Amor À Prova escrita por Bell Amamiya


Capítulo 17
Dúvidas e Incertezas


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de agradecer a todos os meus leitores pelo carinho e me desculpar pela demora.
Tenham uma boa leitura!



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I.

Já fazia cinco dias desde que Sora entrara no Cape Mary Hospital para dar a luz, e dois dias que havia sido transferida para um quarto individual. Já estava sentindo-se bem melhor. Ainda estava meio perdida com os eventos que haviam acontecido nos últimos dias. Apenas se lembrava de que entrara em trabalho de parto e depois de estar nesse quarto individual. Mas pelas feições de May e Layla, alguma coisa a mais havia acontecido e elas não queriam lhe contar. Será que era alguma coisa com sua filha? Já havia notado a ausência de Misaki, mas quando interrogara May, a chinesa dissera que ela estava bem e estava se recuperando em outro quarto. Sabia que sua filha havia nascido prematura, mas poderia elas estarem mentindo? Poderia ter acontecido algo com a pequena Misaki?

Não. Se alguma coisa acontecesse com sua pequena filha, Sora jamais se perdoaria. Era culpa sua todos os acontecimentos que estavam eclodindo nos últimos dias, para não dizer, meses. Fora a japonesa quem se entregara para Yuri e permitira que ambos tivessem um envolvimento mais quente. Fora ela que mentira para Leon não dizendo a verdade sobre a gravidez por medo de perdê-lo. E por todos os seus erros maiores e menores, sua filha poderia ter pagado o preço.

— Cadê a minha filha? – respondeu após ter despertado completamente do sono. Era por volta de nove da manhã, e graças aos remédios receitados, a jovem estava conseguindo dormir bem a noite.

— Olá, dorminhoca. – respondeu May. – Eu já não lhe falei que ela está se recuperando em outro quarto? Ela é pequenina, mas é forte como a mãe.

— Alguma coisa me diz que está acontecendo algo e vocês não querem me contar. – Sora estava meio chorosa. Seus hormônios ainda estavam elevadíssimos. – Algo me diz que tem a ver com a minha filha.

— Sua filha está ótima. Já está conseguindo manter-se sozinha sem os aparelhos, e em no máximo dois dias já vai poder ir para casa. – Layla falou enquanto entrava no quarto da japonesa. – Ela está no berçário, mais precisamente na incubadora. Não contamos a você para não te desesperar. Sua filha é forte como você. Como você está se sentindo?

A japonesa abriu um sorriso envergonhado ao ver Layla ali em seu quarto. Não era a primeira vez que a moça se encontrava ali. Kate havia lhe dito que as visitas estavam restritas devido a jovem ainda está se recuperando dos acontecimentos recentes, e somente May e Layla poderiam acompanha-la, visto que as duas revezavam para passar o dia e dormir com Sora. Mas mesmo assim, ainda não havia se acostumado a ter a leonina cuidando de si, não depois do sofrimento que a fez passar.

— Olá Srta. Layla. – a chinesa respondeu entre um bocejo. – Já vamos trocar de turno?

— Se assim você preferir. Ainda tem meia hora de visita. – a loira respondeu para a morena. – Mas se estiver muito cansada pode ir, eu cuido da Sora e mais tarde você volta.

May e Layla estavam revezando os turnos. A loira passava o dia inteiro com Sora, enquanto a morena se encarregava de passar a noite com a jovem, pois ela precisava resolver algumas coisas sobre o quarto de Misaki, e em hipótese alguma permitiu que a loira lhe roubasse a diversão. A chinesa despediu-se de Sora e retirou-se do quarto. Iria dormir um pouco e depois voltar ao trabalho de montar o quarto da filha da amiga.

— Ela é muito pequena? – Sora perguntou. Estava empolgada para saber mais detalhes de sua filha.

— Ela é sim, mas como eu disse é muito forte. Está lutando muito para sair da atual situação. – Layla sentou-se na poltrona que estava ao lado da cama. – Não tem como dizer que não é sua filha. Puxou a mesma força de vontade. – abriu um sorriso encantado ao se lembrar de todas as proezas que a jovem já havia feito.

