Mean. escrita por Jones


Capítulo 1
Poison and Wine.




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Vai lá, garota! – Meu pai me disse abrindo a porta do carro para mim. – Boa sorte no seu primeiro dia

– Obrigada, pai. – Falei, olhando para os lados a procura de qualquer conhecido. – Não precisava ter me trazido.

– Claro que precisava, querida, é o seu primeiro dia! – Ele me disse e eu esperei a baba orgulhosa escorrer. – Estou tão orgulhoso de você! E já sabe, qualquer problema você já sabe onde me encontrar!

– Eu sei pai, já falamos sobre isso. – Disse um tanto quanto emburrada. – Tchau, pai.

– Tchau, filhinha! – Ele me disse empolgado.

– Hey, bebê do papai! – Ele me gritou e eu o ignorei, não acredito que ele estava me chamando daquilo, ali, na frente de todos. – Gina! Você esqueceu o lanche que sua mãe preparou!

– Ah, pai! – Eu sibilei enquanto corria para o carro na esperança que ninguém tivesse escutado. – Arthur Weasley, não me faça passar vergonha, ok?

Essa cena seria normal se eu tivesse treze anos, não vinte e três; se aquele fosse meu primeiro dia na escola, não na divisão especializada da Polícia Metropolitana de Londres. Se eu ainda morasse com meus pais e não tivesse meu próprio apartamento.

Ah, droga, eu ainda moro com um policial aposentado e uma dona de casa com Transtorno Obsessivo Compulsivo. Sim, eu ainda moro com meus pais e eles ainda me tratam como se eu tivesse treze anos.

Se eu tivesse meu próprio apartamento isso não aconteceria.

Se eu fosse resumir meu primeiro dia de trabalho em uma palavra, essa seria: merda.

Eu tive um dia de merda.

Achei que ia chegar com alguma vantagem já que tive um desempenho acima da média na Academia de Polícia, um excelente aproveitamento nos dois anos que trabalhei nos Narcóticos da também divisão especializada e, bem, eu me considerava uma boa policial, tanto que cheguei a esse diretório de Homicídios no cargo de detetive. E era uma coisa grandiosa a se orgulhar quando se tem vinte e três anos.

Mas logo quando cheguei ao meu andar no prédio, um dos detetives – que mais tarde descobri se chamar Pablo Chávez – me perguntou se eu tinha autorização para estar no prédio, já que eu não tinha perfil de policial, ignorei e continuei o meu caminho. Ele e o parceiro dele, Neville Longbottom, ficaram fazendo piadinhas da novata bonitinha ruiva até eu encontrar a sala do capitão, que por ser amigo do meu pai, fez questão de deixar bem claro que me conhecia e que ficaria de olho em mim na frente de todos, me abraçando e fazendo com que todos pensassem que eu era a nova favorita. Droga, era tudo o que eu precisava.

E para piorar, descobri que odeio o meu parceiro.

Sério, ele é o pior parceiro de todos: mal-humorado, calado demais, machista, intolerante e estúpido. Já me olhou com um ar de superioridade assim que encontrei meu gabinete, apesar de ter quase a mesma idade que eu. Éramos os detetives mais novos do nosso diretório, mas embora jovem, ele era considerado um dos melhores detetives da divisão, apesar de agressivo.

O nome dele era Harry Potter e as primeiras palavras que proferiu a mim foram: “eu gosto do meu café amargo com dois dedos de leite”. E eu, como uma idiota, ri achando que era algum tipo de piada, mas ele continuou me olhando com aquele sorriso esnobe.

É claro que eu o ignorei e comecei a me instalar a minha mesa. Ele continuou me olhando de braços cruzados enquanto eu colocava uma foto minha com os meus pais e os meus seis irmãos na mesa.

– O que foi? – Perguntei me recostando a minha cadeira. – Perdeu alguma coisa aqui?

– Não, você é quem parece perdida. – Ele observou e eu o respondi com uma careta. – Eu não sei o que você pensa que isso aqui é, mas não é uma aventurazinha ou um passeio no shopping com suas amiguinhas estúpidas, isso aqui é a Diretoria Especializada de Londres.

– Eu sei muito bem onde estou, muito obrigada, Potter. – Eu quase cuspi as palavras. – Não me julgue pela minha aparência, você não sabe quem eu sou.

– Ah, eu sei sim, você é uma loirinha metida a corajosa que mal aprendeu a atirar e já acha que é detetive. – Harry disse com as mãos apoiadas na minha mesa. – Eu conheço o seu tipo, o que usa salto alto e batom vermelho para trabalhar todos os dias; o tipo dondoca vaidosa. Mas me deixe te dizer uma coisa, aqui não há tempo para vaidades.

– Você está errado em tantos níveis, detetive. – Eu sorri, apesar da raiva crescente. – Para começar eu sou ruiva e para terminar, me consideram detetive e não ao contrário. Sem contar que eu faço um melhor trabalho em cima de um salto quinze que você nesses seus tênis ferrados.

Harry me olhou e riu por longos segundos que me pareceram horas e fizeram meu sangue ferver.

– Então no seu primeiro dia aqui você já se considera melhor que eu? – Ele perguntou cruzando os braços. – Estava me perguntando o que deu na cabeça deles para substituírem meu parceiro por você, mas acho que eu já sei quem é a favorita do capitão.

– Ah, isso é inveja, Potter? – Eu perguntei, também cruzando os braços. – Saiba que se eu fosse a favorita dele de verdade ele não me deixaria ter um parceiro tão patife como você.

– Ouvi histórias de amor à primeira vista, mas é a primeira vez que presencio um ódio à primeira vista. – Harry disse enquanto se sentava ao gabinete em frente ao meu, me encarando. – Só quero que saiba que eu não pretendo pegar leve com você porque você é garotinha ou porque você é filha de Arthur Weasley.

– Ah, mas eu não preciso que ninguém pegue leve comigo. – Eu respondi estreitando os olhos. – E eu sou, muito contra a minha vontade, sua parceira, não sua empregada ou garçonete.

– Acredite, você teria melhor uso para mim se fosse. – Ele disse secamente se levantando e se ausentando da sala.

Idiota.

Tão bonito e tão idiota.

E se você quer saber, o segundo dia não foi melhor.

Nem o terceiro e nem o quarto.

Harry continuava me tratando como se eu fosse uma imbecil de onze anos só porque eu ameacei vomitar na médica legista quando vi os órgãos de uma vítima expostos. Vamos combinar que aquilo era nojento e eu não sei como Luna conseguia. Luna é a médica, só para deixar claro.

Tenho certeza que se eu não me defendesse, Harry iria me fazer ir no banco de trás do carro. Mas que se dane esse lance de fidelidade ao parceiro, se alguém se oferecesse pra matar o infeliz, eu entregava de bandeja.

Mentira. Ainda não cheguei a esse nível.

No quinto dia eu já estava de saco cheio das palavras ácidas daquele detetive infeliz e cansada de chorar na terceira cabine do banheiro feminino. Então quando o telefone tocou eu fiz questão de atender.

– Detetive Weasley. – Disse assim que o telefone tocou e sorri ao vê-lo me fuzilar com os olhos. – Certo, estamos á caminho.

