Provavelmente, nunca um personagem de fanfic acordou tantas vezes sem saber onde estava.

James já não estava mais com aquela estranha sensação de estar morto. Mas sabia também que não estava vivo. Não sentia seu coração bater, todo seu corpo estava dormente, e estava muito cansado. Exausto. Tinha uma dor de cabeça muito forte. Pelo menos dessa vez, ele conseguiu descobrir onde estava.

Numa cadeira fria ele estava sentando, e na sua frente tinha uma penteadeira. Ele conseguia se ver no espelho que tinha várias lâmpadas em volta. Mas é claro, ele estava em um camarim. As paredes tinham cores escuras, era tudo muito sombrio, parecia que o lugar não era limpo a séculos.

O professor se olhava no espelho, e via que estava horrível. Extremamente pálido, com olheiras, seu cabelo horrível, suas roupas sujas, e muito mais. Ficou um bom tempo olhando-se no espelho, e andando pela pequena sala, confuso.

De repente uma porta se abriu, e dois homens tão feios quanto James entraram correndo apressados.

- Vamos senhor James! Já vai começar! – um deles falou, o pegando pelo braço, enquanto o outro empurrava o professor para fora da sala.

- C-começar o que? – James perguntava confuso, enquanto os dois o conduziam por corredores escuros.

- Ora, você sabe professor! Vamos, vamos mais rápido!

Eles deixaram James em outra sala, com sofás e uma televisão. “Fique na frente dessa porta, quando ela abrir, entre!” disse um daqueles homens estranhos, e depois se afastou falando algumas coisas no seu celular.

James ficou esperando, e escutou o barulho que vinha da televisão, que ele não conseguia enxergar.

“Senhoras e senhores, vamos receber hoje ele, que é o principal assunto da semana. Ele que lutou contra monstros, ele que deixou o Universo inteiro mais alegre, ele que ressuscitou o grande Olimpo (quando o homem disse ‘ressuscitou, James ouviu várias risadas, não sabendo por que), vamos receber ele, com vocês, James Brandini!!!”

O professor não acreditou. Como assim ele seria entrevistado agora, depois de morto? E estava tão feio, como ia aparecer na televisão? Será que não era uma daquelas pegadinhas de câmeras escondidas? Enquanto todas essas duvidas se passavam na cabeça dele, a porta se abriu, e ele entrou nela.

As luzes! A platéia! A decoração!

Parecia mesmo um programa de entrevista. Bem do tipo Programa do Jô. O estúdio enorme era todo roxo, e decorado com caveiras e tudo mais. Coisas do submundo. A platéia aplaudia de pé, e eles pareciam mortos vivos: todos pálidos, com roupas de várias épocas diferentes, alguns na platéia eram só esqueletos também.

Do lado oposto de onde James tinha entrado, havia uma banda tocando uma música muito animada. Em cima da banda tinha uma televisão enorme que exibia, provavelmente o nome do programa: “A Morte Pede Entrevista”

Na parte principal do estúdio estava uma mesa roxa de forma curiosa, e um belo sofá do lado. Quando viu quem estava atrás da mesa, James tomou o maior susto de sua vida. Era o deus Hades.

- H-h-had-des?! – James disse nervoso.

- Sim professor James! Venha! – falou o deus dos mortos, abrindo os braços e sinalizando para que James se sentasse no sofá ao lado da bancada.

O professor se aproximou, e apertou a mão de Hades cumprimentando-o, e percebeu como a mão era magra e fria. Em seguida sentou-se no sofá, que também não era nada quente. O deus percebeu como James estava nervoso e com medo, então disse:

- Se solte James! Vamos, beba esse vinho, ele sempre ajuda os convidados a relaxarem! – James bebeu do vinho, que realmente o deixou muito mais confortável.

Ele olhou melhor para o estúdio, e viu que a platéia já estava sentada, e todos olhavam para ele. O professor não conseguia ver direito os rostos, pois havia várias luzes apontadas para ele. A maioria das câmeras também apontavam para ele, o deixando ainda mais nervoso e envergonhado. Tomou mais um gole de vinho e relaxou.

- Então professor – perguntava Hades, com animação na voz – como foi a passagem da vida para a morte pra você?

- Foi bem... desagradável – a platéia riu, mas James não soube o por que. “Fale mais!” disse o deus dos mortos, e o professor continuou – é... eu não senti mais o peso do meu corpo como eu sentia antes, me senti livre de todas as responsabilidades – o professor bebeu mais, e relaxou no sofá – é, fica uma dica: se você está cheio de preocupações, problemas ou ciúmes, é só morrer que passa tudo.

- Isso mesmo! A Morte é a maior solução para todos os problemas do Universo!

- Verdade. Eu me senti bastante livre, e vi toda minha vida passar diante dos meus olhos – assim que ele disse isso, todos ficaram calados, como se ele tivesse mentido.

- Isso é um mito professor – disse Hades, mexendo em alguns papéis, e James disse com bom humor:

- Você é um mito! – e fez toda a platéia rir, até o deus dos mortos. Pela primeira vez em anos James estava fazendo alguém rir de verdade de suas piadas.

- O incrível e irreverente James Brandini! – a platéia aplaudiu, e James disse:

- Senhor Hades... o senhor não estava bravo comigo? Por causa da... Perséfone?

- Bem, ela morreu e eu ressuscitei ela! Sou o deus dos mortos bobão!