— Fico feliz de saber que ela está bem e que está lutando para viver. – abriu um sorriso tímido, mas preocupado enquanto encarava o teto.

— Alguma coisa está te incomodando. O que seria? – a loira interrogou.

— É estranho ter você aqui comigo. – A jovem voltou sua atenção para a loira sentada na poltrona ao seu lado. – Quero dizer, depois de tudo o que lhe fiz passar. Você era a última pessoa que eu imaginava ver depois de tudo. Acreditei que você estaria me odiando em uma hora dessas.

Layla abriu um sorriso maternal para a amiga deitada na cama. Ela bem sabia que havia sim sentido certa raiva dela. Contudo, não poderia permitir que erros estragassem a amizade que tinha com a acrobata. Elas não eram apenas amigas, eram praticamente irmãs.

— Todos cometemos erros, Sora. E não vou dizer que não fiquei com raiva por não ter me contado antes, porque fiquei. Mas não foi apenas culpa sua, e não era justo descontar tudo em cima de você, não depois de todo o sofrimento que eu te vi passar. – Layla respirou fundo e olhou para a janela do outro lado do quarto. – Era visível que tudo o que estava acontecendo estava matando você. Não conseguia mais visualizar aquela energia incrível que emanava de você. Seu brilho estava se apagando. Eu não podia te abandonar, mesmo com todos os meus problemas, eu não podia deixar você desamparada. Não depois de tanto que você me ensinou e fez por mim.

— Srta. Layla... – lágrimas teimavam em cair dos olhos da japonesa. Era incrível o quanto aquela mulher era forte. Havia guardado suas dores, que não eram pequenas, para tentar resolver os problemas da amiga. Era uma pessoa fantástica, digna de admiração. – Não tenho palavras para me expressar... Perdão. Não era minha intenção causar tamanho sofrimento, principalmente à você. Você é a última pessoa que merece sofrer. – Lágrimas grossas rolavam dos olhos de Sora.

— Ei! Não se emocione assim. Não vai te fazer bem. – A loira levantou da poltrona e ficou em pé ao lado da cama enquanto acariciava os cabelos da amiga. – Está tudo bem. Eu sei que não foi sua intenção. Simplesmente aconteceu, agora precisamos lidar com os fatos.

— Obrigada! – a jovem respondeu envergonhada. Além de todo o sofrimento que causara a mulher que estava ao seu lado, ainda tinha o fato de ela ser uma pessoa incrível que a estava ajudando a passar por todo esse fardo. Sentia-se envergonhada por ser uma amiga tão ruim.

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Depois de tirar um bom cochilo de 6 horas, May apressou-se em se arrumar. Precisava terminar de comprar as coisas para o quarto de Misaki, apesar de a pequena não ter um quarto propriamente dito. Com toda a confusão que se desenrolara entre Leon e Yuri, a chinesa não fazia ideia de onde Sora moraria, mas de uma coisa estava certa, ela e Misaki não poderiam ficar nos dormitórios do Kaleido Star, visto que era apenas um quarto e o refeitório era de todos. Não é que os demais membros do circo não aceitariam a japonesa e sua filha. Mas acreditava que as duas mereciam um começo de vida bem melhor.

Com tudo, faltava o local para montar o quarto. Layla havia sugerido que Sora mudasse para sua casa. Porém, a jovem mostrou-se relutante, principalmente por Layla nem sempre estaria ali e isso poderia ser um estorvo para o Sr. Hamilton. A loira tentara argumentar mais algumas vezes, mas a japonesa manteve a sua decisão.

A chinesa jamais permitiria que Sora fosse morar no apartamento de Yuri. Mesmo ele sendo o pai da criança, causaria muitos problemas e a acrobata não precisava de mais disso na sua vida. Agora era hora de recomeço, então era preciso juntar todos os cacos e colar. Mas, May estava receosa de que a única coisa que pudesse fazer era seguir o conselho dos pais de Sora.

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— Não queremos mais que nossa filha fique longe de nós. Nós nem sabíamos que ela estava esperando um filho. – a mãe de Sora estava irredutível.

