_Você! – sussurrou Ricardo.

_Eu?- perguntou ela rindo.

_Você estava no enterro do Richard, mas eu não a conheço!

_Mas ele conhecia!

_Conhecia? – fechei a porta e fui conversar com ela no lado de fora da casa.

_Sim, tive esse azar de conhecê-lo!

_Azar?

_Vai ficar repetindo tudo o que eu digo? – ela suspirou e sentou-se na cadeira de balanço que era do meu avô.

_Então explique as coisas!

_Conheci Richard no mar.

_No mar?

_Garoto, por favor, quer chamar a sua mãe? Quero falar com ela e não com você! – esbravejou ela, irritada.

_Mas eu quero falar com você, eu te vi no enterro do meu irmão parecendo muito irritada com alguma coisa e agora você aparece aqui em casa! Quero saber o que diabos você deseja!

_Pois bem, que seja... Eu quero alugar o quartinho dos fundos!

_Não estamos mais alugando ele, quem te disse que o alugamos está um pouco atrasado!

Ela ignorou Ricardo e abriu a porta da casa. Ao ver a mãe do garoto sentada no sofá a ruiva foi até ela sem nem mesmo pedir licença e começou a conversar. A mãe de Ricardo assentiu algumas vezes e conversou com a ruiva por algum tempo, meio minuto depois a moça levantou-se do sofá e rindo saiu da casa.

Ricardo ficou furioso, será se a mãe tinha alugado o quartinho para aquela louca?

_Mãe, o que ela queria? – perguntou como se já não soubesse.

_Alugar o quartinho dos fundos.

_E?

_Eu aluguei!

Ricardo queria gritar com a mãe, como ela alugara o quartinho para uma desconhecida que pelo jeito não gostava de Richard e não parecia, ao menos, sentida com a morte dele? Alguma coisa devia estar errada! Sem dizer que haviam parado de alugar o quartinho fazia um ano, desde que o ultimo inquilino que era um ladrão os roubou.

_Mãe, você nem a conhece!

_O nome dela é Barbara, e a coitada perdeu os pais e está na cidade fugindo da megera da avó!

_E você sabe se isso é verdade?

_Não, mas eu quis ajudá-la, sei o que ela está sentindo, uma perda dessas...

Ricardo então entendeu o jogo da ruiva, estava usando a dor de sua mãe para conseguir o que queria, mas ele não deixaria isso quieto, a garota teria que se explicar melhor, pois ele não se convencera com aquela história.

Talvez não devesse estar tão desconfiado, mas havia algo na ruiva que o inquietava, alguma coisa em seu olhar frio era estranho para ele, talvez estivesse fazendo uma tempestade em copo d’água, porém iria se precaver de qualquer maneira.

Subiu para o seu quarto e ligou o computador, alguns amigos estavam online no MSN, mas ele não queria conversar com nenhum daqueles que estavam ali, queria falar com Lucas e este estava offline.

Por fim desistiu do que ia fazer, estava sendo paranóico demais, pedir que Lucas seguisse a ruiva? Estava mesmo passando dos limites, admitiu a si mesmo antes de resolver fazer os deveres de casa atrasados.

***

 Quando terminou de fazer os deveres o sol já se punha, em um alaranjado esplendoroso que iluminava levemente o seu quarto. Ele fechou o caderno e resolveu tomar um banho para aliviar o cansaço.

Despindo-se foi para o banheiro e ligou o chuveiro antes de entrar no Box, esperando que ele se esquentasse, mas pelos dois minutos que esperou a água continuou gelada como se o chuveiro estivesse desligado, mas não estava. Ricardo conferiu por várias vezes pensando estar louco, mas o chuveiro estava na potencia mais quente.

Talvez tenha queimado, pensou. Desistiu do banho e apenas vestiu roupas limpas, tinha decidido ir à lanchonete, lhe faria bem conversar e distrair-se.

Antes de sair de casa ligou para Lucas e o amigo comemorou por Ricardo ir, principalmente porque ele prometera que o ajudaria a arrumar os preparativos para mais tarde quanto os outros chegassem.

Ricardo foi a pé para a lanchonete, embora fosse um pouco longe já estava acostumado a caminhar até lá. Quando chegou lá o sol já tinha se posto por inteiro e o letreiro luminoso da lanchonete já estava ligado.

