Conselho Estudantil escrita por XXX


Capítulo 5
Luz


Notas iniciais do capítulo

Oioi gente *-* Haha.
Bom, desculpem a demora de novo. Não sou boa em me organizar, afinal de contas q
E ninguém me mandou reviews dizendo se gostou da ideia das músicas nos capítulos ou assim mesmo está bom, então nem vou colocar. Se ninguém tinha visto, está no rodapé do capítulo 4, ok? Ainda podem mandar as mensagens.
Mas, bem, aí está outro capítulo, lindinho, para vocês k.
Boa leitura, espero que gostem ~♥



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Capítulo 5: LUZ



Sasuke andava lentamente. Ia pressionar os dedos sobre a maçaneta da porta, mas o desânimo o impediu. Então se sentou no chão, sentindo-se um completo idiota. Era tudo um esquema, certo?

– Deus só pode estar brincando comigo... – bufou, levantando o rosto.

O céu estava escuro, dominado pela madrugada. As estrelas desapareciam, cobertas pelas nuvens de chuva. Não se passaram nem dois minutos e Sasuke pode sentir aqueles pingos delicados caindo-lhe sobre o rosto. Ele piscou, sem se mover. E, quando encontrou sua mãe, sentada na sala, ela pensou que o filho havia caído no córrego, ou algo assim.

– Sasuke, o que aconteceu? – Ela indagou, preocupadíssima, ao ver o Uchiha mais novo ensopado. Sasuke suspirou, cansado – Não está machucado, não é? Porque eu ainda lembro daquele dia que você se meteu em briga, se machucou todo e se jogou na piscina da escola só para chegar aqui e eu não o encontrar coberto de sangue. E eu ainda perguntei o que tinha acontecido, e você disse... hm, como foi, mesmo? Oh, sim, você mentiu. “Eu só caí na piscina sem querer, mãe. Não se preocupe” – ela mudou o tom da voz para um infantil, movendo a mão direita, como se fosse uma boca – Não sei nem se você lembra, mas eu me lembro muito bem.

– Sim. Eu me lembro. Desculpe por isso – ele murmurou, subindo as escadas em direção ao quarto. A senhora Uchiha deixou a TPM de lado e notou que o filho parecia cabisbaixo. Só notou porque ele não havia bufado ou dito “Tá, mãe. Tá, tanto faz”. Perguntou se ele estava se sentindo bem – Estou, não se preocupe.

Mas Mikoto Uchiha se preocupava. E mais ainda quando ouvia as palavras “Não se preocupe” saindo da boca do filho.

Sasuke sentou em sua cama, depois do banho, com a calça do pijama e a toalha ao redor do pescoço, exausto. E pensou. E se deitou, e pensou mais. E dormiu por alguns segundos, e acordou de outro sonho. E sentou novamente, mais exausto ainda. E se decidiu.

– Eu tenho que parar com isso.

– E aí, como foi de prova? – Sakura sorriu para Naruto, saindo do pátio. Haviam se passado os cento e vinte minutos mínimos de efetuação do exame e todos os alunos que já haviam terminado as provas estavam liberados. Naruto abriu um sorriso largo ao ver Sakura.

– Estava muito fácil, Sakura-chan. Vou passar de você na classificação final – a veia na testa de Sakura saltou.

– Passar de mim? Haha, que engraçadinho, Naruto – ela empinou o nariz para o lado oposto ao que Naruto estava. O loiro riu. Já esperava aquela reação. E, para chegar trinta lugares abaixo de Sakura já o exigiria muito esforço, do tipo que o levaria ao estudo de manhã, à tarde e a noite. – Posso tentar te ajudar bem mais, se você quiser – ela sorriu, dizendo de repente. O loiro piscou – mas acho que além de eu estar sempre ocupada com o Conselho Estudantil, as suas aulas comigo não rendem – Naruto pigarreou, um pouco corado – Se bem que Neji me ligou e disse que pode estudar com você quando quiser.

Naruto quase enfartou.

– Aula com homem, não! Por favor, Sakura-chan, eu te imploro! – Sakura riu. Naruto estava quase se arrastando no chão, chacoalhando os ombros da rosada de leve, só para chamar-lhe a atenção.

E foi a visão que Sasuke teve, do portão. Tinha que quebrar. Primeiramente, queria quebrar a cara daquele Uzumaki, mas depois decidiu quebrar a vontade de quebrar o loiro. Sasuke estava com ciúmes, mas queria desaparecer com aqueles sentimentos que Sakura o trazia antes mesmo que ele passasse a entendê-los. Odiava pensar na possibilidade de estar com ciúmes. Aquilo o amedrontava.

