Polícia escrita por judy harrison


Capítulo 2
Nobre coração


Notas iniciais do capítulo

Esse cap. foi escrito para mostrar a personalidade de Bruce, sua mãe e Laurence.



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Durante algum tempo, Bruce ocupou um cargo administrativo na unidade de sua própria cidade.

_ Ele está bêbado, senhora? É seu ex-marido?

_ Sim! – a mulher dizia apavorada, parecia querer atravessar o balcão e pegar Bruce pelo colarinho – Ele disse que vai me matar se eu voltar!

_ Tem alguém na casa com ele? Alguma criança...

_ Não, ele está sozinho, meus filhos foram pra casa de minha mãe! Mas a casa é minha. Por favor, mande alguém para tirar ele de lá!

_ Olha, senhora, se ele é o dono legítimo da casa não podemos tirá-lo de lá...

_ Ele não mora mais comigo! – disse alterada com lágrimas nos olhos.

_ Vocês estão separados judicialmente?

_ Não! – lamentou, chorando.

_ Nós realmente não podemos fazer nada nesse momento, só um boletim de ocorrências. Eu sugiro então que a senhora durma fora hoje, e amanhã procure um advogado que trate de seu divórcio, pois se ele é dono...

_ Você não entende!...

Não era da índole de Bruce falar alto com uma mulher, era um rapaz bondoso e calmo.

Aquela mulher estava desesperada e não aceitava agir de acordo com a lei naquele momento, pois sua situação pedia urgência.

Então, achando que ela não sairia dali sem uma solução para seu problema ele foi falar com o delegado Pontes. Porém, Pontes era completamente diferente, era duro e insensível.

_ Mande ela embora, merda! Como eu vou mandar o homem sair da própria casa? Ela que trate de se cuidar. Arrumou marido bêbado...

_ Ela tem crianças e mora lá há 4 anos sem ele. – insistiu.

_ Você conhece a lei, Bruce! O que é? Vai amolecer? Dê o boletim pra ela, é o máximo que agente pode fazer.

Sem nada mais a dizer ele voltou ao balcão de atendimento, mas a mulher não estava mais lá.

Ele olhou para o relógio na parede e pensou que ela talvez voltasse, já que ainda eram 10 horas da manhã.

_ Vou ligar para Laurence se ela vier. – decidiu.

Porém, horas mais tarde uma viatura de sua unidade atendeu a um chamado urgente para aquele endereço. Uma mulher foi morta com um golpe de madeira desferido em sua cabeça. Era a mesma mulher que Bruce atendeu.

Na sala do delegado ele estava exaltado.

_ Era ela! Eu disse a você que devia mandar alguém lá, mas você sempre acha que a “lei” é ignorar um pedido desses! Quantas mulheres mais vão morrer na mão desses homens só por que fizeram a escolha errada? É a segunda esse mês! – andava de um lado para outro na salinha de 3x4.

_ Não adianta ficar nervoso comigo, Bruce. Você sabe que nós não podíamos tirar aquele homem de lá. Ela errou em querer enfrenta-lo. E vá se acostumando com isso.

Em sua casa ele contava para a mãe, mais um de seus episódios tristes, enquanto jantavam.

_ Eu ia falar com Laurence se ela voltasse, mas não deu tempo...

_ Não se culpe, filho! Sabe que é assim mesmo que funciona. – suspirou - Em 20 anos muito pouca coisa mudou na lei.

_ Quando eu estiver nas ruas vou fazer do meu modo. Esses soldados têm preguiça de agir, e eu não vou me esquivar de arrancar um salafrário de casa se ele ameaçar uma mulher. Ameaça é crime também, mamãe.

Betsy olhava para o filho indignado e se lembrava de Willy, seu marido, que também se indignava com a injustiça.

_ Não se aborreça tanto filho, lembre-se que não adianta, como diz Laurence, você não vai consertar o mundo, mas pode fazer o que está ao seu alcance.

Ainda nervoso, ele mastigava um pedaço suculento de fígado.

_ Uhrm! Eu vou chegar a ser um delegado, mamãe, e aí as coisas serão mais fáceis.

_ Certamente que sim. – disse sorrindo – Está lá só há três meses, tem muito tempo ainda e muito que fazer.

_ É sim! – riu com sua boca fechada, depois disse olhando para o prato – A senhora se superou, essa comida parece do outro mundo. Está tudo uma delícia!

Ela riu, estava costumada com os elogios dele, mas sempre apreciava, sentia orgulho do filho, tão bem intencionado e dedicado a ajudar.

Bruce foi para seu quarto e ligou seu aparelho de som, adorava um Blues e também Rock . Sua banda preferida era Beatles, mas ele ouvia Rolling Stones, Elvis e Michael Jackson. Tinha seu lado romântico e sua paixão, uma menina de sua rua chamada Grace.

_ Grace... – era uma foto dela em seu peito.

