Cartas escrita por Lucy Holmes


Capítulo 11
Carta a uma amiga




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XI - Carta a uma querida amiga


Querida Michele,
Primeiramente, peço desculpas por não chamá-la apenas de Mi, como sei que prefere, mas pensei que depois de tanto tempo, você não teria motivos para que eu lhe tratasse com tamanha intimidade.
Sim, faz mesmo muito tempo que não nos vemos ou nos comunicamos, de certo modo. Culpa minha, eu sei. Resolvi tomar iniciativa agora, pois tenho uma novidade que, acredito, será surpreendente para você, mostrando que nunca é tarde para reconhecer nossos erros, apesar das conseqüências irreparáveis que eles nos proporcionam.
Quando penso em você - confesso que não são poucas vezes - lembro-me sempre de Hogwarts, quando me dizia que o ser humano não é uma ilha para viver isolado. Eu discordava, e foram nesses momentos que eu quebrava seu coração, afirmando que algumas pessoas são destinadas a viverem sozinhas. Pessoas com uma maldição como a minha.
Já presenciei os momentos em que chorava, partia meu coração, mas não podia permitir que você se aproximasse de mim. Mesmo assim, você foi teimosa e não desistiu tão fácil. Apesar das suas tristezas, sempre sorria pra mim, alegre e determinada. Penso em você sempre com essa imagem, uma pessoa especial dentre todas as que eu conheci, mas que não me permiti me aproximar mais.
Não pude corresponder aos seus sentimentos como queria - como ambos queríamos - mas errei ao me dar ao luxo de ter amigos como Sirius e James. Então você cobrou a minha amizade, pedido que não achei justo negar. Por que não? Podemos ser amigos sem outros interesses.
Acabou que caí numa grande armadilha do meu coração. Não foi justo me apaixonar por você, não fui justo com você a tratando com indiferença, quando na verdade eu queria o contrário. Fui cruel com você e comigo mesmo.
Lembro que naquela época eu queria morrer todas as noites, quando percebia que a lua cheia se aproximava. Imaginava o que você faria se descobrisse e, quando descobriu, me surpreendi por não ter se afastado de mim. Talvez, se tivesse descoberto há mais tempo, seria diferente, mas agora é inútil pensar nessas possibilidades. No fim das contas, nunca saberemos.
Naquela época eu fiquei dividido, me repreendia por ficar feliz por você não se afastar, ao mesmo tempo em que a idéia de colocar você em risco era insuportável.
Daí, foi inevitável. Você conseguiu quebrar a barreira que eu insistia em manter erguida. Foi simplesmente impossível resistir aos seus encantos, Mi. Quando me dei conta, tinha brigado com um aluno da Corvinal, que aliás, mal lembro do nome, pelo fato dele apenas ter lhe chamado para um encontro numa das nossas visitas a Hogsmeade. Quando Sirius e James me acusaram de ser ciumento, me senti um idiota, principalmente porque eles estavam certos. Você ficou sabendo da briga e veio ralhar comigo.
Uma das melhores brigas de toda a minha vida.
Nunca esquecerei da sua fisionomia zangada e ao mesmo tempo triste quando veio tirar satisfação sobre o outro aluno, dizendo que mesmo tendo sido convidada, não aceitaria ir à Hogsmeade com ele. Como se para você fosse um absurdo ir com qualquer outro garoto a Hogsmeade que não fosse eu.  Não resisti a isso, simplesmente aquele beijo tinha que acontecer naquele momento.
No fim das contas, você foi a Hogsmeade comigo várias vezes aquele ano, e no ano seguinte. A melhor época da minha vida, tinha amigos e uma namorada linda e apaixonada por mim, um lobisomem. Infelizmente nem tudo dá certo.
E então, aconteceu. Numa noite de lua cheia em que minha fúria estava incontrolável, você se jogou na minha frente, apenas para provar que eu não era um monstro sem sentimentos. Imagino como foi frustrante quando se deu conta de que eu não seria capaz de reconhecê-la. Se não fosse por Sirius e James, você estaria morta agora, ou ainda, poderia ter se tornado como eu.