Então, decidido, deu o primeiro passo.

Dizem que é o mais difícil, mas para Sasuke não era nem metade do que a jornada representava. A jornada mais escura de todas.

Sasuke fugia da luz. A maior parte dele dizia que a tal luz significava morte certa mas, a outra, só conseguia ver o paraíso. De qualquer forma, ele não correria o risco. Além do mais, caso a luz fosse Sakura Haruno, de nada adiantaria. Ele não gostava dela. A desprezava por ser tão perfeita para ele. A odiava por falar com ele repetidas vezes ao dia, quando ele menos esperava. E odiava mais ainda porque ela falava mesmo sem estar lá. A mente do moreno estava cheia de cor-de-rosa.

Mas por que, se ele era completamente coberto em preto?

A odiava por simplesmente não conseguir odiá-la, como os outros. Quando aquilo acontecia, algo dava errado. Como aconteceu com Naruto.

O Uzumaki soltou Sakura imediatamente ao ver o Uchiha se aproximando dos dois. Ficou sério e deu um passo em frente. Sakura olhou para o ponto que o loiro fitava, sem entender a mudança de reação de repente. Seus olhos se arregalaram.

– Hm, Sasuke? – ela piscou algumas vezes.

– Esta é a ala do primeiro ano, Sasuke. Pensei que fosse da sala do Neji – Naruto disse, sem uma sequer falha na voz ou desvio de olhar. Sasuke continuou sério.

– Eu vim para falar com Sakura – anunciou, sem tirar os olhos dos oceanos, furiosos e azuis, dentro dos olhos de Naruto.

Sakura arregalou os olhos verdes expressivos, de cílios longos. Naruto foi tomado por uma expressão assustada e logo uma raiva incontável invadiu suas veias. Mas, ao olhar para Sakura – e vê-la quase tão tomada de nervosismo quanto uma garotinha fã de algum cantor pop, conversando com seu ídolo, e ao mesmo tempo quase chorando de felicidade –, uma preocupação o invadiu quase tão rápido quanto a azia. Sakura gostava de Sasuke? Não, claro que não. Naruto olhou dentro dos olhos dela, atentos no moreno, e viu.

Ela o amava.


– Certo – disse simplesmente, tentando repelir a dor que queimava tanto – hm, eu já vou indo então, Sakura-chan.

– Tudo bem – ela acenou de um jeitinho discreto, envergonhada, sem notar a mudança de Naruto. Ele era ótimo naquilo: fingir que estava bem, quando não estava – Até amanhã.

– Até. – E se foi.

E veio o outro. Sakura subiu o rosto. Sasuke era mais ou menos uns 20 centímetros mais alto que ela. E ela nem era tão baixa.

– Você... – Sasuke suspirou – você disse que, caso eu tivesse um problema, eu poderia pedir sua ajuda. – A rosada piscou, sem entender.

– Sim, foi o que eu disse.

– Pois bem – o garoto olhou ao redor, como se tivesse medo de que alguém os visse conversando – o... hm – procurou as palavras certas por alguns segundos – bem... – mas se lembrou das palavras do ruivo. “Depois de eu quase atacá-la ontem, aposto que ela nem por um milhão de dólares aceitaria sair comigo.

Droga. “Ainda mais porque, agora, provavelmente, o herói dela é você.

Você tem bem mais chances com ela do que eu.

Mudança de planos. Sasuke jamais poderia mencionar o fato de Gaara também estar presente em sua casa. Se o fizesse, Sakura com certeza arrumaria uma desculpa, por mais ridícula que fosse, para não ir. E Sasuke precisava que ela fosse.

Gaara a conquistaria, ela pararia de aumentar qualquer coisa que ele sentia, o deixando sozinho e em paz novamente.

Mas, droga Sasuke, você pensou tanto para chegar aqui, travar, e não saber o que dizer?!

– Hm, o que foi? – ela encorajou, interessada. Os olhos brilhavam. Ele pediria ajuda a ela – Está com algum problema? O que é? Aconteceu alguma coisa?

– Preciso provar que o que eu disse aquele dia é verdade – ele disse, fazendo uma careta enquanto falava. Cenho arqueado, olhos fechados – o lance de você ser filha de uma amig...

