que me impedisse de cometer uma besteira que magoasse o garoto. Eu não podia ser estupida, e acabar com minha própria "felicidade".

Eu não precisava mais lutar contra sentimento de dependencia contra o garoto. Meu maior defeito tomava conta de mim, fazendo eu me apegar a ele, como se meus pontos se ligassem aos seus com cordas. Porque tinha que ser tão rapido? Era apenas a forma mais rápida e clara de auto-destruição, pois depois quando ele fosse embora - feito o seu trabalho - eu acabaria a mingua. Ele não sabia, mas eu sim, que o que ele estava fazendo não era me salvando, e sim me fazendo afundar ainda mais.

Então, eu só tinha que continuar fazendo aquilo e matando minha curiosidade para saber o que faria nesses próximos dias que passariamos juntos.

– Venha comigo. - pedi, com a voz baixa.

– Como? - ele voltou a me encarar, suas sobrancelhas franzidas.

Eu não tinha visto carro nenhum aqui que pudesse dizer ser o dele. Era uma estrada quase que deserta aonde estávamos, uma raridade passar um carro ou outro. Só havia o meu parada ali, então como Edward tinha chegado aqui? Aliás, aonde Edward morava?

– Digo... Você mora em Forks, certo? E parece... Que você não está... De carro, então se quiser... Eu posso... Te dar uma carona? - ergui as duas sobrancelhas em duvida.

Edward, para minha surpresa, sorriu e concordou com a cabeça. Eu dei um pequeno sorriso para ele, torcendo para que consiguisse vê a gratidão em meu olhar só por ele não fazer como tantas outras pessoas e me abandonar. Com um movimento de cabeça, indiquei para que ele entrasse, a assim fizemos. Dentro do carro, eu liguei o aquecedor e tirei a jaqueta, mexendo no meu cabelo que estava umido por causa dos chuviscos. Pela minha visão periférica vi Edward passar as mãos rápidas nos cabelos, espirrando água para todos os lados. Ele me lançou um sorriso quando viu que eu o estava encarando, e eu desviei rápido meus olhos, me concentrando em ligar o carro. O barulho ensurdecedor da velha Chevy me trouxe dois sentimentos: fracasso e saudade. Fracasso por eu ter saido dela com o intuito de me matar e agora estar aqui, ligando-a. E saudade, por causa do carinho que eu tinha com o carro, mesmo sendo só isso, um carro. Eu tinha uma ligação com ele - talvez devido ao fato de já ter dormido algumas noites em sua carroceria.

Por exatos dez minutos achei que Edward não iria falar mais nada. O silêncio dele de alguma forma me incomodava, porque isso significava que ele estava pensando, e nesses pensamentos eu tinha medo de que ele pensasse em o que estava fazendo dentro do carro de uma suicida e porque tinha "salvado" ela. Eu tinha tanto, tanto medo que ele desistisse antes de eu lhe contar todo os meus motivos...

– Bella, quantos anos você tem? - ele perguntou, me tirando dos meus desvaneios assombrosos.

– Hm... - mordi o lábio inferior. - Dezoito.

– Ah. - ele fez e olhou pela janela.

Voltei a olhar para a frente e soltei sem querer um suspiro. Mais dez minutos em silêncio. Porque ele estava tão pensativo? Eu sabia que ele iria desistir. Eu sentia que ele faria isso comigo. Todos fazem.

– Você tem irmãos? - fez outra pergunta do nada novamente.

– Não. - dei de ombros. - E você, quantos anos tem? E tem irmãos? - eu tinha que dar continuidade a conversa.

– Dezoito também e não, eu não tenho.

Eu assenti com a cabeça. Parei em um farol que estava vermelho - já tinhamos entrado nas redondezas de Forks -, e vi a Sra. Newton passar pela atravessia de pedestres. Ela lançou um olhar feio na direção da minha caminhonete - sabendo que era eu - e eu tive vontade de acelerar o carro e passar por cima dela. Hoje ou eu morria, ou alguém morreria. Eu não tinha culpa que meu pai não quis ser o amante dela. Não mesmo. Eu tentei... Pelo menos um pouco, tentei. Qualquer pessoa era melhor do que a que estava lá na casa.

– É impressão minha ou aquela mulher te odeia? - Edward perguntou, olhando com uma careta para a Sra. Newton.

Dei de ombros e acelerei o carro quando o farol abriu.

– Aquela mulher odeia todo mundo de Forks por achar que devem gostar dela. Como alguém pode gostar de uma adultera? Ela nem tem vergonha na cara. - revirei os olhos. - Edward...

– Hm?

– Você não é daqui, é? Quero dizer... - olhei para ele por um segundo, depois voltei minha atenção para a estrada. - Todos sabem que é a Sra. Newton.

Não obtive resposta, e isso só me deixou ainda mais curiosa. Quando parei em outro farol, olhei para Edward para inquiri-lo agora com o olhar, mas me perdi quando ele deu de ombros e sorriu daquela forma que havia sorriso no penhasco.

– O farol abriu, Bella. - falou, me tirando do meu transe.

Acelerei o carro, tentando colocar meus pensamentos em ordem novamente. O que eu tinha perguntado para ele mesmo?

Depois de um tempo Edward falou que eu podia deixa-lo ali, que era perto de onde ele morava, mas eu insisti em leva-lo até a sua casa. Tivemos uma pequena discussão sobre isso, mas com os pontos certos, eu ganhei e ele me indicou onde morava.

– Você mora... Ali? - perguntei, com uma sobrancelha erguida.

Edward apenas sorriu na minha direção e depois virou para onde eu olhava. Eu não iria chamar aquilo de casa, e eu não acreditava muito que Edward morava ali, mas foi aonde ele tinha falado. Um trailer poderia ser considerado uma morada? Eu acho que não... Mas era aonde ele indicava! Um pequeno trailer largo, com uma pintura de desenhos como aquele rostinho amarelo sorrindo, ou um trevo de quatro folhas e várias outras coisas assim, bem do tipo hippie. Tinha uma pequena tenda na frente. As janelas estavam fechadas com cortinas, não dando para ver o que tinha lá dentro. Se era algo como uma casa normal.

– Não é ruim morar ali. - ele deu de ombros. - Então... - se virou para mim, sorrindo. - Nos vemos amanhã aonde?

Desviei meus olhos do trailer e olhei para Edward, que esperava minha resposta. Eu estava em uma luta interna se dava continuidade aquilo, ou se o enganava e ia para o penhasco - que por sorte não teria mais ninguém fumando - e poderia pular, seguindo as suas instruções de ser uma queda fatal.

– Vamos lá, Bella... - ele pediu, como se adivinhasse meus pensamentos.

– Sabe a praça que tem perto da entrada e saida de Forks? - soltei, sem parar para pensar dessa vez.

– Sei sim. - ele assentiu. - Então amanhã nos encontramos lá. Você vai para a escola?

Assenti, sentindo uma tristeza me abater ao lembrar daquele lugar.

– Então depois da escola você vai para lá para nos encontrarmos. - concluiu e eu apenas balancei a cabeça.

Esperei Edward sair do carro, mas ele não fez isso. Ficou apenas ali, me olhando, esperando algo que eu não sabia bem o que era. Mordi o lábio inferior e o fiz uma pergunta silenciosa levantando uma sobracelha, e Edward me surpreendeu quando se aproximou mais um pouco e pegou meu rosto em sua mão. Ele olhou nos meus olhos, e eu desviei rápido, não querendo ter contato visual com ele. Eu sabia que se ele pedisse algo, eu faria, pois não conseguia negar nada a ele sendo que parecia um anjo.

