Noite de inverno. Ele não chegava em casa. Ela não conseguia dormir. As luzes de Londres brilhando, a neve começava a cair, cobrindo a calçada. Poucos ruídos. A gata branca deslizou pelo quarto, até pular na cama, se aninhando ao lado da dona. Ela respirou fundo, tentando tirar a preocupação do corpo e pegar no sono. Algo que não aconteceu tão cedo.

Manhã de inverno. O céu estava carregado de nuvens. O cobertor xadrez de flanela jogado sobre seu corpo adormecido. Seus cabelos bagunçados sobre o travesseiro branco. Ele a assistia da porta do quarto, sem fazer barulho algum para não acorda-la. Ele resolveu entrar no quarto, tomando cuidado para não fazer nenhum movimento brusco que pudesse a tirar de seu sono. Ele viu o caderno de capa dura azul marinho pousado no criado mudo. Ele o tomou em mãos, olhando para ela rapidamente, antes de abri-lo. Passeou pelas folhas, parando aqui e ali para re-ler algumas palavras, trazendo algumas boas memórias. Finalmente chegou nas últimas palavras escritas por ela.

Ela se sentou ao lado dele, apoiando sua cabeça em seu ombro. Ficaram naquela posição por alguns minutos, até ela levantar um pouco o rosto e depositar um beijo logo abaixo de sua orelha. Ele deslizou os dedos pelo cabelo dela, se afastando para olha-la nos olhos.

"Eu te amo." Ele disse.

Ela ficou na mesma posição, a respiração calma.

"Eu também te amo." Ela respondeu.

Ele respirou fundo e voltou a atenção para a televisão à sua frente. Ela se aninhou em seu peito, antes de fechar os olhos ao toque dos lábios dele no topo de sua cabeça.

Ele tirou os olhos do caderno depois de terminar de ler, voltando o olhar para o calendário próximo à porta do quarto. Um círculo vermelho em torno do dia 15. Ontem. Ele suspirou pesadamente, deslizando os dedos pelos cabelos negros. Olhou para baixo e a viu respirando calmamente. A expressão serena. Foi até o guarda-roupa e tirou uma calça de moletom velha, vestindo-a logo em seguida. Foi até o outro lado da cama, deslizando sobre os lençóis brancos e se ajeitando ao lado dela. Puxou o cobertor de leve até que esse o cobrisse também. Passou o braço pela cintura da garota, encaixando o rosto na curva de seu pescoço.

"Eu te amo." Ele sussurrou em seu ouvido. "Me perdoa?"

Ela continuava a respirar calmamente. Ele sentia o nó se formar no fundo de sua garganta ao imaginar o quão brava ela estaria com ele quando acordasse, até sentir a mão quente dela cobrir a sua gelada sob o cobertor.