Capítulo 2

Entre fraldas e caretas

Wally encarou longamente aquele bebê chamado Heracles Wayne. Era um bebê saudável, moreno e de olhos azuis. O garoto de seis meses era quase à imagem e semelhança do pai, o que fazia com que o jovem ruivo nem quisesse imaginar como ele seria no futuro. Já previa que seria tão carrancudo quanto Bruce.

“Tenho até dó do moleque...”, pensou.

Já na grande sala de TV, Wally esparramou-se no confortável sofá após posicionar o carrinho do bebê ao lado. Pegou o controle remoto e começou a procurar pelo canal onde estava passando seu programa favorito, coincidentemente patrocinado por um fabricante de cereais pelo qual fez a mais nova propaganda como Flash.

Wally estava até curtindo seu dia de folga, afinal não devia ser tão difícil cuidar de um bebê aparentemente tranquilo...

... Pelo menos até sentir um cheirinho bastante desagradável.

Procurou pela fonte daquele cheiro que agora se tornava horrível. Quando olhou para o lado e descobriu de onde vinha aquele fedor...

– ‘Cê tá de brincadeira, né, ô Bat-Bebê?

Como resposta, o herdeiro Wayne começou a chorar. E o ruivo o pegou no colo, sem saber o que fazer.

– Ô Alfred! Me ajuda aqui! O Bat-Bebê borrou as fraldas!

Nenhuma resposta. Wally teve que correr ao quarto da criança e, munido de seu manual de bolso “Como ser uma babá – Para iniciantes”, colocou o bebê no trocador e procurou pelas fraldas. Após encontrar uma limpa, procedeu tal como as instruções do livro.

Ou, pelo menos, tentava proceder como estava escrito lá. Mas logo que Wally tirou a roupinha e abriu a fralda de Heracles...

– Eca...! – tapou o nariz em sinal de nojo. – Pô, Harry, precisava me sacanear assim? Argh, não sabia que cuidar de bebês poderia ser tão nojento nessa parte...!

Como Wally lia tão rapidamente quanto corria e batia nos vilões, seguiu as instruções e em cinco segundos conseguiu limpar o bebê da forma devida. Em seguida, pegou o talco para aplicar nele. Porém, assim que jogou determinada quantidade... Essa quantidade foi parar em seu rosto, ao mesmo tempo em que se ouvia o som de um “pum”.

Rapidamente, o ruivo tirou o talco que voara para o rosto em decorrência da flatulência liberada por Heracles. Pelo menos o bebê não voltara a se sujar, para seu alívio. Em quinze segundos, ele colocou a fralda e com mais vinte, vestira novamente o menino.

Diante disso, estava satisfeito com a primeira prova.

– É... Tirando o fato de ser um trabalho nojento, até que fui bem...

Wally pegou o bebê já limpo e trocado e o colocou de volta ao carrinho. Refestelou-se no confortável sofá e pegou o controle remoto. Seu programa favorito continuava a ser exibido na TV, não havia perdido muito tempo.

– Ahá! Bem a tempo!! – comemorou.

Comemorou, mas por pouco tempo. Heracles começou a chorar. Recorreu mais uma vez ao manual “Como ser uma babá – Para iniciantes”, para identificar o tipo de choro que o bebê emitia. Folheava rápida e desesperadamente as páginas do livro pra descobrir, até que...

– Ah, então é isso!! Tá querendo um pouco de atenção, não é, garotão?

Pegou o bebê no colo e começou a fazer caretas variadas. O efeito foi imediato: Heracles começou a rir, e Wally ficou mais confiante. Resultado: o ruivo começou a exibir seu vasto repertório de caretas e trejeitos engraçados. Começou a fazer cócegas na criança, que não parava de rir um só instante.

E se havia alguém que ele sabia agradar, eram as crianças. A brincadeira de “Titio Flash” tinha até um fundo de verdade no fim das contas.

E, após muita brincadeira, Heracles acabou caindo no sono. Wally o acomodou no carrinho e o contemplou por alguns instantes.

– Agora eu sei que ele não vai ser carrancudo igual ao pai. – concluiu com um sorriso debochado. – Mais tarde vou levar você pra dar um passeio, Harry... Você é filho de um Morcego, mas não é obrigado a viver no escuro!

*

– Bonequinha para Pudinzinho! Você está ouvindo, Pudinzinho?

– Pudinzinho na esc... Que “Pudinzinho”, que nada! Meu codinome é “Palhaço Sinistro”! Desembucha, criatura!

– Alvo completamente desprotegido, a não ser por um babaca ruivo! Pelo o que escutei, vão passear.

– Formidável, Bonequinha. Agora podemos botar nosso plano em prática. Pode voltar, já tivemos informações mais do que suficientes.

– Sim, Pudinzinho!

– Eu já disse que não é “Pudinzinho”, é “Palhaço Sinistro”!

*

– Ah... Nada como respirar um pouco de ar fresco, não é, Harry? – Wally disse, enquanto brincava com o garoto. – Ai!!

A dor que o ruivo sentira foi por conta da forma como o bebê pegara em seu dedo da mão direita, quase lhe causando uma fratura. Agora sabia, com toda a certeza, que Heracles Wayne realmente era filho de Bruce e Diana.

O dia estava quente e com o céu limpo no Parque Municipal de Gotham. Wally viu um carrinho de picolé e mexeu no bolso da calça. Encontrou algumas moedas e decidiu:

– Espera um pouquinho aí, Bat-Bebê, que já volto!

Deu alguns passos despreocupados até o carrinho de picolé, crendo que o herdeiro Wayne estaria seguro. Afinal, era só por um instantinho, ninguém iria ser idiota de tentar qualquer coisa contra um inocente bebê. Oras, a identidade dos pais era um segredo guardado a sete chaves até por ele!

Wally comprou um picolé de morango e pagou ao sorveteiro. Deu alguns passos, já começando a abrir a embalagem.

– E aí, Harry! Quer um pedacinho de picolé?

Quando se aproximou do carrinho... Não tinha nem Heracles Wayne, nem Harry, nem Bat-Bebê... Procurou pelo garoto por todo canto, nas proximidades do banco onde estavam. Correu com toda a velocidade que era possível para não ser notado e revirou o parque todo.

Mas nada do bebê. E agora batia o desespero em Wally, que conseguiu resumir a atual situação em apenas duas frases:

– Agora tô frito...! Fritinho da silva...!