A Tempestade escrita por hgranger


Capítulo 9
Capítulo 9 - Elisyum parte 1


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo é muuuuito grande e eu não estou tendo muito tempo para escrever, então vou quebrá-lo em duas ou três partes. o Cloisters, o museu descrito aqui é lindíssimo, sugiro que vejam as figuras neste link

http://images.google.com.br/images?hl=pt-BR&client=firefox-a&rls=org.mozilla:pt-BR:official&um=1&q=the+cloisters+new+york&sa=N&start=0&ndsp=18

Gostaria de recomendar a fic de um amigo, o Vladesco, chamada o Alvorecer de uma nova era. Meio que estamos ou estaremos usando personagens em comum, formando uma ambientação conjunta.

Como sempre, espero que gostem!



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"And those that have three times kept to their oaths,

Keeping their souls clean and pure,

Never letting their hearts be defiled by the taint

Of evil and injustice,

And barbaric venality,

They are led by Zeus to the end:

To the palace of Kronos"

 

Anonymous

 

 

 "Down the dank

mouldering paths and past the Ocean's streams they went

and past the White Rock and the Sun's Western Gates and past

the Land of Dreams, and soon they reached the fields of asphodel

where the dead, the burnt-out wraiths of mortals make their home"

 
— Odyssey 24.5-9, translation by Robert Fagles

                                                

Elysium. Na mitologia grega, Elysium era o nome de uma seção do mundo inferior, das terras mortas onde as almas dos heróis e homens virtuosos finalmente repousavam. O Champs-Élysées em Paris era assim denominado com base nesta mesma expressão. Glove me contara sobre os Elysiums numa noite chuvosa, em que as luzes da cidade piscavam borradas aos nossos pés, através dos vidros embaçados pelo frio.

Em New York, Elysiums eram os eventos dos mortos. As reuniões de sangue, onde havia música, bebida, conspirações, arte e horror. Eu estava em um deles esta noite. Este era um dos Elysiums mais comentados dos últimos anos. Era a estréia de Suzanne Worchester como anfitriã da reunião, e toda a preparação acontecera sob forte sigilo. O local da reunião fora divulgado apenas na véspera, por motivos de segurança. E o lugar...

Eu andara no Cloisters durante o dia... Como um mero visitante. Era uma forma de conhecer com antecedência o terreno onde eu travaria minha primeira batalha importante na cidade. O museu ficava à beira do Hudson, e fazia parte do museu Metropolitan, sendo a área dedicada à arte e arquitetura da idade média européia. Ele havia sido um presente de Glove para a cidade, transportado da França, pedra a pedra; uma capela e cinco claustros do século quinze, abrigando uma coleção de mais de cinco mil obras da época medieval. Andei o dia inteiro entre estátuas, peças de estanho e figuras de unicórnios, flores, santos e paisagens nas muitas  tapeçarias que ornavam os templos. Precisaria de toda uma vida para descrever a sensação de maravilhamento que me tomou naquele lugar; a paz que senti entre os arcos perfeitos, o som de meus passos ecoando na pedra polida. Eu podia sentir ali o cheiro e o peso do passado, a poeira do tempo. Ali o próprio tempo se arrastava, e os pensamentos que ecoavam dos poucos visitantes - era um domingo gelado - eram reverentes e impressionados.

Andei pelos jardins de plantas aromáticas e ervas, pelas as aléias de pereiras simétricas, e Bella estava comigo o tempo inteiro. Meu coração e meus pensamentos se encheram de sua presença, e eu me alegrei em poder estar diante de tanta beleza, da história viva, do mundo aprisionado entre aqueles arcos de pedra, altares cobertos com algodão egípcio e cruzes douradas cravejadas de pedras, como gotas de sangue brilhando sob os raios de sol que se infiltravam pelos vitrais.

Mas agora era noite; e nesta noite o Cloisters pertencia aos demônios, não aos santos.