– Haha – Sakura riu, interrompendo. Sasuke abriu os olhos e os prendeu nela, indignado, sem saber o motivo da graça – Desculpe. – Ela ergueu as mãos como se se rendesse – só acho que vai ser um pouco difícil. Porque... bem, você mentiu. Difícil convencer alguém de que sua mentira é verdade, se não é. – Sasuke se surpreendeu com o modo direto com que Sakura falava, mas não deixou de dá-la a razão, revirando os olhos, sem argumentos – Mas, então, qual o seu plano?

Sakura estava, podia jurar, sentindo o maior nível de adrenalina que já sentira na vida. E, Sasuke, o maior medo de todos. Acreditava que sua força de vontade era imbatível até conhecer Sakura, e desde então não tinha certeza de mais nada. Estava sempre mudando de ideia. Mas agora não voltaria atrás. E, ao mesmo tempo, não mentiria para ela. Não completamente.

– Está livre hoje a noite? – Sakura quase sentiu o chão desaparecer.

– Ahn? – Foi só o que conseguiu dizer. Sasuke tirou um papel pequeno cheio de anotações do bolso da calça.

– Este é o endereço da minha casa. Finja que já foi lá milhares de vezes, certo? Chamei o Gaara para ir, estou te chamando para convencê-lo que o que eu disse era verdade. – Sakura rodou a cabeça inocentemente, absorvendo as informações.

– Mas não é verdade – ela murmurou por fim. Sasuke se aborreceu.

– Dá para colaborar? – Indagou. Sakura suspirou.

– Sua mãe nem me conhece – ela olhou para ele. Ele olhou para o lado, pensativo. “Eu vou dar um jeito”, foi o que disse – Não vai avisar as coisas de última hora para mim, não é? Porque vai ficar difícil assim. Eu posso dar qualquer mancada. – Sasuke deu de ombros.

– Eu te ligo, então – Sasuke arriscou, demonstrando tranquilidade e tentando esconder o modo como suava frio por dentro. Sakura quase teve um ataque de riso ali mesmo, de tão surpreendentemente alterada que ficou ao escutar aquilo. “Eu te ligo, então”, “Eu te ligo...” – se você quiser, claro. – Ele acrescentou, diante do silêncio da menina de bochechas rubras.

– Ah. Ok, tudo bem – ela coçou a cabeça e pegou o celular, deixando escapar um risinho tímido – e me passe o seu número também, para eu poder saber quando for você que estiver ligando.

Sasuke sorriu.

– Certo.

Jurara para si mesmo que não iria sorrir, nem se deixar abater pelo charme ou o cheiro das cerejeiras. Mas estava meio louco ultimamente. E um pouco mais de Sakura não mudaria muita coisa, já que ela estava ali o tempo todo.

O Uchiha deu passos leves até a saída do colégio naquele dia. Tinha o telefone de Sakura. E ela tinha o dele. Tinham trocado números e agora ela poderia ligar a qualquer momento.

– Ei, Sasuke – o moreno se virou. – E aí, como foi?

– Como foi o que? – Sasuke revirou os olhos. Neji sempre sabia como irritá-lo. O que fez o Uchiha ficar menos irritado foi o fato de ser Neji, não Gaara. Sinceramente, sentia que se visse Gaara naquele momento, teria vontade de decapitá-lo por nada – E cadê aquele insuportável do Gaara? – Neji sorriu.

– Já foi. E você demorou, aliás. Pensei que terminasse simulados bem rápido. – Sasuke coçou a cabeça. Neji lançou-lhe um olhar desconfiado – Não vai tentar me enrolar, não é? – Sasuke quase surtou de nervoso. “POR QUE TODO MUNDO DIZ ISSO?”. E se lembrou de Sakura, modificando a frase que ela dissera: “Porque é mentira”, ela dissera. Como será que seus lábios ficavam dizendo a palavra ‘verdade’? Ele sorriu.

Neji piscou várias vezes até que Sasuke renotasse sua presença.

– Cara... – o Hyuuga segurou o ombro de Sasuke, que tomou um susto leve. Antes que ele fizesse alguma pergunta comprometedora, e Sasuke sabia que ele faria, o Uchiha disse:

– O Gaara vai lá em casa hoje. Quer ir? – Neji fez uma careta.