Grace era loira, magra, tinha 1,55 de altura, era a garota mais bonita do bairro todo, havia sido aluna da escola em que ele estudou, mas enquanto ele estava no último ano do colégio ela ainda fazia a oitava série, era 3 anos mais nova. Em seu sonho de rapaz ele era seu herói, queria que ela o visse fardado, algo que ainda não havia acontecido. Ele adormeceu ao som de Hard Woman, cantada por Mick Jagger.

Já eram dez e meia da noite, Betsy entrou no quarto tapando os olhos, sabia bem onde estava a tomada do rádio, e depois de puxá-la ela saiu. Bruce tinha mania de dormir nu, e com o rádio ligado. Aquilo era um costume antigo: ele dormia e ela desligava.

Depois de ler um pouco de sua revista preferida, Betsy foi se deitar também. Não contou ao seu filho o que aconteceu durante seu chá da tarde.

******

Laurence chegou com um saco de laranjas e foi logo entrando, acostumado com a cozinha deixou as frutas sobre a cesta de aço que ficava ao lado da pia, numa prateleira.

_ Betsy! – ele a chamou, certo de que ela já ia para lá, pois a chaleira apitava no fogo – Quer que eu faça o chá pra você?

_ Oh, Laurie, por favor, apenas abaixe o fogo, eu já vou.

Ela acabava de sair do banho, apareceu ali com seus cabelos pretos molhados e espalhados na lateral de seu rosto.

Laurence precisava se controlar sempre que a via, pois não era só uma atração física, ele a amava de verdade, mesmo se estivesse suja e desajeitada.

_ Olhe só, não são lindas?

_ São! - sorriu, seu sorriso era alegre e espontâneo – Mas eu já te disse que não tem que ter esse trabalho todo.

_ Não se preocupe, eu estou de folga hoje.

_ Não ia sair com Bruce numa ronda pela primeira vez?

_ Sim, na segunda feira. Vou levar o garoto para uma turnê em São Francisco sob as luzes da cidade. – ele falava e gesticulava com as mãos imitando uma tela, enquanto ela passava o chá – Será um lindo passeio pelos becos mais movimentados, num escurecer sombrio e amedrontador, fabulosamente misterioso. - brincava.

_ Estou gargalhando! – ela ironizou – Sabe que ele não tem experiência. Então não brinque com ele.

Ela serviu uma xícara a ele quando se sentaram à mesa.

_ Brincar? Bruce não brinca, e você sabe, não no trabalho. Aquele garoto tem futuro, Betsy! É um grande profissional, e me lembra a mim mesmo quando comecei, eu já te disse isso.

Ela sorriu enquanto mordia uma fatia de torrada, seus dentes eram brancos, bonitos como sua pele, e ela tinha uma aparência saudável. Laurence observava a margarina que ficou no canto da boca dela até que ela passou a língua.

_ Eu sei, sinto orgulho de meu menino. Estudou tanto para chegar a onde está...

_ Betsy... – ele segurou sua mão, mas ela já estava acostumada com aquilo – Sabia que Bruce torce para que você e eu nos casemos?

Ela retirou a mão com gentileza e graça.

_ E você já sabe minha posição. Ele gosta de você, e eu também, mas do jeito que está.

_ Não pode ficar assim, vivendo de lembranças...

_ Pssssiu! – ela alertou com o dedo indicador sobre os lábios – Não fale!

Ela continuou a comer, mas ele estava chateado.

_ O que eu preciso mostrar mais pra que você se convença do meu amor?

_ Me deixar viver a minha vida. – disse séria, mas logo o sorriso voltou ao seus lábios - Quer mais chá?

_ Quero que me beije como aquele dia.

Ela ficou impaciente e pousou a garrafa de chá sobre a mesa.

_ Aquilo foi um erro, e eu estava um pouco bêbada, você sabe. Era a formatura de meu filho, eu estava feliz, e... não me controlei.

_ Você me disse que gostou do amor que fizemos, Betsy.

_ Isso faz três anos, Laurie! – disse baixo como se alguém pudesse ouvi-la dizer que transou com ele em sua cama no dia em que Bruce se formou no colégio. Eles aproveitaram, ao fim das comemorações, voltarem para casa, enquanto Bruce festejava com os amigos num clube.

Mas Laurence ainda não se conformava que depois de uma noite linda e cheia de prazer não tivesse restado nada. Betsy nunca falou sobre o assunto depois de tudo.

Ela se levantou e levou as xícaras para a pia, e Laurence a acompanhou, e num lance rápido a segurou pela cintura e a beijou forçadamente, mas Betsy se afastou e deu-lhe uma bofetada, no que as xícaras caíram ao chão e se espatifaram.

_ Seu cretino! Olha o que fez?

Ela se abaixou para pegar os cacos.

_ Me desculpe. Deixe que eu pego. – ele ia se abaixar, mas ela gritou.

_ Saia daqui!

Ele ainda olhou para ela e viu lágrimas em seus olhos. Mas deu as costas e saiu,  foi embora.

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Notas finais do capítulo

Gostaram de Bruce? O que acharam de Laurence? E Betsy exagerou?
Os próximos capítulos tratarão de assuntos mais fortes. Bruce é um militar e enfrentará coisas terríveis.
Obrigada pela leitura. Deixe sua opinião, ok?



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