Olhos De Sangue escrita por Monique Góes


Capítulo 25
Capítulo 24 - Despertado


Notas iniciais do capítulo

Meu Deus, estou tão animada com esses capítulos que eu não consigo me segurar muito a postá-los, podem me matar se quiserem óò
É, e uma coisa que deve estar remoendo vocês por dentro será respondida aqui! O que vocês acham que é?
Aos leitores fantasmas que a nova formatação do Nyah permite-me descobri-los, por favor, deixem reviews e deixem uma autora feliz, por favor. Comentários e críticas construtivas podem ajudar bastante, então, por favor!



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Os dias foram se passando enquanto eu treinava com Rusé, e ele me explicara como conseguira enganar a Ordem. Quando o veículo voador da Ordem chegara, ele estava tão ferido que acreditaram que ele morreria em breve, então como não recolheram os corpos, quando fomos embora, ele começou a curar o ferimento feito por Lúcio, mas por algum motivo, não conseguira regenerar o braço esquerdo arrancado – e comido – por este, mesmo sendo do tipo regenerativo. Ele também dissera que enterrara a todos os mortos lá mesmo.

Ele estava me ensinando a técnica do Corte Imaginário, no qual damos forma a nossa Aura, mas ela era difícil, mas antes ele teve que me ensinar a manejar uma arma com o braço esquerdo. Foi quase como ter que aprender a escrever novamente, sendo que o “lápis” era uma coisa bem mais destrutiva.

Eu já estava lá com ele há uma semana, e já conseguia segurar bem a espada e atacá-lo com velocidade, mas era ruim só ter o toco do braço direito. Muitas coisas que antes fazia muito bem, hoje eu tinha que usar os dentes para ajudar, como por roupas.

Rusé conseguira fazer aquela casa com a técnica, assim como os poucos móveis ali, e as roupas de couro com a capa que usava. O local onde ele se escondera também era estratégico, era um pequeno vale a beira de um lago rodeado por montanhas, somente alguém muito disposto a encontrar algo acharia aquele lugar.

À noite, depois de treinar, eu tive que tomar banho – no lago – e quando saí, vi que tinham umas roupas ali. Era uma calça escura e uma camisa de manga comprida negra, mas sem o braço esquerdo. Senti um calafrio, pois reconheci como sendo as roupas que Rusé usava no dia em que Sophia morrera. A manga faltando provavelmente deveria ser por causa do braço arrancado.

Acabei vestindo as roupas – com certa dificuldade, tive que usar os dentes. – e com a manga direita balançando por causa do braço direito perdido voltei para frente da casa, onde Rusé havia feito uma fogueira.

- Eu estava certo. – falou. – Temos o mesmo tamanho.

Assenti e sentei no chão a sua frente.

- Quantos anos você tem agora? – perguntou.

- Eu tenho quinze. – respondi.

- Então com apenas onze, você viu tudo aquilo. – suspirou. – Eu pensava que você tinha uns nove, por isso a idade não estava batendo com o seu tamanho de agora.

- Ah... É eu era muito... Pequeno. – falei. – Mas você... Tirando pelo cabelo que cresceu, não mudou nada.

Ele deu de ombros.

- Você sabe que depois de algum tempo paramos de envelhecer. – falou. – Mas caso você esteja falando de outras coisas, a transformação de híbrido também acaba com várias coisas que deveriam ocorrer em nosso corpo.

- Tipo...? – perguntei.

- Bom, pegarei os dois exemplos. Tanto os garotos quanto as garotas híbridos se desenvolvem, as garotas adquirem forma, você sabe, as curvas, os garotos ficam com os ombros mais largos, a voz engrossa e tudo o que é comum na puberdade. – respondeu. – Tirando a parte dos hormônios. Creio que você nunca viu um híbrido com espinhas ou barba, e duvido que isso já tenha ocorrido com você.

- Nunca vi. – afirmei.