– Acho que não vai dar hoje, desculpe. Tenho um trabalho para fazer. Outro dia eu vou. – Sasuke deu de ombros. “Tudo bem”, disse – Ah! E, cara, lembra daquele tanque do Call of Duty que... – e começou a falar. Sasuke ouvia tudo e assentia, mas o pensamento estava longe da guerrinha do Call of Duty. A guerra que enfrentava ali era, na sua visão, mil vezes pior. O que faria com Gaara e Sakura em casa? Seria a oportunidade perfeita para deixá-los sozinhos para Gaara fazer algo. Entre passos e suspiros, Sasuke perdeu a companhia de Neji, que seguiu outro rumo e foi para casa, e quando menos esperava, chegou em sua própria que, horas mais tarde, estaria cheia de atmosferas.

Sentou no sofá, ligou a TV, começou a mudar os canais repetidamente.

– Sasuke-kun, é você? – a mãe chamou, descendo as escadas, toda apressada. Sasuke não se dignou a responder, mas olhou para o fim da escadaria e esperou até que Mikoto aparecesse, com seus longos cabelos negros e olhos encantados. Quando apareceu, anunciou, em um salto: – Eu sei.

Sasuke sorriu fraco.

– Sabe? Sabe o que, mãe? – e voltou a olhar para a televisão.

– Da... Sakura Haruno – ela revelou, em um gritinho, fazendo Sasuke soltar o controle remoto da TV, que se espatifou no chão, e levantar em um pulo.

– Como é? – ele surtou, estático, de pé entre a mesinha de centro e o sofá. Mikoto soltou uma risadinha. Sasuke ainda estava de olhos arregalados, esperando uma resposta.

– Sasuke-kun está apaixonado...! – ela sorriu, graciosa.

As íris negras diminuíram de tamanho, quase levando Sasuke a um ataque cardíaco. Antes que tudo estivesse completamente perdido, Sasuke tossiu, engasgado por alguns instantes e recuperou a calma. Ela estava jogando verde. Deveria ter escutado o nome de Sakura em algum lugar e, agora, estava inventando coisas.

– Mãe, acho que não. – E se sentou novamente no sofá.

– Está, sim. É a única explicação! Ou... – um pavor tomou os olhos da senhora Uchiha e Sasuke fez uma careta “Mãe, não estou usando drogas...”, disse – Ah, então é amor, mesmo, Sasuke-kun – e ela sorriu. Sasuke abaixou a cabeça.

“Não estou usando drogas... ainda”, pensou, irritado. “Porque para aturar...” mas não terminou a frase porque a situação deu um ar muito cômico. Mikoto o observava, tentando captar um sinal importante que a desse uma pista qualquer.

– De onde tirou isso?

– Bem, o Gaara ligou aqui. – Sasuke, pensando que não podia piorar, acabara de descobrir que sempre podia – Ele perguntou se estava de pé a vinda dele aqui hoje. Eu falei que estava tudo bem, que eu nem sabia – Mikoto lançou um olhar reprovador para o filho mais novo, mas ele nem respondeu com nada, de tão pasmo que estava – mas que não tinha problema algum. Aí ele perguntou da tal Sakura. Ele disse que é uma amiga de vocês, eu fiquei meio sem entender. E ele ainda comentou que era uma que vinha aqui direto, filha de uma amiga minha. Eu fiquei morrendo de vergonha de nem lembrar da menina e mais ainda de nem saber quem entra e quem sai desta casa, então acabei até fingindo que conhecia a tal moça. – A senhora Uchiha deu de ombros, envergonhada – Aí eu liguei os fatos: você cabisbaixo, do nada, e uma moça vindo constantemente aqui em casa – ela explicou – Aliás, por onde ela entra? Pela janela? – Mikoto parecia ofendida – Quer dizer, era só você me contar, não precisava trazer ninguém aqui escondido. E eu até te prometeria não fazer nada embaraçoso, nem nada que você reprovasse. Mas... puxa, a coitadinha ter que entrar pela janela todas as vezes, Sasuke-kun? Faça-me o favor! E o máximo que eu ia fazer ia ser mostrar aquele seu álbum de dois anos. É o meu preferido. Não que os outros não sejam lindos, mas nesse tem aquela foto da sua primeira ida ao troninho...! Aliás, acho que as fotos estão meio fora de ordem porque nessa foto você não tinha dois anos...

Sasuke não conseguia acreditar no que estava ouvindo.

