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Desci as escadas correndo, podia sentir seu perfume no ar, ele passara por ali havia pouco tempo. Minhas lágrimas embaçavam minha visão e tornavam meus passos cada vez mais perigosos, os degraus molhados pela água da chuva que gotejava do telhado antigo também não ajudavam.

Suas ultimas palavras ainda ecoavam em minha cabeça:

– Eu te amei.

Isso parecia corroer minha alma, acho que nem a morte deve ser tão dolorosa. De qualquer forma eu o estava perdendo e não tinha mais tempo ou forças.

Abri a porta e vi sua moto arrancar e se afastar na chuva. Uma sensação de desespero tomou conta de mim, embaralhando meus pensamentos e tornando quase impossível o raciocínio lógico. Eu corri atrás da lanterna vermelha que se distanciava, mas não era o suficiente. Eu o havia perdido, para sempre.

Caminhei cambaleante de volta ao prédio, subi cada degrau como se meus pés pesassem mil quilos. Entrei em meu quarto, fechei e tranquei a porta jogando a chave pela janela, Deitei na cama e fechei os olhos.

Não sei quanto tempo eu passei trancada ali, já não sentia fome, só cansaço e tristeza. Todos os nossos momentos juntos passavam repetidamente em minha cabeça. Eu ouvia sua voz rouca como se ele ainda estivesse ali. Não sei distinguir se estava sonhando ou delirando.

O telefone tocou várias vezes nas primeiras semanas, mas foi se tornando raro com o passar dos dias. Como eu sabia que nenhuma daquelas ligações seria dele, não me importei muito. Aqueles dias foram os piores da minha vida, mas com o tempo, eu não percebia as horas passando. Durante um dos meus delírios, ouvi alguém bater na porta, não prestei atenção, mas a voz de um amigo me chamou. Mandei-o ir embora, não queria ver ninguém. Ele insistia. Eu me ergui da cama para sentar na borda mas e tive um impulso forte para tossir. Me veio um gosto horrível na boca, alcancei um lencinho e cuspi, era sangue. Lá fora, ele ameaçava arrombar a porta e conseguiu. Começou a me dar broncas, mas sua voz foi ficando baixa e sua imagem escura e logo senti meu corpo ficando frio e tudo silencioso.