Ele me olhou com expectativa – e raiva, eu acho – e eu esperei os detetives Chávez e Longbottom se unirem a nós para dizer.

– Homicídio na Oxford com a Regent. – Falei pegando as chaves da viatura, Chávez e Longbottom continuaram olhando para Potter. – O que vocês estão esperando?

– A gente não curte insubordinação. – Chávez respondeu cruzando os braços e eu girei os olhos.

– Tá na hora de vocês entenderem uma coisa aqui, Chávez e Longbottom. – Eu falei segurando meu distintivo e colocando o revolver no coldre. – Detetive Potter não é o meu chefe, ao contrário do que ele anda espalhando. Nós somos parceiros. Ele não é o meu capitão e vocês não pensem que é porque eu sou novata e mulher que vocês vão me tratar como inferior.

Eles me olharam de olhos arregalados por uns dois segundos enquanto Harry apenas meneava a cabeça.

– Vocês podem vir comigo ou eu irei sozinha, tanto faz. – Eu disse caminhando para o elevador. Antes de descer, perguntei por sobre o ombro – Você vem, Potter?

– Já estou descendo. – Ele disse contra a vontade e eu sorri satisfeita ao perceber que estava sendo seguida por Longbottom e Chávez.

– O nome da vítima é Jenna Walker. – Luna disse olhando para a ficha que ela mesma preencheu. – Vinte e cinco anos e um corte de cabelo horroroso, sem contar essa aura negativa que exala do apartamento dela... Os móveis estão nas posições erradas...

– Hora da morte? – Eu a repreendi e ela sorriu.

– Ah, pelo cheiro desagradável, temperatura da pele e a poça de sangue, ela foi morta ontem, entre às onze horas e meia noite, por aí. – Luna disse examinando o cadáver nu, enrolado em um lençol azul manchado de sangue sobre um carpete bege, também manchado de sangue. – Ela foi estrangulada, mas não acho que essa tenha sido a causa da morte.

– E qual foi? – Harry desafiou de braços cruzados.

– Acho que foi o tiro que ela levou no peito por uma pistola 38. – Luna sorriu com a voz pacata. – Mas você é bem vindo a fazer o meu trabalho se quiser.

Nunca admirei tanto Luna como a admirava agora. Sorri desdenhosa sobre o ombro para Harry que continuava com aquela pose esnobe.

– É claro que eu preciso leva-la ao laboratório para maiores detalhes. – Luna sorriu mais uma vez enquanto chamava os paramédicos do necrotério para levar o corpo, depois olhou para mim ainda sorridente. – Ligo para você assim que souber mais detalhes.

– Ok, obrigada Luna. – Falei satisfeita e senti os olhos de Harry queimarem minhas costas. – Chávez, alguma chance de ter sido um roubo mal sucedido?

– Nenhum cômodo revirado, televisão, computador e iPad e etc. intactos. – Pablo respondeu prontamente. – Nenhum sinal da arma do crime.

– Sem contar que o anel de diamantes no dedo da vítima deve valer um bocado. – Harry se intrometeu, com aquele sorriso de deboche.

– De acordo com os documentos na carteira dela, Jenna Walker era advogada em uma firma de advocacia ambiental em South Beddington. – Neville disse ainda segurando a carteira dela. – Associada do Clube Equestre de South Hamptons e filha de Janet e Maurice Walker.

– Sir Maurice Walker? – Eu perguntei perplexa, o cara era simplesmente o prefeito de Londres.

– Isso explica a imprensa lá em baixo. – Harry disse baseado na visão da janela da sala de estar do apartamento de Jenna Walker. – Bem, Pablo e Neville vão a South Beddington, vejam se ela tinha algum inimigo ou um caso perigoso. E eu e a Barbie vamos conversar com os familiares.

Não tive nem tempo de responder a ofensa, já que ele saiu rindo em direção ao elevador e eu fui bufando atrás dele.

– Escuta só, Jenna era a melhor advogada da firma, não tinha nenhum inimigo aparente. – Pablo disse assim que chegaram ao nosso andar. – Acontece que ela era responsável pela ação contra a Empire Buildings, e a audiência final seria hoje.

– Vocês acharam o motivo fraco? – Longbottom perguntou sorrindo timidamente. – Seria fraco se ela já não tivesse processado essa empresa outras duas vezes e ganhado as duas. A ação atual previa uma indenização de vinte e cinco milhões para as famílias que vivem ao redor do St. James Park.

– São vinte e cinco milhões de motivos para matar. – Eu disse e Harry girou os olhos. – O que foi?

Vinte e cinco milhões de motivos? Sério? Você não tem capacidade para uma frase melhorzinha? – Harry falou me olhando com desdém.

– O circuito de segurança do prédio tem a imagem de vários indivíduos passando pela recepção durante esse horário, pois havia uma festa na cobertura. – Falei, olhando para o grande quadro com a nossa linha do tempo e, claro, ignorando Harry. – O assassino silenciou o tiro com um travesseiro e os vizinhos dizem não terem escutado nada, só uns gritos seguidos de uma discussão entre Jenna e um homem, mais ou menos onze e meia da noite.

– Bem no meio do horário da morte. – Harry completou, escrevendo no quadro branco ‘discussão às 11:30 pm.’

– A família da vítima disse que ela tinha um namorado, certo? – Eu perguntei para Harry, quase me esquecendo do ódio mortal que eu nutria por ele. – Vamos ver se ele tem algo a nos dizer.

– Gina, Dra. Lovegood no telefone. – Longbottom disse, com o rosto em chamas.

– Obrigada. – Eu respondi, atendendo ao telefone na minha mesa. – Oi Luna, alguma novidade?

– Algumas, aliás, eu preciso que venha aqui... Você e o chato do Harry, né? – Ela disse calmamente e eu ri enquanto Harry me encarava com aqueles olhos verdes furiosos. – A causa da morte foi o tiro de uma Walther P38, mas tenho umas curiosidades para partilhar.

– Ok, to indo aí. – Falei desligando o telefone.

Não eram nem bem dez horas da manhã e eu já me sentia satisfeita pelo resto do dia. Harry me seguia há de perto, mas tomava o cuidado de andar pelo menos meio metro atrás de mim e eu estava dirigindo. Sem contar que Luna mal dirigia a palavra a ele, é como se ela partilhasse do ódio que eu sentia por Harry.

– Aqui está a bala 9mm. – Luna disse segurando a pequena munição com suas luvas azuis. – Pelo local de onde tirei a bala, ela sangrou um bom tempo antes de morrer.

– Não tinha como ela pedir ajuda? – Eu perguntei colocando o par de luvas que ela atirou na minha direção, enquanto Harry me olhava como se eu fosse a maior retardada da face da Terra. – O que foi? Eu vi acontecer...

– Onde? Em um episódio de alguma daquelas séries mentirosas americanas? – Harry zombou.

– Não foi possível ela pedir ajuda, porque quando levou o tiro estava inconsciente. – Luna disse levantando o tecido que cobria o rosto da moça e ignorando Harry. – Essa pancada que ela levou na nuca foi o suficiente para deixa-la desacordada.