– Mãe! – chamou, pela sétima vez naquele minuto – Espere. Não, não tem nada disso – e suspirou. Teve até vontade de rir da situação, mas estava muito envergonhado e irritado para rir – Sakura é a presidente do Conselho Estudantil. Nunca veio aqui em casa. – Ele esclareceu, cansado, movendo a mão direita, com a outra na testa. Olhava para o lado, de olhos cerrados. – Esqueça. – E foi subindo alguns degraus da escada, até que algo lhe ocorreu – Ah, e ela vem aqui hoje, com o Gaara. Só... finja que ela é uma conhecida sua, certo? No máximo, faça Neji pensar o mesmo, também. Só por hoje, por favor.

Mikoto ficou parada, encarando os degraus de madeira, por alguns instantes.

– Sasuke – ela chamou, de repente. Queria perguntar o por quê de tudo aquilo mas sabia que, depois de dado o fim a uma conversa por Sasuke, só havia o ultimo direito a uma única pergunta, já que para ele o assunto já estava encerrado. O Uchiha mais novo gritou um “O que?” leal do quarto, e a senhora Uchiha não demorou a perguntar: – E não está apaixonado, então?

E um silêncio mortal se estendeu pela casa. Mikoto sorriu, captando a mensagem.

– Quer falar sobre isso? – continuou.

Sasuke desceu as escadas de repente, passou pela mãe, foi até a cozinha, pegou sua garrafa de água gelada da geladeira e, no caminho de volta para o quarto, incomodado em olhar diretamente para a mãe, disse:

– Hoje tudo vai se resolver, mãe. Não se preocupe.

Mas Mikoto sempre se preocupava.

Sakura olhava para o celular, como se ele fosse abrir alguma porta.

Mal podia acreditar. Tinha o telefone de Sasuke Uchiha, tinha uma desculpa para ligar para ele mais tarde e ainda iria a casa dele naquele mesmo dia! Ele falara com ela sobre o que havia tanto a incomodava: ele havia mentido.

Mas não disse por quê. E, na verdade, era isso que Sakura queria saber.

– Aquele Sasuke é um esquisito, isso, sim – Ino empinou o nariz, já sabendo de toda a história. Sakura sorriu.

Estava esparramada na cama de solteira, enquanto Ino jogava DS no tapete.

– Não é, não. Você até já ficou com ele, Ino – ela lançou um olhar desafiador à loira, que corou bem de leve e jogou os longos cabelos para o lado, espiando a amiga.

– É, mas não é nesse aspecto que ele é estranho. Na real, ele é bem... elaborado, até – ela fez sinal com as mãos e Sakura a fez parar só de lançar um olhar incrédulo, embora risonho – Haha, certo, agora sério. Sasuke é um lance para uma noite só, Sakura. É isso que estou dizendo. Quer dizer, conviver com alguém tão rabugento e chato todos os dias deve ser bem cansativo. E eu digo isso porque tenho experiência! Você também. Viu como é lá em casa, todos os dias? É um inferno. Meu pai é um grosso, minha mãe é uma cabeça de vento. E eu não entendo.

Sakura deu de ombros.

– Mas, sem ofensas, eu não sou nenhuma cabeça de vento. Homem nenhum vai me tratar mal. Se tratar, é tchau na certa.

Ino balançou a cabeça, em um suspiro.

– Ah, é? E como Sasuke é com você? Um amor, provavelmente, não é? – Sakura abaixou os olhos, imune.

– É diferente, Ino. Ele só é fechado. É o jeito dele.

– Diferente como? – A loira disparou – Sabe o que faz a minha mãe viver com meu pai há tantos anos? É ela pensar realmente que “é o jeito dele”. Todo mundo vê como ele a trata, e só ela ainda não se tocou o quanto ele é estúpido.

Sakura olhou para Ino, que encheu a boca de Doritos e voltou a passar os dedos gordurosos agilmente pelos botões do DS.

– Sério, estou te falando – a loira disse, sem tirar os olhos do jogo – Sasuke não é homem para você. Você é digna de um cara que dê qualquer coisa por você. Ou que pelo menos te diga “oi” sem pedir nada em troca, não é, meu bem?

Sakura resmungou e jogou a cabeça para trás.

– Ah, que coisa – rosnou – Você nem estava lá para ver como ele falou comigo. Ino, ele é uma graça – Ino revirou os olhos, murmurando um “Cada um com o seu gosto, né” – Ei, – Sakura apontou, olhando para amiga de repente, de olhos colados no DS – você vem na minha casa e fica falando coisas para me deixar para baixo, dá opinião sobre o que você nem presenciou e ainda acaba com o último pacote de Doritos? – Sakura lançou um olhar falsamente furioso para Ino – Quem você pensa que é? Minha melhor amiga?