– Bella, olha para mim. - pediu em um murmurio, e eu neguei com a cabeça. - Eu só quero saber se você vai mesmo estar lá amanhã.

Esse era o motivo da minha negação. Porque eu não queria decepcionar Edward falando que estaria lá, sendo que assim que me afastasse dele, os malditos sentimentos ruins iriam voltar e eu poderia muito bem continuar o que tinha começado. Merda, eu tinha dado o primeiro passo depois de muito tempo apenas só pensando. Agora que vi que eu posso, como poderia confiar em mim mesma falando que não? Eu era uma mula levada pelos próprios sentimentos. Eram eles que me dominavam e me faziam de idiota, cometendo erros. Eu era contra promessas, pois não podia cumpri-las.

– Não me pede isso. - pedi também em um murmurio.

– Se eu não fizesse isso, estaria desistindo de você. E eu não quero fazer isso, Bella.

Assustada com o fervor e convicção das suas palavras, eu o encarei. O olhei nos olhos, procurando toda aquela certeza que ele tinha falado. E encontrei. Eu vi ali que ele estava mesmo falando sério, que não iria desistir de mim. Era como se estivesse respondendo minhas perguntas mudas, com respostas mudas. E tive uma imensa vontade de abraça-lo como fizera comigo no penhasco, mas me controlei, apenas assentindo com a cabeça.

– Eu vou estar lá, Edward. - falei, tentando colocar a mesma convicção nas minhas palavras como ele colocou nas deles.

Seu sorriso de contentamento foi tão grande que me contagiou. E mais uma vez ele me surpreendeu ao me dar um beijo na testa, passando mais tempo com seus lábios ali do que era permitido ou certo aos meus conceitos sobre não me deixar ser amarrada com as cordas. Eu fechei os olhos, apreciando a textura dos seus lábios quentes na minha pele. Aquilo era tão novo para mim que eu fui dominada por várias emoções que me surpreendeu. Era inédito eu sentir o carinho que emanava com aquele gesto.

Então era assim que elas se sentiam? Digo, as mocinhas dos livros?

Cedo demais Edward se afastou, e eu me segurei para não soltar um barulho de descontentamento. Ele estava sorrindo novamente.

– Até amanhã, Bella. - falou e saiu do carro, correndo pela chuva até chegar no trailer.

Eu continuei naquela mesma posição, procurando entender o que foi aquele sentimento acolhedor que havia sentido. Eu era uma boba por ficar daquela forma, mas é como se apaixonar pela primeira vez. Eu estava sendo bem cuidada, e aquilo era novo para mim. Não sabia como aproveitar...

Olhei para Edward atraves da distancia, e vi que ele me olhava confuso, até parecia incerto se voltava ou não para saber o que eu ainda estava fazendo parada ali. E sem querer pagar algum mico por ficar toda boba ali, eu liguei a caminhonete novamente e acelerei, saindo daquelas redondezas. Do meu novo cliclo de paz.


Sair dos prédios da escola e entrar no conforto do meu carro era a mesma sensação que um escravo sentiria ao fim do dia de trabalho. Não era exagero meu, e me desculpe, era apenas a forma de dizer como era estar longe de todosaqueles lugares. Meu carro era apenas um dos poucos lugares em que eu me sentia bem, aonde eu não precisava falar com ninguém, ou fazer alguma coisa. Podia ficar presa no meu próprio silencio, olhando para algum lugar e pensando na minha merda de vida.

Depois que saí do estacionamento, eu segui para a praça que tinha falado para Edward. Eu tentava de todas as formas acalmar minha respiração e desacelerar meu coração. Droga, essa era uma reações mais idiotas que eu poderia ter, mas tão dificil - talvez até impossivel - de se controlar. Eu até já deveria ter pegado prática em fazer isso, porque desde ontem eu não paro repetir o meu dia turbulado que foi. E a cada vez que o rosto de Edward aparece, principalmente quando ele sorri. Eu conseguia lembrar cada detalhe que tinha reparado nele, desde os riscos dourados ás pontinhas afiadas dos dentes dele. E isso era uma loucura!

Durante todo o trajeto inteiro eu fui me controlando, pensando que todo aquele nervosismo era apenas com a idéia de... Voltar para casa mais tarde. Era apenas isso. Afinal, além da tristeza que me consumia, eu também ficava nervosa de pisar naquele lugar mais uma vez do meu dia; assim que avistei a praça, eu estacionei o carro em um canto da rua e colocando o capuz na cabeça por causa dos chuviscos, eu caminhei até lá. A praça não era grande, e eu só precisei entrar mais um pouco pelos caminhos que logo encontrei Edward parado perto de uma árvore. Ele estava fumando um cigarro e de cabeça baixa, olhando para os próprios pés. Eu apenas o reconheci por causa do cabelo ruivo e pela altura. Como aquele garoto era alto perto de mim com meus 1,63. Ele tinha quantos? 1,90?

Eu me aproximei devagar, começando a sentir minhas mãos suarem frio e meu coração bater ruidosamente - até nos meus ouvidos, como tinha acontecido no penhasco. Assim que cheguei perto o suficiente de um braço, Edward pareceu perceber minha aproximação, porque levantou a cabeça. Seus olhos se arregalaram um pouco ao olhar para mim, e então ele deu um sorriso largo e empolgado, e um ato de pura surpresa para mim, ele me puxou para um abraço apertado - como parecia que eram os seus abraços. Tão próxima dele, eu pude ouvir seu coração batendo acelerado no peito, que era aonde meu ouvido estava encostado. Sem pensar, levai uma das minhas mãos ali e toquei, sentindo sua pele quente, mesmo sob a roupa, e o descompasso.

– Porque isso? - perguntei.

– Eu fiquei preocupado. - ele me afastou um pouco. - Sabe como foi tentar dormir pensando em você? Quase que impossivel!

Suas palavras e seu olhos mirados diretamente nos meus fez minhas pernas amolecerem, e eu até pensei que iria vacilar e cair ali no chão. Ele não precisava dizer aquilo, sinceramente. Eu já estava paranoica o suficiente com meus pensamentos para ter que ficar repetindo isso ainda mais quando eu fosse dormir. Deus, eu precisava dormir!

Edward me abraçou novamente e mesmo absorta por causa do seu cheiro, do seu calor e das suas palavras, eu pude sentir meus braços e costas protestarem por causa do aperto. Dessa vez, eu não tinha nada que me deixasse impressionada - como seu coração batendo descontroladamente, como o meu. O pequeno gemido que saiu dos meus lábios fora sem querer, pois eu tentei segura-lo. Na mesma hora, Edward me afastou de si.

– O que foi? - perguntou. - Eu... Te machuquei?

Abaixei a cabeça e neguei, já sentindo a ardência nos olhos. Eu nem sequer havia começado a contar e já estava querendo me derramar em lágrimas. Realmente eu era uma idiota chorona como ela falava. Não tinha porque negar. Edward percebendo a minha mudança de humor, me puxou pelo mão para sentar em um banco ali perto. Eu permaneci de cabeça baixa, me controlando para não derramar nenhuma das lágrimas que estavam por vir. Tinha que me mostrar forte, afinal, eu aceitei a proposta dele, e tinha que mostrar para ele que não era nenhuma bonequinha quebrável.

– Eu ainda não sei como você vai fazer as coisas mudarem, Edward. - murmurei, finalmente o encarando. - Eu nem sei porque deixei isso... Continuar.

Ele pegou minhas mãos com as dele, apertando.

– Bella, eu só preciso que você acredite em mim. - ele pediu. - Eu prometo que vou mostrar para você que não só coisas ruins que podem acontecer na sua vida. Que você pode ter felicidade também.

