às Vinte Horas na Rua 12 escrita por Ryuuzaki


Capítulo 1
Às vinte horas na Rua 12




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          Como começar essa mensagem?

          Sinceramente, não sei.

         Eu podia começar me apresentado, dizendo algo do tipo: “Oi, meu nome é Bill, gosto de margaridas, de dançar e de passar roupa”. Mas, não. Não vou falar nada disso. Nem mesmo meu nome na verdade. Vou me limitar a dizer que tenho entre 20 e 30 anos, na data em que escrevi isso aqui.

     Bem... Independente de qual seja meu trabalho, eu tinha um hobbie. Uma atividade que muitos considerariam como maluquice, idiotice e outros “ices” que outras pessoas possam imaginar. Falando diretamente deixando a enrolação de lado eu era um caçador de lendas urbanas, essa era minha diversão.

      Sei que deve estar rindo, pensando em desistir de ler isso aqui. Mas, realmente me agradava ouvir as histórias mais absurdas da boca das pessoas e então ir lá e provar que tudo tinha uma explicação lógica e coerente. Eu era um completo descrente quando o assunto era criaturas místicas, paranormalidade, e coisas do tipo...

       Sim vai acontecer exatamente isso que você está pensando, afinal, tudo é um grande clichê. Vem agora a parte do porém...

 

       Eu estava em mais uma “caçada”. Tinha ido até Cleverfield. Para ser mais especifico, até a Julio Cortez Square, mais conhecida como “A praça do poeta”. O lugar estava em festa, algo normal em Santa Felícia. Eu não tinha a mínima idéia do que estavam festejando daquela vez, não me importava na verdade, nunca fui chegado a lugares agitados. Atravessei rapidamente o local, esquivando de um ou dois bêbados que cambaleavam pelo caminho. Não que eu estivesse com pressa para chegar ao meu destino, mas aquela musica que tocava além de ser ruim, estava alta e chegava a me dar nos nervos.

        Não vou falar sobre “A incrível aventura de atravessar a praça” então, melhor ir logo para onde tudo realmente começa.

     A “Rua 12”... A famosa “Rua 12”. Boatos e rumores sempre falavam sobre aquela viela. Todos diziam a mesma coisa: “Na escura e tenebrosa travessa 12, ás 20 horas, é possível ouvir gemidos correntes e rosnados vindo da escuridão.” Foram exatamente esta as palavras que a velhinha fofoqueira me contou, sendo logo em seguida apoiada por alguns dos que passavam... Parecia que ninguém chegava perto daquela rua depois das 20 horas da noite.

    De frente para a “tenebrosa Rua 12” eu pude observar que realmente era um lugar que assustava. A ruela estava totalmente depredada e os poucos postes de iluminação que ainda funcionavam não paravam de estalar e lançar faíscas para o lado. A verdade é que não era exatamente uma rua, e sim um beco apertado, que ficava ao lado de dois armazéns que haviam fechado à anos.

     Esperei. Não entrei de primeira no lugar que representava a minha caça. Fiquei em pé, ouvindo os barulhos e agitações que viam da praça. Pessoas alienadas que não prestavam atenção nas coisas ao seu redor. Pessoas como você, que lê este texto. Pessoas iguais a mim, na época em que eu olhei para o relógio e esperei o ponteiro maior completar a volta que definia o inicio dos eventos que mudariam minha vidinha inútil.

     8 horas da noite. A “caçada” começava. Tendo o apoio das vozes que vinham da praça, que me encorajavam, adentrei no beco infame. Não foram necessários dez passos. Em menos de dez simples passos o silencio me envolveu. Os gritos, a cantoria... Tudo havia sumido.

       Me vi cercado por aquele bolsão de trevas e silêncio. Mas claro, não me intimidei. Afinal, tudo não passava de lendas e boatos, não é mesmo?

       Continuei em frente. Embrenhando-me na viela escura. A cada passo eu sentia que meus rins se contraiam, como se ele pretendesse implodir. Nenhum som adentrava meus ouvidos, não ouvia nem mesmo a batida do meu próprio coração, como seria o esperado.

    O lugar estava completamente sujo e depredado. Bolores e limos cresciam nas frestas das paredes, por onde pequenos ratos pareciam ir e vir. Havia também muita goteira por ali. Eu não escutava, mas era como se eu sentisse a intervalos regulares uma onda fria que passava por mim. Não sei como faço essa correlação, mas aquilo me dizia que água caia de algum lugar. Porem, num era um liquido bom.

