Fuckin Perfect escrita por WaalPomps


Capítulo 1
Youre perfect to me


Notas iniciais do capítulo

Nos vemos lá embaixo, aproveitem ;@



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Sangue. Era isso que brotava da minha pele e escorria, manchando de escarlate a lamina com a qual eu fazia mais uma marca no meu braço. As gotas de sangue no chão se misturavam as lágrimas, enquanto por alguns preciosos segundos minha mente se afastava de todos os problemas. 

_ O que você está fazendo? – perguntou alguém perto de mim e eu abri os olhos assustada. Poucos metros a minha frente estava parada Quinn Fabray, uma veterana, estática.

_ N-n-nada. – gaguejei, tentando esconder a lamina enquanto jogava a manga do suéter por cima do corte, mas não deu tempo. Ela se jogou em minha direção, caindo sobre um joelho e agarrou minha mão, fechada sobre a lâmina.

_ Me dá. – disse ela, tentando abrir minha mão. Eu a fechei com mais força e senti a lâmina ferir meus dedos – Rachel, por favor, solte a lâmina. 

Eu parei em choque, em parte por ela saber meu nome, em parte pelo tom de voz dela. Quando me pegam nessa situação grita ou entra em pânico, mas ela estava calma, como se fosse algo rotineiro. Deixei que ela abrisse minha mão e tirasse a lâmina suja da palma. Ela jogou-a no lixo, antes de me levantar e me levar até a torneira. Lavou minha mão, vendo se os dedos não estavam feridos e estendeu a mão em direção ao meu braço.

_ Posso? – perguntou e eu assenti. Ela puxou com cuidado a manga do suéter revelando a marca, não tão funda é claro, e com um cuidado e delicadeza surpreendente começou a limpa-la. Se afastou e pegou na bolsa, no chão, gaze e ataduras – Eu costumo me machucar bastante durante a educação física. – explicou ela diante do meu olhar de indagação. Ela fez um curativo simples e foi até o lugar onde eu estava sentada, limpou o chão, pegou minha mochila, sua bolsa e apontou para a porta – Vem, vamos conversar.

Eu a segui pelo corredor até o armário dela, que é perto do meu. Ela abriu o próprio armário, colocou minha mochila e sua bolsa e continuou andando. Eu a segui calada, com a cabeça baixa, o braço ardendo.

Continuei seguindo atrás dela, quando passou Finn Hudson. Eu corei e desviei os olhos, mas não pude escapar das provocações e ofensas dele. Baixei os olhos, tentando esconder o rosto com o cabelo, para ele não ver as lágrimas, quando senti alguém passar os braços pelos meus ombros e vi os cabelos loiros de Quinn, enquanto ela me tirava dali e guiava até uma sorveteria ali perto. Ela me sentou em um canto afastado e foi até o balcão, voltando com uma taça gigante de sorvete.

_ Muito bem Rachel, pode mandar ver nessa taça e me contar tudo. – disse ela. No começo fiquei receosa, eu nem a conhecia direito. Mas algo no jeito dela me passou segurança e eu comecei.

_ Quando eu estava no 7º ano, fizeram uma votação para menina mais feia da sala. Acho que você pode deduzir quem ganhou né? Eu nunca me senti tão humilhada, mais ainda porque meus amigos estavam no meio, rindo com o resto da sala. Eu chorei e percebi que isso já vinha acontecendo há algum tempo. No ano seguinte, separaram a classe e caíram alguns poucos na minha, mas isso não impediu que tudo isso continuasse. 

“No ano passado, isso continuou, foi horrível e foi ai que eu comecei a me cortar, me machucar. A dor fazia por alguns preciosos segundos tudo sumir, todos os problemas. Agora, no segundo ano, eu vim para cá, onde achei pessoas melhores, que não me julgam tanto. Mas pra melhorar minha vida, conheci um rapaz na internet, me apaixonei e ele mora do outro lado do país. Isso sem mencionar os problemas de família.”

_ Como é o nome do garoto? – perguntou ela, passando o dedo no sorvete que escorria e lambendo, mas se melecando toda e rindo (eu faço isso hein, não zoem) – Puta vida, eu sou desastrada demais!

Eu dei risada enquanto ela se limpava com o guardanapo, fazendo caretas. Quando ela terminou, fez sinal para mim continuar.

_ É Chord, o nome dele é Chord. – eu disse, o rosto adquirindo um vermelho descomunal – Ele mora em Los Angeles.

_ LA? Adooooooooooooooooro LA! – disse ela rindo e eu perguntei se ela já havia estado lá – Claro que não, mas adoro Jonas LA!