– Provavelmente – Ino deu de ombros, sem tirar os olhos do jogo – Estou aqui para te proteger. Além disso, eu sou de casa, não é? – disse, convencida.

– Claro. Falar nisso, tem CocaCola. Quer? – Sakura ofereceu.

– Quero.

– Então traga para mim, ô “de casa” – Ino pausou o jogo e olhou para a Haruno, incrédula. “Golpe baixo!”, ela gritou do corredor, indo para a cozinha. Sakura só ria, vitoriosa. Mas seu riso foi interrompido de repente pela vibração do celular. Os olhos verdes dela se arregalaram.

“Sasuke-kun”, anunciava o aparelho.

Ela ficou ouvindo o som do toque por alguns instantes, ainda sem saber o que fazer, em meio ao silêncio da casa. Até que Ino entrou pela porta, escutando o barulho.

– Escuta – ela apontou para o celular, com a boca cheia de salgadinho – não é seu celular? – Sakura só assentiu, estática. Ino foi dominada imediatamente por uma expressão surpresa e extremamente excitada – Oh, meu Deus. – E foi correndo até o aparelho – É ele, é ele! – gritou, ao ver o nome indicado. – Vamos, Sakura, atenda!

– O que? – Sakura gritou, se recuperando do transe – E falar o quê?

– Ué, é ele quem está te ligando – Ino movia os braços, eletrificada até os fios de cabelo – Só responda o que ele perguntar, escute o que ele disser. Rápido, vai parar de chamar!

E Ino apertou o botão de atender.


“Ai, Jesus”, foi só o que Sakura teve tempo de pensar.

– Oi? – disse, tentando passar naturalidade. “Sakura?”, perguntou a voz do outro lado da linha. Era ele. Era ele mesmo. Tinha que ser. A voz era a dele, o charme era o dele, o modo de pronunciar as sílabas. Era Sasuke, com certeza. – Ahn, sim. Ern, Sasuke?

Ino colou a orelha ao lado das costas do celular que Sakura erguia ao lado da cabeça. Sasuke não demorou para falar:

É. – e completou: – Demorou para atender.

– Ern, pois é. É que eu... – Sakura pulava de desespero sem saber o que dizer, tentando entender Ino, que fazia sinais extremos: “BANHEIRO”, “ASSISTIR; TV; TELE CINE”, “SANDUÍCHE, COMENDO”, “FALANDO, AMIGOS, HOMENS”. Sakura fugiu pelo único meio que, na cabeça dela, daria certo: – na real, eu não sabia se atendia ou não.

Ino se jogou da cama para o chão e fez que iria estrangular a Haruno. Já esta não achava má ideia ser estrangulada naquele momento.

Ah, é? – aquilo roubou um sorriso de Sasuke, que também tinha pensado muito antes de ligar para a Haruno. Precisava de uma razão para ligá-la, e ficou pensando nisso. No que diria, também. Mas, vendo que Sakura parecia mais nervosa ainda do que ele, ficou mais tranquilo – Por que?

– Bem, eu... – Sakura gaguejava. Tentou engolir o nervosismo, mas embora soubesse que ele não podia vê-la naquele momento, só o fato de ela estar rubra já a deixava nervosa – não sabia se deveria realmente me envolver nessa sua cilada. – Sasuke subiu uma das sobrancelhas em silêncio, ainda sustentando o sorriso – Haha, então – ela olhou para o teto, rindo nervosamente e tentando ignorar Ino, que fazia diversos sinais e que, ao notar que estava sendo ignorada, encheu a boca de salgadinhos novamente e bufou irritada, voltando-se ao DS. “Depois pego a coca”.

Bem – Ele disse – estou te ligando só para confirmar umas coisas.

Sakura piscou.

– Aham. – E os dois ficaram em silêncio por alguns segundos até que Sakura soltou: – O que foi? Arrumou um jeito de sua mãe não me tratar como uma estranha completa, o que realmente sou para ela?

Não seja irritante. – Sasuke se jogou para trás, deitando em sua cama e assumindo uma posição confortável.

– Qual é a boa, então?

Sakura Haruno não gostava nem de pensar no fato de Gaara estar lá também. E aquilo só a deixava mais para baixo ainda, então resolveu ver apenas Sasuke. Estava falando com ela no telefone, não é? Isso significava alguma coisa.