Eu andava entre os convidados distribuindo sorrisos, cumprimentos discretos, olhares atentos. Os pensamentos flutuavam e cintilavam ao meu redor, maquinando, especulando, tramando coisas, pensando no futuro, cada um com sua própria característica. Pensamentos arrastados e cuidadosos dos vampiros mais antigos, pensamentos rápidos, confusos, e imprecisos dos recém criados, a tensão nos pensamentos dos outros guardas. O jardim de verão estava iluminado com dezenas de pequenas lâmpadas amareladas, emanando uma luz tênue e delicada. Ao nosso redor, as paredes e os arcos imponentes do Cloisters observavam, impávidas, a reunião de sangue. Eu não portava armas, fazia parte da estratégia. Aparentar fragilidade. Mas outros membros da guarda de Glove circulavam pelos ambientes, pesadamente armados, para lembrar aos outros vampiros que eles estavam vigiando. Era difícil, pois ao mesmo tempo em que precisavam demonstrar austeridade, tinham que ser discretos; quase invisíveis.

Os vampiros vinham em embalagens variadas. Aqueles mais diplomáticos ou apreciadores da etiqueta estavam trajados de acordo com o convite; homens de smoking, mulheres com longos vestidos de cores variadas. Alguns discretos, tímidos, e outros exuberantes, falantes. Jóias cintilavam à luz das lâmpadas do jardim ou das lamparinas a óleo nos interiores do museu, que também estavam abertos. Alcovas abrigavam conversas mais íntimas, longe dos olhares mais curiosos. Alguém desavisado tomaria aquela por uma reunião da alta sociedade... Não fosse por alguns membros, que, por imprudência, teimosia ou simples influência, decidiam desdenhar da ostentação solicitada por Suzanne, e vinham vestidos com bem lhes aprouvesse.

Era inegável. A escolha do lugar era inspiradora. A iluminação dava um revestimento de intensa beleza ao Cloisters. Um grupo barroco de cordas tocava músicas sacras do século doze, e eu ouvia ao longe o som das violas, bandolins e violinos, harmoniosos, às vezes assustadores e pesados, como a religião cristã sempre pretendeu ser. Alguns criados de Suzanne circulavam com taças de cristal cintilantes repletas de sangue fresco. Eu não queria pensar em como ela estava fazendo aquilo. Ao menos eu me reacostumara aos poucos com o cheiro, e estava muito concentrado em outras coisas para me deixar perturbar.

Glove já estava no Cloisters, com Axel sempre à sua direita, conversando com vampiros antigos que não reconheci. Percebi pelos seus pensamentos que eram da Europa, conheciam a vampira que criara Suzanne, Adelle, e vieram prestigiar o evento. Era um casal bem-vestido, Aimée e Maurice, vinham de Paris. Usavam roupas antiquadas que remontavam à corte do Rei-Sol, em tons azuis escuros combinando, ambos muito formais e rígidos, apesar de muito jovens em aparência. Pareciam à vontade ao lado de Glove, familiarizados com ele. Um terceiro era um vampiro afetado, de longos cabelos loiros, que iam até o meio das costas, e olhos azuis frios, vestindo um fraque antiquado, com cartola e bengala. Edmond. Ex-amante de Suzanne; guardei a informação cuidadosamente.

Era costume o anfitrião do Elysium adentrar à meia-noite, e foi com certa ansiedade que vi o tempo escorrer lentamente naquela direção. A hora foi marcada com doze badaladas suaves do sino da capela, e precisamente quando o eco da última badalada se perdeu no ar, Suzanne surgiu por entre as árvores, e nossos olhares se cruzaram por um único segundo. Foi o suficente para que eu sentisse um mal-estar instantâneo, e fiz uma prece mental para que tudo corresse bem naquela noite.   

 

 


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Notas finais do capítulo

Aos leitores fiéis, muito obrigada pela companhia, sugestões, comentários, críticas.
Até breve (espero eu).

Grande beijo.



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