- Pois então, se o normal era esperar que eu tivesse uma barba por fazer acumulada por quatro anos, isso não acontece. Não temos pêlos nos braços nem nas pernas e... Nem em outros lugares. – respondeu. – Acho que o mesmo acontece com as garotas, mas confirmar é outra história.

- Acho que deve ser. – respondi. – Por que a transformação é a mesma para todos.

Ele deu de ombros, apenas olhando para o fogo.

No outro dia, novamente foi treino. Como eu já conseguia usar bem o meu braço esquerdo, agora era conseguir aprender o Corte Imaginário, mas, só tinha um problema: Para se aprender ele, era necessário se ter concentração, mas eu simplesmente não conseguia me concentrar. Estava preocupado com o que pudera ter acontecido com Raquel, e também estava preocupado, pois certa vez jurei ter sentido a Aura de Nicholas numa montanha perto do vale, mas ela sumira rapidamente, depois que eu aprendesse, a concentração que precisava agora não seria mais necessária. E eu tinha que auxiliar a espada com o Corte, ou seja, tinha que aprender a usar a técnica enquanto atacava Rusé.

Ele sequer sacava sua espada nesses treinos, somente me bloqueava com a técnica que eu precisava aprender. Minha espada soltava um estalo metálico no ar toda vez em que ele me bloqueava – o que sempre ocorria – como se estivesse batendo em outra espada, apesar de minha leitura de Auras normalmente me ajudasse, a técnica dele era complexa, era difícil até mesmo com o auxílio dela.

Eu estava o atacando com o máximo de velocidade que conseguia, já era igual à velocidade que conseguia usar com meu braço direito, então tentei novamente. Tentei não pensar em nada, esvaziei a minha mente, apenas pensando em tentar transformar minha Aura em algo cortante, uma espada, foice, qualquer coisa. Apenas pensei em algo afiado e metálico e tentei passar isso para minha Aura.

Hideo assistia a todos os treinos de camarote em minha mente, mas se mantinha calado a maior parte do tempo, às vezes que acabava me falando o que era melhor se fazer em certo momento, outras vezes era para me dizer sobre algo que ocorria. Acabaram estranhando na Ordem o fato de Nicholas ter desaparecido, assim como eu. Já estavam até falando em achar alguém para pegar o número 9.

Quando comecei a ficar irritado por não conseguir aprender a técnica rapidamente, mas então Hideo me advertiu em minha mente:

Yu, para aprender essa técnica, você tem que fazer como eu faço com a minha. Apenas não pense em nada, nem mesmo no que você quer transformá-la, apenas... Deixe fluir, ela vai assumir uma forma, depois, você poderá controlá-la.

Suspirei e então simplesmente tentei não pensar em nada, quase entrando em um estado de transe. Apenas continuei atacando Rusé, que pareceu perceber que dessa vez eu não pensava em nada mesmo. Apenas continuei atacando e deixei minha Aura fluir, como Hideo aconselhara, não a ponto de elevá-la, somente... Fluir, como Hideo aconselhara, e então escutei algo.

Um ruído metálico na altura dos pés de Rusé, mas o problema era que eu estava atacando-o de frente, não fiz nenhum ataque na altura de seus pés, mas ele o bloqueara. Será que eu...?

Assim mesmo, agora, devagar, tente modelá-la. – Hideo continuou. – Não pense bruscamente, vai devagar, aos poucos.

Lentamente, fui pensando em uma espada, então senti como se estivesse com uma espada flutuando, e que com um comando mental ela se moveria. Era difícil se manter concentrado, mas continuei naquele transe que eu entrara para conseguir isso. Pensei de maneira vaga em atacar Rusé um pouco acima de onde estava atacando, e a espada imaginária subiu e começou a atacá-lo ao mesmo tempo em que eu, ainda mais rápido do que eu estava atacando-o. Ele reparou na mudança e começou a bloquear ambos os ataques, mas agora estava com claras dificuldades.

