Dias De Um Futuro Esquecido escrita por gelmo


Capítulo 2
Reunião Familiar




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As nuvens rugiam anunciando a próxima tempestade. O bruxo, com completo desinteresse pelo tempo, apenas levantou a gola de sua pesada capa de chuva e continuou seu caminho. Era um homem baixo e magro, de gestos aristocráticos, e feições arrogantes. Vestia por baixo da capa, um manto negro azeviche. Uma cartola e uma bengala com o cabo de prata davam um toque exótico a sua figura, as luvas, de um branco impecável, contrastavam com sua pele negra. Sem demonstrar pressa, caminhava em passos decididos pelas ruas escuras de Londres. Sem hesitação, entrou num Pub na periferia da cidade, freqüentado por bruxos e trouxas com muito dinheiro e poucos escrúpulos. Era um lugar, onde se podia pedir ao garçom uma bebida ou uma criança trouxa para sodomizar, com igual trivialidade.

Varias pessoas, sentadas às mesas mais próximas a porta se viraram para ver quem havia entrado, mas rapidamente perderam o interesse no desconhecido. Nesses tempos conturbados, não era saudável prestar muita atenção aos problemas alheios. A vida de um homem custava muito pouco hoje em dia.

Olhando ao seu redor com arrogância, procurou uma mesa afastada e postou-se ao seu lado impaciente. O atendente do lugar correu ao seu encontro, tropeçando em alguns clientes menos ilustres e quase caindo em sua pressa.

– Deseja beber alguma coisa milorde? – perguntou de modo servil, enquanto retirava a capa molhada dos ombros magros – deseja companhia? Talvez uma menina? Recebemos um lote novo vindo do norte, a mais velha mal completou treze anos.

– Cale-se idiota, seu palavreado me aborrece. – antes de se sentar à mesa, jogou sua cartola e bengala sobre o homem, que se curvou rapidamente para apanhá-los antes que caíssem no chão. Descalçou as luvas com calma e só então se sentou – Traga-me uma garrafa de seu melhor whisck de fogo, e dois copos. Estou esperando alguém. Traga-me também seu catálogo de mulheres, talvez eu aprecie uma de suas meninas quando acabar meus negócios.

– Esse alguém que o senhor espera, por acaso seria um ruivo forte e mal-encarado milorde? – Antes mesmo de terminar a pergunta, já se arrependia de ter aberto a boca. Aquele homenzinho o encarou de forma estudada e cruel por vários segundos antes de perguntar com a voz fria:

– Alguém com essa descrição, perguntou por mim?

– Não exatamente pelo senhor... – começou de modo titubeante.

– Explique-se imbecil.

– Um jovem assim me instruiu para avisá-lo se alguém se sentasse sozinho e pedisse bebida para dois. Na verdade ele me prometeu dez libras se eu o levasse a pessoa certa.

– Mande-o vir até aqui. – e acrescentou com um sorriso maligno – E lhe prometo dez chicotadas no rosto, se for a pessoa errada. – retirou a varinha de dentro das vestes e a colocou sobre as luvas, deixando bem claro ao apavorado garçom, que pertencia à casta dominante daquela sociedade e poderia cumprir com a promessa.

Alguns minutos depois um imenso ruivo abriu caminho até a mesa, estacou-se em frente ao homem sentado e fitando-o com aparente clara hostilidade. Se bem que essa não é uma descrição fiel a cena. Ele não precisava abrir caminho, as pessoas franqueavam-lhe passagem. Alguns com cautela, outros com medo real. O homem vestia uma camiseta preta de uma banda qualquer de rock e uma jaqueta de couro de dragão, ambas apertadas o suficiente para deixarem transparecer músculos rijos e salientes. Sobre a calça jeans esfarrapada, trazia na coxa direita, presa por quatro tiras, uma bainha de couro que guardava sua varinha. Se as roupas e o porte do homem não fossem suficientes para intimidar a maioria das pessoas, bastava uma olhada para seu rosto. Uma imensa cicatriz o cortava de um lado ao outro, começando sobre a sobrancelha esquerda e descendo até o lado direito do queixo, partindo o nariz em dois e levando uma boa parcela do lábio inferior, onde parte dos dentes ficavam sempre visível.