– E essas marcas de dedos no pescoço dela? – Harry perguntou depois de encontrar as luvas. Confesso que ri quando vi que Luna não pretendia responde-lo.

– E essas marcas de dedos no pescoço dela? – Repeti a pergunta, sorridente.

– Não foram fortes o suficiente para mata-la. Aliás, se eu não achasse esquisito... – Harry riu baixinho, como se achasse impossível ela achar algo esquisito. – Algum problema, Potter?

– Nenhum. – Harry respondeu, tentando manter a seriedade.

– Muito bem. – Luna aprovou e se dirigiu a mim. – Como eu estava dizendo, se eu não achasse estranho, diria que era algum tipo de fetiche sexual ou algo assim, porque essas mãos aqui não foram fortes o suficiente para danificar nada ou pelo menos deixar uma marca mais profunda.

– Fetiche sexual? – Perguntei com uma careta.

– Pois é, e por mais CSI que isso possa soar... – Luna começou cruzando os braços. – Encontramos uma amostra de esperma no corpo e ela fez sexo bem pouco antes das onze da noite.

– Alguma chance de ter sido estupro? – Harry perguntou e mais uma vez Luna o ignorou. – Detetive Weasley, tem como pedir sua amiguinha para colaborar?

– Luna, alguma chance de ter sido estupro? – Perguntei também o ignorando.

– Não sei ao certo, não há nenhum sinal de luta. – Luna disse cobrindo o rosto da vitima novamente. – Nada além das marcas de dedos nos pescoços... Mas há algo que vocês vão achar interessante, encontrei amostras de tecido embaixo das unhas dela, o laboratório está examinando a procura de algo concreto... Mas quando vocês tiverem suspeitos, pelo menos estaremos um passo a frente.

– Que esquisito. – Harry ponderou analisando as informações que Luna deu. – Transou momentos antes de morrer, foi estrangulada antes ou durante, levou uma pancada na cabeça e um tiro no peito... De qualquer maneira, o assassino era bem conhecido pela vítima.

– Por quê? – Luna perguntou, enquanto juntava os pertences do corpo da vítima.

– Não há sinal de arrombamento no apartamento, ou ela abriu a porta para o assassino ou ele tinha a chave e a senha do alarme. – Respondi por ele – Os pais dela disseram que ela não estava em nenhum relacionamento sério, que ela terminou com o namorado há mais de seis meses...

– O que contradiz o anel de noivado no dedo dela. – Harry completou, pensativo. – A não ser que eles tenham reatado o romance...

– O que dá sentido ao sexo, ao anel e a falta de arrombamento no apartamento. – Eu disse também pensativa. – Mas falta um motivo...

– Apesar de termos um suspeito. – Harry cruzou os braços.

– Vamos olhar as gravações da recepção e ver se a família identifica alguém suspeito. – Eu disse como se tivesse tido a ideia mais brilhante de todas.

– Já fizemos isso. – Harry ergueu a sobrancelha. – E se mostrássemos a dos elevadores?

– Já fizemos isso. – Eu ergui a minha sobrancelha. – Mas é claro que ninguém reconhece ninguém!

– O assassino já estava no prédio! – Harry completou.

– Cara, isso foi super esquisito. – Luna disse com uma careta. – Vocês estão conscientes disso?

– De que? – Harry perguntou cruzando os braços. – O que a Barbie ‘Vamos ao Shopping’ fez?

– Vocês estavam completando... – Luna começou, mas resolveu não terminar cruzando os braços. – Deixa pra lá.

Era hora do almoço e eu estava com uma caixinha de comida tailandesa assistindo às gravações da noite anterior. Vi Jenna subir sozinha para o apartamento falando ao celular às nove horas da noite e várias pessoas passando nesse período.

– Pausa aí! – Longbottom gritou atrás de mim. – Volta uns dois segundos...

– Ok. – Eu disse com a boca cheia. – Hey, esse não é Percy Burke?

– Aham... O que o advogado da Empire Buildings estava fazendo no prédio da vítima às 22:00 da noite? – Neville perguntou retoricamente.

– Motivos para matar ele tem... – Harry disse sentando-se na minha mesa, fazendo-me girar os olhos. A próxima frase ele me dirigiu com um sorriso azedo – Vinte e cinco milhões de motivos.

– Você não precisa zombar da minha cara o tempo inteiro, seu idiota. – Falei mesmo, já estava de saco cheio. – Você não consegue estabelecer contato com alguém do sexo feminino sem tentar fazê-la se sentir inferior? Você tem algum problema com as mulheres? Alguma terminou com você e te fez se sentir mal? Ou sua mãe não te deu atenção e carinho? De qualquer maneira, eu não tenho culpa se você odeia as mulheres. Então me deixa em paz.

– Eu e Chávez vamos buscar o suspeito. – Harry disse simplesmente, me deixando a sós com Longbottom que me olhava com aquele ar de desaprovação.

– O que foi? – Eu perguntei encolhendo os ombros e mastigando minha comida Tailandesa. – Você não pode defende-lo depois de ver o jeito com que ele me trata.

– E você não precisava ter falado da mãe dele. – Neville respondeu saindo do meu gabinete. – O cara pode ser o idiota que for, mas nunca fale dos pais dele.

– O que foi? Voltamos ao ensino médio por acaso? – Eu girei os olhos irritada. – Eu estou falando isso com você porque eu sei que você está a fim da Luna, ou seja, eu tenho algo contra você. Mas esse cara consegue me desestabilizar só com um sopro... E quer saber? Eu falo dos pais dele se eu quiser.

– Ok, isso foi meio perturbador, não estou a fim da Luna... Não sei de onde tirou isso. – Neville respondeu corando e tamborilando os dedos na mesa.

– Ah, claro.

Quando passei pela sala de interrogatório o suspeito já aguardava e o capitão dava as famosas instruções a Potter. É claro que eu fiquei irritadíssima. Por que eu não posso ir junto? É meu suspeito! Ok, nosso suspeito. Mas eu queria interrogar, passei trinta minutos esperando por isso e assisti Potter interrogar sozinho a semana inteira e não deixei de odiar a técnica dele. Ele é tão idiota com os suspeitos como é comigo... O que faz eu me perguntar se há alguma ligação nisso.

– Eu vou entrar. – Eu disse para o capitão.

– Novatos não interrogam, Weasley. – O capitão disse firme e Potter riu de deboche.

– Você sabia que Percy Burke é um advogado? – Falei cheia da razão e eles me olharam esperando um argumento. – Isso significa que esse idiota vai colocar tudo a perder quando agir como o estúpido que é! Os advogados sabem os próprios direitos.

– Capitão, eu não sei o que o senhor tinha na cabeça ao colocar essa louca varrida como minha parceira. – Harry me fuzilou com os olhos. – O que ela tem que entender é que eu não sou uma das amiguinhas de Ioga dela, ou uma de suas companheiras de shopping. Ela vem pra cá com esse salto enorme, o cabelo arrumado e essa maquiagem de travesti e acha que manda em tudo por aqui, mas adivinha só? Ela não manda.

