The Dark Side Of The Sun. escrita por Baguete


Capítulo 2
Capítulo 1 - Car Crash




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Capítulo 1 - Car Crash


A sala de aula estava fria e às vezes uma corrente de vento vinha pela porta aberta. Pelas grandes janelas de vidro os alunos podiam ver as nuvens escuras no céu de Rockford. Alguns alunos conversavam baixo, outros riam e alguns faziam guerras com bolinhas de papel.

Depois de minutos o sinal bateu fazendo todos se ajeitarem em suas cadeiras, mas as conversas ainda permaneciam. Ninguém gostava muito da professora nova de Biologia. Uma senhora baixinha com cabelos bem pretos e óculos com um estranho formato entre o redondo e orelhas de gato. Estava sempre com um casaquinho azul bebê, não importava se estava frio ou calor.

– Coloquem na página 86 do livro. – disse Srª White.

Susan suspirou enquanto virava as páginas do livro. Desde cedo não estava se sentindo bem.

“Apenas mal estar”- pensou – “Mais um dia normal, não posso ficar paranóica”

Susan tentava se convencer, já que desde pequena, sempre que ela tinha essas sensações, algo acontecia, às vezes nada de muito bom.

Sr. White começa a falar sobre células animais quando Srª Sullivan bateu a porta.

– Com licença. Susan, poderia me acompanhar até a diretoria?

Susan recolheu seu material e seguiu com Srª Sullivan pelo corredor da escola em silêncio. No caminho até a sala da diretoria ela imaginava o que será que ela tinha feito para ser chamada na diretoria? Ou na pior das hipóteses, o que tinha acontecido?

– Sente- se, o que tenho pra te falar não é muito agradável.

Susan engoliu a seco, algo estava errado, ela sabia. Sentou-se em uma das cadeiras em frente à grade mesa de madeira da diretora enquanto balançava o pé nervosamente.

–Não existe um meio agradável de contar isso. – a diretora suspirou. - Seus pais sofreram um acidente de carro. Eles estão sendo encaminhados para o hospital nesse momento.

Seu coração vacilou uma batida rápida e lenta ao mesmo tempo.

– Está dispensada por hoje, e...

Susan nem esperou a diretora terminar, saiu correndo da sala indo em direção ao estacionamento. Agora caía uma chuva fina lateral, mas ela pouco se importou e correu até seu carro.

As lágrimas escorriam por seu rosto, sem ela ao menos perceber.

Ligou o carro e acelerou. Ela ao menos esperou pra ouvir o estado de seus pais, ela só queria vê-los.

Dirigiu mais rápido que o normal até o Rockford Health System.

Assim que chegou a porta do hospital, pode ver sua mãe sendo retirada do interior da ambulância.

Estava amarrada na maca, seus cabelos castanhos ondulados cobertos de pedaços de vidro. Havia cortes e arranhões em seu rosto, a roupa toda suja de uma quantidade significativa de sangue.

Susan entrou em pânico, fez uma busca rápida por seu pai, mas não o viu.

Enquanto sua mãe era encaminhada para o interior do hospital, Susan permaneceu imóvel. Não conseguia enviar o comando para suas pernas se moverem.

Sua mãe desapareceu pela porta do hospital, ela correu desesperadamente, atravessando a rua sem olhar, ganhando várias buzinas e xingamentos.

Entrou chamando por sua mãe, e pode ver ela entrar num corredor com portas duplas.

Antes que ela pudesse passar pelas portas, que as separava, um homem alto a parou.

– Não pode entrar na ala de cirurgia. – disse numa voz formal.

– Não me importo, é minha mãe. – ela disse com a voz embargada.

– Sinto muito, mas você vai ter que aguardar na sala de espera.

Derrotada ela caminhou até a sala de espera, uma moça veio com uma prancheta nas mãos com o formulário.

Após preencher o formulário, entregou a moça da recepção.

– Onde está meu pai? O senhor que estava com minha mãe, onde ele está?

– Precisamos que você reconheça o corpo.

– Não. Não. - ela disse começando a crise de choro novamente.

– Sinto muito querida.

Susan se sentou no chão, abraçando os joelhos enquanto tentava controlar os soluços. Não se importava se atrapalhava a passagem dos médicos, ou muito menos dos pacientes, seu mundo estava começando a ruir.

Ouviu um murmúrio perto e sentiu braços a levantando. Um homem que aparentava ter seus 40 anos, grisalho e de estatura baixa estava puxando Susan do chão.

– Venha se sentar aqui – ele indicou um banco próximo. – Por favor, Julie, traga um copo d’água com açúcar para essa jovem.

Uma jovem que Susan nem percebeu saiu apressada pelo corredor.

Susan ainda soluçava baixinho sentindo seu coração se partir. Vários momentos dela com seu pai passando em sua mente. E tendo consciência que não teria mais nenhum momento ao seu lado. Não teria mais nenhum domingo em família, ajudando seu pai a fazer o churrasco, não teria mais nenhum feriado fazendo viagens próximas de carro, enquanto cantavam desafinadamente dentro do carro. Não teria mais nenhuma tentativa de pesca, e dos risos que ele produzia no rosto dela sem ao menos dizer nada.

Ela inspirava profundamente não tomando consciência do senhor acariciando suas costas em gesto de conforto, e não prestou atenção em nada que ele disse.