O negro, no entanto não se sentia incomodado por ser alvo do olhar ameaçador. Ao contrário, parecia mesmo estar se divertindo com a cena:

– Sente-se homem, nossa bebida não deve demorar.

Sem uma palavra, o homem em pé levou a mão lentamente até sua varinha. Percebendo o ato, o outro suspirou de forma teatral e disse:

– Pelas barbas de Merlin homem, as francesas lhes enviam saudações. Satisfeito agora? - com a identidade do outro confirmada, o recém chegado puxou uma cadeira e se sentou.

– Você está atrasado – disse com mal humor.

– Vossa alteza me perdoe, me atrasei por que demorei a encontrar um trouxa respeitável para completar minha poção polissuco. Pois até onde me lembro, tínhamos de vir disfarçados. Ou será que estou enganado?

– Está me chamando de amador? Eu estou disfarçado de motoqueiro trouxa.

– Motoqueiros trouxas, não andam por aí usando roupas de couro de dragão nem ostentando varinhas.

– Estou disfarçado de motoqueiro trouxa que gosta de se fazer passar por bruxo. Mas essa conversa fiada não vai nos levar a nada. Você trouxe? Conseguiu?

Nesse momento a conversa foi interrompida, pois o garçom chegava até a mesa trazendo a bebida e uma revista finamente encadernada:

–Seu pedido milorde.

– Muito bem idiota, tome – Sem dignar nem ao menos um olhar ao serviçal, atirou-lhe um dobrão de ouro pela bebida – mais tarde, se eu gostar de alguma dessas meninas, você ganha outro desses. Agora suma daqui.

Sem esperar nova ordem, sumiu dali, deixando os dois clientes a sós:

– Por que você pediu esse lixo? Não vai mesmo pegar uma dessas crianças vai? – perguntou o grandalhão com nojo na voz.

– Você esta me insultando. – disse o outro sem nenhum traço de humor – Estou apenas mantendo meu papel. Se realmente acha que eu poderia fazer algo do tipo, então não nos conhecemos mais.

– Me desculpe – redargüiu o ruivo envergonhado – Eu sei que você jamais faria nada assim. É que realmente me da nos nervos vê-lo agindo e falando dessa forma.

– Gosto de provocar esses coitados – respondeu seu companheiro, voltando ao antigo bom humor – Eles merecem serem humilhados.

– Agora você falou como um comensal da morte. Que culpa tem esses coitados?

– A maior parte da culpa, de tudo que estamos vivendo, é desses que você chama de “coitados”. Se fossem um pouco mais homens e um pouco menos os ratos que são, pegariam em armas e lutariam contra Voldemort e sua laia. Aí talvez, teríamos uma chance real.

– Ele tem medo.

– É, eu sei disso. Mas mudando de assunto. Diga-me meu caro, como vão as coisas com seu pessoal? – o tom casual, não enganou nenhum dos dois, ambos sabiam qual era a verdadeira pergunta; aquela que tinham medo da resposta: Quem mais morreu?

– Neville foi capturado semana passada. Como membro confesso da Ordem da Fênix, foi executado sem julgamento. Teve os dois pés removidos a base de marteladas, para demonstrarem que ninguém pode fugir para sempre, depois foi jogado dentro de um caldeirão com óleo fervente em praça pública. Umbridge foi a juíza do caso, e assistiu a tudo com aquela cara de sapa risonha.

– Como Luna reagiu a isso?

– Como você acha que uma esposa reagiria vendo seu marido sofrer tal destino? Mas eu te digo uma coisa, se ela, algum dia chegar a menos de dois metros de Umbridge, essa mulher pode se considerar morta, não existe feitiço no mundo que vai parar Luna antes dela mastigar seu coração cru.

