Sete Meses

Estava uma tarde bem quente naquele dia. Tezuka olhou pela janela de seu quarto um pássaro voando de uma árvore para a outra, completamente livre como deveria ser. Faziam-se dois anos que eles tinham se conhecido, foi na escola, Seigaku. Eram da mesma classe, ambos muito inteligentes, alunos exemplares e faziam-se 2 anos que eram amigos, inseparáveis, irmãos, Miho e Tezuka.

Estava sentado em sua mesinha quando seu telefone tocou, e ao ver que era sua namorada, Saori, resolveu não atender. De uns tempos para cá, o romance de sete meses estava meio perturbado. Ele sentia falta de algo que era essencial, um certo sorriso, um certo abraço que de alguma maneira, Saori não substituía.

Miho ficou inquieta a tarde inteira. Rolava em sua cama sem parar tentando pensar em outra coisa mas não conseguia. Será mesmo que tinha perdido seu melhor amigo?
Saiu pela sua porta sem pensar muito no que iria fazer, foi um impulso muito mal pensado.

Kunimitsu rodava um lápis entre os dedos enquanto estava debruçado na mesinha quando ouviu a campainha de sua casa. Deu um suspiro pesado e colocou a mão na testa, devia ser sua namorada que foi até sua casa saber porquê ele não tinha à atendido.
Desceu as escadas e abriu a porta sem olhar pelo olho-mágico quem estava lá fora.

- Miho... – O coração da menina pulou do peito quando ouviu a voz dele dizer seu nome. Faziam-se sete meses que eles não se falavam direito, e o motivo era óbvio.
- Olá, Tezuka. – Seus olhos não saiam dos dele, era um feitiço, uma ligação única.

Abaixou a cabeça e mordeu os lábios. Doeu muito ela ter sumido da vida dele nesses meses sem explicar nada. Apenas o ignorava por completo como se nunca tivesse o conhecido. Depois de um suspiro, ouviu aquela voz doce de menina que tanto gostava.

- Posso entrar?
- Claro. – Arrumou os óculos e fez um gesto para que a garota entrasse.

Subiram para o quarto dele em absoluto silêncio, o clima era o mais tenso que já pode ter havido entre os dois.
Tezuka sentou em cama e ficou olhando para o chão com as sobrancelhas franzidas deixando seu rosto magoado. Algumas lágrimas rodeavam os olhos negros de Miho.

- Por que veio? – Direcionou o rosto para a menina em pé na sua frente.
- Eu... – estralava os dedos como uma pessoa nervosa faria, ela nem sabia ao certo porquê tinha ido até ali – Senti sua falta. – Os olhos dele se voltaram novamente para o chão, mais decepcionados do que antes.
- Sentiu minha falta? – Sorriu com o canto da boca numa forma irônica – Foram sete meses Miho. Sem respostas, sem notícias, sem mensagens, sem retorno de ligação. Sentiu minha falta agora?

A menina tirou a bolsa do ombro e jogou na cadeira ao seu lado bravíssima. Andava de um lado para o outro pelo quaro e as lágrimas não paravam de correr pelo seu rosto pálido e angustiado.

- Me diz, sentiu minha falta agora? – Tezuka olhava ela com um semblante sério e até meio agressivo – Porque eu senti sua falta a cada dia, desde que resolveu parar de falar comigo de repente!
- De repente Tezuka!? – Ela alterou o tom da voz e caiu sentada na cama com as mãos na cabeça – Você nunca enxergou mesmo!

Um suspiro saiu da boca do garoto, e ele afrouxou a gravata do uniforme escolar que vestia querendo um pouco mais de ar.
- Não, você que nunca enxergou Miho – Se virou para a menina que enxugava as lágrimas – Nunca me deu uma oportunidade.

Ela entendeu o que ele quis dizer. Foram dois anos de amizade perfeita, mas a menina sempre soube que Tezuka sentia algo além disso, assim como ela, e nunca tinha dado uma chance dele dizer com medo de perder aquela coisa linda que tinham juntos.
Resultou na perda dele.