– Verdade, sou eu quem manda em tudo por aqui. – Capitão disse irritado. – Eu não tenho nada a ver com as picuinhas de vocês. Vocês vão ficar só assistindo.

– Mas Capitão... É o meu suspeito! – Eu argumentei em vão.

– Chávez e Longbottom, vocês interrogam. – Ele os chamou, enquanto Harry me olhava furiosamente. – E vocês dois vão procurar algumas provas contra ele. Agora!

– A culpa é sua, sua... – Harry começou e eu o interrompi bruscamente.

– Deixe-me adivinhar? Barbie frívola e fútil? – Eu disse com as mãos na cintura. – Minha maquiagem não é de travesti e de agora em diante você só fala comigo se quando for algo pertinente ao caso. Barbies são loiras, eu sou ruiva! E só mais uma coisa, um dia você vai se arrepender de ser tão idiota comigo, tudo o que você vai ser é mais um cruel estúpido no mundo.

– Acabou? – Ele perguntou arqueando a sobrancelha.

Não me dei ao trabalho de responder.

Aquele cara me irritava tanto que eu tinha vontade de sei lá, cobri-lo de porradas e estragar aquele rosto bonitinho dele. Eu sei que com aqueles músculos que ele tem no braço, ele era capaz de me derrubar rapidamente, mas eu não sou presa fácil, modéstia à parte.

– Se liga na história. – Neville começou se sentando na minha mesa, eu e Harry estávamos nos encarando em silêncio há um bom tempo. – Pois é, parece que Jenna Walker não era tão exemplar como parecia, de acordo com Percy Burke, ela devia dinheiro até as calças... O plano dela era fazer um acordo e tirar 5 milhões por fora.

– E o que Percy Burke estava fazendo por lá às dez da noite? – Eu perguntei tentando desviar os olhos de Harry, mas era inexplicável. Eu só não conseguia tirar os olhos dele e nem me venha com romantismos. Eu só sei que se eu parasse de encarar aqueles olhos verdes eu iria perder a batalha e eu odeio perder.

– Aí que está a parte boa, ele não queria dizer nada porque tinha um álibi, mas ele acabou soltando... Asqueroso. – Pablo meneou a cabeça. – Enfim, parece que ele e Jenna tinham um caso... Há um bom tempo e foi isso que ele foi fazer no apartamento.

– Então foi ele quem transou com ela? – Harry perguntou ainda com os olhos fixos em mim.

– É, eles tiveram relações sexuais e ele não foi nem um pouco tímido em falar sobre o assunto. – Neville disse coçando a cabelo. – Contou detalhes de como suas costas estão arranhadas...

– E ele quis assinar uma confissão? – Perguntei cruzando as pernas.

– Pois é! – Pablo começou. – O cara foi visto entrando na festa da cobertura às onze e dez, e a promoter da festa disse que ele permaneceu lá até as três da manhã...

– Se os vizinhos escutaram uma briga às onze e meia, não pode ter sido ele. – Constatei e Harry girou os olhos.

– Genial, Weasley. – Ele disse ironicamente. – Pois é, o sexo foi explicado...

– As marcas de dedos no pescoço também. – Neville disse sacudindo a cabeça para afastar o pensamento.

– Jura? – Eu perguntei imitando a careta de repulsa dele. – Fetiche?

– É, parece que sim. – Pablo disse, como se se divertisse. – Mas a gente nem contou a melhor parte.

– Tem uma melhor parte? – Perguntei cruzando os braços.

– Ele disse que saiu pela porta da cozinha do apartamento porque ela escutou alguém entrar...

– E ele viu quem era? – Harry perguntou ansioso.

– Não, ele estava com medo que fosse alguém que pudesse comprometer o acordo e fugiu antes de ver quem era. – Neville respondeu. – Mas ele disse ter escutado uma voz masculina.

– Uma voz masculina? – Harry perguntou pensativo.

– O ex-namorado dela. Só pode ser. – Presumi, colocando o cabelo atrás da orelha. – Ele entrou no apartamento e surpreendeu a namorada o traindo e resolveu matá-la.

– Faz sentido. – Pablo disse cruzando os braços.

– São só especulações, precisamos de provas. – Harry disse saindo da sala.


You, have pointed out my flaws again, as if I don't already see them.

Não eram nem duas da tarde e eu já estava declarando ódio eterno a Harry novamente.

Por que? Vou explicar em seis palavras: ele é um filho da puta.

O cara disse que não consegue levar meu rabo de cavalo ‘vamos para escola, mamãe’ a sério e me trocou por Pablo. Eu não ia nem ligar, porque eu odeio o cara mesmo, se ele não se recusasse a falar o que tinha encontrado contra Steve Marshall, o ex-namorado ou atual noivo, até esse ponto eu não sabia mais de nada, só do que eu e Neville tínhamos encontrado nas finanças dela, que na verdade não estava falida coisa nenhuma.

O que ela estava era podre de rica, mas nenhuma das fontes dos milhões dela era fixa. O que me parece é que ela fazia esse tipo de acordo com muitas empresas por aí... Acordos milionários. Ela era uma filha da mãe corrupta mesmo.

Mas eu não tenho nada a ver com isso. Meu departamento é homicídios, ou seja, tenho que achar o assassino.

Quando o infeliz – também conhecido como Harry – chegou, eu e Neville o cercamos pedindo respostas. O infeliz não quis dizer nada.

Fui ao capitão, que deu um sermão de cinco longos minutos em mim e mais dez no Harry, algo sobre perturbar a paz dele, ‘vocês trazem mais problemas que solução, vocês são parceiros, blablabla, mais uma reclamação e os dois vão ficar suspensos.’ Eu ficaria até chateada com isso, não fosse a frase a seguir ‘Potter, eu tô por aqui com você, ou você se comporta ou muda de unidade’.

– O suspeito chega aqui em dez minutos. – Harry disse batendo a porta.

– Hey, não bate a porta na minha cara. – Falei, andando atrás dele. – Eu não sei o que eu fiz pra você me odiar tanto, mas se você não tem maturidade para resolver problemas como adulto, eu fui resolver como criança.

– Você me delatou para o capitão porque não aguentou ficar sem saber o que achamos, você quer falar mesmo sobre maturidade? – Harry falou se sentando no gabinete dele, em frente ao meu.

– Você escondeu coisas importantes da nossa investigação por que não gosta de mim, então sim. – Respondi cruzando os braços. – Então eu vou te falar como funciona...

– Não, eu vou te dizer o que vai acontecer daqui pra frente. – Harry falou se levantando e colocando as mãos na minha mesa, na pose ameaçadora que eu fazia nos meus interrogatórios. – Você vai parar de andar com o seu nariz em pé por aqui achando que manda em alguma coisa, você não manda em mim, você é uma novata descerebrada que passa suas noites vendo CSI e acha que sabe investigar...

– Não. – Eu disse segurando minhas lágrimas. É, eu fico com raiva e tendo a derramar lágrimas. – Você é um idiota que não foi com a minha cara não sei porque e acha que é melhor que qualquer um aqui e, adivinha só? Você não é! Você é um prepotente, é isso que você é!

Depois desse discurso, andei apressadamente para o banheiro para chorar minha raiva sozinha. E daí se eu gosto de CSI? É algum defeito?