— Concordo com Midori. Nossa filha já sofreu demais nesse lugar. Não a levamos antes para respeitar sua decisão. Mas agora, a situação está bem diferente. – O pai de Sora estava nervoso. Não iria permitir que sua filha sofresse mais. Uma coisa era Sora ficar na América para viver seu sonho, outra bem diferente era sua filha ter dado a luz a uma criança que nem sabem quem é o pai. Aquilo era um absurdo. Não conseguia acreditar no que aquele lugar havia transformado a sua pequena menina.

— Sua filha é mais forte do que pensas. Admito que o que aconteceu foi algo estressante, mas sua filha ainda tem um sonho e uma vida para viver aqui. Ela já tem idade para tomar as próprias decisões, sejam ela do agrado de vocês ou não. – Layla respirou. Sabia que estava entrando em uma discussão difícil de ganhar, mas precisava tentar evitar que eles a levassem embora. – Vocês não podem vir aqui e dizer que vão levar ela todas as vezes que ela estiver passando por uma dificuldade. A decisão de ir ou ficar é unicamente dela.

— Nós somos os pais dela. E ela vai embora conosco, nem que eu tenha que colocar ela a força dentro de um avião. – Sr. Naegino estava nervoso, e gritava.

— Tsuyoshi... – a Sra. Midori nunca tinha visto o marido mais alterado. – Pare de gritar, estamos em um ambiente hospitalar.

Tsuyoshi Naegino encarou a esposa. Estava visivelmente com muita raiva. Não iria tolerar que outras pessoas lhe dissessem o que deveria fazer com sua filha. Sim, ela já tinha idade suficiente para escolher. Mas depois do que vira ali naquele lugar, não poderia deixar sua pequena filha nem mais um minuto naquele continente.

— O senhor lembra da vez que veio visitar a sua filha. Estava certo de que levaria ela embora. Mas ela lhe pediu um voto de confiança, e que o senhor assistisse uma apresentação dela e depois tirasse suas conclusões. Ela mudou a sua visão, mudou a forma como o senhor via o que ela estava realizando ali. Eu só peço que o senhor confie mais uma vez na sua filha. Erros todos nós cometemos, mas é a forma como nos levantamos que faz toda a diferença. Permita que sua filha lhe mostre o que é melhor pra ela, sem antes tomar a decisão por ela. – desta vez fora Ken quem se pronunciara. Lembra-se bem da primeira vez que o Sr. Naegino havia estado ali.

— Então será o seguinte. Eu dou um mês para vocês me provem de que ficar aqui é o melhor para minha filha caso contrário, ela irá embora comigo. Só respeitarei esse tempo, pois minha neta é prematura e precisa de cuidados. – essa era a decisão final.

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“Não, não, não”. Não iria permitir que Sora abrisse mão de tudo pelo que ela lutou fervorosamente. Ela não podia desistir de todos os seus sonhos porque teve uma criança não é mesmo? Aliás, todos os seus amigos estariam ali com ela para ajudarem a cuidar de Misaki. Não haveria lugar melhor para criar aquela garotinha. Mas precisava correr contra o tempo para arranjar um lugar para Sora e sua filha e tentar acertar a burrada que Leon e Yuri fizeram.

II.

Depois que os pais de Sora apareceram no hospital e presenciaram a briga entre Leon e Yuri, o escorpiano não pode mais ficar ali. Fora expulso contra a sua vontade por todos do elenco que estavam lá. Não tirava a razão de nenhum deles terem feito aquilo, estava realmente de cabeça quente, e poderia discutir com o pai da mulher que ele ama, e isso definitivamente seria um desastre. Mas não aguentava ter que ficar longe de Sora. Já cometera burradas demais e precisava ter a chance de se redimir. Precisava ver como sua amada estava, além de querer ter notícias da menina que nascera. Por mais que não fosse sua filha de sague, era como se fosse. Aprenderia amar a filha da mulher que povoava seus sonhos. Aprenderia a ser um bom pai por ela.