– Eu duvido muito. - soltei uma risada seca, ironica. - Parece que eu fui destinada a ter tristeza eterna e azar completo, pois tudo na minha vida é ruim.

– Não fale uma coisa dessas. - o tom de sua voz era desesperador, assim como seus olhos, mas ele ainda permanecia calmo. - Todos nós temos dias de chuva e de sol, Bella. E nossa vidas, nós que escolhemos qual vai ser. Você só... Desistiu cedo demais.

– Fui obrigada. - falei rápido. - Acha que se eu pudesse, teria escolhido... - olhei para ele e mordi o lábio inferior. Eu tinha começado, eu tinha falado sim a sua proposta, e agora era hora de ter coragem de colocar isso tudo para ir para frente. - Eu não teria escolhido o meu pai. - terminei.

– Seu pai? - me olhou confuso.

Apenas assenti com a cabeça. Ele não perguntou mais nada, e eu também não consegui começar a explicar o porque de eu ter falado aquilo. Foram longos minutos, até eu sentir que ele me esperava, e que eu deveria tomar a atitude.

– Eu não queria que as coisas fossem assim, Edward. Que a pessoa que deveria me amar, tem um... Ódio. Que sente repulsa apenas em olhar para mim. E o que eu menos queria era... Desgraçar a sua vida.

– Você...

– Me deixa terminar. - o cortei rápido. Se eu deixasse Edward fazer perguntas, eu poderia não responde-las certas e acabar por fazer ele achar a coisa ruim que eu sou, pois cada um sabe como contar sua história, sendo ela verdadeira ou não. - Minha mãe, Renée, teve que... Morrer para mim nascer. Você sabe, como nos filmes de crianças orfãs, em que as mães fazem tudo pelos seus monstrinhos. - o olhei de canto de olho, vendo-o me olhar sem expressão nenhuma. - Desde então, Charlie sente um ódio por mim. E eu o entendo, porque eu tirei a vida da mulher que ele mais amava em toda a sua vida. Eles tiveram que passar por tantas coisas para ficarem juntos e só precisou de nove meses para a vida dela ser sugada e no final ser totalmente tirada, apenas para dar vida a... Mim.

– Não fale de você como se fosse uma monstrinha, Bella.

– Cala a boca. - mandei, balançando a cabeça, sentindo meu coração vacilar apenas por ele discordar do mundo. E também porque eu tinha que terminar aquilo logo antes de me entregar. - Acho que desde quando eles descobriram que a gravidez de Renée era de risco, que Charlie me odiava. E quando ela morreu, isso só ficou ainda mais intenso. Charlie parece não suportar... Sequer olhar para mim. E eu o entendo, porque... Nem eu mesmo consigo. Renée era a pessoa mais bondosa e carinhosa que poderia existir. E é uma pena que ela tenha morrido. E que eu tenha nascido. Bem... É isso que ele e a cidade inteira pensa ao me ver. Você viu a expressão da Sra. Newton. Apesar dela querer ter um caso com Charlie, ela me odeia também por perder sua amiga Renée. - dei de ombros e fiquei em silêncio, assim como Edward. Passou alguns minutos, e não aconteceu nada.

Estava impressionada como eu consegui falar o ódio que meu pai tem a mim sem deixar cair uma lágrima sequer ou da morte da minha mãe. Aquilo não importava realmente para mim, porque querendo ou não eu não poderia mudar seus sentimentos e muito menos trazer minha mãe de volta. Então, só me restava me acostumar com isso. Eu tenho dezoito anos, é um bom tempo para entender que nunca vou ter uma amor paterno e materno.

– Esse é o primeiro motivo. - Edward falou, me olhando.

– Yep. - assenti. - É um motivo. - uma parte do primeiro motivo, completei mentalmente.

Novamente ficamos em silêncio até Edward me assustar quando levantou rápido. Ele tinha um sorriso no rosto - aquele feliz - e estendia a mão para mim. Sem pensar, eu peguei sua mão, sentindo ela quente junto da minha fria. Edward perguntou aonde estava meu carro e nós seguimos para lá de mãos dadas, então ele pediu que eu dirigisse até Port Angeles. Eu pensei um pouco e lhe entreguei a chave do carro, falando que precisava pensar. E Edward aceitou. Eu sentei no banco do carona, encostando minha cabeça na janela.

Eu me sentia estranha com o fato de que eu tinha "dividido" uma pequena parte da minha vida com, praticamente, um completo desconhecido, pois eu não sabia nada de Edward. Eu nunca nem o tinha visto em Forks. E a razão de eu me sentir estranha era que eu não me sentia estranha com isso. Era como se eu confiasse nele, o que não podia acontecer tão facilmente. Afinal, como eu podia acreditar em um desconhecido que falava que tinha medo de me perder? Ele era um desconhecido! Nunca tinha me visto na vida - pelo menos acho que não, porque eu não o vi. Isso é meio dificil de acreditar... Mas mesmo assim eu acreditava. O meu lado bobo e sentimental acreditava. Aquele que me fazia quebrar a cara.

Durante o trajeto inteiro Edward não falou nada, e eu também não fiz questão. Fiquei pensando com os meus botões, e repassando diversas vezes a mesma cena: do Edward me abraçando na praça. Queria saber se ele sempre me receberia assim, com abraços. Seria tão... Perfeito. Era tão romantico, como um livro com mocinhas e mocinhos. Eu as invejava, por sempre terem esse carinho do seu amor eterno. A forma como falavam sobre o que sentiam, o carinho, a proteção que eles passavam para ela...

Fui tirada dos meus devaneios quando Edward entrou em uma rua que começava a se afastar da cidade. Me virei para ele, o questionando com o olhar para onde estávamos indo. Eu já estava curiosa quando ele falou para mim dirigir até Port Angeles, e agora que ele estava saindo da cidade, eu tinha ficado ainda mais.

– Achei que estava dormindo. - falou, dando um sorriso torto para mim, mas logo voltou a olhar para a frente.

– Aonde vamos?

– Ao orfanato que tem aqui. - ele deu de ombros. - Você vai gostar de lá.

– Um orfanato? - repeti baixinho para mim mesma. - O que vamos fazer lá? - foi mais alto essa pergunta.

– Só quero que você conheça alguém, Bella.

Sentindo um novo tipo de nervosismo - daquele misturado com a ansiedade - eu voltei a ficar no meu cantinho, encostada perto da porta. Depois de alguns minutos naquela estrada, entramos em uma rua de cascata, e então eu vi um prédio largo de dois andares. A pintura era de um branco desbotado, e o teto de telas avermelhadas. Cheio de janelas, algumas abertas mostrando suas cortinas rosas ou azuis, que balançavam com o vento forte que rondava por ali. Aquele lugar praticamente gritava que era mesmo um orfanato, a única coisa questionável era porque ele ser afastado da cidade. Eu nunca tinha ido em um algum dia da minha vida - e até hoje estou impressionada com isso, porque pelos sentimentos de Charlie direcionados a mim seria uma coisa normal e aceitável eu estar em algum, ou em outra familia. Então, eu não entendia porque do isolamento.

Edward passou por um portões grandes de ferro e parou o carro perto da entrada de portas duplas, grandes e de madeira. Eu fiquei encarando aquele prédio, sentindo uma melancolia irradiar dele. Quantas crianças moravam ali, a espera de alguém de coração bondoso pudesse adota-las? Qual seria a menos de todas? E a maior? Deus, isso era tão... Triste.

– Vamos? - Edward abriu a porta para mim e me estendeu a mão.

