Sonho - Um Prelúdio Pós-Reichenbach escrita por odinsons


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Eu andava PRECISANDO fazer uma fanfic dramática pós-Reichenbach, e aqui está ela! Usei a música Sogno, do tenor Andrea Bocelli, porém a coloquei em português na fanfic e não em italiano. Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/206234/chapter/1

Vai, te esperarei

A flor no jardim marca o tempo

Aqui desenharei o dia da tua volta

És tão segura de meu amor

que o leva consigo

fechado nas mãos que leva à face

pensando ainda em mim

Sherlock

            Larguei a tesoura, porém não olhei para o espelho. Fiquei encarando todo aquele cabelo na pia. Eu nem sabia que tinha tanto... Respirei fundo e encarei meu próprio rosto. Meu cabelo estava anormalmente curto e eu demoraria a me acostumar com isso. Mas era necessário, pelo menos por enquanto.

            Juntei todos os chumaços cortados e os joguei no lixo. Limpei o que sobrou com a própria água da torneira. Depois me despi e tomei banho. Os dias andavam sendo logons e a água quente em meu corpo me ajudava a relaxar.

            Depois de seco e vestido, mergulhei na cama que Molly me destinara. Cobri-me até o pescoço e me contorci até ficar em posição fetal. Senti falta dos braços de John me envolvendo e de seu corpo quente contra o meu gelado.

            Cobri minha cabeça com o edredom e ali, escondido, deixei as lágrimas rolarem pelo rosto.

E se achar necessário o mostre ao mundo

que não sabe que vida há

no coração que distraido parece ausente

não sabe que vida há

naquilo que só o coração sente

Não sabe

John

            Abri os olhos, mas continuei deitado. Todo dia era a mesma coisa. Vale a pena levantar daqui? Encarar o apartamento vazio, sem a mínima presença dele? Sentir essa maldita dor no peito ao abrir a geladeira e perceber que não tem nenhuma parte do corpo humano lá dentro?

            Mas alguma coisa dentro de mim me fazia levantar e seguir em frente. Eu não queria admitir para mim mesmo que eu sentia uma fagulha de esperança. Isso só tornaria as coisas ainda mais dolorosas. Fui ao banheiro, tomei banho, me troquei e fui para o consultório.

            O trabalho andava ajudando mais que a terapia. Eu trabalhava até a exaustão para chegar em casa e conseguir tirar o menor dos cochilos. Desde que tudo acontecera, eu não conseguia dormir direito. As olheiras se aprofundavam em meu rosto e as veias de meus olhos se mostravam cada dia mais aparentes. Eu estava cansado, mas simplesmente não conseguia dormir mais de uma hora e meia por dia.

            Aliás, eu não conseguia fazer nada por muito tempo.

            E é nesse momento que eu me pergunto por que eu levantei da cama.

Aqui te esperarei

E roubarei os beijos ao tempo

Tempo que não pode apagar

com lembranças o desejo que

fica fechado nas mãos que leva à face

pensando ainda em mim

Alguns meses tempo depois

Sherlock

            Abotoei cuidadosamente minha camisa e me olhei novamente no espelho. Parecia bom, mas ainda faltava... Peguei meu casaco que jazia na cama e o vesti, assim como o cachecol azul que sempre usava. Meu cabelo estava um pouco mais comprido e... agora sim, eu voltara a ser o Sherlock Holmes dos velhos tempos. Quase consegui sorrir para o espelho. Eu estava feliz, mas durante esse tempo que tive que ficar longe de John, eu tinha me esquecido um pouco de como sorrir.

            -Parece bom –disse Molly, parada no batente da porta.

            -Obrigado –respondi, olhando para ela pelo espelho.

            -Tem certeza disso, Sherlock?

            -Tenho –me virei e olhei seu rosto- Já está na hora. John deve estar sentindo minha falta.

            Ela sorriu timidamente.

            -Tem razão. Vai. Não pode se atrasar.

            Andei até ela e encostei meus lábios em sua bochecha.

            -Obrigada por tudo, Molly Hooper.