Apesar de que sabia que não merecia o perdão de Sora. Havia deixado a sozinha no apartamento e saído para desanuviar a mente. Não pesou todo o sofrimento que a jovem estava passando, e agora estava ali sem ela. “Como pude ser tão idiota ao ponto de causar mais sofrimento a ela?”. Leon bateu com força a mão na mesa de seu apartamento. Se não tivesse reagido daquela forma, talvez a criança não houvesse nascido naquelas circunstâncias e eles poderiam estar felizes.

“Não. Como eu poderia estar feliz? Yuri conseguira me tirar tudo. Maldito!”. Lágrimas grossas começaram a rolar pelo rosto de Leon. Não perdoaria o pisciano. Tentara viver em paz com ele, em respeito a Sora e Layla, mas agora? Não precisava fingir que gostava dele. Não depois de ele lhe tirar tudo que mais importava em sua vida. Tirou sua irmã, a mulher que ele amava, e agora também lhe tirou a paternidade. Era inaceitável, e Yuri ainda pagaria caro. O que acontecera no hospital era pouco para aquele miserável.

— Eu ainda vou destruir a sua vida, nem que seja a última coisa que eu faça! – bravejou. Sua raiva era insana. O pisciano não perdia por esperar.

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Naquela tarde, Layla acompanhou Sora até o berçário para que pudesse ver a sua filha, além de poder andar um pouco. Quando chegaram lá, ambas se emocionaram ao olhar para a pequena que estava dentro da incubadora. Ela era linda, tinha os cabelos escuros, mas mantinha os olhos fechados, desta forma não havia como saber qual era a cor. Apesar de que Sora lembrara-se de quando sua irmã mais nova nascera, e os médicos disseram que a cor dos cabelos e dos olhos pode mudar com o crescimento do bebê.

Era um sonho poder ver aquela pequena ali. Era como se nada existisse antes daquele momento, como se o mundo estivesse começando naquele exato momento. Um sorriso enorme surgiu nos lábios da japonesa. Era difícil de acreditar que aquele ser tão pequeno havia saído de dentro dela. Era sua filha, somente sua. Iria protegê-la de todos os perigos e aborrecimentos. Dali para frente seria apenas as duas contra o mundo. Sabia que Yuri teria o direito de ver a criança, mas não queria se envolver com ele mais do que já se envolvera. Não queria causar mais sofrimento do que já causara. Iria preservar as amizades que possuía, e iria fortalecer aquelas que estavam balançadas por causa dos acontecimentos.

— Oi filha! Mamãe está aqui. – lágrimas teimaram em descer. – Os médicos informaram que em breve eu vou poder levar você para casa. Estou animada com essa ideia. Quero te ter nos braços e aninhar você até você dormir.

Layla abrira um sorriso tímido. Aquele momento era muito íntimo entre mãe e filha. Queria poder não estar ali para estragar o momento lindo entre as duas, mas não podia deixar Sora sozinha, ela ainda não estava muito bem e nunca se sabe o que poderia acontecer. Foram ordens médicas que ela ficasse sobre vigilância. Mas mesmo sabendo que era necessária a sua presença ali, não conseguia não se sentir como uma intrusa.

— Olha como ela é linda e pequena. A minha pequena. – Sora virou-se para Layla como se tivesse se lembrado naquele momento de que a loira estava ali presente.

— Sua filha é linda. Em breve ela estará correndo pelos corredores do Kaleido Star e querendo imitar os passos da mãe.

Uma hora depois, as duas voltaram para o quarto. A pequena Misaki precisava descansar, e Sora também. Ambas haviam passado por muitas coisas. A japonesa já estava se sentindo mais a vontade com Layla perto dela, e não só confortável como também se sentia feliz por ter a loira ali. As duas eram muito amigas, e a acrobata não saberia o que fazer sem ter a atriz junto a ela.

— Sora... Você já pensou no que você vai fazer agora? Onde vocês duas vão ficar? – Layla novamente tocou nesse assunto com a amiga. Precisavam decidir logo o que fariam. A acrobata não sabia, mas o tempo delas estava correndo. Precisavam achar logo um lugar para instalar as duas e mostrarem aos pais da japonesa que ela estaria bem ficando ali.

— Não. Eu disse para a minha filha que em breve a levarei para casa, mas a única coisa que tenho é um quarto. – suspirou. – Mas ele vai ter que servir. Pelo menos ele vai ser nosso cantinho.