Eu já tinha sofrido preconceito por ser a única mulher na delegacia quando estava nos Narcóticos, mas eram apenas implicâncias e etc. Eu sei lá o que eu fiz para Harry, mas tudo o que ele dizia tinha um impacto forte em mim, era como se a opinião dele fosse importante... Eu o odeio tanto, mas tanto que tudo o que eu quero fazer é bater forte nele para ver se ele sente alguma coisa, porque ele é tão insensível que parece ser imune a dor.

Ah, mas eu não vou ser vulnerável.

Eu vou ser boa, eu vou me comportar e resolver esse caso. Ele que seja transferido, não quero saber.

Depois da discussão eu lavei meu rosto e tirei toda a minha maquiagem borrada, acertei minha roupa e fui em direção ao interrogatório.

– Me atualize. – Praticamente ordenei a Pablo, fico mandona quando estou com raiva e tenho que trabalhar nisso, eu sei.

– Os vídeos de segurança do prédio mostram o suspeito saindo do prédio pela saída de emergência ás onze e quarenta e cinco da noite. – Pablo disse baixinho, vigiando para ver se não tinha ninguém chegando. – Olha, eu nunca vi duas pessoas implicarem tanto uma com a outra, mas eu não aguento mais, ok? É ordens de um lado, ordens do outro... Vocês querem me matar!

– Sem dramas, Chávez. – Harry apareceu de repente.

– Potter, o suspeito é meu. – Eu disse entrando na sala e batendo a porta.

Infantil?

Claro.

– Acredito que o policial que te trouxe aqui já leu os seus direitos, certo? –Disse me sentando a mesa, em frente a Steve Marshall.

– É, parece que eu tenho direito a um advogado. – Steve Marshall disse cruzando os braços. – Mas eu não preciso de um, eu não devo nada a ninguém!

– Tudo bem. – Eu disse me levantando. – Sr. Marshall, o senhor pode me dizer qual era a sua relação com a vítima?

– Nós namorávamos, depois discutimos e ficamos cinco meses separados, voltamos a namorar há menos de um mês. – Steve Marshall disse nervosamente. – Eu a pedi em casamento semana passada e ela disse sim e parecia muito feliz, aquela piranha...

– Parece que você guarda muito ressentimento em relação a ela. – Falei colocando as mãos na mesa. – Por quê?

– Não guardo. – Ele negou nervosamente com a cabeça e eu o desafiei com o olhar. – Ok, eu descobri que... Você não vai acreditar em mim.

– Tente a sorte.

– Ok. – Ele engoliu seco antes de falar. – Eu descobri que ela estava tendo um caso e que estava fazendo acordos esporádicos em troca de muito dinheiro... E quando eu descobri com quem ela tinha um caso, fiquei enojado.

– Então você a matou porque ela estava tendo um caso com Percy Burke? – Eu perguntei, mais acusando do que perguntando, na verdade.

– Com Percy Burke também? – Ele perguntou atônito. – Eu descobri que ela estava tendo um caso com o pai dela, o prefeito. Na verdade ele não é pai dela... Ela foi adotada com uns 15 anos e sei lá, para mim ainda é incesto.

– É uma excelente história, mas... – Comecei a dizer e ele me interrompeu.

– Mas é a verdade. – Steve disse atônito. – Eu contratei um detetive quando descobri que ela tinha uma conta na Suíça e estava agindo esquisita... Eu tenho fotos provando que os dois tinham um caso.

– Ela poderia até ter um caso com o pai dela. – Eu tentei esconder o desconforto que eu estava sentido. – Mas isso não te isenta da acusação de homicídio. O que você estava fazendo entre às onze e meia e meia noite de ontem?

– Eu estava... Em casa dormindo. – Ele respondeu olhando para os pés.

– Steve, se você assinar sua confissão e colaborar, você ainda pode conseguir um acordo e diminuir seus anos na prisão. – Propus olhando nos olhos dele.

– Eu já disse que não a matei! – Steve disse desesperadamente, de olhos arregalados.

– Ah não? – Eu perguntei mostrando uma foto dele na saída de emergência ás onze e quarenta e cinco. – Isso aqui para um promotor é um material e tanto... Então você tem um clone?

– Ok. Eu fui ao apartamento dela, mas eu não a matei. – Steve disse amedrontado. – Eu quero meu advogado.

– O que aconteceu com o ‘eu não devo nada a ninguém!’? – Eu perguntei cruzando os braços. – Se você não deve nada, pode começar a me contar a verdade, Steve.

– Eu sei como isso funciona, você vai me fazer parecer culpado, não importa o que eu diga e eu vou apodrecer na cadeia por um crime que eu não cometi. – Steve disse passando as mãos nervosamente no cabelo.

– Ah, você não está ajudando em nada, Steve. – Coloquei as mãos na mesa e o encarei. – Eu vou te dizer o que eu acho que aconteceu. Você ligou para sua noiva, ela não atendeu... Você imaginou coisas, invadiu o apartamento da sua namorada e viu que sua imaginação fez jus a realidade e a matou.

– Não. Quer dizer... Mais ou menos! Eu não a matei tá legal? – Steve disse exasperado. – Quando eu cheguei ao apartamento e ela estava com aquelas marcas no pescoço... Ainda usando o anel que eu tinha comprado! Ela estava nua, com o batom borrado e com as roupas espalhadas. Eu encontrei uma cueca! Então eu não aguentei. Eu discuti com ela eu fiquei com tanta raiva dela que bati na cabeça dela com o abajur. Aí ela desmaiou e eu fiquei louco! Achei que eu tinha a matado, mas aí eu liguei para a ambulância e quando eles me atenderam eu ouvi um tiro e saí correndo do apartamento. Eu sabia que a culpa cairia em cima de mim, eu sabia!

– Você ouviu o tiro? E você viu quem foi? – Eu me sentei na cadeira. – Porque se você não sabe quem foi, fica meio difícil de acreditar.

– Eu não vi quem foi! Eu fui embora correndo eu juro! – Ele gritou, me olhando nos olhos. – Eu só sei que eu tranquei a porta da frente quando eu entrei e a pessoa que a matou deu um jeito de entrar. Eu nem voltei para ver quem tinha morrido, achei que iam me matar também.

– Potter, ele é inocente. – Eu disse assim que saí da sala.

– Em que você baseou isso? – Ele perguntou com aquele sorriso torto idiota. – Você sentiu uma aura sincera?

– Ok, eu sei que eu nunca vou conseguir te impressionar e que você não vai com a minha cara. – Tentei não girar os olhos, incrivelmente sincera. – E quer saber? Tudo bem, mas eu acho que o cara é inocente e eu vou procurar o prefeito.

– Procurar o prefeito? Tá louca? – Harry segurou meus braços. – O cara tem um milhão de assessores e seguranças, é o melhor amigo do promotor e a gente não vai conseguir um mandato tão cedo.

– Mas quanto mais tempo se passa menos tempo eu tenho para encontrar provas. – Eu disse me desvencilhando das mãos dele.

– E a gente perde nosso emprego se não encontramos provas. – Harry disse cruzando os braços.