        Eu olhava para frente. Tinha medo de virar-me para trás e ver o quanto eu havia me distanciado da saída. O ponto fixo o qual eu olhava, era a lâmpada de um poste quase no fim do beco. A fonte de luz, piscava insistentemente, como se me convidasse a segui-la e abandonar a escuridão que me cercava.

        Quando finalmente me convenci que o melhor seria correr até o lampejo de luz e fugir daquela opressão que perecia me comprimir contra mim mesmo, o zumbido começou. Primeiro, fiquei aliviado por novamente conseguir ouvir algo, por aquela sensação de “tempo parado” ter acabado. Depois, entrei em desespero.

        O que era um som baixo, semelhante á um pequeno mosquito, foi tornando-se algo colossal. A cada milésimo que passava aquilo tudo piorava. A escuridão, a solidão... E agora, havia aquele... Aquilo... Aquela coisa, que tentava perfurar os meus tímpanos e me levar à loucura. Tampei meus ouvidos com minhas mãos, esperando que aquilo diminuísse o desconforto. Esperei em vão, o gesto só fez tudo piorar.

   Não agüentei mais. Corri em direção à luz como um desesperado, agora já era mais perto ir até o final do que voltar por onde eu vim. 

     Cheguei até o poste que piscava. O zumbido se foi. A cada lampejo produzido pela lâmpada minha esperança de escapar daquilo se renovava. A cada vez que eu voltava para a escuridão pensava que não sairia vivo daquele lugar maldito.

       Não sei quanto tempo passei naquela situação. Não posso nem dar certeza de que passou algum tempo enquanto eu estava ali. Mas, em algum momento, a luz se estabilizou. Ao invés de lampejos fui agraciado com luz plena e a certeza de que eu encontraria uma solução, que eu acharia um modo de dizer que tudo era uma encenação de alguém querendo assustar pessoas... Foi uma falsa certeza.

         Aquele estado de graça não durou míseros dez segundos. Era a calmaria antes da tempestade, a verdadeira tempestade.

          Enquanto e suspirava aliviado, no instante em que agradecia a deus por aquela luz salvadora, a lamparina estourou. Cacos de vidro voaram sobre meu rosto perfurando minha cara. O zumbido automaticamente retornou com força total obrigando-me a me curvar o contorcer, por final me jogando de joelhos, ao chão.

        Eu não consegui resistir a tudo aquilo. Ia desmaiar. Com uma mão, a direita, eu tentava precariamente estancar o sangue que lavava a minha face. Com a esquerda, procurei apoio, tentando não ir totalmente para o chão. Me apoiei em algo liso,  mesmo sem poder ver, sabia que não era a parede e sim um grande espelho que parecia ter sido largado no lugar.

      Tentei respirar calmamente, pois, ofegava. Pensava em levantar-me mais então escutei algo. Palavras, palavras estranhas. Era uma língua desconhecida... Profanadora. Eu não entendia o que era dito. Mas sabia que a coisa que falava chamava meu nome e dizia que eu era esperado.

      Comecei a me levantar, usando o espelho como apoio, iria fugir daquele lugar a qualquer custo. Mas então, uma dor lacerante se apossou de minha mão. Gritei de dor. Um grito mudo. Olhei, para o membro, tentando descobrir o que havia acontecido. E então, vi aquilo.

     Havia algo dentro do espelho. Algo alienígena. Uma coisa maligna. Um demônio com três olhos flamejantes me encarava por detrás do vidro. Fazia um barulho estranho, mas eu sabia que estava rindo e se deliciando com a minha carne.

       Fiquei atônito. Minha mente não conseguia acreditar que aquilo existia. No entanto, o demônio esta ali, bem ali, logo na minha frente. Ele falo comigo, em sua língua estranha, mas que eu conseguia compreender.

        - Esse é o inicio de seu destino. Onde tudo começa. Você não morrera, humano. Não agora. Apenas durma.

     E, com aquelas palavras pulsando em minha mente, eu apaguei.

     Claro que ao acordar, pensei que tudo se tratasse de um maldito pesadelo, que eu havia atido a cabeça, perdido muito sangue por causa dos cacos da lâmpada ou alguma desculpa esfarrapada que sirva de resposta. Mas, três dos meus dedos, do médio ao mindinho, cortados pela metade, me lembram que aquilo aconteceu... E que ainda vou lidar com aquele ser que provou do meu sangue... Espero apenas sobreviver... E aprendi minha maldita lição.

          Lendas são reais.

 

       - Postagem anônima em um fórum.


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