- Tá bom, já chega! – gritou e eu parei.

É isso aí Yu!

Como você conseguiu entender a técnica? – perguntei.

Eu tenho que fazer a mesma coisa com a minha técnica de espada rápida, só que no lugar de usar minha Aura para transformá-la em arma, eu a concentro somente em meu braço, então eu preciso manter a calma e a concentração em quanto eu a utilizo, porque senão eu posso me descontrolar e Despertar.

Ah...

Eu estava cansado, então praticamente caí no chão no momento em que parei, mas usei a espada como apoio. Meu coração estava disparado e o suor escorria em meu rosto. Eu ficara tão concentrado que sequer percebera o quão exausto ficara.

- Parabéns, você conseguiu aprender, finalmente. – Rusé disse. – Agora que conseguiu, se tornará mais fácil.

Assenti, e então ele ponderou brevemente, então disse:

- Yudai, levante-se.

Levantei e antes que pudesse evitar, senti sua Aura direcionar-se para o que restava de meu braço direto e sem que eu pudesse evitar, ele arrancou o toco de meu braço, deixando apenas meu ombro direito sem nada. Gritei de dor e senti o sangue escorrendo abundantemente, então cortei todo e qualquer fluxo de sangue que ia para o ferimento recentemente aberto.

- Rusé, o que você...? – grunhi diante a dor.

- Sinto muito por isso. – desculpou-se. – Mas seu ferimento havia se fechado.

Quando vi, sua Aura direcionou-se para seu braço remanescente, seu coração bateu mais lentamente, e Rusé arrancou o seu único braço no mesmo lugar em que cortara o meu, trincando os dentes diante a dor. Fiquei sem reação quando ele ficou sem seus dois braços, e então senti sua Aura concentrar-se em seu braço perdido. Vi os músculos começarem a crescer, juntamente com um pedaço de osso.

- Pegue o meu braço direito. – falou. – Você já poderá sair daqui, então considere isso como meu presente de despedida. Eu sei que você se sentirá culpado, então nesse caso, irei regenerá-lo. Demorará algum tempo, mas farei outro braço crescer.

Assenti, surpreso diante do “presente”. Ele poderia se virar com a técnica do Corte Imaginário, então peguei seu braço – ainda com a manga da roupa de couro que ele usava. – e o coloquei no meu ferimento, aumentei então minha Aura, concentrado o calor característico dela no ferimento e comecei a ligar meu corpo com o braço de Rusé. Logo, comecei a sentir o braço direito e soltei-o, ele já estava pregado em meu corpo, apenas com um ferimento superficial, que logo fechei. Ergui meu novo braço direito e fechei a mão, eu o sentia muito bem, e logo vi que era bom ter novamente um braço direito, ou melhor, dois braços.

- Como está? – Rusé perguntou.

- Bem. – respondi, o que era verdade.

- Agora, você é ambidestro, consegue usar os dois braços. – disse. – É por isso que é importante saber usar os dois braços, mas agora, você pode ir.

- Obrigado Rusé. – falei. – Por tudo.

Ele fez um movimento afirmativo, e então levantei. A Aura de Rusé continuava concentrada em seu braço, então peguei a única coisa que possuía ali, ou seja, a minha espada, então fui embora de lá, como ele dissera que poderia. Logo comecei a subir por um caminho de uma montanha, e quando a atravessei, algo me alarmou.

Eu senti a fraca Aura de Raban.

E logo depois a de Rusé desapareceu.

Pisquei. Quando Raban chegara ali? Ele matara Rusé, acabara de matar! Por um segundo, pensei em voltar, mas senti me pé encostar em algo metálico, que retiniu no momento em que pisei. Olhei para baixo e vi uma espada, uma Claymore. Me abaixei para pegá-la, e então percebi que era a espada de Nicholas.

