Nós Que Aqui Estamos, Por Vós Esperamos escrita por HyandaSama


Capítulo 2
A Pequena Flor de Cerejeira


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo desta modesta coleção.
Espero que gostem...



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A bruma leitosa da manhã escorria do céu e banhava os túmulos com seu toque gélido, ao adentrar os portões fui recebida pelo silêncio, este me envolveu com seus braços gentis e partiu ao meu lado para a longa viagem por entre as histórias ínfimas dos habitantes deste pacífico lugar, um buquê jazia em meus braços, várias flores, cores e aromas misturavam-se nele, cada uma com um significado.

O primeiro túmulo que avistei era pequeno, aproximei-me dele, o mármore que o compunha era esplendorosamente branco, a foto mostrava uma garotinha oriental, seus olhos ônix pareciam profundos, seu sorriso era quente, ela parecia feliz. Abaixo estava gravado seu nome: “Sakura Tomoeda”, ainda mais abaixo as datas de nascimento e falecimento: “25/05/1983 – 16/07/1989”. A vida tem suas ironias, aquele era um nome apropriado, afinal tal qual uma flor de cerejeira, sua existência foi breve, porém linda.

Mirei o carvalho que servia de sentinela para o cemitério e pude ver a pequena flor correndo com os braços esticados, os olhos fechados e a face voltada para cima na intenção de sentir o delicado toque da neve em sua pele. Suas bochechas rosadas e sua respiração entrecortada mostravam que a energia dela se esvaia aos poucos, mas isso não a impedia de continuar a correr pela calçada, com seus pés afundando na neve macia. Seus pais a observavam de longe com um terno sorriso no rosto, nunca haviam visto-a tão animada e alegre, “Ah, a inocência infantil” pensou eles “faz com que sejam capazes de se divertir com as coisas mais simples da vida”.

Ainda correndo de olhos fechados, a garotinha tropeçou em uma pedra e tombou, os pais levantaram-se e foram até ela, mas a pequena oriental foi mais rápida e se deitou de costas, agitando seus braços e pernas até formar um anjo de neve, seus pais pararam e começaram a rir aliviados por não ter sido uma queda grave. Subitamente a menininha abriu os olhos e fitou sua mãe, “que dia é hoje, okaa-san*?” perguntou ela com uma voz infantil. “Hoje é dia 16 de julho, querida” respondeu a mãe.

Sakura levantou-se, sacudiu a neve de seu casaco rosa e pôs-se a correr novamente, passando por entre as árvores avistou um gatinho perto das raízes do grande carvalho sentinela, correu até ele, porém o gato foi mais rápido e atravessou a rua, a menina animada pela caçada ao felino foi ao seu encalce sem perceber que um carro se aproximava, o motorista viu a pequena Sakura quando já era tarde demais, ao tentar frear, o automóvel deslizou pela fina camada de gelo que cobria a pista e chocou-se com a garotinha antes mesmo que ela pudesse fugir. Apavorado pelos acontecimentos e por notar a aproximação dos pais da vítima, o homem acelerou e fugiu, deixando para trás o corpo sem vida da pequena flor e os prantos de seus pais...

Abri os olhos e fitei o pequeno túmulo à minha frente, suspirei sentindo os olhos marejados, as crianças sempre mexiam comigo. Depositei uma Gérbera amarela próxima a foto da garotinha e afastei-me da sepultura, havia outras histórias para contar, portanto não poderia demorar-me em uma pessoa só, mesmo que ela fosse uma flor de cerejeira bela e delicada.

A gérbera significa a pureza e inocência das crianças.


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Notas finais do capítulo

"Okaa-san" significa "mãe" em japonês.
Espero que tenham gostado.



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