O sol brilhava lá fora. Seus raios eram refletidos para dentro do quarto de Noelle através de uma pequena janela de vidro transparente. Abriu seus olhos lentamente, deixando escapar um longo bocejo. Finalmente amanheceu. Chegara o dia de ler o testamento de sua falecida avó, que era sua única família. Levantou-se de sua cama e caminhou em passos arrastados até a porta de entrada. Havia uma carta depositada no tapete do rodapé da porta.

Agachou-se e pegou a carta, rasgando o envelope de tom amarelado. Dentro dele continha um pequeno papel branco, cujo trazia escrito em letras trêmulas o seguinte texto:

“Querida netinha, suas heranças não são materiais. Eu deixo com você toda a minha coragem e bravura para enfrentar os perigos que surgirão em seu caminho, deixo contigo também a minha lealdade para que esteja sempre cercada de pessoas que te deem um voto de confiança. Mas, minha pequena, há uma coisa que eu gostaria de dar-te. Uma coisa que há vários séculos fora guardada por nossos ancestrais. Algo mágico, que para quem sabe apreciar, tem um grande significado. Um livro. No começo você achará algo sem significância, banal. Mas apenas leia a contracapa e você terá uma grande surpresa. Espero que desfrute deste mundo mágico que lhe espera ansiosamente. Eu te amo querida. PS: O livro encontra-se escondido, num lugar onde você viveu a sua infância, onde você ganhou um grande talento.”.

— Eu também te amo vovó. — Noelle pensou sobre o que estava escrito no final da carta, e apenas um lugar veio em sua mente. Correu para o banheiro, banhando-se bem depressa, logo, indo para o local onde a carta-testamento pedia.

— Nossa, nem acredito que estou aqui de novo. — A sacada do velho estúdio de ballet estava completamente destruída pelo fogo.  Alguns rastros de cinzas ainda eram arrastados pelo vento de dentro do estúdio para as ruas da cidade. — É... Vamos lá. — com passos delicados Noelle adentrara o destruído estúdio. A visão interior era ainda mais horrenda. Tudo estava preto como carvão e havia somente a pouca iluminação das janelas quebradas. Caminhou um pouco até esbarrar com um imóvel de estatura média que já estava caindo aso pedaços. Estava coberto com um lençol branco sujo com manchas cinzentas por toda sua extensão. — É isso.

Noelle puxou o lençol, levantando uma enorme poeira que a fez tossir algumas vezes, ecoando o barulho pelo estúdio vazio. Sobre o imóvel estava um grande livro velho e surrado, coberto pela poeira. Apanhou-o e o pressionou contra seu peito, em seguida saindo do estúdio em direção a sua casa. Estava curiosa para saber o que havia dentro do livro, mas algo dizia que ela só deveria o abrir quando chegasse a sua casa.

Finalmente encontrava-se trancada dentro de seu quarto sobre a sua cama ainda com o livro sujo e velho em mãos. A ansiedade para abri-lo era tanta que mal conseguia mover-se. Seus olhos estavam vidrados a capa vermelha aveludada do livro. Com um repentino impulso suas mãos puseram-se a folhear as páginas do livro. Para sua surpresa, nelas não continham nada além de manchas de bolor e poeira. Abriu na contra capa e deparou-se com algumas escritas.

“Leia a frase abaixo em voz alta.”

— Essa é a coisa mais ridícula que eu já vi. Onde já se viu? Um livro velho e empoeirado, sem algum conteúdo e apenas uma frase idiota? Ah meu Deus, diga-me que isso não é a minha herança. — Noelle havia ficado vários minutos tentando dar sentido para uma atitude tão banal como aquela. “Ler uma frase em voz alta? O que isso irá causar? Eu tenho certeza que nada, não faz sentido.” pensava consigo mesma.

— “Seja bem-vinda ao mundo de Laatholan, onde habitam Os Filhos da Lua e diferentes tipos de criaturas.” — um intenso brilho saíra de dentro do livro, fazendo com que Noelle cerrasse seus olhos fortemente. Um barulho agudo a ensurdecia, e o brilho era cada vez mais intenso, não podendo de maneira alguma abrir seus olhos. Estava sendo transportada por um portal, porém, a garota ainda não sabia disso. Sentiu-se como se estivesse caindo em alta velocidade, até seu corpo bater rispidamente contra o chão, fazendo ecoar um baque por todo o local. Noelle havia desmaiado.