Ergui-a, segurando-a com a mão esquerda. Por que ele a deixara jogada no chão? Ele não faria isso se tivesse a cabeça no lugar. Quer dizer, ele não tinha cabeça no lugar, mas qualquer guerreiro que manejasse espada, não a deixaria por aí jogada, pois caso fossem atacados de surpresa provavelmente seriam mortos.

Quando ainda estava pensando em algum motivo para isso, senti outra Aura.

Era a Aura Nicholas.

Estava muito mais próxima que a de Raban, obviamente, mas não foi o fato de ele estar próximo que me alarmou. A Aura estava muito mais forte, o cheiro de açúcar queimado poderia até ser agradável, mas estava tão forte que chegava a ser enjoativo, e não era mais um ponto quente. Era um ponto em erupção, estava pelando.

Ei Yudai, esse negócio de você sentir cheiros em Aura é estranho, mas... O que diabos é isso?!

Desculpa Hideo, mas vou construir aquele muro de novo. – falei.

Antes que ele protestasse, construí o muro. Hideo sentia tudo o que eu sentia, então eu fiz aquilo por via das dúvidas, pois a Aura de Nicholas me deixara alarmado por uma coisa:

Ele Despertara.

Ouvi árvores se despedaçando, seu corpo era enorme e se arrastava ao chão, e então ele apareceu:

- Oh... Olha só, você de novo... – disse. – Bom, boa noite... É uma coincidência te ver aqui...

Era enorme. Era a única coisa que poderia dizer.

Seu tronco e sua cabeça continuavam humanos, mas a partir de sua cintura, seu corpo era igual ao de uma cobra imensa, não duvidava que ele tivesse mais de dez metros de extensão, e as escamas eram num tom de bronze brilhante com ocasionais escamas negras, que subiam por seu tronco humano e algumas chegavam ao seu rosto. Seus braços eram mais longos que o normal, principalmente os antebraços, pois o erguiam seu tronco a quase dois metros do chão, parte deles era separada do osso e só era grudado por finas ligações, sua mão continuava normal até na cor de pele clara, se não fossem os dedos, que se tornavam escuros e afiados e enormes. De suas costas saíam-se duas enormes lâminas que quase tocavam o chão.

- Ué... Que braço direito é esse? – perguntou no mesmo tom inocente que costumava usar, totalmente deslocado em relação a sua aparência monstruosa. – Eu lembro de ter cortado ele! E essa espada é minha!

As lâminas de suas costas se ergueram do chão, ficando suspensas.

- Ah, esquece. Você tem algo aí pra comer? – perguntou antes que eu pudesse falar qualquer coisa. – Eu quero algo macio e fresco, carne seria uma boa... E você parece ser bastante suculento, apesar de magro...

Por que ultimamente todos os Despertados que encontro dizem que eu pareço suculento ou que tenho um bom gosto? Até Futoji dissera que eu tinha um cheiro bom. Senti sua Aura mover-se, ele ia me atacar, e soube imediatamente em que lado. Ergui ambas as espadas, dirigindo-as para a lateral de meu corpo, impedindo que ele me agarrasse com suas garras e fiz força para que ela continuasse no mesmo lugar.

- Ora... Sua força e velocidade aumentaram... Como você conseguiu isso? – perguntou e logo me atacou com sua outra mão, fazendo-me saltar para trás na hora exata, e ela se fincou no chão. – Ah, qual o problema de eu comer um pouco de você?

Apesar de seu grande corpo, Nicholas veio em minha direção numa velocidade assustadora, sua cauda formando um zigue-zague atrás de si, que o empurrava aquela velocidade, fazendo-me recuar, e ele começou a me atacar com ambas as mãos em alta velocidade. Eu conseguia deter todos os golpes, o treinamento com Rusé me ajudara bastante, e tinha a mão esquerda para me auxiliar agora. Suas mãos eram apenas um borrão, mas ainda assim, conseguia me livrar de todos os ataques, e manejar duas espadas ao mesmo tempo até que não era um problema, mas meus braços começavam a ficar cansados diante sua velocidade.