— Eu já lhe ofereci a minha casa. – a loira tentou mais uma vez, mas estava com um sorriso nervoso.

— Sim... E eu já recusei educadamente. Você sabe que não quero te atrapalhar, nem a você e nem a seu pai. – Sora estava olhando para a amiga. Alguma coisa a estava incomodando já a alguns dias, mas ela não queria lhe contar. Na verdade, alguma coisa estava incomodando todos, mas ninguém parecia querer dizer o que lhes afligia. – Você está esquisita. Está acontecendo alguma coisa que eu não sei?

— Nada... – a loira foi pega de surpresa com a pergunta da jovem. Ela e May haviam combinado de não contar nada para ela até que ela se recuperasse e saísse do hospital.

— Srta. Layla! – repreendeu a amiga. – Não adianta me esconder nada. E se você estiver escondendo algo de mim para não me causar nenhum mal, pode ter certeza que essa cara que todos vocês fazem quando estão na minha presença vai me deixar com a ansiedade nas alturas.

“Não tem como esconder nada dela”. – suspirou pesadamente. Precisava contar. Tudo que estava acontecendo dizia respeito a ela, e nada mais justo que ela soubesse o que se passava. – Enquanto você estava se recuperando, aconteceram algumas coisas.

— E o que seriam essas coisas?

— Leon e Yuri vieram lhe visitar e acabaram brigando aqui mesmo no hospital. Assim, todos que estavam presentes descobriram de uma forma nada legal, que Yuri é o pai de Misaki. E... – parou de falar. Não conseguia terminar de contar.

— E...?

— E seus pais, que haviam acabado de chegar, presenciaram a briga dos dois. E querem levar você embora com eles, alegando que ficar aqui está fazendo mal a você, e que a paternidade de Misaki é desconhecida por culpa da influencia de nossa cultura. Algo assim. – respirou fundo quando terminou de falar.

— Obrigada por me contar. – voltou sua atenção para a janela do outro lado do quarto. – A paternidade da minha filha não é desconhecida, nós duas sabemos bem quem é o pai dela. E porque razão os dois brigaram aqui dentro? Leon não queria mais nada comigo depois que descobriu... – lágrimas grossas rolavam dos olhos da japonesa. – Ele foi embora e me deixou sozinha. Você precisava ver a cara de ódio que ele me olhou. Eu não poderia mais ficar ali. Não conseguiria olhar nos olhos dele e ver o desprezo que ele sente por mim.

— Eu não presenciei a briga. Eu havia ido para casa. Mas pelo que May me contou. Leon estava certo de que criaria essa criança e ficaria com você, mesmo depois de tudo o que acontecera. May dissera que era quase palpável o amor que ele sente por você.

— É possível que ele me ame, mas não é justo o sofrimento que eu o fiz passar. Na verdade, não é justo o que eu fiz todos vocês passarem. Eu cometi um erro. Eu me entreguei para Yuri. Eu não sabia que vocês estavam noivos, mas mesmo assim não diminui a minha traição a sua amizade. Você sempre esteve ali por mim, e olha o que eu fiz com você? Olha como eu retribuo todo o carinho? – Sora falava entre soluços. Aquilo tudo era demais para ela.

— Sora... – Não sabia mais o que dizer para a amiga. Tudo que precisava dizer já havia dito. Já havia dito para a moça no quarto que perdoava ela. Que ela deveria agora se perdoar pelos erros do passado. Não podia ficar remoendo toda aquela dor, até mesmo porque Misaki precisava da mãe dela inteira, forte para aguentar um recomeço.

— Meus pais estão certos. Eu vou embora com eles. – declarou.

— Vai embora? E o seu trabalho? Sua vida que construiu aqui?

— Vida? Eu fiz questão de destruir a vida que eu construí aqui, além de destruir a vida de todos a minha volta. – secou as lágrimas com a palma da mão. – Vai ser melhor para todos. Eu já consegui realizar o meu sonho. Eu vim para o Kaleido Star e provei que eu conseguiria me tornar a verdadeira estrela, e foi o que fiz. Agora tem uma criança que precisa de mim.