Eu olhei mais uma vez para o grande prédio e assenti para ele, aceitando sua mão. Nós andamos rápido na direção a porta, que Edward deu batidas rápidas. Ouvi vozes vindas lá de dentro, e isso só fez o meu nervosismo aumentar ainda mais. Meu coração parecia querer sair correndo dali e voltar para o carro. O suor frio nas minhas mãos me dedurou para Edward, que me deu um sorriso reconfortante e apertou minha mão com a dele.

Ouvi quando alguém destrancou a porta, o que tirou minha atenção de Edward, fazendo eu sair do transe que tinha entrado. Olhei para a frente na mesma hora em que a porta foi aberta, revelando uma garotinha pequena nela. A garota primeiro olhou para mim, seus olhos e sua expressão transmitindo confusão. Eles eram azuis. Mas muito azuis mesmo. E avaliadores. O que me fez encolher ao lado do Edward, e isso chamou sua atenção para ele. E então, sua expressão de confusão passou em um passo para felicidade.

– Edward! - ela exclamou, animada.

– Oi, Alice. - ele deu aquele sorriso de canto, e meus olhos correram rápidos para ela, para ver se ela também perdia o folego como eu perdia. Mas... Não teve mudança nenhuma.

Será que era só comigo que ele lançava aquele... Poder?

– Er... - ela olhou dele para mim. - Entrem!

Edward apertou minha mão com a dele e me puxou para dentro, me fazendo segui-lo. Eu ainda me sentia desconcertada com aquela garota pequena me olhando, o que me fez apertar ainda mais a mão de Edward e ficar atrás dele.

– Hey, galera! - ele falou animado e eu ouvi depois vários vozinhas finas falando ao mesmo tempo.

E então, fomos rodeados por várias crianças, com cinco, seis, sete, oito, nove e até dez anos. Eles pulavam ao redor do Edward, todas querendo a sua atenção, algumas nem percebendo a minha presença ali. As que perceberam, me olharam curiosas assim como a Alice tinha feito.

– Tio Ed! Tio Ed! - era o que elas falavam para chamar a sua atenção, e era engraçado que ele tentava dar a elas o que queriam.

Eu não sei como, mas Edward conseguia entender elas e respondia, deixando tudo ainda mais confuso. Eu estava meio perdida, porque as menores que tentavam puxar a roupa dele por trás, acabavsm puxando a minha. Mãozinhas pequenas que raspavam na minha pele algumas vezes, fazendo cócegas, o que me fez rir. Eu olhei para a parede que estava ao nosso lado, e Alice estava encostada ali, com os braços cruzados e sorrindo. Ela olhou para mim na mesma hora também, seu sorriso aumentando, e foi impossivel não sorrir para ela também. Voltei minha atenção para as crianças, vendo que aos poucos elas iam parando, porque percebiam que não puxavam Edward, e sim a mim. Teve uma garotinha de cabelos loiros que me olhava de olhos arregalados, como se eu fosse alguma anomalia, e isso só me fez rir ainda mais, e mais alto. Isso só fez todas pararem de uma vez, e me olharem, em silêncio.

– Sério mesmo que vocês só pararam por causa da Bella? - Edward perguntou, divertido.

– Quem é ela? - a garotinha de cabelos loiros perguntou.

– Galera do barulho, essa é Bella - Edward me puxou para ficar ao lado dele, seu braço em volta da minha cintura. - minha nova amiga.

– Uau, ela é bonita. - um garotinho falou, fazendo Edward e Alice rirem. Eu me senti desconfortável.

– Deixa de ser abusado, Max. - Alice deu um tapa de leve na cabeça dele.

– Bella vai ser nossa amiga também? - outra garotinha perguntou.

Eu olhei de Alice para Edward, e esse assentiu, me incentivando a falar algo. Voltei meu olhar para as criancinhas e todas elas me encaravam em expectativa. Eu pigarreei e sorri.

– É claro que sim. - falei, olhando para cada um dali. - A não ser que vocês não queir...

Edward me deu uma cutuvelada e eu reprimi uma careta de dor. Foi de leve, mas o lugar que ele fez estava sensível. O encarei e Edward negou com a cabeça, me repreendendo pelas minhas ultimas palavras. Mas o que eu podia fazer se eu nunca tive amigos?

– Deixa de besteira, menina. - a maior garotinha que tinha ali disse, vindo até mim e pegando a minha mão. - Nós todos somos amigos!

– É. - vários concordaram.

– Vem cá, vamos continuar ouvindo tia Alice contar história. - ela me puxou para o grande tapete que tinha ali.

Sem estar assustada com todas aquelas crianças e suas euforias por ver Edward, eu pude olhar melhor para o lugar. Estávamos em uma sala que tinha em um canto uma lareira - que estava acesa - cheia por porta-retratos em cima, com várias crianças, algumas ainda bebês, outras maiores, e também uma com umas senhoras vestidas de freira. Tinha dois sofás no meio da sala e uma poltrona, virados de frente para a lareira. No canto norte tinha uma pequena TV antiga, que estava desligada. Estava em cima de uma comoda com algumas artes decorativas, e mais fotos. No outro canto estava apenas uma parede, coberta por mais fotos ainda. Atrás de mim tinha um corredor cheio de portas. Era como uma casa confortável. Não tinha a mesma melancolia que passava pelo lado de fora. Era quente ali - não por causa da lareira, eu digo um tipo de calor que aquece a alma. Era... Bom.

Passar o final da tarde com aquelas crianças fora melhor do que eu poderia imaginar. Elas me fizeram ouvir a história que Alice contou, me fizeram brincar de pegar e de se esconder também. Eu me senti como se tivesse tido infancia, como se eu pudesse ser uma criança. Quando Edward e eu nos escondemos no banheiro do andar de cima, ele me disse que conheceu Alice em um parque e que ela o trouxe aqui para conhecer as crianças. Depois disso nos acharam e foi a vez de Edward procurar.

Mais tarde Alice falou que ia fazer cookies e eu me voluntariei para ajuda-la, porque cozinhar era umas das coisas que eu mais gostava de fazer. A baixinha assentiu e me guiou até a cozinha, que era enorme.

– Você que cozinha para todos? - perguntei, olhando para as enormes panelas de aço.

– Não... - ela riu. - Tem as irmãs que cuidam deles. É que hoje elas sairam para a missa e eu fiquei para cuidar... - deu de ombros. - Sabe, ser a mais velha...

Eu assenti com a cabeça apenas por educação, porque eu realmente não sabia de nada. Eu sempre tive medo de orfanatos, por causa que eu tinha o receio de Charlie me mandar para um, então evitava saber qualquer coisa sobre o lugar, tendo-o na minha mente apenas os filmes que assistia. Alice pegou os ingredientes e nós começamos a fazer os cookies, conversando sobre livros - uma paixão que tinhamos em comum. Quando os colocamos no forno, Alice e eu nos sentamos na mesa de madeira que tinha ali e continuamos conversando, até ela começar a fazer perguntas.

– E você e Edward se conheceram aonde?

– Hm... - olhei para a mesa, cutucando uma lasquinha de madeira que estava solta. - Edward me ajudou a... Não fazer uma besteira. - dei de ombros. - Quantos anos você tem, Alice? - mudei de assunto rápido.

– Dezessete. - ela sorriu.

– E você é a mais velha?

– Uhum. - balançou a cabeça. - Sou a que está aqui mais tempo. Desde... Bebê.