Hm... Ela não sabe muitos detalhes da história, mas provavelmente vai fingir que... – enquanto ele falava, Ino traçava uma linha imaginária no pescoço.

– Ele. É. Um. Pulador. De. Cerca! – Ino indicava, movendo os lábios.

Sakura virou o rosto para o outro lado, e Ino foi até onde ela olhava: “Dá. Um. Fora. Nele. Agora!”. Sakura mostrou a língua e se deitou, olhando para o teto. Ino cerrou os punhos e subiu em cima da amiga, com as pernas desajeitadamente postadas ao lado da barriga da Haruno e os braços ao lado da cabeça da mesma.

– Sakura – ela murmurou, irritada – me dá esse telefone. – Sakura arregalou os olhos e fez um sinal com as mãos de “Sai, sai”. Ino a lançou um olhar indignado. Sakura só piscou, tentando ouvir o que Sasuke dizia.

Mas Ino era sempre mais rápida.

Ela se lançou sobre a dona dos cabelos cor-de-rosa, de um modo selvagem. Sakura, tomada pelo susto, teve o impulso de soltar um gritinho, mas tapou os lábios com a mão livre da tarefa de erguer o telefone. Esperou para ver se Sasuke não tinha escutado, mas – enquanto Ino estava sobre ela, esperneando e, ela, soltando gritos abafados pela própria mão na boca – ele continuava falando sobre a incrível cena que ele planejava nos mínimos detalhes para mais tarde. Sakura precisava ouvir, então só prendeu os dedos nas extremidades da face furiosa da Yamanaka, a fazendo calar a boca por alguns instantes – ...então, quando você chegar, chame minha mãe de Tia. E vai dar tudo certo.

– Certo. E o que vamos fazer aí na sua casa? – ela perguntou, temendo que ele pensasse que ela não estava prestando atenção.

Isso não importa. Só temos que convencê-lo de que eu te conheço há algum tempo – Ino gemeu alguma coisa entre os dedos de Sakura. Esta fingiu fúria mas se voltou para o telefone em questão de instantes.

– Mas, e... bem, Gaara não sabe que queremos enganá-lo. O que ele pensa que vamos fazer? – Sasuke suspirou e olhou para o teto. “Ele pensa que eu quero ajudá-lo a te pegar”. Não, jamais falaria aquilo (mesmo sendo a mais pura verdade). Sasuke era um ótimo mentiroso mas geralmente a presença dos olhos de Sakura, que pareciam olhar fundo, dentro dele, o abatiam. Agora, eles não o pressionavam, embora sua voz doce o dominasse.

Mesmo assim, a força de vontade de Sasuke era incrível.

Call of DutyCall of Duty era sempre a resposta quando Sasuke não sabia o que inventar e tinha que inventar rápido. Sakura só ergueu uma sobrancelha, enquanto Ino se remexia novamente e prendia seus dedos com as duas mãos, embrulhadas em gordura.

– Não acredito que você estava jogando o meu DS com essas mãos – ela repreendeu, incrédula.

Ahn? – Sasuke enrugou o cenho.

– Ah, nada. – Sakura se apressou em dizer – Então, às... – e chutou Ino para o tapete. Ela gritou antes mesmo que Sakura pudesse ouvir o “tof” da queda. – Hm, que horas eu passo aí?

Sete ou seis e meia facilita para mim – Sasuke deu de ombros, mordendo um pedaço da fatia de pizza que havia cortado. Acabara de pedir. Pedia e comia pizza daquele jeito, devagar, não só quando estava com fome, mas principalmente quando algo o incomodava. Comia pizza em mordidas separadas por segundos de reflexão quando fizera de tudo e não sabia o que fazer.

– Certo, tudo bem. – Sakura cerrou os dentes, sorrindo para Ino e soltando uma piscadela meio malandra – Vou ver se posso por volta desse horário.

Sasuke quase teve um ataque. Queria rir, mas sabia que seria mal interpretado. Ainda mais porque não ria de Sakura tentando parecer ocupada – mesmo que fosse impossível estar tão ocupada socialmente, com um boletim 10 e sendo a Presidente do Conselho Estudantil –. Ria de como ela era perfeitamente fofa, ingênua e delicada. Ria de como ela era mil vezes mais forte que ele, sem nem fazer esforços.

Ria de sua própria desgraça.