— Você tem amigos aqui que podem te ajudar a cuidar de sua filha.

— Eu sei. E me sinto enormemente agradecido por todo o carinho que vocês têm por mim e pela minha filha. Mas eu preciso me reinventar. Preciso juntar os cacos e me reconstruir, e aqui eu não conseguirei fazer isso.

— Não vou conseguir mudar sua decisão né? – a loira estava séria. Era uma pergunta retórica, ela já sabia qual seria a resposta.

— Não.

Layla encarou Sora e viu a certeza nos olhos dela. Não haveria forma de ela mudar de opinião, a não ser por uma pessoa. Talvez houvesse alguém que conseguisse tirar aquele pensamento da cabeça de Sora. Mas será que funcionaria? Ela precisava tentar.

III.

Já haviam se passado 15 dias. Sora saíra do hospital e acabara cedendo aos pedidos de Layla em ficar em sua casa. Já que era temporário, visto que dali 15 dias ela estaria embarcando em um avião de volta ao Japão junto com seus pais. Não tinha mais tanta certeza que aquilo era o certo a se fazer, mas precisava tentar. Não conseguiria criar sua filha ali perto de Leon. Não aguentaria ver o olhar de tristeza e raiva quando ele olhasse para Misaki e visse nela o Yuri. Não que ela estivesse parecida com o pai, mas muita coisa pode mudar nos próximos meses, e o destino adora pregar peças.

Sora havia acabado de fazer a filha dormir. Foram duas horas angustiantes, pois a menina não queria dormir nem a pau. Não tinha todos os órgãos muito bem formadinhos e por isso sentia um pouco de desconforto. A japonesa descobrira que era seu leite que estava com problemas. Não que ele não fosse suficiente, ou não tivesse todos os nutrientes, mas teria que mudar toda a sua alimentação. Havia algumas coisas que a jovem comia e que o corpo da bebê não conseguia digerir, haja vista que tudo que a mãe come passa para o leite.

Desde a sua saída do hospital, não recebera nenhuma visita de Leon e nem de Yuri. Não sabia se eles que não queriam vir ver a menina ou se eram seus pais quem haviam proibido a entrada deles. Por um lado era bom, pelo menos ninguém faria com que ela mudasse de opinião. Não sabia se manteria sua decisão se Leon pedisse que ela ficasse. Amava muito aquele homem, mas precisava ser forte. Estava fazendo aquilo por ele, para garantir que ele tivesse um futuro merecido, e não ter que aceitar uma criança que nem era dele.

Assim que colocou Misaki no berço, Sora desceu até o primeiro andar para comer alguma coisa. Sua filha mamava muito e estava sugando todas as forças que ela tinha. Precisava repor as energias, ou não aguentaria alimentar sua pequena.

Rumou-se em direção a cozinha. Pediu para Penelope lhe preparar alguma coisa para comer. A empregada de Layla já tinha a lista de coisas que Sora poderia ou não comer, então ela estava apta para preparar qualquer coisa para ela. Depois de fazer seu pedido a empregada, Sora foi para o jardim. Precisava desanuviar a mente e ficar um pouco sozinha. Seus pais estavam acomodados na casa dos pais de Ken, mas vinha lhe ver todos os dias. Ainda não haviam chegado a casa de Layla, então a moça decidira que iria aproveitar os minutos de paz que tinha.

Enquanto andava pelo jardim, pensava em tudo o que havia acontecido nesses últimos meses. Nunca pensou que em tão poucos meses sua vida poderia mudar tanto. Se alguém lhe dissesse que algo assim iria acontecer, provavelmente teria rido muito e dito que a vida de ninguém poderia mudar tanto em tão poucos meses. Mas ela estava extremamente enganada.

Sentou-se em um dos bancos que ali tinha. Pensamentos vinham a sua mente como um turbilhão. Tudo aquilo estava tirando seu sono bem mais do sua filha. Sabia que precisava ir embora para evitar mais sofrimento a todos a sua volta, mas sentia uma sensação ruim lhe percorrer o corpo. Tinha medo de estar tomando a decisão errada. Se saísse dali e fosse embora e se arrependesse, teria a chance de voltar? Provavelmente não. Além de que com certeza não faria. Não poderia sair das vidas das pessoas, e depois achar que poderia voltar a qualquer momento que todos estariam esperando de braços abertos.

