Meu primeiro beijo escrita por Jupiter rousse


Capítulo 1
Único




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Ela respirava com dificuldade. Seus músculos doíam e Annabeth sentia-se fraca. Seus olhos eram marcados por olheiras, sua boca estava seca, ela sentia vontade de vomitar. Era uma pena que tivesse que passar por isso com apenas 12 anos.

 As sessões de quimioterapia estavam acabando com ela. Sentia-se cada vez mais cansada, no interior da boca havia alguns ferimentos. Annabeth se ajeitou melhor na cama, sentindo seus músculos reclamarem.

- Como está querida? – Sua mãe passou a mão delicadamente pelo rosto da filha, um sorriso triste brotou nos lábios da garota.

- Já estive melhor – sua voz estava fraca.

- Quer que eu pegue alguma coisa? – Os olhos de Atena estavam marejados, ver a filha naquele estado acabava com ela.

- Na verdade não obrigada – Annie sentiu seus olhos pesarem novamente – Acho que vou voltar a dormir.

- Descanse filha – Atena deu um beijo em sua testa.

Então Annie adormeceu.

                                                                                    ***

- Está melhor Anna? – Percy parecia preocupado ao abraça-la.

- Estou – Annabeth deu um sorriso fraco – Perdi muita coisa na escola?

Percy riu, com tudo que acontecia em sua vida, Annie ainda se preocupava com a escola.

Ele e Annabeth eram amigos desde sempre. Ela ficou doente assim que completou dez anos, foi uma época difícil. Annabeth já convivia com a doença há dois anos, mas isso não tornava as coisas mais fáceis. Com o tempo ela foi perdendo o cabelo e seu rosto foi ficando mais abatido, perdeu muito peso e às vezes faltava escola, pois não tinha condições de comparecer a aula.

- Não muita coisa, depois te passo os deveres – Annie sorriu agradecida. 

- Adoro seu sorriso – Confessou Percy, Annabeth sentiu o rosto corar.  – Tenho uma coisa para você.

Annabeth franziu o cenho.

- O que?

Percy abriu a mochila, tirando um saquinho cinza. Annie estava curiosa ao receber o pacote, com cuidado desfez o nó e sorriu ao ver o que tinha dentro.

- Obrigada Percy – ela sorriu abertamente.

Era uma concha. Seu formato era encurvado e ela tinha riscos azulados pela sua superfície contrastando com o branco. Era linda.

Quando menores, Percy e Annie costumavam a ir a praia e cantar conchas.

                                                                                   ***

Sentia-se tonta e um enjoou forte lhe atingiu, correu até o banheiro e vomitou. Ela sentia uma dor forte.

- Hey Annie onde você está? – ela reconheceu a voz de Percy na entrada de seu quarto, envergonhada ela tentou se levantar, mas a ânsia de vomito voltou e Annabeth vomitou novamente.

Ao escutar o barulho de vomito, Percy correu preocupado até o banheiro, ele se ajoelhou ao lado dela, colocando uma mão em suas costas. Annabeth entendeu o recado, sabia que ele ficaria ali, mas ela não conseguia deixar de se sentir envergonhada.

- Você está bem? – Sua voz estava cheia de preocupação, ela balançou a cabeça.

- Estou bem – ela escondeu o rosto – Já disse que não gosto quando me vê vomitando.

- Pare com isso – Percy repreendeu-a serio – Está doente e eu sou seu amigo, me preocupo.

Aquela palavra “amigo” não agradou Annabeth. Eles se conheciam há tanto tempo e parecia errado, mas Annie não podia evitar ter certos sentimentos por ele.

- Quer ajuda para ir até a cama? – Percy perguntou, Annie assentiu.

Ele colocou um braço de Annabeth por cima de seus ombros e sua mão foi para a cintura da garota, a mesma ainda se sentia tonta. Com cuidado os dois saíram do banheiro e foram até a cama da menina.

Uma das coisas que Annabeth mais adorava em seu quarto era o teto. O telhado era feito de vidro, de forma que toda noite ela pudesse observar as estrelas.

A cidade era simples e pacata, o hospital que Annabeth estava acostumada a ficar era na cidade grande que não era tão distante.

- Está vendo as três Marias? – Perguntou Percy, os dois estavam deitados na cama.

- Sim – Os olhos de Annabeth brilharam, ela adorava as estrelas – E bem ali está o Cruzeiro do Sul.

Ela apontou para um canto do céu. Esse era um dos passatempos preferidos dos dois.

                                                                                ***

- Annie querida o jantar está pronto – Atena gritou do andar de baixo.

Ela colocou os pratos na mesa e ainda nenhum sinal de Annabeth.

- Annie? – chamou novamente.

Obteve silencio como resposta.

Desesperada começou a subir as escadas, Annabeth estava caída no chão. Atena sufocou o grito e ligou para a Ambulância.

                                                                       ***

Bip. Bip. Bip.

Annabeth abriu os olhos, a visão estava embaçada e de novo ela sentia uma dor horrível em todos os seus músculos, reconheceu o quarto do hospital e suspirou cansada.

- Annie? – Atena levantou da cadeira, os olhos estavam inchados devido ao choro, aquilo matou Annabeth por dentro.

- Oi mãe – sua voz estava fraca quando Atena a abraçou de leve – O que aconteceu?

- Ah querida você desmaiou ontem à noite – Annabeth franziu o cenho, esse não era um sintoma frequente.

- Os médicos disseram o por quê?

Atena desviou os olhos e Annie soube que ela escondia algo.

- Quer alguma coisa querida? – Ela tentou desconversar.

- O que houve mamãe? O que não está me contando?  - Annie estava séria, Atena deixou mais lágrimas caírem virando o rosto novamente.