Arregalei os olhos com a sua constatação. Eu imaginava mil coisas que podiam ter acontecido para Alice está aqui a tanto tempo, mas nenhuma parecia se encaixar ao olhar para ela. E eu não queria perguntar qual era o motivo, porque aquilo não seria nem um pouco educado da minha parte, já que com certeza era uma assunto delicado de se tocar. Então, eu abaixei meu rosto, sem saber o que pudesse falar.

– Tia Alice... - uma garotinha entrou na cozinha.

Ela era pequenininha, muito magrinha e branquinha. Tão ou mais que eu. Dava para ver até as veias de seu pescoço e tempora. Ela tinha os cabelos loiros claros como areia, e seus olhos eram de um verde profundo, mas tão... Tristes. Ela segurava um ursinho em um braço, e olhava para Alice, nem vacilando o olhar para mim.

– O que foi, meu amor? - Alice levantou e foi até ela, a pegando facilmente no colo.

Essa criança não parecia ter mais que seis anos, mas era tão pequena e frágil que podia considerar ter menos.

– Eu estou com... Sono... - murmurou com a voz chorosa, enfiando a cabeça no pescoço de Alice.

Alice pediu licença para mim falando que ia colocar a Selly para dormir e saiu, me deixando sozinha naquela cozinha. Eu ainda estava olhando para o lugar que elas tinham saido, com a imagem da garotinha na minha mente. Eu tinha visto algo nela que fez uma pequena dor se formar no meu coração, o apertando. Grandes e grossas lágrimas rolaram pelo meu rosto, que eu limpei com as minhas mãos tremulas. Ela tinha trazido lembranças dolorosas, com aquele jeitinho dela tão... Frágil.

– Bella? - a voz de Edward soou no corredor.

Eu limpei rápido os vestigios de lágrimas e torci para que não mostrasse tanto que eu tinha chorado. Edward apareceu na porta da cozinha, estreitando os olhos para mim quando me viu, e eu apenas sorri.

– Estou esperando Alice voltar. - falei, chamando ele para se sentar ao meu lado. - Ela foi colocar Selly para dormir.

Ele sorriu com a menção do nome, e veio se sentar ao meu lado, me abraçando pelos ombros. Eu me aconcheguei ao seu lado, aproveitando do carinho enquanto podia, pois logo esse trato iria acabar e eu não teria mais Edward comigo.

– Como você está se sentindo? - perguntou.

– Bem. - falei verdadeiramente, porque esse ultimo momento não contava. Contava a grande e alegre tarde que eu tinha passado. - Essas crianças são... Adoráveis.

– Yeah, elas não são monstrinhos. - ele riu e eu o acompanhei.

– Hmmm, isso está cheirando muito bom. - Alice entrou na cozinha, sorrindo. - Não está, Edward?

– Está mesmo. - ele puxou o ar. - Não foi você quem fez, Alice.

– Hey! - ela bateu o pé. - Claro que sim. - ele ergueu uma sobrancelha e eu prendi uma risada. - Ok, ok, foi a Bella quem fez, mas os meus também são bons, hum. Ou então você não comeria tantos, seu guloso.

Com essa eu tive que gargalhar, sendo acompanhada pela baixinha. Ela se sentou na nossa frente e pegou a mão de Edward, que estava com uma expressão falsa de surpreso por causa das palavras dela.

– Selly já dormiu? - ele perguntou.

– Uhum. - o sorriso de Alice sumiu quando ela assentiu.

– Er... - eu pigarreei, chamando a atenção dos dois para mim. - Eu... Porque eu não vi a Selly na sala?

– Não? - Edward ergueu uma sobrancelha. - Bella, ela estava lá...

– Estava? - arregalei os olhos. - Mas... Eu vi todas as crianças, brinquei com todas, menos... Com ela.

– Selly não gosta de ficar próximo as pessoas. - Alice explicou, lançando um olhar para Edward. - Ela estava no cantinho.

Eu assenti, tentando lembrar de ter visto a garotinha branquinha em algum canto, mas eu não vi. E isso só me fez ficar ainda mais triste por ela, porque eu sabia bem como era se sentir invisivel. Ser invisivel.

– Acho que os biscoitos estão prontos. - murmurei, levantando e seguindo para o forno.

Ignorei o olhar questionativo de Edward, que pareceu ter percebido minha mudança de humor, e também o olhar de Alice. Eu peguei as luvas que estavam ali perto e me abaixei para tirar a forma do forno, e foi quando eu ouvi ofegares e uma arrastar de cadeira. Me virei rápido para trás, dando com Edward parado na minha frente.

– O-o que foi? - gaguejei, assustada com o seu olhar.

– Vem comigo. - disse rude e começou a me puxar pelo braço. - Alice!

– Estou indo.

Sem entender nada, eu deixei que ele me guiasse até uma porta do extenso corredor que estávamos. Ele me empurrou para dentro e fechou a porta com força, me olhando de uma forma tão estranha que me fez da um passo para trás.

– Tira a roupa. - mandou.

– O que?! - arregalei ainda mais os olhos.

– Tira a roupa, Bella! - rugiu, dando um passo para se aproximar, e eu dei outro para trás. - Tira agora essa blusa!

Merda! Merda! Merda!

– Não! - bati o pé. - Eu não vou tirar a roupa, Edward.

– Tira ou eu mesmo faço isso. - ele estava com raiva, muita raiva. - VAMOS!

Seu grito me assustou, e sem saída, eu comecei a tirar a blusa de frio. Não olhei para ele quando tirei completamente a blusa, e ouvi o seu ofegar ao olhar para meus braços. Eu parei por ali, mas ele soltou um rosnado e eu tive que tirar a camiseta que usava. E logo depois, a calça, ficando pela primeira vez em toda minha vida, apenas de roupa intima na frente de um homem.

– O que foi isso? - ele falou pousadamente, mantendo distancia de mim, como se fosse fazer algo ao chegar perto.

– Nada. - murmurei, olhando para meus pés.

– Como nada?! - aumentou seu tom de voz, me fazendo dar um pulo. - Me diga o que são esses hematomas,Isabella.

Eu mordi meu lábio inferior com força, tentando prender o choro compulsivo que ameçava romper. Já não conseguia segurar as lágrimas que caiam piedosamente, e só aquilo era vergonhoso demais. Bastava eu estar semi-nua e chorando silenciosamente. Eu neguei rápido com a cabeça, não querendo responder. Na mesma hora, a porta foi aberta, eu levantei minha cabeçe e vi que Alice entrou. Ela olhou para Edward, arregalando os olhos ao ver o que via: um desespero, uma ira, um ódio transbordando do seu olhar. E quando olhou para mim, seus olhos se encheram de lágrimas, que cairam. Isso só me fez chorar mais, mas ainda silenciosamente.

– O que você fez, Bella? - ele tornou a perguntar.

Eu não podia falar, pois eu não sabia o que Edward iria fazer ou falar. Estava me sentindo perdida com aquelas perguntar opressoras que me apertavam como se fossem as paredes me prendendo. Eu queria gritar, explodir e contar tudo, mas eu não podia. Eu não podia.

– Eu cai. - menti, mesmo sabendo que isso não pegaria.

– Caiu ou se jogou? - perguntou debochado. - Porque estou pensando em que tipo de queda poderia ser para deixar marcar pelo corpo inteiro.

Abaixei meu olhar novamente, olhando para meu torso marcado por grandes e escurar manchas roxas. Eu poderia me chamar de Barney, porque tinha mais roxo que branco. Minhas coxas tinham marcas esticadass e finas, mudando as posições. Minha barriga estava cobertas por redondas anomalias ou as finas e retangulares, todas mistudas. Meus braços estavam iguais...

– Edward... - Alice chamou em um sussurro. - Isso não são marcas de alguém que se jogou em algum lugar.