- Sua força e velocidade de agora mal se comparam com o que eram antes... – murmurou enquanto me atacava. – Como você conseguiu isso?

Ele me rodeou, confundindo-me com sua cauda e me atacou por trás. No momento em que ia me morder, ergui a espada esquerda e seus dentes fizeram um som metálico ao irem de encontro com o ferro. Puxei a claymore para cima com esforço diante seu peso e o fiz soltar minha espada, só que ele me bateu com uma parte de sua imensa cauda, me arremessando com força contra uma árvore, que quebrou diante a força que ele me jogara. Se o golpe dele doera para caramba, quanto mais a árvore se quebrando em minhas costas. Pequenos pedaços de madeira ficaram presos em minha pele por cima da camisa, aquilo doía e latejava, senti o sangue quente escorrendo, quando vi, ele me arremessara na água do rio que me jogara uma semana antes, mas numa parte um tanto mais rasa, minhas costas bateram no chão de pedra.

Emergi rapidamente cuspindo a água e respirando, mas uma imensa garra apareceu e me empurrou novamente para o fundo, prendendo-me ao chão no fundo do rio. Lutei para me soltar, mas agora ele usava sua mão como apoio, eu não conseguia respirar nem pelo fato de estar dentro da água nem pelo fato de ter mais de duzentos quilos pressionando meu peito.

Ele estava falando algo da superfície, mas não conseguia escutar, não demorou muito começasse a me engasgar e afogar debaixo da água, meus pulmões pareciam que iriam explodir logo, por mais que eu conseguisse passar mais tempo debaixo da água que um humano, eu não respirara o suficiente anteriormente. A lua brilhava intensamente do lado de fora e então percebi algo. Os olhos prateados de Nicholas se arregalaram, e então ele enfiou a cara dentro da água e me encarou. Não entendi o que ele queria ver, mas logo emergiu novamente e começou a gritar algo, então esvaziei minha mente e deixei minha Aura fluir novamente, transformando-a em uma espada e despedacei o braço de Nicholas que me segurava em pequenos pedaços. Ele não sangrou e pareceu ficar com mais surpresa do que dor.

Quando me vi livre dele, me empurrei para o raso, e me levantei rapidamente, desesperado para respirar, meus pulmões queimavam. Fui até onde a água ficava a altura dos meus joelhos e emergi, cuspindo a água que engolira contra minha vontade, engasgado.

- Meu braço direito sumiu... – falou atônito. – Foi você que fez isso?! Como?! Você sequer pegou sua espada!

E então ele ficou raivoso, sua Aura aumentou mais ainda e pontas de lâminas começaram a sair de seu tronco, braço e até de sua cabeça, uma crista de lâminas apareceu no centro de sua cauda e então me atacou em alta velocidade, tanta que parecia um borrão. Apenas me concentrei novamente e dei um jeito de formar mais espadas, as pus e separei ligeiramente a água, deixando a superfície lisa rachada, como um espelho quebrado e quando Nicholas se aproximou, levantei tudo, jogando a água no rosto de Nicholas. Ele grunhiu e com a espada de verdade empunhada com a mão direita, cortei seu outro braço.

- Como agora você consegue?! – perguntou com os dentes pontiagudos cerrados e seus olhos brilhavam – literalmente. – emitindo um ar assassino. Bom, ao menos uma coisa dele não mudara.

Até mesmo eu estava surpreso comigo mesmo. Contra o Nicholas normal eu me machucara e apanhara como um condenado, mas agora, mesmo que tecnicamente ele estivesse mais forte pelo Despertar, eu não estava com grandes problemas, tirando a parte em que ele tentara me afogar.