Julie voltou com a água, mas Susan não precisava de conforto e um copo de água com açúcar. Ela precisava da certeza que teria seu pai com ela de novo, coisa que ela mesma sabia que não seria mais possível.

– Beba a água querida. Sei que não vai melhorar em nada, mas vai te acalmar. Eu me chamo Calleb, sou o novo psicólogo do hospital. - ele estendeu a mão.

– Su... Su... Susan. – ela apertou sua mão fracamente ainda tremendo muito.

– Agora beba para nós podermos conversar um pouco, sim? – ele estendeu o copo d’água mais uma vez e Susan o pegou, bebericando o conteúdo levemente doce.

Depois de ter bebido metade da água, ela parecia um pouco mais calma, parara de tremer e soluçar, mas o aperto no peito ainda era incessante.

– Está se sentindo um pouco melhor?

Susan balançou a cabeça negativamente, pensando que melhor era a última palavra que definiria ela por um longo tempo.

– Sabe, há três semanas, eu perdi minha esposa. - ele começou e Susan o olhou não entendendo porque um psicólogo estaria contando sua vida para ela, ao invés do contrário.

– Ela estava doente fazia algum tempo. Câncer. Os últimos meses foram difíceis para ela. Mas ela nunca tirou o sorriso do rosto. Eu achava que ela não estava no seu juízo perfeito, sabe? Mania de psicólogo. Depois de tanto perguntar e não receber resposta, eu desisti. Parei de tentar ser o psicólogo e tentei ser o marido. Eu não demonstrava meu sofrimento perto dela, para não lhe causar mais dor. Mas um dia enquanto eu estava sentado ao lado da cama dela verificando os remédios, ela puxou minha mão e as apertou o máximo que conseguiu com suas mãos magras e fracas. E então ela me disse com uma voz bem fraca, quase um sussurro:

“Querido, eu quero te dizer por que eu nunca tiro o sorriso do rosto.”

– Aquilo me pegou de surpresa. Depois de mais de um mês que eu tinha desistido de perguntar, ela mesmo propôs contar. E então eu apenas acenei com a cabeça, e ela continuou.

“Eu sei que estou muito doente, e que é bem provável que eu não sobreviva, mas para quê ficar me afundando na tristeza? Eu não quero que eu me torne ranzinza, quero ser eu mesma até o final. Sei que tudo acontece por uma razão, mesmo que para nós não pareça lógico sofrer deitada numa cama, mas sei que isso tem um motivo, tudo nessa vida tem.”

– E eu não consegui dizer nada, porque eu nunca concordei com isso. Não sei como sofrer pode ter um propósito a não ser o óbvio, que é sofrer. Nunca acreditei em destino ou em nada parecido com isso. Mas ela sempre soube disso, e mesmo sem eu dizer nada ela continuou a falar.

“Sei que você não acredita nisso meu amor, mas eu sim. Eu tenho fé. Eu sei que você está sofrendo também, mesmo que não demonstre. Sei que tem chorando quando pensa que estou dormindo, e que já quebrou vários pratos da cozinha propositalmente – Ela deu uma risada que mais parecia uma tosse. - Eu só quero que saiba que mesmo se eu morrer, você vai achar um caminho novo, uma vida nova.”

– E sem eu perceber, eu esta chorando feito um bebê, e ela me consolando. A coisa mais estranha que se pode acontecer.

– Por que está me contando isso? – perguntou Susan que por um breve momento esqueceu que tinha perdido seu pai, e que sua mãe estava em alguma sala sendo cuidada. Esqueceu até mesmo que estava no hospital, lhe pareceu que estava com um amigo, um amigo com quem ela trocava confissões há bastante tempo.

– Por que, há três semanas eu estava enterrando minha esposa no Texas. E Hoje estou aqui. Ela me fez perceber que a vida continua, mesmo quando a gente perde quem se ama. Que nós podemos fazer algo pelas outras pessoas que passam por dificuldades. E que se eu tivesse ainda com ela no Texas, não estaria aqui nesse hospital ajudando você nesse momento. Destino existe mesmo. Sei que eu não posso fazer seus problemas sumirem, mas posso ajudar a enfrentá-los, se assim você quiser.

Susan não conseguiu falar nada, só olhava para o homem a sua frente. Pensou no sofrimento dele, e pensou no dela própria. Pensou nos outros milhões de pessoas que passam pela mesmo situação, ás vezes até pior. Pensou em como todos um dia tem que seguir em frente, no tempo certo. O momento para ela se superar ainda não era esse. E ela ainda tinha dúvidas se ainda conseguiria seguir em frente algum dia, mas resolveu que sua mãe era prioridade, que o sofrimento dela podia esperar algum tempo, até sua mãe estar recuperada. Elas precisavam uma da outra mais do que nunca agora.

Calleb deu um sorriso fraco para ela e se levantou caminhando ao balcão, e depois entregou um cartão.

– Se precisar de alguém para conversar, é só me ligar. Infelizmente eu tenho muitas coisas para fazer, mas espero realmente ter ajudado. Até, senhorita Susan.

E assim virou e caminhou por uns dos enormes corredores do hospital, desaparecendo no meio de pacientes, enfermeiros e macas.


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