Crônicas do Cotidiano escrita por Goldfield, Darkhealm


Capítulo 18
Capítulo 18




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CAPITULO 18: Linha - Hospital

 

Dayane trazia consigo uma caixa de bombons no braço e caminhava pelo hospital apreensiva. Já fazia algum tempo desde que estivera lá, e a perna dele estava melhorando bem lentamente. Porque diabos tinha que acontecer um acidente justo com ele? Acelerou o passo para chegar logo ao quarto em que ele estava, sendo o mais longe do corredor. Entrou logo e percebeu que estava acordado.

- Oi Guto, está melhor? - perguntou a garota.

- Sim, estou sim... – o rapaz, imobilizado na cama, falou com certo desânimo. – Mas isso não significa alta... E só Deus sabe o quanto eu quero sair logo deste maldito hospital!

Guto quebrara uma das pernas três dias antes num acidente envolvendo uma caminhonete, a bicicleta usada que comprara recentemente e a pressa que tinha para chegar logo ao treino na academia. O resultado fora aquele.

- Não se preocupe, logo eles vão te dar alta, aí você vai poder descansar em casa.

- Humpf. Pelo jeito vai demorar!

Dayane estava abismada com aquilo. Guto, normalmente otimista e bem-humorado, estava de mau humor e com pessimismo. É, parecia que hospitais eram coisas das quais ele realmente não gostava. Será que...

- Algum motivo para não gostar de descansar no hospital?

- Bem... – o garoto pareceu meio relutante de início em responder, porém logo prosseguiu. – Este é o primeiro Dia dos Namorados que passo tendo alguém... E não queria que comemorássemos essa data justamente em um hospital!

A moça sorriu corada. Então era isso! Imaginara que talvez fosse algum trauma como aqueles que carregava consigo, mas seu namorado na verdade só estava sendo um fofo, como de costume.

- Mas sabe – continuou o garoto. – Só estou meio chateado por não poder treinar mais por um tempo. Tínhamos um campeonato para ir, e agora graças a esse acidente eu não poderei lutar.

O garoto estava claramente muito irritado com aquela situação, não demonstrando uma melhora de humor tão grande assim.

- Hum... Tem algo que acho que te deixaria feliz.

Entregando a caixa de bombons para o garoto, ele observou-a e sorriu para ela um pouco mais animado.

- Obrigado! Você sabe como realmente mudar o humor das pessoas.

E, abaixando-se sobre o leito, Day deu um rápido e discreto beijo nos lábios do namorado. Em seguida este, rindo, abriu a caixa e logo apanhou um de seus bombons favoritos, com recheio de licor. Sua amada sabia mesmo como deixá-lo bem, e sempre o fazia. Era por isso que a amava mais que tudo.

- Feliz Dia dos Namorados! – ela disse num tom extremamente amável.

- Para você também... – Guto respondeu.

Súbito, a porta do quarto foi aberta. Era o Doutor Nicolas, Guto o conhecia. Fora ele quem cuidara de seu avô quando este sofrera um enfarto alguns anos antes, e desde então se tornara amigo da família. Mesmo o caso do rapaz de perna quebrada não sendo sua especialidade, resolveu visitá-lo no quarto para verificar como estava.

- Olá Guto, como está? - disse o doutor amigável.

- Irritado, não vejo a hora de sair daqui.

- Imagino que sim - falou o médico soltando uma risada meio forçada, fazendo Guto perceber algo.

- E você? Está bem? Parece meio... Abatido.

- Ah... Bem... É que...

Nicolas não queria se lembrar de tal fato, já que o mesmo o afligia, porém mesmo assim prosseguiu:

- É que testemunhei um assalto seguido de morte há alguns dias... Vivemos numa metrópole e deveríamos estar habituados a isso, mas... Bem, podem imaginar que não foi nada agradável...

- Oh, que horror! – espantou-se Day.

- Engraçado não co...

- Mas... - interrompeu Guto. - Não é isso que te incomoda, não? – Nicolas sentiu um arrepio nesse instante, não sabia dizer como, mas o garoto pareceu "sentir" a mentira na conversa.

O doutor se sentou ao lado dele, não poderia segurar por muito mais tempo.

- É a minha mulher... Estamos nos divorciando.

Os dois jovens se calaram. Era sem dúvida algo complicado, e o médico deveria mesmo estar passando maus bocados. Só de observar seu semblante já era possível denotar que amava muito sua esposa e não desejava de modo algum se separar dela... Mas também era evidente que isso não dependia mais de si, infelizmente.

Mas talvez a história não ficasse do avesso assim...

- Sabe - começou Dayane. - Eu ouvi dizer que a maioria dos casos de divórcio podem ser resolvidos com simples conversas e com calma.

Todos olharam para ela apreensivos, deixando-a um pouco corada.

- Eu não sei qual o problema, e não quero realmente saber, mas por que não tenta conversar com ela?

O doutor olhou para baixo por alguns segundos e logo começou a se retirar da sala, silencioso...

Uma conversa... Será que isso bastaria? Será que seria suficiente para resolver um problema aparentemente tão grande?

Custaria tentar?

Ele não tinha nada a perder.

- Será que eu disse alguma coisa errada? – perguntou-se a garota preocupada.

- Eu não sei...

- Bem, vou ter que ir, Guto – disse ela olhando para o relógio. – Tenho que ajudar na escola hoje.

- Ah... Certo... – disse o garoto bem desanimado em ficar sozinho de novo.

- Mas calma que eu volto, acho que dá tempo antes do horário de visitas acabar!

- Está bem...

Day segurou a mão direita do namorado por um momento e então também deixou o quarto, sorrindo e acenando para ele antes de cruzar a porta. E, novamente só, Guto pensou saber como Nicolas devia se sentir... Mas a promessa de que a amada voltaria o animava, e talvez o doutor, depois de conversar com sua mulher, também tivesse a mesma esperança.

Só esperava que não ficasse naquele hospital estúpido por muito tempo. Estava realmente se sentindo mal.

 

Continua...


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