- Como pôde ficar com ela?
- Você não impediu... Apenas disse que estava feliz e no outro dia sumiu por completo – Tocou o rosto da menina provocando um arrepiou sem igual – Nunca quis nada comigo, e fiz isso para tentar te esquecer, mas pensava em você a cada toque, cada abraço, cada beijo, cada dia.
- Não quero perder sua amizade... – Olhou para baixo e ele tirou a franja de seus olhos.
- Fugindo acha que vai continuar nossa amizade? Francamente... Me diga o que está sentindo, o que sente por mim. Você sabe que sinto o mesmo. – Ela levantou e ficou de costas para ele.
- Eu... – Suspirou fundo e viu um porta retrato com uma fotografia dos dois no 1º ano escolar, acenando com as mochilas nas costas, ela sorrindo como sempre fazia, e ele sério, como sempre foi.

Tezuka não acreditava que mesmo depois dela ter ido até ali, não admitiria o que sempre sentiu por ele. Era simples e explícito.

- Eu te amo Miho – Tocou na mão da moça que fechou os olhos para memorizar aquele toque firme e suave que só ele sabia ter. Se virou e abraçou ele chorando. Sentiu falta daquele abraço que dava sensação de proteção e afeto mais do que tudo em sua vida – Você só tem que me responder.
- Não posso... Não quero estragar nossa amizade... Tenho medo que não dê certo, e a gente acabe não se falando nunca mais. Eu não ia suportar isso Tezuka, você tem que entender que é a pessoa mais importante para mim e eu não saberia viver sem você.– Ele soltou o abraço e segurou o rosto da moça, limpando as lágrimas.
- Não vai me perder nunca. Não pense no que não pode dar certo, apenas no quanto isso seria bom – Aproximou o rosto da menina ao seu e sentiu a respiração funda e quente – Mais uma vez... Eu te amo Miho, você sabe que sempre amei, todo esse tempo. Não me machuque de novo.. Não fuja de novo, apenas me responda e eu vou te prometer que serei seu para sempre. Eu não vou te abandonar nunca. – Deu um beijos no lábios secos e quentes de Miho. Ela nunca se sentiu tão realizada e em paz como naquele momento. Sentir suas bocas juntas era a prova de que aquele amor daria certo, tinha uma faísca, uma química.

Ela segurou o cabelo fino e liso de Kunimitsu e o abraçou enquanto o beijava, queria ter certeza de aquilo era real, estava mesmo nos braços de seu amor.

- Pode me dizer? – Seus olhos brilhavam numa esperança que só mesmo ele entendia, talvez naquele momento, finalmente ela poderia declarar.

O celular tocou.

- Atende, não me importo... – Miho sorriu causando uma nostalgia em Tezuka, que atendeu o telefone sem ver de quem era a chamada.
- Alô? Ah oi.. Saori – Escutou a garota pelo telefone olhando para a outra em sua frente – Tudo bem, já desço para abrir a porta para você.
- Ela está lá em baixo!? – Gritou assim que ele desligou o telefone.
- Está... – Suspirou – Eu não ligo, não dou a mínima.. Apenas me diga, por favor.

Miho caiu nas lágrimas novamente. Como aquela ordinária podia ter estragado seu momento!?
Ela fechou os olhos já se arrependendo e disse que não.

- Olha pra mim e diga que não! – Tezuka segurou forte nos braços da menina empurrando ela contra o armário, desta vez os olhos dele que brilhavam com lágrimas – Não veio que me iludir.. Não pode ter vindo para isso Miho.. Me diga!
- N-não posso te perder.. Me desculpe. – Ela soluçava com choro e com a maneira desesperada de seu amado. Queria receber as palavras de volta, assim como ele tinha dito.
- Tem alguém me esperando lá em baixo... – Ele tirou os óculos e secou as poucas lágrimas que tinha, depois de selar o momento com um beijo – Vou com ela à algum lugar e deixar a porta aberta, saia logo depois de mim – Soltou os braços dela – E nunca mais volte aqui para me fazer de bobo.

Saiu do quarto pegando sua carteira e deixou ela ali encostada com o armário, enquanto algumas lágrimas finais saiam de seus olhos. Realmente tinha perdido ele dessa vez, de uma vez por todas.
Talvez essa covardia fosse à culpada, ou até mesmo o amor, colocando medo nela de perder alguém que amava tanto, mas agora não importava mais... Ela estava lá em cima no quarto dele, e ele lá em baixo, saindo com outra menina, que ele não pertencia já se faziam sete meses.