– Como não? - ele se virou para ela. - O que poderia fazer tudo isso?

Selly. - ela falou e Edward arregalou os olhos.

Sem entender, encarei os dois, e vi agora nos olhos de Edward uma dor, como se ele estivesse sendo queimado por dentro, porque era agoniante olhar para ele.

– Bella... - disse, se aproximando de mim. - Bella, quem fez isso?

Ele. - sussurrei, não aguentando mais prender.

Edward arregalou os olhos com minha resposta, e tão lentamente, como se estivesse com medo de me machucar ainda mais, ele tocou os enormes hamatomas que haviam no meus braços. Eu me segurei para não retrair ao seu toque, com medo de assusta-lo. Era estranho a senseção de ter sua pele junto da minha. Quando ele me abraçava, apesar de eu sentir alguma coisa estranha, quando ele tocava meu rosto aquilo parecia ser multiplicado. Ele seguiu um caminho, tocando lentamente cada marca azulada - as mais fortes - e roxeadas que havia na minha pele branca e pálida. Era como se estivesse ligando pontos, caminhando com os dedos sob ali. E eu só conseguia olhar, sem saber o que fazer ou expressar.

Foram exatos três minutos - que pareceram mais longos do que realmente são - até Edward levantar o olhar para mim. Eu vi uma dor instaladas neles, como se ele soubesse exatamente o que eu havia passado ou o que eu poderia ter sentido a cada marca que eu sofria. E aquele olhar só fez a vontade grande de chorar voltar, e dessa vez eu não consegui controlar antes que acontecesse uma tormenta dentro de mim. Eu me agarrei a ele, apertando sua camiseta em meus dedos para me manter em pé, e chorei alto.

Edward me abraçou de forma apertada, mas que não fizesse os machucados protestarem. Ele encostou o rosto nos meus cabeços, e falou coisas reconfortadoras. Elas não faziam efeito algum para me acalmar, mas eram boas de se ouvir. Cada vez mais eu me agarrava a ele, tentando parar de chorar, mas eu já não tinha mais controle de mim.

Eu realmente não sei quanto tempo ficamos ali, mas teve uma hora em que eu me sentia mole, e Edward me deitou em uma das duas camas que haviam ali. Não soltei minhas mãos de sua blusa, e ele teve que se deitar comigo, até eu dormir de cansaço - tanto emocional quanto fisico.


Eu me espreguicei na cama, sentindo meu corpo inteiro protestar com o movimento, e gemi. Era agora que a dor iria vir, eu sabia. Abri lentamente meus olhos, passando a mão neles, e foi quando eu vi duas grandes bolas de gude verdes tristonhas, me encarando. Assustada, eu me afastei para trás, mas vi que era apenas a Selly, a garotinha pequena que tinha aparecido na cozinha. Ela estava deitada na minha frente, segurando o ursinho marrom nos braços.

– Eu sei que dói. - ela murmurou.

– O... Que? - perguntei, confusa, ainda com o nevoeiro do sono pairando na mente.

Sua mãozinha pequena se aproximou da minha cintura, e ela tocou um hematoma que havia ali que a blusa não cobria. Alguém tinha vestido as minhas roupas novamente. Olhei para ela, que me encarava também, com um sorrisinho triste. E por impulso, a abracei, entendo as suas palavras. Doeu no meu coração ao saber que aquela menininha tão frágil sofreu agressões. Ela era tão pequenina, magrinha e branquinha, sua pele parecia estar cobrindo vidro ao inves de ossos. Senti sua respiração quente bater na minha clavicula, fazendo aquele barulhinho que criança faz. Eu a apertei em meus braços, encostando meu rosto em seus cabelos.

– Me desculpa. - murmurei. - Me desculpa pelo que você teve que passar.

– Você não tem culpa, Bella. - murmurou, se afastando um pouco. - É só... O que veio para nós.

Eu soltei um gemido, porque eu tinha medo do que estava por vir para essa garotinha. Ela havia começado como eu, sofrendo agressões, e eu tinha medo do que ela poderia passar quando ficasse mais velha. Que fosse diferente para ela, por favor.

– Mas eu não fico triste... - ela pegou meu rosto com suas mãozinhas pequenas. - Eu sei que meu papai e minha mamãe me amavam.

Como ela podia achar isso? Deus, eles batiam nela, como podia achar que a amavam? Isso não podia ser considerado amor, podia?

– Eu... Porque acha isso? - perguntei.

– Bella, apesar disso, eles eram meus papais. E eles me mandaram pra cá para ficar longe deles, e isso é uma prova de amor. Eles me mandaram para longe para que eu não precisasse mais apanhar. E seus papais também te amam...

– Não, ele não ama. - neguei. - Ele me odeia porque eu matei o amor da vida dele.

– Não diga uma coisa dessas. Ele te ama, ou então já teria se livrado de você.

– Ele prometeu para ela que cuidaria de mim.

– Bella, ele não faria isso se te odiasse. Acredite em mim, ele te ama, só não vê isso. E sobre isso... - ela apontou para os hematomas nos braços. - Um dia vai acabar. Não pode ser para sempre... Você só precisa enfrentar ele.

Eu assenti, sentindo que o que ela falava podia ter razão. Charlie não ficaria com um encosto só porque prometeu a Renée, sendo que ela não veria se ele tinha ou não ficado comigo. Ele tinha só raiva de mim. Uma raiva muito, muitogrande, que o impedia de olhar na minha direção. Era apenas isso...

– Não chora, Bella. - ela limpou as lágrimas que descia. - Ainda dói?

– Não. - neguei rapido. - É só que você me deu um pouco de esperança, Selly.

A pequena garotinha sorriu e passou a mãozinha no meu rosto, como um carinho. Eu aconcheguei meu rosto ali, sentindo o calor da sua palma aquecer minha bochecha. Depois disso, Edward entrou no quarto e sorriu para nós duas, antes de me chamar falando que estava ficando tarde - passava das dez - e o caminho era demorado. Eu me despedi da pequena Selly e sai do seu quarto, que ela dividia com Alice e mais duas garotinhas. Edward, assim que eu fechei a porta, me puxou para um abraço - ainda sendo cuidadoso perante aos meus machucados. Eu retribui dessa vez sem exitar, porque o que Selly tinha me falado fez algo dentro de mim mudar, acreditar que as pessoas podiam gostar de mim pelo menos uma vez, e não me achar uma assassina ou anormal.

Me despedi da Alice - que me surpreendeu ao me abraçar - e das crianças, que estavam todas vestidas de pijamas, prontas para dormirem. Eu fiz Edward dirigir novamente, querendo poder pensar em como meu dia tinha sido... Adorável. Ter aquelas crianças me tratando como se eu fosse uma, como se eu fizesse parte daquilo, fora bom. E mesmo tendo sido triste, eu também me sentia bem agora que Edward sabia mais uma parte de mim. E eu tinha gostado de Selly, ela me deu um fio de esperança que estava quase apagado. Ela fez eu acreditar que as coisas podiam ficarem boas. De que eu poderia acabar com as agressões. Edward tinha feito aqueles sentimentos ruim sumirem, e eu também tinha esperanças que aqueles sete passos que passariamos juntos pudessem mesmo me transformar em outra pessoa, menos depressiva.

Olhei para fora da janela, e vi que a estrada tinha uma pequena neblina branca, que eu sabia bem o que era. Me encolhi na minha blusa, a apertando em volta do corpo e soltei um pequeno gemido de desgosto. Edward virou rápido na minha direção, e eu neguei com a cabeça por causa da preocupação que saia de seus olhos.