Novamente com o Corte Imaginário, abri as águas a minha frente em direção a Nicholas, deixando um caminho seco para mim, pois a água atrasava meus movimentos e avancei contra ele. Nicholas tentou me acertar com sua cabeça, mas desviei e arranquei um pedaço de carne de sua cintura. Fui para seu lado e ele virou-se para me atacar a toda velocidade, com um rugido que não era nem um pouco condizente com seu rosto quase humano e joguei água em seu rosto novamente. Saltei em direção a sua cabeça e ele me atacou com as lâminas presas em suas costas, mas as despedacei completamente e fiz diversos cortes com a espada imaginária. Ele não sangrou novamente, mas rugiu de forma ensurdecedora por causa da dor que com certeza estava sentindo e seu tronco tombou na água.

- Você... – grunhiu. – Seu desgraçado.

Quando vi, sua cabeça entrou para dentro de seu pescoço e para dentro de seu corpo, deixando a pele repuxada para dentro, então vi um calombo se movimentando por sua cauda até chegar na ponta, demorando alguns minutos diante a extensão de seu corpo. Pisquei diante a cena bizarra e para completar, Nicholas colocou primeiro um braço para fora da cauda, depois outro, e então seu tronco saiu, só que dessa vez completamente humano. Nicholas empurrou levemente a pele da cauda, colocando-a na altura de sua cintura, como se somente estivesse pondo uma roupa. Ele fora para águas ainda mais rasas, pois estava sentado sobre as pedras submersas. Seu cabelo era de um loiro sujo, um tanto escurecido em diversas mechas, seus olhos continuavam a ser olhos de Despertado, prateados e felinos, as escamas negras da ponta de sua cauda cobriam completamente seu corpo e seu rosto. Ele sorriu mostrando os dentes ainda afiados.

- Eu concentrei todo meu corpo humano na ponta de minha cauda, em outras palavras, aqui é meu ponto fraco. Vamos jogar outro jogo, se você cortar todo meu corpo e chegar até aqui, você terá a vitória. – disse com um sorriso. – Mas se sua força se esgotar ou você Despertar, a vitória será minha. Caso eu perca, entregarei minha vida sem resistência e lhe contarei uma coisa. Se você perder eu te devoro.

Mais lâminas surgiram dos seus membros que faltavam no corpo monstruoso a minha frente, da cabeça e dos braços, e então o tronco me atacou. Peguei a minha espada, a dele e aliei ao Corte Imaginário, e então comecei a jogar o jogo de Nicholas. Cortei completamente seu corpo monstruoso e comecei a cortar sua cauda. Seria um longo caminho, mas eu ia ter de conseguir. Conseguia me mover com mais velocidade, tanto meu braço quanto meu corpo, e fui despedaçando toda a cauda de Nicholas. Era um trabalho cansativo, mas continuei avançando. Meus braços queimavam quando eu estava chegando à metade, minha Aura estava ficando cada vez mais difícil de manter na forma de espada, mas fui seguindo em frente o mais rápido que podia, mas quando vi, algo passou por ambos os cortes que fazia e me atravessou nos ombros, no abdômen e nas coxas. Gritei de dor e vi que seis garras saíram do ponto que eu estava cortando e me atravessaram. Grunhi, sem conseguir me mexer devido a exaustão e dor, eu tinha que...

- O que você está fazendo seu idiota?! – Nicholas berrou. – Vai morrer agora?! O que vai acontecer com aquela menina se você morrer?!

Pisquei sem entender, ele estava me ajudando?! Ele queria morrer?! Mas aquilo pareceu me dar força e vontade redobrada, cortei as seis garras e sequer dei atenção aos ferimentos, e continuei a cortá-lo com mais velocidade, destruindo seu corpo até que cheguei na ponta...

Onde estava Nicholas?