Os dois remoeram seus próprios pensamentos por algum tempo, num silencio pesado, até que o ruivo parecendo sair de sua letargia perguntou:

– E do seu pessoal?

– Percy.

O nome arrancou uma lágrima solitária do soldado calejado. Com as mãos crispadas até perderem a cor, ele perguntou com voz embargada:

– Quando?

– A mais ou menos um mês. Ele estava tentando levar um grupo de trouxas para França, Avery o pegou. Ele ainda conseguiu criar uma chave de portal. Trinta e cinco mulheres e crianças conseguiram fugir enquanto ele dava cobertura, vários pais e maridos agradecidos ficaram para ajudá-lo a combater, infelizmente isso só aumentou o numero de mortos da chacina. Eles não tiveram chance alguma, Avery levou consigo um bando de gigantes.

– Os Weasley’s estão sendo sistematicamente exterminados. Quantos somos agora?

– Cinco. Eu, você, Fred, Jorge e Gina.

– Mas se o plano der certo, seremos apenas quatro após a partida de Gina.

– Por falar nisso, ela sabe que é uma viagem sem volta?

– Claro que não, o velho só explicou os objetivos da missão e lhe garantiu que a traria de volta algumas horas depois. Por quê? Você está se voluntariando para contar a ela?

– Deus me livre. Prefiro enfrentar um dragão enraivecido a contar à Ginevra que seus irmãos estão tentando protegê-la novamente.

– Com o dragão você teria alguma chance de sobrevivência – gracejou Rony – Falando sério, o plano não é perfeito, mas pode dar certo. Hoje nós sabemos que foi o maldito Pettigrew quem auxiliou Voldemort a se levantar novamente. Se ela o matar antes que ele tenha essa oportunidade, tudo pode ser mudado. E ainda sabemos exatamente quais são as Horcruxes, onde estão e como destruí-las. Com esse conhecimento prévio, Dumbledore pode fazer maravilhas.

– Mas Rony, pense bem. Se nossa irmã vai ser mandada de volta ao passado para modificá-lo e conseguir. Então nosso presente deixa de existir, e se essa realidade não existe então Gina jamais será mandada ao passado. Entende o que eu quero dizer? É um paradoxo.

– Não vou fingir que entendo Carlinhos, só sei o que o velho me falou, que nosso presente, vai estar existindo ao mesmo tempo em que o passado em que Gina estiver. Se... Ou melhor, quando ela fizer a diferença, então nosso presente refletirá essa mudança. Eu não gosto dele, todos sabem disso, mas uma coisa tenho de admitir, o velho seboso do Snape sabe o que faz.

– E quem vai executar o corpo dela quando sua mente já tiver partido?

– Provavelmente o velho, talvez Jorge. Só dou graças aos céus por não ter de ser eu.

- Sabe Ron, tem uma coisa que eu vivo me perguntando. Será que Harry Potter teria conseguido matar Voldemort?

O nome pegou Ronald Weasley de surpresa, fazia anos que não pensava no amigo morto. Lembranças de um tempo mais feliz o invadiram. Seus estudos em Hogwarts, as aventuras dentro e fora do castelo. A incrível caça às Horcruxes, o assalto que ele ajudou a realizar no gringotes.

- Em mais de vinte anos de guerra, eu raramente encontrei alguém tão corajoso quanto Potter. Eu acredito meu irmão, que ele o venceu no dia em que se deixou assassinar, tornando-o mortal novamente. Voldemort já está morto, Harry apenas nos deixou a missão de deitar o filho da puta numa cova.

– O que me leva a pergunta inicial: Você conseguiu?