No dia seguinte daquela noite de lua cheia, quando recobrei a consciência, decidi que deveria me afastar de você . Nunca vou me perdoar por quase tê-la matado. Espero que a essa altura já tenha perdoado as feridas que lhe causei na pele, assim como as da alma.
Quero que me perdoe. Nunca quis que fosse daquela forma. Eu sei que você sofreu, e se pensar o contrário, pense que também sofri e ainda sofro com tudo o que aconteceu.
Apesar de toda a tristeza que causei, sei que temos boas lembranças. Você nunca deixou de sorrir pra mim, sempre tentando me animar de algum modo. Tanto tentava que conseguia me arrancar um sorriso. Meus amigos diziam que íamos acabar nos casando, mas sempre que tocavam no assunto eu me entristecia. Como conseguiria fazer você feliz, retribuir tudo o que fazia pra mim?
Há pouco tempo fiquei sabendo que você encontrou alguém. Espero que ele realmente mereça você, para o bem dele. Quero saber se está feliz com essa pessoa, dentre todos que já conheci, você é a que mais merece ser feliz.
Como disse no início da carta, tenho novidades e está relacionado ao que me disse no passado. Admito que você tinha razão, não é possível para um ser humano viver sozinho e mesmo eu sendo um lobisomem, ainda sou um ser humano. Você me provou isso.
A verdade é que encontrei alguém tão teimosa quanto você e que conseguiu quebrar a  nova barreira que construí. O mérito não é só dela, admito. Por mais de um ano vínhamos trabalhando juntos na Ordem de Fênix, Dumbledore nos convocou. Ela me lembra muito você, mas sei que nunca será a mesma coisa.
Afinal, você é única.
Talvez eu seja injusto com ela, por sempre compará-la em pensamento com você. Existem diferenças gritantes, ao mesmo tempo em que algumas características parecem idênticas. E foram essas características que me chamaram a atenção.
Como disse, o mérito por ela quebrar a mesma barreira que interpus entre nós no passado não é dela. Como todos da comunidade bruxa, você ficou sabendo do ataque à Hogwarts e a fatídica morte de Dumbledore. Grayback estava lá, foi ele quem me mordeu e começou com essa maldição sem cura.
Pois bem, nesse ataque Grayback, mesmo não transformado, mordeu alguém, um dos filhos de Arthur Weasley. Ele não se transformou em lobisomem, já que não era lua cheia e Grayback estava em sua forma "normal", o que foi uma sorte, mas existem os riscos.
Esse jovem estava noivo. A mãe dele cogitou em adiar o casamento, mas sua noiva recusou terminantemente e os dois continuam juntos. Felizes.
Isso fez eu repensar na atitude que tive no passado e não poderia cometer o mesmo erro. Acredito que você não acharia justo com ela. Quero pedir perdão mais uma vez, porque não foi justo com você.
Os riscos continuam, mas se não nos arriscarmos, será que conseguimos viver plenamente e ser felizes? Eu me neguei a pensar nisso depois de ter lhe ferido, mas agora esse pensamento vem me perseguindo e por isso resolvi desabafar com alguém.
Acho mais que justo que de todas as pessoas que conheço, você ficasse sabendo.
Despeço-me aqui. Não espero resposta, Mi. Sei que deve ter sido doloroso ler até agora. Apenas confio que todas as feridas que lhe causei tenham cicatrizado e que me considere ainda seu amigo.
Um abraço caloroso,
Remus Lupin.

Lupin enrolou o pergaminho cuidadosamente e entregou para a pequena coruja que Rony lhe emprestara. Observou a ave se distanciar no horizonte, um sorriso saudosista em seus lábios.
Sentiu o cheiro doce de vanilla e se voltou bem a tempo de ver Tonks se aproximar. Ela o abraçou carinhosamente.
- O que estava fazendo?
- Escrevendo para uma amiga querida.
Ela piscou, desconfiada. Depois sorriu.
- Vamos, o casamento de Gui já vai começar e estão nos esperando.
Remus suspirou, satisfeito. Os dois caminharam de volta para a Toca, de mãos dadas. 


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