- Ora... Parabéns, você venceu. – disse a minha frente. Ele realmente assumira sua forma humana. Estava usando as roupas que usava quando me atacara, mas estavam rasgadas e ele estava ferido em vários pontos, Vouivre ainda enrolada em sua perna. Lembrei-me do que Futoji dissera, aqueles deveriam ter sido os ferimentos que Rusé fizera nele, eram muitos e claramente profundos, provavelmente eles causaram seu Despertar. – Irei lhe dizer algo: Quando eu era menor, eu era muito apegado ao meu irmão mais velho.

Olhei-o sem entender, mas ele somente continuou.

- Não gostei de você quando vi que o modo que você agiu para com aquela menina era idêntico ao modo que meu irmão agia comigo. Quando eu tinha onze anos, há quatros anos... Um Despertado apareceu lá.

Nicholas tinha a minha idade?! Mais ainda, eu lembrara seu irmão mais velho? Imagino a relação deles... Por que ele tentara me matar.

- Ele era completamente negro e tinha seis asas, ele destruiu tudo. Meu irmão correu na frente e mandou a mim e ao meu irmão menor fugir... Enquanto avançava contra o monstro para que ele se distraísse com ele, ele praticamente fora a presa que se jogou em frente ao seu predador. – falou, e aquele monstro que ele dissera me deixara surpreso, negro com seis asas... Com certeza era Lúcio. – Acabei me separando do meu irmão de quatro anos e caí na floresta, onde a Ordem me encontrou e me levou para lá.

Por que ele estava me contando isso? Eu não conseguia entender, mas o que veio em seguida me deixou ainda mais confuso.

- Ande logo, me mate antes que eu consiga recuperar minha habilidade de regeneração. Esse corpo é tão frágil quanto o de um humano comum, não precisa destruir minha cabeça para que eu morra.

Comecei a avançar em sua direção e ele disse com um sorriso:

- A partir de agora, você vai lutar no meu lugar. Se você morrer, eu não vou te perdoar.

Atravessei seu coração com a espada.

Ele caiu na água, o sangue fluindo lentamente, e logo senti sua Aura desaparecer.

Eu matei Nicholas, o número 2 da Ordem.

Saí daquele rio, levando a espada de Nicholas comigo, e a primeira coisa que fiz foi voltar para Gazelle, a cidade onde tudo começara. Minha mochila ainda estava lá, mesmo que ligeiramente despedaçada, assim como a sacola de Raquel. Mexi em minha mochila, pegando somente uma coisa: a pulseira que Lionel me dera, ainda não tivera a oportunidade de dá-la a Raban, mas eu iria cumprir o que prometera.

Mas não seria apenas essa a promessa que cumpriria.

Pus o objeto em meu bolso, enquanto rumava para fora da cidade. Em direção ao oeste.

Em direção à Ordem.




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Notas finais do capítulo

Críticas? Elogios? Dúvidas? Tuuuuudo nos reviews.
E aqui se vai um dos meu personagens preferidos... Nicholaaassss T-T Apareceu tão pouquinho!
~ Curiosidades 6: Nicholas ~
Por algum motivo, eu me apeguei muito a este personagem, apesar de ser um assassino psicótico... Basicamente ele é um adolescente perturbado provindo uma criança traumatizada. Não é mole ver seu próprio irmão ser assassinado na sua frente, não é? E bom, talvez ele possa aparecer de novo... Flashback, ilusão, sei lá! *na verdade sei sim*
~ Curiosidades 7: Nina ~
Como já sabem, irmã mais nova do Denis e possuidora de uma amizade mais que colorida com o Alec. No começo ela era bem mais bruta, normalmente xingando o Yudai ou o "grandalhão musculoso'' (Entendam como Hideo, lembrem-se que os gêmeos não eram gêmeos no começo). Mas uma coisa que realmente não mudou foi sua aparência com o cabelo solto e seu amigo Alec. No começo, seguindo o exemplo dos gêmeos, ela sequer sabia quem era o Denis XD Ela está no ranking de uma das primeiras personagens que criei, e esperem muito mais dela!
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Eu gostaria de firmar a relação dela e do Alec '-'