– Odeio neve. - falei olhando para a frente junto com ele. - E vai nevar amanhã...

– Eu gosto de neve. - ele sorriu de canto. - É legal.

– É molhada e deslizante, isso sim. - coloquei a lingua para fora, fazendo ele gargalhar. Eu o acompanhei. - Ela é minha maior inimiga. E também tem o frio horrivel que faz. Odeio isso. Olha só, nem começou e já está frio. - apertei meus braços em volta de mim.

Edward olhou para mim por um segundo, e com um sorriso, ele me puxou para perto dele, me envolvendo com um braço enquanto com o outro dirigia. Eu encolhi minhas pernas no banco, ficando ainda mais perto dele e aproveitando o calor que o corpo dele emanava. Era estranha toda essa coisa que eu sentia perto dele, um conforto que nunca havia sentido com ninguém. E a forma que eu conseguia me aproximar dele sem medo de que ele possa fazer alguma coisa era ainda pior, porque eu ficava reclusa perante as pessoas. Mas com ele era completamente diferente, totalmente o contrário. Eu queria ficar mais e mais perto de Edward, passar mais e mais tempo com ele.

Unica e amedrontadamente estranho.

Edward dirigiu até o... Que ele chamava de casa, e lá se despediu de mim novamente com um abraço reconfortante e um beijo demorado na testa, falando que nos reencontrariamos amanhã no mesmo lugar e na mesma hora. Foi triste ve-lo se afastar, vê que teria que ficar longe da minha primeira, nova e única fonte de calor. Querendo espantar essa tristeza de mim, eu fui pensando nas crianças do orfanato, e ainda mais na Selly com suas palavras doces. Assim que cheguei em casa - ou mansão - estacionei a velha Chevy perto do carro de Charlie. Com um suspiro depois de ver que ia dar meia-noite, eu sai levando minha mochila comigo, e entrei dentro de casa. Estava silenciosa, como se não houvesse nenhuma alma viva ali. Tremi de leve com aquele silencio mórbido, e segui para a sala, que estava coberta na escuridão.

A casa do Sr. Swan era enorme, tendo vários comodos requintados com móveis antigos. Era uma mansão velha, mas que tinha sido reformada por ele, não querendo perder sua herança de familia para os cupins. Apesar disso tudo, Charlie não parecia se importar com esse luxo que vivia, sem nem precisar trabalhar por ter dinheiro suficiente para se sustentar até morrer - e depois. A única coisa que parecia importar para Charlie era Renée, era como se ela fosse a vida dele. Como se ela não só fizesse parte, e sim a coisa que o move. E depois da morte dela, ele parece um morto vivo odiador.

Mas eu o conseguia entender.

Apesar de não ter conhecido Renée, eu sabia que ela era uma pessoa maravilhosa. Tinha uma amiga dela que passou um tempo comigo, me contando um pouco sobre minha mãe, uma coisa que Charlie se negava a fazer. Milla não apoiava a idéia de me privar disso, e achava um absurdo Charlie me culpar. Ela falava histórias que as duas haviam passado, como minha mãe conheceu meu pai, e sobre o amor dos dois. Charlie, cansado de ver eu criando um amor materno por Renée, acabou expulsando Milla das nossas vidas, e isso deu inicio ao inferno que é hoje, porque não tinha mais ninguém para cuidar de mim. Então, era por isso que eu o entendia, porque Renée era maravilhosa demais para ter morrido e dado a vida a uma pessoa como... Eu.

Conhecendo o lugar de cor, eu segui para a escada, mas antes que pudesse subir o segundo degrau, a luz foi acesa. Olhei para a poltrona que havia no meio e lá estava Charlie me encarando, com o olhar que eu conhecia bem. Mesmo tremendo por dentro, e suando frio, tentei não demostrar isso para ele, certa de que faria o que Selly tinha falado: enfrenta-lo. Eu queria me libertar daquilo. Eu precisava.

– Aonde você estava, Isabella? - perguntou, se aproximando de mim.

– Com um amigo. - falei, tentando manter minha voz firme.

– Com um amigo? - ele repetiu, erguendo uma sobrancelha. - O que você estava fazendo com esse amigo?

– Nós saimos. - dei de ombros.

Charlie me encarou com seus olhos castanhos escuros, e eu vi a ira começar a dominar ali. Queria correr, mas isso só mostraria que eu estava com medo, e assim não conseguiria o que eu queria. Esperei ele falar mais alguma coisa, e antes que pudesse sequer me mover, ele agarrou meus cabelos e puxou meu rosto para perto do dele. Eu prendi um gemido de dor.

– Não mente para mim, sua vadia, me fala o que vocês estavam fazendo. - rosnou.

– Eu não estou mentindo, Charlie! - tentei soltar meus cabelos de suas mãos. - Agora me solta que eu vou dormir!

– Porque você vai dormir? Está muito cansada, Isabella? - ele sorriu maldosa e maliciosamente. - Eu deveria imaginar que você se tornaria essa vadia. Para sair sem me avisar!

– Você está louco! - murmurei, ainda tentando me soltar. - Eu não sou isso! Não sou a nojenta da sua mulher.

Senti meu rosto arder com o tapa que ele desferiu. Eu podia sentir a marca perfeita dos cinco deles queimando minha pele, como se estivesse rasgando. Mordi o lábio inferior para não soltar um gemido de dor, mas não consegui prender as lágrimas.

– Nunca mais fale assim dela! Entendeu? Nunca mais! - ele me jogou contra a parede, fazendo minhas costas e cabeça bater.

Eu não entendia Charlie, e nem sabia o que ele pensava quando eu me referia a mulher dele. Dizia amar Renée loucamente, mas sempre protegia a vadia que ele abrigava aqui em casa. Sempre. Como ele podia amar Renée e estar com outra? Proteger outra? Eu não era a única que fazia mal ao amor dela. Não mesmo.

– Estou apenas falando a verdade, Charlie. - murmurei, com a voz embargada.

Ele me jogou novamente contra a parede, e quando meu corpo bateu e voltou, ele me empurrou para a escada, fazendo eu bater na quina dos degraus. Quatro pontos doeram juntos: a nuca, os ombros, as costelas e o quadril, que eram os que haviam batido. Eu levei a mão a nuca, sentindo uma dor alucinante ali que fazia minha cabeça rodar e eu perder o foco da visão. Senti quando Charlie me agarrou novamente pelos braços, e minha visão melhorou fazendo eu dar de cara com aqueles olhos raivosos. Ele deu um rosnado e me empurrou novamente contra a escada, e mais lugares foram atingidos, só que ainda mais fortes. Era como se ele gostasse de ver eu me machucar em vários pontos de uma única vez, como ele não conseguia quando me batia. Ele repetiu o ato, me fazendo soltar um gemido de dor, seguido de um soluço, que logo após vieram outros.

– Você é louco! - falei o mais alto que podia, que não era muito. - Você não cuida de mim!

– Cala a boca, sua idiota! - ele me deu um tapa, seguido de outro, e empurrou minha cabeça contra o chão. - Eu faço meu trabalho, você é quem dificulta tudo. Você é que é o problema aqui, Isabella. Deveria estar morta!

Não se abala... Não se abala... Lembra de que precisa ser forte...

– Deveria mesmo, assim você seria um velho nojento sozinho! Foi bom Renée ter morrido, porque se não seria ela aqui no meu lugar!

