Takanori caminhava despreocupadamente pelos corredores da gravadora, indo em direção a sua sala. Na direção oposta, Shin carregava algumas pastas do pai.

                - Ohayou, Shin-chan! – o vocalista do the GazettE deu risada ao encontrá-lo.

                - Ah, ohayou, tio Taka! – o moreninho colocou as pastas sobre uma das mesas do corredor para descansar os braços.

                - Está treinando pra substituir seu pai por aqui, é? – o mais velho indicou o que o garoto carregava, dando risada.

                - Ah, estou quase pra me aposentar disso tudo aqui, né tio Taka?

                - É verdade! É verdade! Desde que você era um bebê, seu pai e sua mãe o trazem pra cá pra trabalhar com eles... Vem dar uma parada nesse serviço todo antes que você enlouqueça como todo mundo por aqui – o loiro abriu a porta de sua sala e o menino entrou com ele e sentou-se na cadeira em frente a do mais novo.

                - Tá trabalhando numa música nova, tio? – Shin observou os vários papeis espalhados pela mesa e transbordando o lixo no canto da sala.

                - Estou terminando essa daqui e comecei outras três! – ele gargalhou e o menino o acompanhou.

                - Já está até se parecendo com a tia Ny, tio...

                - Ah, nós dois sempre fomos dois compulsivos quando se trata de trabalho mesmo! E eu não sei se acabo me parecendo com ela ou ela que acaba se parecendo cada vez mais comigo... Pelo que sua tia Carol diz, sua tia Ny sempre foi assim... Então, acho que nós dois simplesmente somos assim – Takanori terminou gargalhando. – Mas não posso negar que ela me inspirou! Acho que os únicos que não se deixaram influenciar por ela foram... Yuu e Akira...

                - Okaa-san diz a mesma coisa! – os dois gargalharam.

                - Mas e você? Como está a faculdade?

                - Ah, está muito bem, tio... Foi rápido pra me acostumar ao ritmo!

                - Demorou menos que o Kenji! – Takanori brincou. – Mas eu confesso que fiquei surpreso quando ele disse que queria estudar psicologia... Achei que, dos três, a Sayuri que tinha mais cara de quem acabaria seguindo os passos da mãe...

                Shin assentiu, sentindo o rosto queimando à menção de Sayuri.

                - Nenhum pai deve ficar muito contente ao ver sua filha tirando fotos como aquelas com um Shiroyama, né? – o vocalista tornou a brincar, apesar de seu tom de voz ser realmente incomodado.

                O sorriso constrangido de Shin desapareceu de seu rosto quando a sessão de fotos de Yuuri e Sayuri fora mencionada. Ele também não tinha gostado muito da ideia da namorada e o amigo juntos nas revistas, apesar de ele ainda não ser o namorado da garota na época das fotos.

                - Mas, como pai dela, acho que nenhum nunca vai me parecer bom o bastante, não é mesmo? Seu pai mesmo ainda está de cara feia pra Kouyou e Yune! Eu nunca vi Yutaka tão mal humorado na minha vida e olha que ele ficava bastante mal humorado em turnês!

                - Mas, se ela estiver feliz, não é o que realmente importa? – o garoto perguntou, esperançoso.

                - Hai... Claro que o que me importa é que ela esteja feliz! Que ela esteja com alguém que a faça bem e que cuide dela! Mas eu sempre vou tentar fazê-la mais feliz do que qualquer outro pode conseguir!

                - Mas não é a mesma coisa! O namorado dela nunca vai tentar tirá-la de você! – Shin tentou argumentar mais uma vez.

                - Nunca? Não dá pra ter certeza disso, né, Shin? E se ela escolher alguém que a afaste da família dela?

                - Mas ela nunca faria isso! Não com a criação que ela recebeu!

                - Nessas horas, a criação dos pais é a última coisa que conta e a primeira que você esquece... – o mais velho riu, sem humor.

                - Não quando você cria seus filhos com o cuidado e o carinho que você e a tia Carol deram a ela!

                Takanori gargalhou alto.

                - Você já está mesmo falando como o seu pai! Ele que costuma puxar minha orelha desse jeito quando eu estou sendo teimoso demais! É claro que ele não poderia falar muito sobre essa situação, já que está sendo um pai tão irracional quanto eu...

                - Gomen, tio... Eu me exaltei...

                - Ah, que isso! Sabe que sempre considerei você como se fosse meu filho! Não gostaria que falasse comigo como se fosse menos do que isso! Acontece que eu realmente sou irracional quando se trata de Sayuri... Normal de pai, eu acho...

                - Mas eu estava justamente pensando nisso, tio! Nessa situação entre meu pai e Yune, por exemplo! É claro que ele sabe  que é bem melhor Riiko namorar Yune do que com um desconhecido e é claro que ele sabe que Yune nunca brincaria com os sentimentos da minha irmã, que antes alguém em quem se confia, que considera como seu próprio filho, do que alguém estranho que pode tentar afastá-la da família, como você mesmo disse... Mas, mesmo sabendo disso tudo, ele está sendo... Irracional!

                - É que é fácil falar, Shin, mas fazer é outra história, entende? Eu brinco com Sayuri e Yuuri, mas eu não tenho certeza de como reagiria... Talvez, eu fosse irracional como o seu pai... Talvez, fosse menos... Mas você tem razão, melhor alguém em que já se confia! Eu sei que é melhor começar a me preparar psicologicamente pelo dia em que ela aparecer com um namorado!

                - Seria muito ruim se fosse eu? – Shin arriscou.

                - Se fosse você o quê? – Takanori respondeu, desatento.

                - O namorado de Sayuri? – o garoto se encheu de coragem e o mais velho o encarou surpreso.

                - Está me dizendo que é? – ele o desafiou.

                - Estou – Shin disse com firmeza.

                - Está dizendo que toda essa sua conversa era pra preparar o terreno e soltar essa bomba? – o vocalista disse, pausadamente. – Que está namorando a minha filha?! A minha Sayu?! – apesar de não gritar, ele não parecia mais com o Takanori bem humorado que estava conversando até agora com o garoto.

                Shin engoliu em seco, mas não se moveu. Takanori se ergueu, enfurecido e deu meia volta, ficando de costas para o moreno.

                - Não... – ele disse depois de muito tempo de silêncio. – Não é muito... Ruim... – Takanori disse finalmente, quebrando o silêncio.

                - Tio... Não quero que fique bravo comigo como meu otou-san está com Yune...

                - O namorado dela nunca vai tentar tirá-la de mim, não é? – ele perguntou, seco.

                - Nunca tio! Eu falei muito sério!

                O vocalista se voltou para o garoto novamente, ainda sem conseguir tirar a expressão de fúria.

                - Eu vou tentar me lembrar que queremos a mesma coisa: a felicidade de Sayuri!