- Mãe você me prometeu que ia me falar tudo que os médicos te falassem – Annie era muito madura para sua idade.

- Os médicos disseram que a última quimo não teve efeito – ela mordeu o lábio inferior, lágrimas invadiram o rosto de Annie – Seu corpo está muito fraco para outra sessão.

Annabeth abraçou sua mãe, as lágrimas e os soluços se misturando.

                                                                      ***

- Senhora Chase, a senhora deveria pegar algo para comer – Percy tocou no ombro de Atena delicadamente.

- Não quero deixa-la sozinha – Atena olhou para a cama, onde Annabeth dormia.

- Vá comer alguma coisa eu fico com ela – Percy deu um sorriso fraco.

- Certeza querido?

- Sim, pode ir.

Percy sentou na cama ao lado de Annabeth, já fazia três dias que ela estava internada.

Os médicos disseram que não tinha mais nada que eles pudessem fazer, a não ser diminuir a dor dela enquanto não chegasse a hora. Percy a visitava todos os dias e chorava durante horas com medo de perdê-la.

- Hey – Annie sorriu fracamente, Percy enxugou as lágrimas. O corpo dela doía, Annie sentia-se cada vez mais fraca.

- Hey – ele segurou a mão dela. – Como você está?

Annie soltou um riso sarcástico, tentando abafar um gemido de dor.

- Morrendo.

Percy ficou serio.

- Não brinque com isso.

- É verdade.

- Para Annabeth – os dois já deixavam algumas lágrimas rolarem pelos olhos.

O silencio pairou entre eles, Annabeth sentia dores, mas tentava não demonstrar. Percy havia soltado a mão de Annie quando eles tiveram a pequena “discussão”.

Ele balançou a cabeça, estava nervoso, com cuidado Percy puxou o queixo dela, Annabeth o encarou os olhos vermelhos mostrando confusão. Ele se aproximou e Percy ficou encarando-a, os lábios quase se tocando, ele não sabia o que fazer. Tomado por um sentimento forte ele encaixou seus lábios, foi algo delicado e impreciso. Incerto Percy pediu passagem com sua língua, Annabeth se guiou pelas sensações entre abrindo os lábios. Era o primeiro beijo de ambos. De maneira tímida, Percy mexeu sua língua de encontro à dela, não durou muito, mas foi o suficiente para que ambos aproveitassem.

Ao se separarem nenhum dos dois disse uma palavra, Annie sentiu as dores aumentarem, tornando-se quase insuportável, dessa vez Annabeth soltou um gemido audível.

- Annie você está bem? – Ele estava preocupado.

Recebeu outro gemido como resposta, a dor queimava dentro dela. Desesperado Percy chamou uma enfermeira, a última coisa que Annie viu antes da dor consumir ela por completo foi a enfermeira colocando algo em seu soro.

                                                                             ***

Seus olhos estavam fechados, mas ela estava consciente. Ficou com medo de se mover e sentir dor, por isso ficou parada por alguns minutos. Tomando coragem abriu os olhos devagar, viu sua mãe deitada no sofá, ela dormia e as marcas de lágrimas eram visíveis em seu rosto. Annabeth se sentiu mal. Olhou o relógio na cabeceira, eram duas horas da manhã.

A porta do quarto foi aberta e Percy entrou.

- O que está fazendo aqui? – ela sussurrou sem forças.

- Pedi para ficar aqui – ele disse – Só tinha ido ao banheiro.

- Minha mãe está muito mal? – Annie perguntou.

- Um pouco abatida – Percy mentiu, a verdade é que a Senhora Chase estava acabada.

- Estou tão cansada – Annabeth fechou os olhos lágrimas caindo por seus olhos. – Eu já não sinto tanta dor.

Percy ofegou. Ela não podia estar dizendo que... Não, não era possível.

- Annie? – Percy foi até o seu lado na cama, estava desesperado lágrimas escorriam pelo seu rosto. – Por favor, não...

- Está tudo bem, Percy – ela sorriu fracamente, algumas lágrimas rolaram.

- E-eu vou chamar uma enfermeira – Ele tentou sair do quarto, mas ela segurou sua mão fracamente.

- Está tudo bem, Percy – repetiu. – E-eu quero que seja calmo.

Percy soltou um soluço, ele não ia aguentar.

- Por favor – ele implora. Annabeth fechou os olhos.

- Pense como se eu fosse dormir.

Percy estava desesperado, perde-la era uma dor muito grande.

- C-com o que você sonha? – A garganta de Percy estava ardendo, as lágrimas desciam.

- E-eu vejo meu pai e minha mãe juntos, nós estamos em um barco – Annie sussurrou baixinho, seu pai havia morrido com câncer alguns anos depois de Annabeth nascer. – Thalia está lá também.

- O que mais? – ele controla sua voz.

- Nós estamos juntos – ela exibiu um sorriso fraco – Estamos abraçados.

Percy soluçou alto.

- E o que mais Annie?

Ela não respondeu.

- Annie? – Ele tentou desesperado.

Tocou sua face de leve, estava gelada.

- Annabeth?

Ele a sacudiu, o desespero tomou conta dele, Annabeth tinha ido embora. A dor no seu peito foi insuportável, sua garganta ardeu como nunca, suas lágrimas escorreram por seu rosto e molharam o de Annabeth.

Percy não sabia o que fazer, não conseguia parar de chorar. Em meio a toda essa tristeza e dor que sentia ao menos uma coisa boa pairava em sua mente. Depois de dois anos, ela finalmente não sentia aquelas dores, não teria que passar por uma seção de quimo, não sentiria enjoos. Annabeth estava em paz.


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Notas finais do capítulo

Meio triste, né??