Eu tive que rir. Ela era muito retardada, meu Deus. Ela tirou o celular da bolsa, viu algo e o guardou.

_ Muito bem, mas o que tem sua família?

_ Meus pais são gays. – eu disse e ela arregalou os olhos – É, dois homens. Um deles se envolveu com a minha mãe e eu nasci, mas minha mãe não me quis e nem meu pai, então me deixou com ele e foi embora. Logo depois ele se descobriu gay e casou com o meu outro pai, que foi quem me criou.

“Minha mãe se envolveu com outro homem logo depois, engravidou novamente, mas não abriu mão nem da criança, nem dele. Casou-se e hoje vive feliz com sua família. Se eu disser que a vi 15 vezes na vida, é um exagero enorme.”

“E meu pai, o que me criou... Bom, ele ta doente. Bem doente. De novo. Ano passado já passamos por isso e ele escapou por pouco e agora está mal de novo! E eu sinto tudo caindo e...”

As lagrimas impediram que eu dissesse mais alguma coisa. Eu cobri os olhos com as mãos e solucei. Senti a mão dela no meu ombro, afagando e sussurrando “eu sei como é”. Eu a olhei e ela sorria, mesmo que de olhos molhados. Ela respirou profundamente antes de começar.

_ Eu estudei no mesmo colégio dos 3 aos 14 anos. Nesse colégio, aos 5 anos, os meus coleguinhas de sala inventaram o vírus da Quinn. Diziam não poder relar em mim, ou ficariam malucos. Às vezes, durante as brincadeiras, as meninas davam um jeito de me bater, viviam me excluindo das coisas. Eu tinha apenas uma amiga verdadeira, Andy. Somos amigas até hoje.

“No ano seguinte, meus pais me mudaram de período e eu me vi ‘livre’ disso. Mas logo, os novos coleguinhas arranjaram um jeito de me machucar também, não fisicamente, ainda bem. Mas não foram poucas as vezes que eu chorei em sala de aula.”

“Acho que a 2ª série foi melhor e... Ah não, esquece, foi nesse ano meu primeiro amor. Lucas. Uma idiota, me fez sofrer com apenas 8 anos, é mole?” eu ri e ela também “Na 3ª e 4ª serie... Nunca fui tão humilhada na vida. Eu vivia em um mundo só meu, e as vezes, as ações que eu tinha, eram nesse mundo, e ninguém mais via isso. Picharam xingamentos nas carteiras, gritaram na sala de aula, entre outras milhares de coisas. Na 3ª série, foi a primeira de, ouso dizer, mais de 100 vezes que levei alguém pra direção por esse motivo.”

“Na 5ª, 6ª, 7ª série foi a mesma coisa, mas tudo is piorando aos poucos, porque além de tudo, eu estava lidando com a traição de uma das minhas melhores amigas, na 4ª série. Foi uma época tensa demais. Na 7ª série, cheguei ao limite. Me apaixonei pelo melhor amigo do meu primo, um primo pra mim também, pois nos conhecíamos desde pequenos. Ele tava com uma amiga minha e isso gerou milhares de problemas, foi ai que cheguei ao fundo do poço. Só chorava, ficava ruim, creio eu que mais um tico e PAM, entrava em depressão.”

_ E como você saiu disso? – me peguei sussurrando, comendo o sorvete numa ansiedade sem igual. Ela abriu a carteira e tirou uma foto dela com um rapaz e cinco meninas.

_ Estes são Ryan, Lilian, Mia, Mel, Emma e Larissa. São meus ‘anjos’. – disse ela, sorrindo – Foram eles que me salvaram na 7ª série. Até hoje não sei como, mas eles me pegaram antes mesmo que eu pudesse ver que ia bater no chão. E eu devo isso a eles. 

“Claro que foi um ano difícil, cheios de visitas a diretoria, entre outros problemas, mas agora eu tinha em quem me apoiar. No ano seguinte, apenas o Ryan e a Mel estavam na minha sala, mas ainda sim, foi uma grande força. Perdi muitos medos, em relação a me relacionar com os outros. Fiz mais amizades, reatei amizades, comecei a conversar com meninos, porque pela primeira vez eles não falavam comigo só pra me xingar.”

“Claro que sair de lá me doeu, mas foi uma benção, para começar vida nova aqui no McKinley. Parte disso me seguiu, algumas pessoas. Tive problemas no 1º ano, mas bem pequenos, quase nada. As pessoas começaram a me respeitar, porque eu passei a me respeitar.”