– A gente? – Eu perguntei arqueando a sobrancelha.

– Bem, eu quero encontrar o assassino tanto quanto você. – Ele disse gaguejando e descruzando os braços. – Barbie.

– Ok. – Eu disse pegando as chaves do carro. – Vamos invadir o escritório do prefeito.

– Eu não acredito que eu estou vigiando o gabinete do prefeito dentro de uma viatura com uma das Drag Queens de RuPaul’s Drag Race. – Harry disse meneando a cabeça, e eu riria se não tivesse sido ele o autor da piadinha.

– O que eu fiz pra você, garoto? – Eu perguntei cruzando os braços. – Você me ataca desde o momento que eu pisei naquele lugar.

– Você é só... Bonitinha demais, ruivinha demais, seu salto é alto demais. – Ele disse passando as mãos naquele cabelo preto desgrenhado. Ele seria tão bonito se não fosse tão idiota. Ok, ele é muito bonito, mas intragável. – Parece mais uma top model ou uma candidata a Miss Inglaterra.

– Eu não sei se isso é um elogio. – Eu disse sinceramente. – E isso não afeta o meu trabalho, se você quer saber.

– Até agora você não me provou o contrário. – Eu pensando que estava começando a sentir simpatia por ele e ele me lança uma dessas.

– Eu não tenho que te provar nada. – Falei ainda de braços cruzados. – O que aconteceu com você hein? Te passaram pra trás? Alguém te transformou nesse ser frio... Mas eu vou parar de te responder assim, porque isso é um ciclo vicioso, te passam pra trás e depois você me destrói e aí eu faço isso com outra pessoa e por aí vai. Negatividade atrai, querido.

– Você me chamou de querido? – Harry me olhou com aquele sorriso zombeteiro. – Parece uma Patricinha de Beverly Hills.

– Você passa seu tempo livre vendo filmes e seriados não destinados ao público heteronormativo? – Perguntei ainda mirando o gabinete da prefeitura. – RuPaul’s Drag Race, As Patricinhas de Beverly Hills...

– Eu só... Tenho uma amiga que zoa esses filmes. – Ele respondeu tomando o binóculo da minha mão. – Ela é uma grande amiga, minha única família.

– Você sabe por que eu entrei na polícia? – Falei sem pensar, e como ele me olhou com expectativa, tive que continuar. – Não foi porque eu queria me aventurar ou atirar em alguém, como você acha que foi... Aliás você não conhece nadinha de mim mesmo.

– Eu sei que seu pai é Arthur Weasley. – Ele observou arqueando a sobrancelha.

– Ok. Você sabe alguma coisa. – Eu girei os olhos.

– Eu sei que você tem seis irmãos. – Ele disse novamente e eu o olhei surpresa.

– Duas coisas. – Eu sorri triste. – Quer dizer quase, hoje em dia eu só tenho cinco irmãos.

– O que aconteceu com ele? – E acreditem ou não, ele estava demonstrando interesse.

– Foi assassinato por um filho da puta que um dia vai ter o que merece. – Eu respondi, me lembrando do funeral do meu irmão Fred e tentando segurar as lágrimas.

– Foi por isso que você decidiu ser policial? – Me perguntou e agora eu via que por trás daquela expressão sempre debochada talvez existisse um cara legal.

– Não. – Falei fazendo careta. – Eu sempre quis fazer justiça, mas prendendo os culpados por outros crimes. Dando respostas, você não sabe como é angustiante ficar sem respostas.

– Ah, eu sei sim. – Harry disse com aquele olhar que agora eu via como sincero, e cara, que olhos verdes lindos. – Todos sempre me disseram que eu me parecia com ele, mas tinha os olhos dela.

Eu fiquei em silêncio, esperando que ele continuasse. Eu podia sentir a dor através das palavras dele.

– Mas na verdade, eu nunca soube de verdade... Só vi as fotos. – Harry confessou, numa voz sem a carga diária de sarcasmo e ironia. – Eu só sei que ela salvou minha vida e que ele morreu tentando salvá-la. E é por isso que eu estou aqui, para prender os desgraçados que fazem isso. Que matam as pessoas... Como mataram meus pais.

– Eu sei como você se sente. – Disse essa frase sinceramente, pela primeira vez. – Eu não sei o que é mais doloroso, perder alguém que você conheceu a vida inteira ou perder a chance de conhecer pessoas fundamentais na sua vida.

– Ele saiu do prédio! – Harry chamou minha atenção de repente.

– Ok, hora de invadir gabinetes. – Eu disse pensando em uma maneira de entrar lá.

Acontece que os guardas municipais podem ser bem estúpidos ás vezes então bastou um tiro no jardim para todos saírem da porta. Eu e Harry entramos lá facilmente.

Estávamos no gabinete do prefeito, futucando gavetas usando luvas horríveis, quando senti meu celular vibrando.

– Detetive Weasley.

– Gina, se liga em quem também estava na festa na cobertura. – Neville me disse pelo telefone. – Se você chutou o Prefeito e a Primeira Dama acertou... Eles chegaram a festa por volta das onze.

– E ficaram lá a noite inteira? – Eu perguntei já me sentindo idiota.

– Dizem que sim. – Neville disse.

– Ok, estamos perdendo tempo aqui então. – Eu falei. – Neville? Você continua aí? Eu preciso que você veja as filmagens dos corredores e dos elevadores entre onze e quarenta e meia noite.

– Vamos dar o fora daqui. – Harry disse, sacudindo a cabeça. – Tenho certeza que vamos arranjar problemas por isso.

– Principalmente agora que não temos nada.

– Estamos presos aqui. – Harry disse.

Três palavras que mudaram a minha vida.

Porque eu podia ouvir os xingamentos que ele dirigia a mim silenciosamente, porque eu não sabia se podia suportar a presença dele por tempo indeterminado e porque muita coisa mudou aquele dia.

Mas vamos continuar a partir daquelas três palavras.

– Estamos presos aqui. – Harry disse antes de me apontar o dedo e estreitar os olhos. – Por sua culpa!

– Minha culpa? De onde você tirou que é minha culpa? – Perguntei indignada. – Você veio porque quis.

– Eu vim porque você é minha parceira. – Potter falou cruzando os braços, eu quase me emocionei. – Aí você se ferrava e a culpa cairia sobre mim também.

– Ah, cala a boca. – Eu falei girando os olhos.

– Eu não acredito que viemos aqui em primeiro lugar. – Ele disse mexendo nas prateleiras. – Não encontramos nada, se arrombarmos a porta vão descobrir que estávamos aqui e vamos perder o emprego e tudo por sua culpa.

– Eu vim procurar uma pista, você veio porque quis, idiota. – Falei também cruzando os braços.

– Eu vou perder meu emprego por sua culpa. – Ele repetiu se sentando no chão.

– Se te consola, eu vou perder o meu também. – Me sentei no chão, do outro lado da sala.

– Eu vou perder o emprego porque você resolveu confiar na palavra de um carinha qualquer. – Harry falou girando os olhos. – Sem nenhum tipo de prova.

– Eu vim procurar as provas, Potter. – Eu falei também girando os olhos. – Para um metido a esperto você não sabe de nada, hein.