Isso pareceu despertar a verdadeira ira de Charlie, que fez o que podia comigo, que me machusse o máximo possivel - tomando cuidado para que ficasse em lugares possiveis de esconder. Eu sabia que tinha tocado na ferida, sabia que tinha exagerado, mas não negava que isso era uma possibilidade. E eu preferia estar aqui do que ela. Não gostava de pensar que ela poderia estar sofrendo, nunca. Charlie estava apenas apaziguando a sua dor dando ela para mim, de forma fisica, e eu estava em um momento que não conseguia mais tentar impedir que ele me agredisse, que me humilhasse com palavras duras. Teve uma hora que eu me sentia anestesiada a cada golpe, e o que ele falava parecia ficar em grego. Minha mente rodava, minha vista ficava escura, e eu queria vomitar tudo e nada que tinha dentro de mim. Queria vomitar eu mesma, para ver se isso parava. Mas não vinha, e a única coisa que veio foi a inconciencia, que ia me tomando aos poucos.

Down - Jason Walker (http://www.youtube.com/watch?v=IvWCvYPsiuM)

Fora só isso que precisou para ele parar.

– Você sabe que não deveria estar aqui, e sabe que tem que pagar pelas coisas erradas que faz. Eu prometi para Renée que cuidaria da monstrinha dela, e você virando uma vadia não está ajudando. Então, na próxima aprenda a chegar na hora em que eu mando, e sem nenhuma coisa fora do lugar. Espero que meu recado esteja dado, Isabella. - falou e subiu as escadas, como se não tivesse feito nada, apenas conversado comigo. - Droga. - parou no começo da escada e levou uma mão ao peito, se encurvando. Charlie ultimamente andava sentindo essas dores, mas estava tomando remédio. Ele respirou fundo e continuou.

Eu não sei quanto tempo passei caida de mal jeito naquelas escada, mas uma hora eu retomei a mim e lutei para conseguir sair dali. Eu me remexi, apalpando os lugares doloridos e chorando compulsivamente. Me sentei no degrau e senti meu corpo protestar com o movimento, mas não parei. Peguei minha mochila no chão, que havia caido quando fui surpreendida por Charlie. Levantei com muito esforço, e com a visão turva por causa das lágrimas, eu me arrastei escada acima, me segurando nas paredes. Levei minutos a mais para chegar a porta do meu quarto do que levaria se estivesse bem. Peguei a chave no bolso e destranquei a porta, mas antes que pudesse entrar, ouvi sua risada de apreciação.

– Na próxima, Isabella, aprenda a não demorar quando sair com seus amigos. - Lauren falou antes de desencostar da parede e seguir pelo corredor, gargalhando.

– Vadia. - xinguei baixinho.

Entrei no quarto e tranquei a porta, encostando nela e escorregando até o chão. Não prendi mais o choro que implorava para sair. Eu estava dolorida, ferida - interna e externamente. Era sempre assim, eu apanhava, era humilhada com palavras duras e depois tinha que cuidar de mim mesma, porque não tinha mais ninguém para isso. Desde criança sempre sozinha, sempre passando por essa humilhação que Charlie me propunha junto da sua mulher, Lauren. E eu tinha que aguentar tudo calada, sem poder me proteger dessas crueldades. Eu tinha que ficar de boca fechada, sem amigos para me ajudar, porque aonde quer que eu fosse era conhecida como a vampirinha, a sugadora, a monstrinha que matou a própria mãe. Todos me odiavam pelo que eu era, e isso apenas fazia eu também me odiar.

Agora me diz, como uma pessoa pode viver com isso?

E...

Como eu pude me deixar levar pelas coisas que Edward fez? Como pude ouvir uma criança que foi jogada no orfanato por que os pais a rejeitaram? Eu era uma estupida por acreditar que um desconhecido e uma garota que não conheceu nem metade do mundo pudessem me ajudar. Eles não estavam ali para impedir que Charlie me batesse até que a inconciencia me tomasse, e muito menos agora para me ajudar com os curativos. Palavras não salvavam a vida de ninguém, e as deles só pioraram ainda mais a minha. Um "sinto muito" não concertava nada, ou um "vou lhe ajudar" sem vir a verdadeira ajuda não mudavam as coisas. Eles não podiam me salvar da vida que levava, dos erros do passado que me trouxeram ao futuro de agora. Nem ele ou ela fariam Charlie parar falando que as coisas podiam mudar. Ele me odiava, eu tinha que conviver com isso e aguentar minha vida do jeito que ela era. Desculpe, mas essa é a sua vida, meu subsconciente falava, sentindo pena de mim mesma. Eu também sentia, porque o pequeno fio de esperança havia sumido, e agora eu estava na completa e escura solidão, que devia ser o meu lugar, por ser o monstro que sou.

(...)

I shot for the sky

(Eu atiro para o céu)

I'm stuck on the ground

(Eu estou preso no chão)

So why do I try?

(Então porque eu tento?)

I know I'm gonna fall down.

(Eu sei que vou cair)

I thought I could fly

(Eu pensei que podia voar)

So why did I drown?

(Então porque me afoguei?)

I'll never know why

(Eu nunca saberei por que)

Its coming down, down, down.

(Está caindo, caindo, caindo.)

I'm not ready to let go

(Eu não estou pronto para esquecer)

Cause then I'd never know

(Porque então eu nunca saberia)

What I could be missing.

(O que eu poderia estar perdendo.)

But I'm missing way too much

(Mas eu estou sentindo falta de muita coisa)

So when do I give up

(Então quando é que eu desisto)

What I've been wishing for?

(Do que venho desejando?)

[...]

I thought I could fly

(Eu pensei que podia voar)

So why did I drown?

(Então porque me afoguei?)

I'll never know why

(Eu nunca saberei por que)

Its coming down, down, down.

(Está caindo, caindo, caindo.)


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Notas finais do capítulo

OOOOOI MINHAS GATINHAS LINDAS! É, eu sei que sumi e que estou devendo E MUITO com vocês, mas é que aconteceram tantas coisas que ultimamente estava meio dificil. Como eu já disse o terceiro ano é bem puxado, cheio de trabalhos e provas, o que acaba pegando bastante do meu tempo. E também, a autora linda aqui andou sofrendo umas... Desilusões com a vida, o que me fez ter um bloqueio horrivel, que ainda continua. Está meio complicado para escrever capitulos de RN e AG pois são comédias :( Eu estou procurando formas de me libertar desse bloqueio, gatinha, e prometo que quando conseguir vou vir com capitulos enormes e ótimos *---*
E EU QUERIA AGRADECER A LINDA DA MiLOL PELA LINDA RECOMENDAÇÃO. MTMTMT OBRIGADA GATINHA, SÉRIO, EU ADORO TODAS AS RECOMENDAÇÕES QUE VOCÊ FAZ *-------------------*
E me desculpem os erros que encontrarem é que formatei meu PC (perdi minhas 1800eblábláblá de musicas T.T) e também o Word, então fiquei sem corrigir :/ e também porque a minha internet faz mais de duas semanas que anda com uma gracinhas, não pega mais de dia, só a noite. Tanto que estou aqui as 4:08 da manhã postado pra vocês, essa traira. Já troquei o dia pela noite, sério. Fico a madrugada aqui, KKKKKKKKKK
Agora me digam o que acharam do segundo capitulo de Seven Reasons? Já sei que vão xingar muito, e estão com raiva de Charlie, KKKKKKKK Ele merece levar umas boas da vida u_u
BEM, É ISSO MINHAS LINDAS, COMENTEM MT SOBRE O QUE ACHARAM E PROMETO Q NÃO É SÓ TRISTEZA Q VAI TER, MESMO SENDO UM DRAMA COMPLETO KKKKKK VÃO TER COISAS BOAS AINDA
Beijoos e me desculpem mais uma vez :*