Cartas escrita por Lucy Holmes


Capítulo 5
Carta a minha amada


Notas iniciais do capítulo

Sem spoilers de Half-blood Prince



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VI - Carta a minha amada.

Querida I.L.Y.
Por favor, antes de tudo, queria pedir que não queime ou rasgue este pergaminho sem antes ler seu conteúdo. É em nome dos velhos tempos que eu o peço.
Já faz muito tempo que nos falamos e você deve entender por que eu coloquei apenas suas iniciais e/ou apelido no pergaminho. O Lorde das Trevas voltou e sei que quer vingança pela minha traição. Não tenho medo de morrer, mas não quero que ele descubra onde você está, ou como se chama.
Queria que você não pensasse em mim com desprezo, como deve fazer, mas não a culpo. Tudo o que aconteceu foi por minha culpa. Devo confessar que minhas escolhas se devem mais às cobranças que eu mesmo me impunha, não queria ficar abaixo de ninguém, queria que meu pai se orgulhasse de mim. Sabia que tudo o que fazia seria inútil, porque o passatempo favorito dele era gritar com minha mãe e me criticar, ele nunca prestaria atenção para algo bom que acontecesse conosco, nunca olharia para mim com orgulho.
Perdoe se estou sendo repetitivo, você já conhece a minha história, foi a única que se interessou em sabê-la e não quero usá-la como desculpa pelo que fiz. Assumo meu erro, mas quero que entenda que ansiava por uma vida diferente da qual levei. Infelizmente, eu não pensei que teria de ser sem você. No fim das contas, nunca fui bom nas minhas escolhas...
Agora estou em Hogwarts, lecionando Poções. Apesar de tudo o que fiz, Dumbledore me aceitou, primeiramente na Ordem - você sabe do que se trata - e em seguida, quando tudo acabou, como professor. Pleiteei o cargo de professor de Defesa Contra Artes das Trevas, ao que me vem sendo negado inúmeras vezes. Parece que, afinal de contas, Dumbledore não confie tanto em mim e pense que vou ensinar algo ilícito aos alunos... Você deve imaginar como me sinto em relação a isso, é realmente frustrante... De certa forma, devo merecer esse castigo.
Outro castigo e verdadeiro tormento é a convivência obrigatória de Harry Potter em minhas aulas. É como se estivesse vendo o próprio Tiago Potter, idêntico até mesmo na arrogância, pronto para me assombrar. Nunca esquecerei das humilhações que aquele idiota me fez passar, sei que muitas vezes revidei e você sabe que ele mereceu tudo o que fiz com ele também. Sei que como professor devo agir de forma ética, tanto que acredito que ficará feliz em saber que estou sendo muito tolerante com o jovem Potter, mesmo tendo que conviver com seu eterno desejo de ser herói.
Quando entrei para Hogwarts, eu simplesmente me vi na obrigação de ser o melhor aluno, talvez isso aliviasse os maus tratos que minha mãe e eu recebíamos de meu pai. Porém, sempre havia Potter no meu caminho. Ele mal pegava nos livros para estudar, eu sempre me esforcei para ganhar pontos para nossa casa e aquele idiota ainda conseguia ser popular entre os demais alunos. Eu sei que a raiva dele por mim aumentou depois que passei a chamar os trouxas de sangue-ruins, e eu gostava disso, mas entenda que eram outros tempos. Por favor, não pense que sou um homem rancoroso, o único rancor que guardo é de mim mesmo por ter permitido que você saísse de minha vida.
Acredito que já tenha me esquecido, que tenha encontrado alguém a quem possa inundar com sua alegria infinita, que mesmo você não demonstrando, enxergue sua fragilidade através de suas ações, aparentemente sem importância. Talvez tenha encontrado um homem que finalmente conseguisse domar, ou pelo menos conviver com sua impetuosidade para o que você chama de injustiça para com o próximo.
Acho praticamente impossível que ninguém tenha lhe notado, pois você consegue encantar a todos com sua doçura e meiguice, mesmo quando tenta inibir essas qualidades únicas, apenas para impor respeito aos outros. E você sempre acaba recebendo respeito quando era monitora em Hogwarts, principalmente o meu.
Sinceramente, desejo que ainda não tenha encontrado ninguém. Perdoe meu pensamento egoísta, mas quero ter uma mínima esperança de encontrá-la novamente e de finalmente conseguir o seu perdão. E quem sabe, depois do seu perdão, reconquistar o seu amor.
Sei que o que aconteceu com aquelas crianças naquele incêndio não poderá ser apagado e entendo se não me responder. Saiba que não tive qualquer participação naquele dia, porém ainda me culpo por não conseguir impedir. Não queria matar aquelas crianças trouxas, tanto que apesar de não conseguir salvar muitas vidas, consegui acionar o alarme de incêndio. Foi então que desisti e procurei por Dumbledore. Também procurei por você, mas era tarde. Você já havia partido.
Só agora, depois de muitos anos é que descobri seu paradeiro. Quero que saiba que agora que os tempos obscuros voltaram que tenho certeza de que estou lutando do lado certo, e que não há momento algum em que não pense em você.
Hoje o que eu mais quero é que você seja feliz.
Unicamente seu,
Severo.



Terminando a carta, completamente compenetrado, Snape a lacrou e a entregou para uma coruja da torre que estava encarapitada numa cadeira da sala dos professores. Observava a coruja se afastar, já longe, quando ouviu o sinal tocar, indicando o início de mais um período, sem ter idéia de que aquela carta era esperada há muito tempo e que, em poucos dias, receberia uma resposta afetuosa e cheia de saudade. A única carta que faria com que Severo Snape sorrisse.

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