Lucas o esperava atrás do balcão, aproveitando para ajudar o pai a atender os clientes. Ao ver Ricardo acenou e deu a voltar para ir ao encontro do amigo.

_Ainda bem que você veio! – Lucas parecia mesmo aliviado.

_Nossa, porque está tão aliviado? Não tem tanta coisa para fazer!

_É que entrou novas pessoas para o nosso clube...

Ricardo e Lucas organizavam essa noite de diversão já fazia dois anos, e chamavam aquele espaço de “clube” já que só podia participar quem fosse convidado, mas eles sempre conversavam antes de chamar uma nova pessoa.

_E você não me avisou nada? – Ricardo estava um pouco irritado.

_É que você estava nessa deprê aí e eu nem tive tempo!

_Podia ter avisado hoje!

_Está certo, você tem razão! – Ele juntou as mãos e sorriu – Desculpa!

Ricardo suspirou e foi até o pequeno salão com paredes de vidro onde aconteciam as festas na lanchonete e onde eles faziam o clube. Lucas o seguiu.

_Eu já comecei a colocar algumas bebidas ali no freezer e alguns dos dominós está ali, mas falta ainda arrumar as mesas e as cadeiras!

_Percebi – murmurou Ricardo.

Eles começaram a espalhar as mesas que estavam dobradas no canto do salão e arrumar as cadeiras, geralmente eles usavam apenas duas mesas para as duas equipes de dominó, mas, desta vez, Lucas espalhara cinco mesas, assustando Ricardo.

_Ok, diz logo quantas pessoas você chamou a mais!

_Só cinco – sussurrou Lucas.

_E você diz só? Sabe o que aconteceu da ultima vez que veio tanta gente!

Dá ultima vez que Lucas resolveu chamar mais gente do que deveria virou uma bagunça, a comida acabou rápido e as bebidas também, mas o pior foi que todos começaram a gritar e os garotos foram proibidos por um mês de usar o espaço na lanchonete.

_Eu sei, mas eu conversei com todos os cinco, ou melhor, as cinco.

_Entendi, você chamou meninas para o clube, e a Manu está entre elas!

_Cara, você virou vidente?

_Não é preciso ser nenhum vidente para deduzir isso!

_Está tão na cara assim?

_Que você gosta dela? Até quem não te conhece sabe disso!

_Talvez você tenha razão, tenho que me controlar!

_Talvez? – Ricardo gargalhou.

Os sete componentes antigos do clube chegaram e todos eles vinham com alguns refrigerantes e comida na mão, Ricardo pegou tudo o que eles traziam e colocou-os no lugar correto, depois foi para a mesa onde começaria o dominó e sentou-se para ver os primeiros competidores jogarem.

Lucas e Gabriel formavam uma dupla enquanto Bruno e Michael formavam outra, enquanto cada pedra ia sendo colocada em seu devido lugar Ricardo sorria e tentava se divertir. Aquele era o único lugar onde Richard nunca esteve e também o único lugar que não fazia Ricardo se lembrar do irmão, sentia-se confortável.

Mas o seu momento de conforto acabou quando as cinco meninas entraram na lanchonete, de começo não se importou com quem estava ali Manu, Michele, Beatriz e Keiko, mas quando a quinta nova integrante entrou Ricardo levantou-se da cadeira e foi até ela.

_O que faz aqui? – ele sussurrou para a ruiva, arrastando-a pelo cotovelo para fora do salão.

_Fui convidada! – sua voz era cínica e ela parecia sorrir com os olhos.

_Eu não sei quem é você, mas estamos nos encontrando muito hoje! Até demais a meu ver!

_Não tenho culpa se estou no mesmo núcleo social! – ela sorriu e entrou de volta no salão.

Ricardo a seguiu, mas não acreditava no que estava acontecendo, aquela garota estava cruzando seu caminho novamente e ele não estava gostando daquilo, mesmo ela sendo linda ele via alguma coisa estranha na garota!

Sentou-se novamente onde esteve e tentou não demonstrar seu desconforto enquanto a ruiva conversava com Lucas e Manu se contorcia de ciúmes. Todos sabiam que ela também gostava de Lucas, só ele parecia não enxergar o obvio.