Um sorriso fraco se formou em seu rosto. “É claro que todos me receberiam de braços abertos. Mas eu estou pronta para ver todos abdicarem de suas mágoas por mim?” Não tinha resposta para essa pergunta. E provavelmente nunca teria. Precisava encarar os fatos, Leon já não devia sentir a mesma admiração que sentia antes. Layla, por mais que amava estar ao lado de Sora, não aguentaria olhar para aquela criança sem sempre sentir lágrimas nos olhos. Yuri não conseguiria ter a vida que planejara ao lado da loira, pois nunca mais se perdoaria pelo que a fez passar. O que havia causado não havia concerto.

Layla havia dito algo sobre não desistir da vida e dos sonhos. Mas era justamente isso que a jovem estava fazendo. A partir do momento que olhou pela primeira vez aquela menina pequena na incubadora, teve a certeza de que seu maior sonho era poder dar o melhor que poderia oferecer a ela. Sua vida começava a partir dali. Tudo o que havia vivido até ali já não mais importava, era parte de um passado de altos e baixos. Um passado que fora muito bom, mas que como tudo na vida, havia chegado ao fim.

— Leon... Será que um dia eu conseguirei te esquecer! – lágrimas escorreram pelo rosto da jovem. Era um choro doloroso e silencioso. Era como se a alma estivesse chorando.

Colocou as pernas em cima do banco, juntou elas no peito e deitou a cabeça nos joelhos. Só queria chorar e jogar para fora toda a tristeza e insegurança que sentia. Queria poder lavar a alma e sair daquele momento de reflexão como uma nova pessoa. Descobrira que amava loucamente aquele homem, mas precisava aprender a suportar a falta que ele faria. Precisava se reinventar e seguir em frente. Já fazia 15 dias que não tinha notícias de Leon, não era trouxa ao ponto de acreditar que ele ainda viria ao se encontro e que eles seriam felizes mesmo com todas as dificuldades. Aquilo não era um conto de fadas, e sim a vida real.

Não sentiu a aproximação de alguém. Estava tão concentrada em seu choro e em se livrar de todos os sentimentos ruins que habitavam dentro de si que não conseguia prestar atenção em mais nada. O homem se aproximou mais da jovem. Afagou seus cabelos com suas mãos hábeis e lançou um sorriso apaixonado para a jovem que estava sentada ali naquele banco.

Com um sentimento de surpresa, Sora levantou a cabeça e encarou o homem que estava a sua frente. Não conseguia acreditar no que estava vendo. Ele estava ali e estava sorrindo? Balançou a cabeça para os lados para dispersar os pensamentos de sua cabeça. Só poderia ser um sonho. Já fazia tanto tempo que ele não a procurava, que não poderia ser verdade.

— E quem disse que você precisa me esquecer? – falou com a voz apaixonada. Todos os dias, Penélope o permitia entrar e o jovem se escondia no jardim para admirar e observar a mulher de seus sonhos, esperando a hora que criaria coragem para falar com ela.

— Leon?

CONTINUA...


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Notas finais do capítulo

Olá galerinha. Desculpe-me por ter demorado tanto para postar esse capítulo. Mas é que primeiro meu deu um grande bloqueio e eu olhava para a folha em branco do word e nada conseguia escrever, e depois veios as festividades de fim de ano e eu viajei e acabei não conseguindo escrever. Mas agora a vida voltou aos seus eixos e mais um ano começa com novos capítulos e muitas emoções.
Espero que tenham gostado de mais esse capítulo. E como vocês viram, Sora está decidida a ir embora e permitir que todos possam viver suas vidas plenamente, sem todo o sofrimento que sua presença poderia causar. Mas seu coração está cheio de dúvidas, será que um alguém poderia fazer ela mudar de ideia? Veremos nos próximos capítulos. E não percam, porque no próximo teremos um pouco de Yuri e Layla para vocês.
Beijinhos e até o próximo capítulo.
Bell



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