Era quarta-feira e Ricardo se perguntava se deveria ou não ir à lanchonete para divertir-se no clube de tinha criado com Lucas. Depois de muito pensar resolver não ir, mas Barbara foi e quando voltou parecia estar acompanhada de alguém.

Observando pela janela ele viu que Manu estava junto com ela entrando no quartinho. Ricardo imaginava o que as duas poderiam querer juntas, mas nada lhe vinha a cabeça. Definitivamente elas não tinham nada em comum, não que ele pudesse saber.

Sentou-se na cama e enquanto fazia um dever da escola ficou de olho para quando Manu saísse do quartinho ele pudesse ir conversar com Barbara e sondar alguma coisa, não sabia muito bem o motivo, mas não queria as duas juntas.

Manu demorou bastante tempo lá, quando ela saiu ele já tinha terminado todos os deveres, tinha tomado banho e roía as unhas enquanto fingia ler o livro de história sentado em uma cadeira na varanda de casa.

Naquela noite o céu estava sem lua e o clima era frio, uma espessa neblina encobria tudo e uma brisa gélida vinha do mar fazendo os pelos de seus braços se arrepiarem e seu corpo tremer inteiro enquanto tentava segurar o livro.

Quando Manu o viu ficou um pouco sem graça, mas o cumprimentou e foi embora. Barbara que não parecia sentir frio foi até ele e perguntou o motivo de não ter ido ao clube naquele dia.

_Não quis ir! Mas não fiz falta, não é mesmo¿

_Não, não fez falta, mas perdeu um belo barraco!

_O que¿

_Bem, a Manu, que eu percebi ser uma ótima pessoa, deu um belo tapa na cara da Sabrina!

_O QUE¿ - agora ele gritava.

_E dos fortes, foi lindo de ver!

_Mas por que fez isso¿

_Ciúmes do seu amigo!

Ricardo iria corrigi-la dizendo que Lucas não era mais seu amigo, mas estava sem fala naquele momento. Era estranho Manu ter feito isso, logo ela que sempre fora tão quietinha¿

_E Sabrina, reagiu¿ - finalmente a voz saiu, ainda que rouca.

_Ela bem que tentou, mas, cara, essa Manu é ninja, ficou pior pra Sabrina.

_E Lucas, o que fez¿

_Aquele babaca¿ Ficou sentado, olhando! E agora o pai dele proibiu de usarem a lanchonete nas quartas!

_Nossa, deve ter sido feio mesmo...

_Sim, foi...

_A Manu devia estar com bastante raiva!

_Sim, estava, depois que eu disse a ela que o Lucas tinha desisto dela a garota virou uma fera!

_Você disse isso a ela¿

_Claro, a coitada estava lá se arrastando toda pra ele e ele nem dava bola!

_Bem...

_Vamos entrar¿ Está começando a chover!

Naquela hora Ricardo já estava com os lábios e dedos frios de ficar ali sentado, seus braços e pernas tremiam tanto que ele parecia estar dançado no embalo de uma musica bate-estaca, e com a chuva ficaria ainda mais frio ali.

_Acho melhor eu ir para casa! Tchau até amanhã!

***

Mais dois dias se passou e o aniversário dele chegou. Naquele dia ele tentou ficar na cama o máximo que conseguiu ficar no tédio, já eram 14hs quando ele desceu e foi recebido por abraços da mãe.

_Parabéns! – disse ela quase chorando, provavelmente lembrando-se do outro filho.

Ricardo também estava se sentindo triste por isso, e um pouco culpado, pois dera-se de conta de que não estava pensando muito em Richard desde a sua morte, como pôde esquecer o irmão¿

Naquele dia trancafiou-se no quarto de Richard e dormiu na cama do irmão, que permanecia arrumada e limpa, como se ele fosse dormir ali naquela noite depois de um festão de aniversário onde ele brilharia como sempre. Típico de Richard.

Mas isso não aconteceria, nem com Richard e nem com Ricardo que decidira não fazer festa nenhuma, mesmo que essa pudesse ser uma homenagem a seu irmão...morto. Sua mãe havia concordado com a sua opinião e naquele dia foi ao cemitério visitar o tumulo do filho.  Ricardo não teve coragem de acompanhá-la.

Já seu pai ele não sabia onde estava, provavelmente tinha ido com a esposa no cemitério, mesmo não gostando de ir lá, assim como Ricardo não acreditava que Richard pudesse estar lá mais, ele se fora... para sempre! E só restar em um lugar... seus corações.

O dia se arrastou até que enfim acabou-se e deu lugar a um novo dia...