– Ah, cala a boca... Barbie Ferrugem. – Ele falou com aquele sorriso de deboche.

– Sabe, quando eu fecho os olhos, eu te vejo a anos daqui em um bar falando de algum jogo de futebol... Com essas suas mesmas opiniões ridículas que ninguém com bom senso escuta, murmurando e reclamando das mesmas coisas enjoadas. Falando em como eu sou uma Barbie que não sabe ser policial. – Eu falei me levantando, consciente que meu dedo estava perto demais do rosto dele. – Mas tudo o que você é, é cruel. E mentiroso, e patético e solitário.

– Eu não sou solitário. – Foi a única ofensa da qual ele se defendeu. – Eu não tenho família, mas eu tenho uma amiga e o namorado dela que é bem bacana.

– Patético. – Eu falei ainda naquele tom acusador. – Você poderia ter uma família sabia? Porque pelo o que dizem você é uma boa pessoa, mas eu duvido! Porque parece que você não consegue ser legal com ninguém ou o problema é comigo!

– Meu problema é com você e você sabe disso. – Ele falou e eu me sentei ao lado dele. – O que foi?

– Eu só não sei o que eu fiz. – Eu falei um pouco mais contida.

– Você é bonita demais. – Ele disse simplesmente.

– De onde eu venho isso é um elogio. – Eu ri, ainda não sei se sarcasticamente ou se me deu vontade de rir.

– E deveria ser. – Ele disse sorrindo torto. – Você é ruiva... Minha mãe era ruiva.

– Eu aposto que ela era linda... Quer dizer, os olhos dela eram como os seus, certo? – E foi aí que eu percebi que eu gostava daquele cara. E que achava os olhos dele, escondidos por aqueles óculos, lindos.

– Ela era linda, assim como você. – Ele me disse e isso me pegou de surpresa, não pelas palavras, mas o jeito com o qual ele me olhou. Foi esquisito. – E é por isso que eu... Que eu implico com você, tá legal? As pessoas morrem nessa profissão sabia? E aí te colocaram como minha parceira e um dia... Você pode morrer como meu último parceiro e aí... Você é bonita demais.

– Você sabe que eu posso me defender, certo? – Foi tudo o que eu consegui dizer.

Ele continuou me olhando com aqueles olhos verdes bonitos.
Até me esqueci que tinha o chamado de idiota, patético, cruel e mentiroso, minutos atrás.

– Eu sei como é. – Falei por fim. – Quando Fred se foi, era tortuoso olhar para outras pessoas ruivas... O que é difícil em uma família onde todos são. Mas qualquer coisa o lembrava. Principalmente o meu irmão George que é gêmeo dele... Quando éramos crianças, estudávamos na mesma escola, era milagre os dois não terem sido expulsos naquela época de tanto que aprontavam. – Eu tentei não chorar de verdade, mas era impossível e agora Harry estava ali me abraçando. – Eles eram loucos, no dia dos exames finais, jogaram um rojão dentro do grande salão da prova... Ele era uma pessoa tão boa e agora ele não está mais aqui. É como se uma parte de mim tivesse ido embora com ele. E George. É como se tivesse acabado toda a alegria dentro dele e a preço de que? O assassino ainda está por aí e eu não aguento isso.

– Eu sei como é. – Harry repetiu minhas palavras enquanto acariciava meu cabelo.

Se alguém me dissesse que eu terminaria o dia abraçada a Harry Potter, eu riria da cara da pessoa, ligaria para uma ambulância e a internaria em um hospício.

– Me desculpe, Barbie Ferrugem. – Ele disse quando me abraçar se tornou algo esquisito, com aquele sorriso torto bonito e aqueles olhos sinceros.

– Desculpas aceitas. – Falei apertando a mão dela. – Só me prometa que vai me tratar como um ser humano daqui pra frente.

– Ih, isso eu não posso prometer. – Harry falou rindo. – Tá ok, prometo.

– Muito bem. – Eu falei sorrindo.

– Você não tem que me pedir desculpas por nada não? – Ele falou cruzando os braços. – Sei lá, por ter me chamado de idiota, patético, ridículo...

– Você mereceu.

– Mereci nada. – Ele disse cruzando os braços.

Ficamos em silêncio nos olhando por um bom tempo.

Embaixo daquela carranca dele, existia um bom homem... Foi a única coisa coerente que meu cérebro conseguiu explicar aquela noite. Encarar aqueles olhos verdes bonitos era bom e eu estava me sentindo estranhamente confortável vendo aquele sorriso lindo se abrindo para mim. Os olhos dele também sorriam, confusos como os meus.

– Chave. – Ele disse depois de alguns minutos.

– O que? – Eu perguntei acordando do transe.

– Deve ter uma chave reserva escondida em algum lugar! – Harry disse se levantando do chão. – Você procura ali e eu aqui.

Movi-me procurando a chave nas gavetas e nos armários, muitas trancadas. Me lembrei de um truque que Fred fazia – que se ele estiver me olhando de onde quer que ele esteja, ele ficaria orgulhoso de como eu consegui me virar. – e consegui abrir a fechadura simples das gavetas. Mas o que eu encontrei na gaveta camuflada por um fundo falso na mesa, não foi uma chave.

– Achei! – Dissemos ao mesmo tempo.

– Ele tinha duas chaves? – Harry disse segurando uma chave e um livro.

– Não. – Eu respondi sorrindo. – Ele tem uma Walther P38.

– Você achou? – Harry disse exultante. – Você encontrou a arma do crime!

– Ainda temos que levar para a balística, mas... – E aí eu fui interrompida.

O cara me beijou!

Sério!

O cara me beijou!

E ele me odiava. Certo? O mesmo tanto que eu o odiava, eu acho. Mas enquanto ele me beijava e deslizava a mão pelo meu cabelo ruivo que ele tanto chamava de ferrugem, eu percebi que eu não o odiava tanto. Que, na verdade, eu gostava dele. Acho que o meu coração batendo acelerado também gostava bastante dele. Estranho.

E aquilo era muito confuso, porque na mesma proporção que eu queria soca-lo por todas as coisas que ele me disse, agora eu estava movida por aquela sensação e queria beijá-lo, ou pelo menos não me separar daqueles lábios tão cedo.

– Ér... – Harry colocou as mãos no bolso, suas maçãs do rosto adquiriram aquele tom rosado e eu riria talvez, se não sentisse o meu rosto quente. – Acho que a gente tem que sair daqui.

– Ahn? Ah é, totalmente. – Eu disse, colocando a arma em uma caixa com cuidado. – A gente sai pela ala leste que não tem câmeras, e eu penso em alguma coisa pra distrair os guardas.

– Eles provavelmente estão dormindo em algum lugar. – Harry sorriu, e eu acho que vai ser muito fácil de me acostumar com a imagem dele sorrindo. – O que foi?

– Nada. – Eu disse antes de beijá-lo mais uma vez. – Vamos.

– A gente tá tentando falar com vocês dois desde ontem! – Neville disse. – Encontramos registros das imagens dos elevadores, parece que o assassino não se preocupou com o elevador da mesma maneira que se encarregou de destruir as gravações dos corredores.