“Eu era ridícula quando mais nova, até hoje não me arrumo, mas era beeeeem pior. Mas a partir do momento em que pelo menos o rabo-de-cavalo eu fazia direito, sei lá, eu me senti melhor. Você é bonita Rachel, muito bonita, por dentro e por fora. E você não deve ligar para o que esses idiotas falam. Ligue pra os que te amam, te dizem. O Chord te acha bonita?

_ Ele me acha linda. – eu disse, corando e ela riu.

_ Então Rachel, ligue para isso. Eu sei que é difícil se desligar do que os outros dizem, porque eles sabem como fazer pra te atingir. Mas lembre-se: Deus só vai lhe dar a cruz que você puder carregar. – disse Quinn e pegou minha mão – Um dia, assim como aconteceu para mim, vão aparecer anjos na sua vida Rachel, e eles vão te ajudar, assim como fizeram comigo. E você vai ver como depois disso, TUDO vai sumir, toda a dor, o medo, a tristeza. E isso – ela apontou me pulso – vai fazer você se envergonhar de ter SE usado de instrumento para ELES te ferirem, mas dessa vez fisicamente.

Ela pegou meu celular e o dela e passou algo por bluetooth. Me entregou e eu vi, ‘Fuckin Perfect”, da Pink.

_ Se em algum momento você quiser se cortar, ouça a musica. E se não bastar, eu deixei meu numero na agenda. É só me ligar.

_ Quinn... – eu disse hesitante – Você parece tão... Acostumada com tudo isso, como se já tivesse lidado com pessoas se cortando e tal. Você se... Cortava?

_ Não, isso nunca, graças a Deus. – disse ela, sorrindo tristemente – Eu tinha um amigo, Chris, ele tinha depressão e desde o 1º ano ele se cortava. Acho que você já ouviu falar nele, foi expulso esse ano por espancar a namorada.

_ Claro que sim! – eu disse, chocada – Eu fiquei sabendo. Foi aquele que bateu na namorada, ofendeu o guarda, mando o diretor pra...

_ Esse mesmo. – disse ela, coçando os olhos, parecendo cansada – Ano passado, eu o vi bater nela, mas foi só um tapa, apesar de muito forte. Estávamos eu e uma amiga. Ela foi embora, eu no banheiro. Quando voltei, eles discutiam, e eu fui apartar. Ele cortou o pulso, superficial é claro, mas um corte enorme. O diretor apareceu e eu tive que mentir, porque o Chris ameaçou bater nele. Foi tudo muito tenso. 

“Eu lidava vira e mexe com os cortes do Chris, mas nunca no momento em que ele fazia isso. Foi um dia muito tenso, muito difícil, e hoje quando te vi, lembrei daquilo. E a calma... To acostumada a lidar com gente... Nervosa!” disse ela, rindo um pouco “Mas é outra história, pra outro dia.”

Nos levantamos e fomos pra escola. Ela pegou minha mochila e me deu, enquanto punha a bolsa. Naquele momento, Finn passou. Menciono agora ou depois que eu já fiquei com ele, e ele me ofender por isso. Quando mencionei isso, Quinn riu.

_ É preciso beijar sapos para achar o príncipe Rachel. Um dia seu príncipe vai surgir, mesmo que não seja aqui em Lima. Pode ser em LA. – disse ela, dando de ombros e fazendo ambas rirem.

_ Obrigado por tudo Quinn. – eu disse, a abraçando.
_ Eu estou aqui, sempre que precisar. – disse ela, indo para o carro. Eu segui para o meu em silêncio. 

Olhei na direção dela e sorri. Ela arranjou anjos que a ajudaram a sair do poço. Hoje eu sei que eu tenho, não um anjo, mas sim uma fada que vai me ajudar, porque a história que ela contou do Chris, eu já conhecia. E conheço também o apelido que as amigas lhe deram: fadinha. 

Então a partir de hoje, eu sei que tenho uma fada pra me ajudar e com quem contar. Uma fada que me mandou a seguinte mensagem:

“Pretty pretty please don't you ever ever feel

Like you're less than fucking perfect

Pretty pretty please if you ever ever feel

Like you're nothing you're fucking perfect, to me

Da sua fadinha particular, Quinn Fabray”


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Notas finais do capítulo

Essa fic é pra uma amiga muito especial, não direi quem é, ela sabe. A história é quase 100% veridica, algumas coisas foram adaptadas. Mas tanto a minha história, quanto a dela, em linhas gerais (porque foi adaptada pra compactuar com a da Rach) são reais.
Espero que tenham gostado, reviews são sempre bem vindos e vamo que vamo.



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