– Claro que consegui maninho, eu já fazia parte da Ordem da Fênix bem antes de você ser nosso destemido líder. – o homenzinho retirou de suas vestes uma caixa de fósforos – a caixa está sobre um encantamento reducto, assim que os palitos forem retirados, irão assumir seus tamanhos originais de varinhas. Apenas um vai permanecer um palito do tamanho normal. Agora preste atenção Rony, assim que riscarem esse palito, as coleiras irão perder seu efeito, mas somente enquanto a chama do fósforo estiver acessa. Entendeu?

– Acho que é tempo o suficiente para eles se livrarem permanentemente daquelas coisas.

Rony tinha ódio daquelas coleiras sujas, e cada vez que via sua amada esposa Hermione obrigada a usar aquilo como um animal, tinha ânsia de arrancá-la com as próprias mãos. Quando Voldemort ganhou a guerra, fez questão de ensinar a bruxos e trouxas quais eram seus lugares. Os de sangue puro, formavam a aristocracia do país, enquanto os trouxas eram tratados pouco melhor que animais. Os mestiços e traidores do sangue, tiveram suas varinhas confiscadas e foram obrigados a usar uma coleira grosseira que os impediam de realizar qualquer magia. Uma maneira certa de suicídio era tentar remove-las, pois degolavam o dono instantaneamente.

– Você me trouxe excelente noticias meu irmão, ouso até ter esperanças afinal.

– Infelizmente trago algumas noticias ruins também Rony. Se o plano der certo, quando Gina partir, não restarão quatro Weasle’s, mas apenas três. Eu não posso sair vivo desse bar.

– Deixa de falar besteiras homem.

– Eu estou sob a maldição Imperius.

Com as mãos tremendo, com medo do que ia escutar, o grandalhão apenas escutava.

–. Assim que cheguei fui capturado, dois comensais me aguardavam ontem á noite. Acho que menosprezamos por tempo demais seus serviços de inteligência e contra informação. Eles sabiam exatamente onde eu estaria. Tenho certeza de que desconfiam que estamos planejando alguma coisa, mas você se tornou um incomodo grande demais para que possam te ignorar por mais tempo. Torturaram-me de todos os jeitos para eu lhes contar o que sabia. Mas graças ao feitiço que você lançou em nós ano passado, sempre que eu não agüentava mais e ia abrir o bico, minha memória se apagava por completo. Sem mais alternativas, colocaram-me sobre a maldição Imperius. Devo implorar que você me leve ao QG da ordem, se não te convencer, devo segui-lo e colocar isso na porta – Carlinhos retirou uma lamina circular de latão do bolso, com uma cobra estampada em alto relevo - os comensais te acharão minutos depois.

– Mas como? – quis saber Rony incrédulo – como esta conseguindo me contar essas coisas?

– Com sacrifício maninho – O homem levou os dedos ao ouvido e os trouxe de volta cheios de sangue – Voldemort e seus homens nunca levaram em consideração o poder do amor fraterno. Meu cérebro está se liquefazendo, mas fui capaz de te prevenir.

– Calma cara, nós vamos pensar em alguma coisa.

– Você pode ter se tornado o maior soldado da nossa era, mas continua tão tapado quanto sempre. Os danos em minha cabeça são irreversíveis meu irmão. Não sinto mais minhas pernas, dói respirar e estou completamente cego já faz alguns minutos. Agora seja um bom menino e faça logo, não me deixe sofrer mais. Eu te amo meu irmãozinho.

Com o olhar distante e voz baixa, Rony fez algo que rezava todas as noites jamais ter de fazer. Ele matou um aliado, um amigo, um irmão.

– Avada Kedavra.

O corpo que tombou sem vida sobre a mesa, era magro, baixo e negro, em nada lembrava o soldado valente que fora Carlos Weasley, mas Rony sabia que jamais tornaria a ver aquele rosto sorridente. Com um único gole, o ruivo esvaziou seu copo, colocou a caixa de fósforos e a varinha do irmão morto no bolso e saiu do pub. Os poucos freqüentadores do bar que viram o que aconteceu, nada disseram. A vida de um bruxo valia muito pouco nos dias de hoje.





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