– Veja quem foi vista no elevador às onze e quarenta e três? – Pablo disse colocando a gravação para funcionar. – Pois é, a primeira dama.

– E eu acho que na bolsinha dela cabe uma p38, não é? – Harry me perguntou.

– Com certeza. – Eu respondi sorrindo enquanto Neville e Pablo nos olhavam confusos.

– Menos de uma semana. – Pablo disse rindo. – Neville, você me deve cinquenta.

– Do que vocês estão falando? – Perguntei cruzando os braços. – Vocês não estão pensando que...

– Somos investigadores, Weasley. – Neville cruzou os braços. – Vocês poderiam ter trocado de roupa pelo menos.

– O que? – Eu perguntei olhando para as mesmas roupas que eu estava usando ontem.

– Eu sabia que todo aquele ódio mútuo era tensão sexual. – Pablo falou rindo e apanhando de mim. – Não vamos negar a verdade, Harry não para de sorrir.

Ok, eu estava mais vermelha que tomate maduro. Dei graças a Deus por Harry estar no mesmo tom que eu, e por não ter parado de brincar com o meu cabelo. E eu sei que isso deve parecer estranho para vocês também. Acredite, até agora eu não sei como aconteceu. Também agradeci a Deus por Janet Walker ter chegado acompanhada do advogado quando Harry estava perto de confessar que dormimos juntos.

– Vejo que a senhora já sabe dos seus direitos. – Falei entrando na sala de interrogatório e estreitando os olhos para o advogado, advogados sempre atrapalham, nesse caso. – Mas vou lê-los para a senhora de qualquer maneira.

Depois de ler os direitos para a Senhora Primeira Dama Janet Walker, eu e Harry nos sentamos de frente para ela que continuava nos olhando com os olhos azuis cautelosos.

– A senhora sabe por que está aqui, Sra. Walker? – Harry perguntou cruzando os braços e ela preferiu negar com a cabeça. – Claro que sabe, já trouxe até um advogado. De qualquer maneira, você agora é suspeita do assassinato de Jenna Walker.

– Vocês acreditam que eu sou esse ser humano horrível que matou a própria filha? – Janet perguntou arregalando os olhos. – Eu não fiz nada disso.

– Se nós já não soubéssemos que ela não é sua filha, poderíamos até acreditar no seu teatro. – Harry disse ainda de braços cruzados, tão sexy. – Já descobrimos que Jenna Walker na verdade é uma vigarista e que tinha um caso com o seu marido, Sra. Walker.

– E temos também uma foto da senhora no elevador descendo no andar dela minutos antes da hora exata do crime. – Eu falei imitando a pose de Harry.

– Mas isso não significa que eu a matei. – Janet disse desesperada. – Eu... Ok, Maurice tinha casos extravagantes. Eu já sabia disso, mas daquela vez tinha ido longe demais. O fotografaram com uma mocinha menor de idade há dez anos, ela tinha quinze anos e eles estavam abraçados na praia.

– A senhora não precisa falar mais nada, Sra. Walker. – O advogado dela interferiu e eu girei os olhos. – A não ser que vocês nos façam uma acusação formal.

– Sua escolha. – Eu falei no meu tom mais ameaçador e ela suspirou.

– Ok, eu vou contar a história. – Janet fechou os olhos. – A única alternativa que arranjamos na época foi adotá-la e dizer que éramos todos uma família, que tínhamos nos apaixonado por ela quando visitamos o subúrbio e que queríamos dar um lar decente e estudos para ela.

– Até ela se mostrar uma verdadeira mercenária e chantagear seu marido por mais dinheiro. – Eu falei colocando as mãos na mesa e ignorando os olhares tortos do advogado. – Então eu vou te contar o que eu acho que aconteceu na noite do crime. Você recebeu mais uma ameaça de Jenna Walker e se cansou disso. Você aproveitou que iria à festa na cobertura e resolveu passar no escritório do seu marido e pegar a velha arma dele para resolver o serviço e voltar para a festa, assim você se livrava dela e ainda teria um álibi.

– Isso são somente especulações. – O advogado disse se levantando e levando Janet com ele. – Nos chame se conseguirem provas para essa historinha de vocês.

– Acho que os senhores vão querer se sentar. – Eu e Harry falamos juntos.

– Vamos te dar duas alternativas, Sra. Walker. – Harry falou se sentando novamente. – Ou você assina a carta de confissão e o julgamento só vai ser para avaliar a sentença ou você pode dificultar as coisas.

– Veja bem, Sra. Walker, acho que se parecem e muito com provas para nossa historinha. – Eu disse mostrando uma foto da arma do crime, os resultados da balística e uma foto das digitais dela na arma. – Janet Walker, você está presa pelo homicídio de Jenna Walker.

I don't love you but I always will… I always will.

– O que acontece daqui pra frente? – Harry me perguntou, me estendendo um copo de French Vanilla.

– Não sei. – Estava confusa. Odiei esse cara quatro dias essa semana para começar a me apaixonar por ele no fim do quinto. E cara, se isso for possível, eu estou caidinha por ele no sexto dia.

– Então eu vou te dizer. – Harry falou me cercando com os braços contra a mesa de interrogatório. – Eu vou te dizer o que vai acontecer.

– Vai, é? – eu perguntei me apoiando na mesa.

– Aham. – Ele disse encostando a testa na minha. – Eu vou te levar para jantar e pensar em um jeito de te recompensar por essa semana.

– Eu vou aceitar? – Eu odeio como minha voz fica diferente, o que acontece é que ele concordou com a cabeça. – Parece justo.

– E então... – Ele continuou.

– Tem mais? – Eu o interrompi e ele ergueu a sobrancelha.

– Posso terminar, Barbie? – Ele perguntou rindo enquanto eu estreitava os olhos. – Barbie ferrugem.

– Pode, idiota.

– Muito bem. – Ele falou me dando um selinho. – Então no fim da noite você vai me dar um beijo longo e muito bom. Você vai me chamar para subir, mas como eu sou bom moço, não vou subir, vou te dar mais um beijo e depois vou embora.

– Ah. – Eu falei sorrindo, e ele me beijou mais uma vez. – Eu vou te dizer o que vai acontecer, mocinho. Você vai me levar para jantar, vai falar que gosta da minha maquiagem e que se atraiu por mim porque admira minha habilidade de correr sobre um salto quinze centímetros. Vai elogiar a cor do meu cabelo e dizer que está tão encantado por mim que já quer marcar o próximo encontro.

– Você acha que o jantar vai ser um encontro? – Harry me desafiou com o olhar. – Nem pode esconder a excitação.

– Ah, vai ser sim e você mal pode esperar pelo beijo de boa noite. – Eu falei sorrindo torto. – E para aceitar o convite para subir. Se eu o fizer.

– Ah, você vai fazer.

– Vai esperando.

E apesar de o futuro ser algo incerto e essas coisas, eu preciso dizer: eu vou acabar me casando com esse homem. É, eu falo esse tipo de coisa depois de seis dias.


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Notas finais do capítulo

apesar de eu só ter usado Mean como inspiração, a ultima frase em itálico é da música Poison and Wine - The Civil Wars.
:)