E tinha medo do que podia fazer enquanto estivesse perto dela. Ouvir a voz dela já o deixava fraco. O Uchiha tinha medo de não ter mais controles perto dela, como já acontecera uma vez. Lembrava-se muito bem de todo o ódio que estava naquela mão que parou a de Gaara, naquela tarde. Viu a palma direita e a rodou em frente aos olhos. Era de Sakura, completamente. E ele sabia que estaria trabalhando em qualquer coisa que a rosada precisasse. Qualquer coisa. De proteção e defesa até carinho e amor. Qualquer coisa.

Queria rir do fato de estar louco, o que agora ele já assumia que realmente estava. Mas só sorriu; sorriu da vontade de rir, para Sakura não desconfiar. Mas ela escutava o sorriso dele de longe. Podia ouvir as pontas de seus lábios subindo. E surpreendentemente não conseguiu ouvi-lo mastigar.

Tudo bem, eu entendo. E como vou saber se você vem? – Sakura tinha que dar uma resposta rápida: Ino estava se levantando do chão.

Toda quebrada, mas ainda tentava levantar.

– Eu vou. – Sakura assegurou, levantando da cama em um pulo e fugindo para fora do quarto antes que Ino conseguisse se erguer completamente. A loira, vendo, tratou de agilizar o processo e logo já corria por toda casa, procurando por Sakura. – Só não sei que horas vai dar. Sabe, haha, você me chamou em cima da hora.

Sasuke não conseguiu conter outro sorriso. Este mais risonho ainda do que o anterior. Apostava que não havia problema algum naquilo.

Quer mesmo me convencer de que já tem compromisso hoje? – ele soltou.

– E tenho – Ino ouviu essa parte, já escutando Sakura, atrás do armário da cozinha. Não foi difícil de achá-la, ainda mais porque estavam sozinhas, Sakura estava falando no telefone (e com Sasuke, o que significava que ela já não tinha mais controle sobre o tom da voz) e a casa não era lá das maiores. Assim que notou do que a rosada falava, começou os sinais: “ENCONTRO”, “1 DOS CARAS”. A Haruno girou a cabeça, confusa, enquanto Ino bolava os próximos sinais: “1 DOS 13 QUE ME CHAMARAM 2 HORAS ATRÁS”. E Sakura bufaria, caso não estivesse tão nervosa quanto estava. Ino não tinha jeito, mesmo – Uma família amiga da nossa chegou aqui. Vão passar o fim de semana e... bem, eu ia sair para jantar com eles. Sabe, por o papo em dia.

– AHN? – Foi só o que Ino disse.

Ah. Aposto que você estava doida para jantar com eles... – Sasuke revirou os olhos, mesmo que não fosse de se duvidar que a Haruno realmente quisesse. – E eles vieram assim, de repente? Quer dizer, não é feriado, nem nada.

Sakura guardava respostas na ponta da língua:

– Férias definitivas. Sem exceções. Também estranhei, mas acho que alguém precisa trabalhar no período em que todos estão de recesso. – Sasuke bufou.

De qualquer forma... – ele iniciou, sem saber muito bem como terminar – vou ficar te esperando. – O coração de Sakura deu um salto. – Mas, caso você não possa vir realmente, me ligue.

Sakura assentiu e, ao lembrar que ele não podia vê-la, disse:

– Tudo bem, Sasuke-kun – um arrepio percorreu todo o corpo de Sasuke e este conteve um suspiro, transformando-o simplesmente em bochechas delicadamente rubras – Espero que dê tudo certo – Depois que rápida e dolorosamente, em silêncio, eles se despediram, Sasuke decidiu que a melhor ideia do dia havia sido a de pedir a pizza. Deu mais algumas mordidas no terceiro pedaço.

Sasuke ficou ali, parado, mastigando e refletindo por longos minutos. Sakura Haruno. Ela dominava seus pensamentos. “Amor...? Não existe isso em você, Sasuke”. Enquanto, na cabeça da Haruno, apenas uma frase ia se formulando, automaticamente, enquanto a mesma pensava a mesma coisa:

– Ino... – Sakura supirou, olhando para o telefone em sua mão, já desligado – por favor, peça uma pizza.



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Notas finais do capítulo

Pois é, pois é. O próximo capítulo já está quase pronto.
Mas só vou postar os capítulos novos aos domingos, que é quando o pessoal geralmente acessa o Nyah.
Um beijão *-* e
LEIAM MEUS RODAPÉS!



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