- Mas isso não vai contra as leis da natureza? Todos tem de morrer um dia, e... – então Hades interrompeu:

- Natureza? Quem se importa com a natureza?! – todos riram – ninguém está bravo com você James, você é o assunto da semana, você conseguiu levantar e animar o Olimpo novamente!

- É, eu fiquei sabendo...

- Sim, e agora nós estamos exibindo as missões que você fez para todos no Universo! Isso está gerando milhões e milhões de dólares Altarienses!

- Nossa que bom... então literalmente, eu estou podre, quer dizer, morto de rico – e todos riram novamente.

- Isso mesmo professor James! Agora vamos exibir alguns trechos das suas missões, e você vai comentar. Vamos ver no telão.

Então o telão começou a exibir um trecho da primeira missão. Apareceram os três subindo e chegando no topo da pirâmide, onde havia aqueles médicos e todos os aparelhos de uma sala de cirurgia. James no telão perguntou “O que está acontecendo aqui?” e todos na platéia riram, e a cena congelou.

- James – disse Hades, rindo – você chega numa sala de cirurgia. Cheia de médicos preocupados. E você pergunta “o que está acontecendo aqui?” – e todos riram novamente.

- Ora – James tentou se justificar – eu não sabia!

- Não sabia o que estava acontecendo numa sala de cirurgia?

- Eu não sabia que era uma sala de cirurgia! – e todos riram de novo.

O telão então passou a exibir a batalha contra Gerion. A platéia ria (James também) com cada golpe do monstro, que James se contorcia todo para desviar. Na hora em que ele jogou o sapato, e o monstro engoliu, todos riram drasticamente, e a cena congelou.

- James – o deus dos mortos falou, rindo mais uma vez – que ideia foi essa?! De usar um sapato como arma!?

- Eu não tinha nada pra usar mesmo, pelo amor de Deus! – respondeu James, rindo também. Aquilo tudo era muito bizarro.

- Certo, isso é apenas uma amostra das aventuras do grande James Brandini! – todos aplaudiram. Depois das palmas surgiu um momento de silêncio, em que Hades ficou olhando para James, com um olhar curioso. Enfim perguntou – e como vai a professora Caroline hein professor?

- A Caroline? Por que você vem perguntar para mim?

- Tá certo, mudo minha pergunta: como vai o seu relacionamento com a professora Caroline?

- Relacionamento? Nós não temos, ou melhor, tínhamos, nenhum relacionamento, pois agora estou morto não?

- Sei, sei... – Hades ficou irônico – não esqueçam de me convidarem para o casamento. Ah sim James, temos uma surpresa para você hoje!

- Uma surpresa?

- Sim, um prêmio de todos os deuses! Rufem os tambores!

A baterista fez aquele som de expectativa com os tambores da bateria, a luz diminuiu, e um suspense se fez, até que Hades disse em bom tom:

- Parabéns professor James, você é um ser imortal!!!

Todos aplaudiram, e James pulou do sofá. Como assim era imortal? Não havia morrido?

- Mas como assim?! Eu não estou morto?

- Sim, mas temporariamente. Deixa eu te explicar o que aconteceu – disse o deus, pegando alguns papéis – quando vocês estavam no MillWays, o Restaurante no Fim do Universo, encontraram Apolo certo? Lembra quando estavam conversando com ele, e Caroline perguntou se ele chupava o dedo?

- É... acho que lembro sim, por que?

- Bem, vamos ver o vídeo no telão.

O telão mostrou quando eles estavam na mesa com Apolo, e conversando, antes do show começar. Então James viu: o deus da medicina havia posto sem querer o dedo na bebida de James, por isso estava lambendo o dedo. Apolo, sem saber, havia dado imortalidade para James.

- Hã? Tipo... Hã? – James estava sem palavras.

- Sim James, o deus Apolo te deu a imortalidade sem saber, então vamos receber ele que tornou tudo isso possível: o deus Apolo!!!

A banda começou a tocar, e todos aplaudiram. James se levantou, e viu Apolo entrando, brilhando e iluminando todo o ambiente. Estava usando um manto divino, e acenando para todos. Várias adolescentes na platéia gritavam histéricas por ele. O deus cumprimentou James e Hades, e então se sentou no sofá do lado do professor.

- Então Apolo – disse Hades – você não teve a intenção mesmo de dar a imortalidade para James mesmo?

- Não tive intenção mesmo, foi puro destino! E é uma ironia é uma ironia não? Já que sou o deus do oráculo...

- É, muita ironia mesmo – disse Hades – então James, o que você diz para Apolo agora?

- Eu... agradeço muito! – ele ficou de pé, e fez uma pequena reverencia – muito obrigado senhor Apolo, pelo dom da imortalidade! Prometo que...

- Tá, ta, não precisa puxar tanto o saco assim, não vou te emprestar dinheiro – disse Apolo, cruzando as pernas.

- É, é uma pena que James não vai ver a maravilha que é a vida pós a morte...

- Por quê? – perguntou o professor – como é a vida pós a morte?

- Muito legal e divertida – disse Hades – você vai se arrepender de ser imortal para sempre.

- Então... tem como reverter a imortalidade? – mas então, a banda começou a tocar uma música animada, e Hades disse:

- Então essa foi a nossa entrevista com James Brandini!

- Espera senhor Hades! O que vem depois da...

Mas então o deus dos mortos estalou os dedos, e James sumiu, para voltar ao seu corpo.

- Vamos para os nossos comerciais, e no próximo bloco, José Bolsonarrow, o pirata mais odiado e preconceituoso do Universo! Não percam!