E te acompanhará passando cidades por mim

por mim que ainda estou aqui

e sonho coisas que eu não sei de ti

Onde estará por qual caminho retornará

Sonho

John

            Desci do taxi e respirei fundo. Estava na porta do cemitério.

            Era um dos costumes que eu adquirira depois de... bem, depois de tudo. No penúltimo sábado do mês, exatamente às 14h45, eu pegava um táxi em Baker Street para, às 15h, estar no cemitério onde era a nova residência de Sherlock Holmes. Sempre assim. Eu não sabia a razão de ser tão metódico nessas datas. Eu esperava que esse ritual invocasse algum espírito pálido, alto e com um sobretudo preto? Com certeza não. Eu simplesmente seguia a mesma rotina sempre porque era a única coisa na minha vida que ainda me ligava a Sherlock. A um Sherlock ainda mais frio, comido pelos vermes e sob a terra, mas ainda assim... ao meu Sherlock.

            Eu nunca levava flores para ele. Sabia que ele não gostaria de ver sua lápide enfeitada e colorida. Eu a deixava ali, simples e minimalista como ele sempre fora. Agachei-me defronte ela e fixei meus olhos no nome escrito em dourado.

            -Ahn... oi, Sherlock. Eu sempre te perguntei “como vai”, mas a resposta nunca mudou então... bem... eu decidi não perguntar hoje. Sei que você deve estar... bem –pirragueei, tentando manter minha voz calma- Eu também estou bem. Ando conseguindo dormir duas horas por dia em vez de uma hora e meia –dei uma risadinha para o nada, como se ele pudesse notar a minha suposta piada- E... ainda estou esperando aquele milagre, tá? Eu sei que você é a pessoa mais teimosa do mundo e que provavelmente vai demorar até você voltar, mas... –sorri, mesmo com as lágrimas saindo de meus olhos- Eu vou continuar esperando. Não importa quanto tempo. Eu vou continuar esperando.

            Levantei-me e me posicionei ao lado de sua lápide, colocando minha mão sobre ela. Eu gostava de fazer isso como uma despedida. A superfície gelada me lembrava o toque de Sherlock. Era como se ele ainda estivesse ali...

            Senti uma mão pousar levemente em meu ombro. Limpei minhas lágrimas e me virei, com um meio sorriso, para um provável sujeito que viera me consolar. Eles eram um tanto frequen...

            O meio sorriso desapareceu, dando lugar a um lábio inferior trêmulo e ligeiramente aberto de espanto. Lágrimas voltaram a inundar minha face, mas eu ainda podia vê-lo.

            Sherlock Holmes.

            Seus cabelos estavam mais curtos, seu rosto mais pálido, seu corpo mais magro. Mas o que mais me chamou a atenção foram seus olhos. Eles falavam tudo o que o detetive consultor estava pensando, mas não expressando com a boca. Seus olhos diziam a mais profunda e sincera versão da frase: Me desculpe.

            E eu, John Watson, como seu mais fiel amigo e seguidor, não consegui aguentar toda a carga emocional que aquela cena me impunha. Fechei meus olhos e caí de joelhos, chorando. Eu havia visto muitos soldados fazendo isso quando reviam suas famílias, mas eu simplesmente não entendia por que. Mas agora, mais do que nunca, eu entendia: depois de passar tanto tempo no inferno, ver anjos de novo emocionava mais do que tudo. Emocionava, amedrontava e misturava os sentimentos.

            Senti a mão dele em minha cabeça. Abri meus olhos e ele estava ajoelhado na minha frente. Seu braço me puxava para perto dele e eu não consegui resistir. Envolvi o detetive com os meus braços e apoiei minha cabeça na curva de seu pescoço, ainda chorando. Uma de suas mãos continuava em minha cabeça, seu outro braço envolvia minha cintura, me segurando.

            Eu não sei quanto tempo nós passamos daquele jeito, mas se dependesse de mim, eu ficaria a eternidade assim. Afinal, se eu já havia me resignado a passar a eternidade sem ele, essa pequena mudança nos planos era absolutamente bem vinda.

Aqui eu esperarei

e roubarei os beijos ao tempo.

Sonho.

Um som, o vento que me desperta

E já estás aqui


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sonho - Um Prelúdio Pós-Reichenbach" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.